Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 25 de julho de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (12) (Vigésima Parte)

NOVOS ELEMENTOS SOBRE O ARTHUR HISTÓRICO

Mais modernamente, muitos autores escreveram sobre o mesmo tema, procurando de todas as formas separar a história da lenda. Alguns, com má disfarçada intenção de demonstrar que o Rei Arthur realmente existiu, cercado de todo o mito com que hoje nos é apresentado, pesquisa que, de fato, até agora ainda não apresentamos. Seria impossível apresentar e discutir todos esses autores, razão pela qual vamos apenas discutir alguma coisa de uma dupla deles.
Em 1992, Graham Phillips e Martin Keatman publicaram um trabalho denominado “King Arthur – The True Story” (O Rei Arthur – A Verdadeira História), em que realizaram um profundo trabalho de pesquisa sobre o personagem e o mito, estudando durante muito tempo todas as obras mencionadas em nossa publicação, além de um sem número de outras pesquisas realizadas anteriormente por outros estudiosos do assunto. Gostaríamos de tocar em um ponto, que nos parece muito importante, do personagem Arthur, que é justamente a sua possível origem e a sua localização geográfica.
A tribo dos Votadini, já mencionada quando apresentamos as tribos nativas da Britain - gostaria de lembrar aos leitores que o nosso blog possui um mecanismo de busca ou pesquisa, que pode ser acionado sempre que os leitores tiverem interesse em algum assunto passado -, durante o domínio romano, era a tribo do norte mais favorável aos romanos, porque seu reino situava-se dentro de uma área que, de fato, nunca foi nem romana nem pictish, entre as Muralhas de Adriano e Antonina. Como já vimos anteriormente, a palavra Pict não denota uma tribo particular, mas era um termo romano – que significava “homens pintados” – usado para referir-se a qualquer das tribos British que ficasse fora dos limites do Império. Os Votadini e os Romanos mantinham ótimas relações: os romanos oferecendo-lhes apoio contra os hostis Picts e os Votadini ajudando os Romanos a policiarem a zona de conflito entre as duas muralhas.
Assim que as legiões romanas abandonaram a Britain, os Votadini passaram a sofrer ataques em três frentes: os Angles atacando sua linha costeira, os Picts saqueando do norte e os Scotti (da Ireland) tentando a invasão pelo oeste. Foram os Votadini, certamente, notáveis guerreiros, pois conseguiram suportar o assédio das forças combinadas até o início do século VII. Em consequência, não teria sido difícil, para Ambrosius, convencer os Votadini a se estabelecerem a noroeste de Wales, para contar com o seu apoio contra os Irish. A colonização do noroeste de Wales pelos Votadini, na segunda metade do século V, é comprovada por evidência cerâmica daquela tribo, descoberta em Gwynedd, o reino que teria sido então criado por seu líder Cunedda, durante o período de Ambrosius. A migração dos Votadini é também reconhecida pela Historia Brittonum, do Welsh Nennius, e pelos Annales Cambriae, como um evento histórico, apresentando enorme importância no que se refere ao levantamento da linhagem de Arthur. Teria o pai de Arthur sido um dos Votadini, talvez o seu próprio líder Cunedda ou um de seus filhos?
Gwynedd era, sem dúvida, o mais poderoso reino à época de Gildas (em torno de 545) - o que torna razoável supor que fosse um legado de Arthur – sendo quase certo admitir que Ambrosius daí emergiu; e como Arthur aparece como sucessor de Ambrosius e não um seu usurpador, tudo indica que fosse também do mesmo reino. Isso não conflitaria com o nome do pai de Arthur, segundo Geoffrey of Monmouth, em sua Historia Regum Britanniae, Uther Pendragon, considerando que este fosse um título e não o seu próprio nome, significando “terrível dragão chefe”. Além disso, Nennius menciona que Arthur não era um rei British, embora “um igual dos reis British”, uma descrição que caberia a um rei dos Votadini que, embora não bretões, eram um povo confiável, com inimigos comuns. Sendo Arthur um Votadini, seria um comandante em chefe ideal das forças British, vindo de uma raça de guerreiros com muita experiência original na luta não apenas contra os Anglo-Saxons, mas também contra os Scotti e os Picts e, mais importante que tudo, teria permanecido alheio às disputas que sempre haviam dividido os povos naturais da Britain.
Localização do Reino de Gwynedd, noroeste de Wales

Uma outra forte evidência de que Arthur era um dos Votadini de Gwynedd, vem daquela que pode ser a mais antiga de todas as referências Arthurianas, um antigo poema chamado Gododdin, aceito como composto ao final do século VI, originário dos Votadini e tratando de um grupo de guerreiros estabelecido no extremo norte para lutar contra os Anglo-Saxons. Em uma passagem o poeta louva a coragem de um herói que, embora lutando bravamente, “não chegava próximo de Arthur”, certamente indicando que ele era um membro estimado da mesma tribo.
Agora, se Arthur era da casa real de Gwynedd, porque o seu nome não aparece registrado nas genealogias? Possivelmente pela mesma razão que Vortigern e Uther, o nome Arthur teria sido apenas um título ou apelido. Na língua Brythonic, a primeira sílaba Arth significava urso, sendo prática comum à época, os senhores da guerra Celtic assumirem um nome de batalha de um animal. Inscrições remanescentes do século V atestam que os reinos pró Britain falavam o Brythonic, ao passo que simpatizantes dos romanos continuavam a falar o Latim. A palavra ursus, em latim, significa urso, o que indica que o seu título original possa ter sido Arthursus, mais tarde abreviado para Arthur. Ou seja, o líder de Britons divididos, para personificar a unidade, poderia ter adotado um nome formado pelas duas línguas, significando a mesma palavra “Urso”.
Em um discurso sobre Cuneglasus, primo de Maglocunus, Gildas, em sua obra já mencionada “De Excidio et Conquestu Britanniae”, o chama de condutor da “Fortaleza do Urso”. Como Cuneglasus era um rei de direito, ao tempo em que Gildas escrevia (cerca de 545), a passagem implica que ele estava no comando do que tinha sido, uma vez, a fortaleza do Urso, isto é, a capital do comando de Cuneglasus parece ter sido a fortaleza de Arthur. Ao tempo de Gildas, cinco reinos eram suficientemente poderosos para terem sido o reino de Cuneglasus, mas três deles podem ser descartados porque Gildas deixa muito claro por quem eram eles governados. Como um deles era Gwynedd, parece que, embora Arthur tenha se originado aí, ao tempo em que se tornou líder dos Britons, tivesse estabelecido sua base em outro lugar, restando apenas Gwent ou Powys para o reino de Cuneglasus. Como Powys limita com Gwynedd (ver mapa acima) e as inscrições e genealogias do período mostram que a família de Cunedda governava lá, tudo indica, que Powys seria a fortaleza de Arthur, o que possui senso histórico: o reino de Powys, fortaleza de Vortigern, líder da tribo vizinha dos Cornovii, teria sido conquistada pelas forças de Gwynedd, sob a liderança de Ambrosius.

Localização de Viroconium, nos limites entre Wales e England
As incursões dos invasores germânicos do leste, dos Picts ao norte e dos Irish ao oeste, enfraqueceram consideravelmente as fronteiras das tribos costeiras, fazendo com que a posição central dos Cornovii lhes tenha propiciado uma posição estratégica única de resistência, após a partida dos romanos, muito antes de todos os seus vizinhos, como reino autônomo. Foi assim que Vortigern tornou-se o chefe supremo das várias tribos satélites que se uniram à sua própria tribo, os Cornovii, constituindo o reino de Powys, cuja capital permaneceu sendo a antiga cidade romana de Viroconium, a quarta maior cidade da Britain romana. Situada no atual condado de Shropshire, tudo o que resta hoje de Viroconium, antiga metrópole com ruas calçadas, abastecimento de água e sistemas de drenagem, suas próprias cortes de justiça, mercado e outros prédios públicos, são ruínas descansando em terras agrícolas, muito próximas da diminuta vila de Wroxeter, a sudeste de Shrewsbury.

Vista aérea das ruínas de Viroconium, muito próximo de Wroxeter
Uma extensa escavação arqueológica iniciada ao final da década de 1960, mostrou que durante a primeira metade do século V a cidade de Viroconium foi totalmente reconstruída, de maneira altamente sofisticada, o que só poderia ter sido alcançado a custos altíssimos e com poderosa liderança. A época e local batem exatamente com o que se sabe sobre Vortigern, consubstanciando os escritos de Gildas, Bede, Nennius e as Crônicas, que registraram a existência do poderoso líder na Britain após o período romano. Além disso, evidência de que os Votadini governaram Viroconium ao final do século V é fornecida por uma lápide, datada de 480 DC e encontrada nas escavações de 1967, com o nome Cunorix, carregando o prefixo “Cun”, da família Cunedda. Finalmente, as escavações mostraram ainda que a cidade não foi abandonada em favor de um local mais seguro, até cerca de 520 DC, tendo permanecido como a capital do reino de Powys até essa data. Nesse caso é seguro admitir que, se a fortaleza de Arthur tivesse sido Powys, então Viroconium teria sido a sua capital, ou a Camelot real.

Ruínas em Viroconium (2)
Ruínas de casa de banhos em Viroconium (1)

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