Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 17 de abril de 2015

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: EGITO (PARTE 05)

III.10 – DINASTIA PTOLOMAICA (332 – 30 AC)

Em 332 AC, Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, invadiu a satrapia persa aquemênida do Egito, com pouquíssima resistência e foi aclamado pelos egípcios como libertador. Conciliou os egípcios pelo respeito que mostrou por sua religião, mas indicou macedônios para virtualmente todos os postos seniores do país e fundou a nova cidade grega de Alexandria, como a capital do reino. Em 331 AC Alexandre estava pronto para partir à conquista do resto do Império Persa e conduziu suas forças para a Fenícia. Deixou Cleomenes como monarca do Egito em sua ausência, mas morreu sem nunca ter retornado ao Egito.
A administração estabelecida pelos sucessores de Alexandre, a Dinastia Macedônica Ptolomaica, um reino helenístico sediado no Egito, foi baseada num modelo egípcio e situada na nova cidade capital Alexandria. Foi administrada por uma dinastia Ptolomaica que começou com a ascensão de Ptolomeu I Soter, após a morte de Alexandre, o Grande, em 323 AC, e encerrou com a morte de Cleópatra VII e a conquista romana. Os reis ptolomaicos adotaram o costume egípcio de casar com suas irmãs e por isso muitos dos reis governaram junto com suas esposas, que também pertenciam à casa real. As únicas rainhas ptolomaicas a, oficialmente, reinar por si, foram Berenice III e Berenice IV. Cleópatra VII, oficialmente, reinou com Ptolomeu XIII, XIV e XV, mas, efetivamente, governou o Egito sozinha.
A Alexandria serviu de mostruário de poder e prestígio do governo helenista e tornou-se um assento de aprendizado e cultura, centrado na famosa Biblioteca de Alexandria. O Farol de Alexandria iluminava o caminho para os muitos navios que mantinham comércio através da cidade, pois os Ptolomeus faziam comércio e empresas de geração de receita, como a manufatura do papiro, sua prioridade.
A cultura helenista não suplantou a cultura nativa egípcia, com o apoio dos Ptolomeus às tradições egípcias, num esforço para garantir a lealdade do povo. Construíram novos templos em estilo egípcio, apoiaram os cultos tradicionais e se retratavam como faraós. Algumas tradições se fundiram, como deuses gregos e egípcios, com o exemplo de Serápis, além das formas gregas clássicas de escultura que influenciaram os tradicionais motivos egípcios. Apesar dos seus esforços para acalmar os egípcios, os Ptolomeus foram desafiados por rebeliões nativas, rivalidades familiares e a poderosa plebe de Alexandria que se formou após a morte de Ptolomeu IV. Além disso, como Roma confiava mais pesadamente em importações de grãos do Egito, os romanos dedicaram grande interesse na situação política do país. As contínuas revoltas, ambições políticas e os poderosos oponentes do Oriente Próximo fizeram a situação tão instável que Roma teve que enviar forças para garantir o país como uma província do seu império.
Com a morte de Alexandre na Babilônia, em 323 AC, a crise sucessória eclodiu entre seus generais. Inicialmente, Perdiccas reinou como regente do meio irmão de Alexandre, Arrhidaeus, que tornou-se Filipe III da Macedônia e, então, como regente de ambos, Filipe III e Alexandre IV da Macedônia, filho de Alexandre ainda não nascido ao tempo de sua morte. Perdiccas indicou Ptolomeu, um dos mais próximos companheiros de Alexandre, como sátrapa do Egito, a partir de 323 AC, em nome dos príncipes Felipe III e Alexandre IV. Com a desintegração do império de Alexandre, Ptolomeu estabeleceu-se como governante em seu próprio direito, defendendo o Egito com sucesso contra uma invasão de Perdiccas em 321 AC, assim consolidando sua posição no Egito. Em 305 AC Ptolomeu tomou o título de faraó, fundando a Dinastia Ptolomaica, que reinaria no Egito por cerca de 300 anos, como Ptolomeu I Soter, dominando uma área que se espalhava do sul da Síria a Cirene, na Líbia e ao sul da Núbia.
Ptolomeu I Soter, fundador da dinastia
A primeira parte do reinado de Ptolomeu I foi dominada pelas Guerras do Diadochi, entre os vários estados sucessores do império de Alexandre, quando seu primeiro objetivo foi manter segura sua posição no Egito e o segundo, aumentar os seus domínios. Em poucos anos ele havia ganho o controle da Líbia, Síria (que incluía a Judeia) e Chipre. Quando Antígonus, governador da Síria, tentou reunir o Império de Alexandre, Ptolomeu reuniu uma coligação contra ele. Em 312 AC, unido com Seleucos, o governante da Babilônia, ele derrotou Demetrius, o filho de Antígonus, na batalha de Gaza.
Em 311 AC, uma paz foi firmada entre os combatentes, mas em 309 a guerra irrompeu novamente e Ptolomeu tomou Corinto e outras partes da Grécia, embora tenha perdido Chipre numa batalha naval em 306 AC. Antígonus tentou então invadir o Egito, mas Ptolomeu conseguiu manter suas fronteiras. Quando uma coalizão foi renovada contra Antígonus, em 302 AC, Ptolomeu juntou-se a ela, embora não estivesse presente, com seu exército, quando Antígonus foi derrotado e morto em Ipsus. Ele havia aproveitado a oportunidade para garantir a Síria e a Palestina, quebrando acordo que a cedia a Seleucos, com isso armando o cenário para as futuras Guerras Sírias. A partir daí Ptolomeu tentou manter-se afastado das guerras por território, mas ainda acabou retomando Chipre em 295 AC.
Divisão do Império de Alexandre, podendo-se ver o Egito
e seus domínios (em azul) sob Ptolomeu I Soter
Sentindo que seu reinado se achava seguro, Ptolomeu repartiu o mando com seu filho Ptolomeu II em 285 AC. Pode então devotar a sua aposentadoria à redação de uma história das campanhas de Alexandre, que infelizmente foi perdida, mas serviu de base para um trabalho posterior de Arrian, historiador grego do século II AC. Ptolomeu I morreu em 283 AC com a idade de 84 anos, deixando para seu filho um reino estável e bem governado.
Ptolomeu II Philadelphus sucedeu a seu pai em 283 AC, como rei do Egito e foi um rei pacífico e culto. Não necessitou mover muitas guerras porque seu pai lhe deixou um país próspero e forte. Três anos de campanha no início do seu reinado (Primeira Guerra Síria) lhe deixaram senhor do Mediterrâneo oriental, controlando as ilhas do mar Egeu e os distritos costeiros da Cilícia, Pamphylia e Caria. Contudo, alguns desses territórios foram perdidos ao final do seu reinado como resultado da Segunda Guerra Síria.
A primeira esposa de Ptolomeu, Arsinoe I, filha de Lysimachus, foi a mãe de seus filhos legítimos. Após sua separação, ele seguiu o costume egípcio e casou com sua irmã, Arsinoe II, iniciando uma prática que, embora agradando à população egípcia, trouxe sérias consequências aos reinados futuros. O esplendor material e literário da corte alexandrina atingiu seu ápice com Ptolomeu II. Callimachus, mantenedor da Biblioteca da Alexandria, Teócritus e muitos outros poetas, glorificaram a família ptolomaica. O próprio Ptolomeu ansiava por aumentar a biblioteca e apoiara pesquisa científica. Ele investiu pesadamente para tornar a Alexandria a capital econômica, artística e intelectual do mundo helenístico. É às academias e bibliotecas da Alexandria que devemos a preservação de tanta herança literária grega.
Moeda de ouro de Ptolomeu III
Ptolomeu III Euergetes sucedeu a seu pai em 246 AC. Abandonou a política de seu predecessor de afastar-se das guerras contra os demais reinos macedônicos e mergulhou na Terceira Guerra Síria com os selêucidas da Síria, quando sua irmã, rainha Berenice, e seu filho foram assassinados numa disputa dinástica. Ptolomeu marchou triunfante no coração do reino selêucida, até a Babilônia, enquanto suas frotas no mar Egeu faziam novas conquistas ao norte até a Trácia.
Essa vitória marcou o ápice do poder ptolomaico e após ele, Ptolomeu não persistiu ativamente nas guerras embora sempre tenha apoiado os inimigos da Macedônia na política grega. Sua política doméstica diferiu da do seu pai, apoiando a religião egípcia nativa: deixou traços maiores nos monumentos egípcios, marcando a gradual "egipciação dos ptolomeus".
Em 221 AC Ptolomeu III morreu e foi substituído por seu filho Ptolomeu IV Philopator, um rei fraco e corrupto que iniciou o declínio da dinastia ptolomaica. Assassinou sua mãe e esteve sempre sob a influência dos favoritos reais, masculinos e femininos, que controlavam o governo. Contudo, seus ministros ainda puderam fazer sérios preparativos contra os ataques de Antiocus III, o Grande, na Síria; e a grande vitória egípcia de Raphia, em 217 AC, garantiu o reino. Um sinal da fraqueza doméstica do seu reinado foram as rebeliões pelos egípcios nativos que retomaram quase a metade do país por mais de 20 anos. Philopator foi devotado às religiões orgíacas e à literatura. Desposou sua irmã Arsinoe, mas foi conduzido por sua concubina, Agathoclea.
Ptolomeu V Epifânio, filho de Philopator e Arsinoe, era uma criança quando galgou o trono e o reino foi conduzido por uma série de regentes. Antiocus III e Felipe V da Macedônia fizeram um pacto para tomar as possessões ptolomaicas. Felipe tomou várias ilhas e locais na Cária e Trácia, enquanto a batalha de Panium, em 198 AC transferiu a Síria ao controle selêucida. Após esta derrota, o Egito formou uma aliança com Roma, o poder crescente no Mediterrâneo. Atingindo a idade adulta, Epifânio tornou-se um tirano, antes de sua morte prematura em 180 AC. Foi sucedido por seu filho criança Ptolomeu VI Philometor.
Em 170 AC, Antiocus IV Epifânio invadiu o Egito depondo Philometor e instalando seu irmão mais jovem (mais tarde Ptolomeu VIII Euergetes II) como rei fantoche. Quando Antiocus retirou-se, os irmãos concordaram em reinar em conjunto com sua irmã Cleópatra II. Contudo, logo caíram e a briga entre eles permitiu a interferência de Roma e o aumento gradual de sua influência no Egito. Mais tarde Philometor recuperou o trono. Em 145 AC ele foi morto na Batalha de Antióquia.
Philometor foi sucedido por seu filho infante Ptolomeu VII Neos Philopator que foi foi logo assassinado por seu tio Euergetes que retomou o trono como Ptolomeu VIII tornando-se um tirano cruel. Com sua morte em 116 AC, deixou o trono para sua esposa Cleópatra III e seu filho Ptolomeu IX Philometor Soter II. O jovem rei foi deposto por sua mãe em 107 AC, que reinou com o filho mais jovem de Euergetes, Ptolomeu X Alexandre I. Em 88 AC Ptolomeu IX retornou ao trono e o reteve até a sua morte em 80 AC. Foi sucedido por Ptolomeu XI Alexandre II, filho de Ptolomeu X. Este foi linchado pela população alexandrina após ter assassinado sua madrasta, que era também sua prima, tia e esposa. Tais sórdidas disputas dinásticas deixaram o Egito tão enfraquecido que o país tornou-se, na prática, um protetorado de Roma que havia então absorvido a maioria do mundo grego.
Ptolomeu XI foi sucedido por um filho de Ptolomeu IX, Ptolomeu XII Neos Dionysos, apelidado Auletes, o flautista. Roma era então o árbitro dos negócios egípcios e anexara a Líbia e Chipre. Em 58 AC Auletes foi deposto pela população alexandrina, mas os romanos o recolocaram no poder três anos mais tarde. Ele morreu em 51 AC deixando o trono para o seu filho de dez anos, Ptolomeu XIII Theos Philopator, que reinou em conjunto com sua irmã e esposa Cleópatra VII, a mais famosa das Cleópatras.
Cleópatra VII, amante de imperadores.
Quando Cleópatra subiu ao trono egípcio tinha apenas 18 anos de idade. Reinou como Rainha “Philopator” e Faraó entre 51 e 30 AC e morreu com a idade de 39 anos. Nesse ponto torna-se necessária a inclusão de algo sobre o Império Romano para que o leitor bem possa entender o panorama geral que levou ao final do Egito como um grande império da antiguidade.
O declínio do poder dos Ptolomeus coincidiu com a ascensão do Império Romano. Com pouca escolha e vendo suas cidades caírem umas após as outras para os impérios macedônio e selêucida, os Ptolomeus decidiram aliar-se aos romanos, num pacto que durou por mais de 150 anos. Durante o governo dos últimos Ptolomeus, Roma ganhou cada vez mais poder sobre o Egito, sendo declarado guardião da Dinastia Ptolomaica. O pai de Cleópatra, Ptolomeu XII pagava tributo aos romanos para mantê-los afastados do seu reino. Com a sua morte, a queda da dinastia chegou ainda mais próxima.
Enquanto crianças, Cleópatra e seus irmãos testemunharam a derrota de seu guardião, Pompeu, por Júlio Cesar, através de guerra civil (este assunto foi visto com detalhe em nossa postagem “Breve História do Império Romano”), enquanto disputavam o controle do trono egípcio.
Em meio a esse tumulto, Júlio Cesar partiu para a Alexandria em 48 AC onde, durante sua estadia no Palácio, ele recebeu, segunda conta a história, Cleópatra, como um presente, enrolada em um tapete no auge dos seus 22 anos. Com isso, talvez, ela tenha convencido Cesar a apoiá-la na alienação de Ptolomeu XIII, pois com a chegada dos reforços romanos e algumas pequenas batalhas em Alexandria, Ptolomeu XIII foi derrotado na Batalha do Nilo, possivelmente afogado no rio, embora as circunstâncias de sua morte não sejam claras.
No verão de 47 AC, tendo casado com seu irmão mais novo, Ptlomeu XIV, Cleópatra tornou-se amante de Cesar e deu-lhe um filho, Cesarion. Em 45 AC Cleópatra e Cesarion viajaram a Roma onde ficaram em um palácio construído por Cesar em sua honra.
Em 44 AC Cesar foi assassinado em Roma por um complô de senadores e com sua morte o Império passou a ser comandado pelo Segundo Triunvirato: Marco Antônio, Otaviano e Lépido. Cleópatra observava e vendo a prevalência de Marco Antônio sobre os demais, a ele ofereceu o seu apoio, tornando-se também sua amante. A aliança de Marco Antônio (que ficara com o império oriental) e Cleópatra enfureceu Roma, que a considerava uma prostituta. Cessões de territórios romanos realizadas por Marco Antônio a Cleópatra e seus filhos, além de outros eventos menores, provocaram a declaração de guerra de Otaviano contra a “Rainha Estrangeira” e, no mar Adriático, encontram-se em Actium, onde as forças de Vespasiano derrotaram a marinha de Cleópatra e Marco Antônio.
Otaviano esperou um ano para declarar o Egito província romana, quando chegou à Alexandria e facilmente derrotou Marco Antônio, fora da cidade, que cometeu suicídio caindo sobre sua própria espada. Otaviano entrou em Alexandria no ano 30 AC e não demonstrou qualquer interesse em relação, reconciliação ou negociação com Cleópatra. Vendo próximo o seu fim, Cleópatra suicidou-se, segundo a crença atual, pela mordida de uma serpente venenosa. Com a morte de Cleópatra, a dinastia dos Ptolomeus chegou ao fim e a Alexandria permaneceu como capital do Egito, que tornou-se uma província romana.

III.11 – PERÍODO ROMANO

O Egito, portanto, tornou-se uma província do Império Romano no ano 30 AC, após a derrota de Marco Antônio e a rainha ptolomaica Cleópatra VII, para Otaviano (mais tarde o Imperador Augusto). Como vimos, os romanos dependiam muito dos embarques de grãos do Egito, e o exército romano, sob o controle de um prefeito indicado pelo imperador, dominava rebeliões, fazia cumprir a coleta de pesados impostos e impedia ataques por bandidos, que haviam se tornado problemas notórios durante o período. Alexandria tornou-se um centro cada vez mais importante na rota do comércio com o oriente, quando os supérfluos exóticos estavam em alta demanda em Roma.
Embora os romanos tivessem uma hostilidade maior do que os gregos com relação aos egípcios, algumas tradições, como a mumificação e a adoração dos deuses tradicionais, prosseguiram. A arte da mumificação floresceu e alguns imperadores romanos foram representados como faraós, embora não com a mesma intensidade dos Ptolomeus. A administração local tornou-se romana no estilo e fechada aos egípcios nativos.
A partir do meio do primeiro século DC, a cristandade fincou raízes no Egito, como um outro culto aceito, como uma religião sem compromisso que buscava conversões das religiões egípcia e greco-romana, ameaçando as tradições religiosas populares. Isso conduziu à perseguição de convertidos ao cristianismo, culminando nos grandes expurgos de Diocleciano, iniciados em 303 DC, mas que acabou saindo vencedor em 391 DC, com Teodosius. A Alexandria tornou-se palco de grandes revoltas ante pagãs, com a destruição de imagens religiosas públicas e privadas. Como consequência, a cultura religiosa nativa do Egito entrou em declínio. E embora a população nativa continuasse a falar sua língua, a habilidade em ler a escrita hieroglífica lentamente desapareceu na medida em que o papel dos sacerdotes e sacerdotisas dos templos egípcios diminuía.
E aqui, como no caso da Mesopotâmia, cessa o nosso interesse pelo Egito como uma das mais antigas civilizações do mundo.

Continuação na próxima postagem: PARTE 06

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