François-René de Chateaubriand, grande romancista, ensaísta, diplomata e político francês do Século XVIII, ele próprio Visconde, era filho do também Visconde de Chateaubriand. Sua família possuía um castelo na França, região da Bretanha, perto do mar, na localidade de Combourg, onde ele passou a sua infância. Combourg é uma comuna francesa na região administrativa da Bretanha, no departamento Ille-et-Vilaine. Estende-se por uma área de 63,55 km², com 5.223 habitantes, de acordo com o censo de 2006, com uma densidade de 76 hab/km². O castelo era enorme e a família pequena, de maneira que não preenchia, nem de perto, todas as imensas acomodações do castelo. Seu pai resolveu, então, para tornar o castelo habitado em todas as suas partes, distribuir a família pelas várias alas do castelo. E Chateaubriand –menininho de 9, 10 anos, mas já chamado nessa idade Monsieur le Chevalier –, cerca das 21:00 horas, quando era interrompido o serão familiar, de seus pais recebia um castiçal com uma vela e seguia para a sua torre, voltada para o mar, onde uivavam todos os ventos.
A comuna de Combourg situa-se perto do Canal da Mancha, que possui ventos famosos por sua intensidade. É um dos trechos de mar mais agitados do mundo. Todos os ventos sopravam por aquela torre, e Monsieur le Chevalier, por mais “Chevalier” que fosse, tinha as reações comuns de um menino diante de um forte vento. Tanto mais que em Combourg abundavam as histórias de fantasmas, coisa comum em se tratando de castelos. Quando chegavam as noites de inverno, o jovem Chateaubriand fechava o dossel em torno da cama para que o calor das cobertas e do corpo se conservasse por mais tempo. E o menino Chateubriand sofria em sua torre, com os ventos noturnos. É o próprio escritor que, em suas “Mèmoires d’outre tombe” (Memórias de outra tumba), declara suas visões e o medo que o trespassava durante aquelas longas noites de inverno: “A janela da minha torre abria-se para o pátio interno; de dia eu via, em perspectiva, os parapeitos da muralha oposta, onde vegetavam os escorpiões e crescia uma ameixeira selvagem. Alguns martinetes, que durante o verão se enfiavam aos gritos nos buracos dos muros, eram meus únicos companheiros. À noite, eu apenas percebia um pequeno pedaço do céu e algumas estrelas. Quando a lua brilhava e se escondia no ocidente, eu me sentia tocado por seus raios, que chegavam ao meu leito através dos quadrados losangulares da janela. As corujas voando de uma torre à outra, passando e repassando entre a lua e eu, desenhavam sobre as minhas cortinas a sombra móvel de suas asas. Abandonado no lugar mais deserto, na abertura das galeria, eu não perdia um só murmúrio das trevas. Algumas vezes o vento parecia correr a passo rápido, algumas vezes ele deixava escapar os gemidos; de repente, minha porta era sacudida com violência, os subterrâneos empurravam os rugidos, depois esses ruídos expiravam para recomeçar novamente. Às quatro horas da manhã, a voz do castelão, chamando o camareiro na entrada dos pilares seculares, fazia-se entender como a voz do último fantasma da noite.”
E o menino Chateaubriand, futuro “Pai do Romantismo”, entendia que era chegada a ocasião de abandonar os seus medos e retornar ao convívio dos vivos.
E o menino Chateaubriand, futuro “Pai do Romantismo”, entendia que era chegada a ocasião de abandonar os seus medos e retornar ao convívio dos vivos.
2 comentários:
Blog antigo que me fez lembrar da visita que fiz ao castelo no ano passado e das obras de Chateaubriand que tive a oportunidade de ler. Viva a Bretanha!
Prezado Thiago:
Muito obrigado pela visita!Bom saber que serve para acordar lembranças. Volta sempre!
Abraço,
Nelson Azambuja
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