Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MIKHAIL BAKUNIN E O ANARQUISMO (Parte 3)

III - BAKUNIN

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin
Mikhail Aleksandrovitch Bakunin nasceu em Premukhimo, na Rússia, em 30 de maio de 1814 e faleceu em 01 de julho de 1876, na cidade de Berna, na Suíça. Foi um político teórico russo e um dos principais expoentes do anarquismo nos meados do século XIX. Nascido no Império Russo, de uma família de sete filhos, proprietária de terras de tendência nobre, durante a sua infância, seu pai Alexander, que se identificava com o liberalismo europeu e a Revolução Francesa, apresentou à sua família as ideias em torno deste movimento e ofereceu aos seus filhos uma educação primária baseada nestes mesmos ideais.
No entanto, depois dos fracassados levantes dezembristas de 1825, Alexander Bakunin, horrorizado com a violência e temeroso que as ideias liberais lhe causassem problemas, tornou-se um leal czarista a defender os benefícios da aristocracia russa que, a época, era quase toda composta por famílias da nobreza daquele país. Nesta mesma época Alexander decidiu mandar Mikhail para São Petersburgo para que ele se tornasse um oficial de artilharia. Aos 14 anos de idade Mikhail Bakunin deixou a casa de sua família, em Premukhimo, para a Universidade de Artilharia em São Petersburgo. Lá o jovem Bakunin completou seus estudos em 1832, e em 1834 foi promovido a oficial júnior da Guarda Imperial Russa. Seu pai imediatamente exigiu que ele fosse transferido para o exército regular. Após a transferência de cargo, a bateria na qual Bakunin estava alistado foi enviada à Minsk e Gardinas, na Lituânia.
Deprimido e insociável, em meio ao inverno rigoroso e preso em uma pequena aldeia congelada, teve início a revolta do jovem e Bakunin passaria a negligenciar seus deveres, mentindo, para passar os dias envolto em pele de carneiro. Teria sido então nesse momento que os seus ideais libertários teriam começado a se manifestar? A necessária disciplina do exército o teria incomodado tanto? Diante da incontinência, o oficial em comando lhe deu duas opções: retomar suas funções regulares ou desligar-se do exército. Bakunin tomaria a segunda e mais fácil decisão, retornando à casa paterna no início da primavera.
Diante do seu retorno, como seria fácil imaginar, a relação com o pai se tornaria cada vez mais conflituosa e os problemas de todos se agravariam. No verão seguinte ele tomaria parte em uma briga familiar assumindo o lado de sua irmã que se rebelara contra o pai, defensor de um casamento em que sua filha se sentia infeliz, ampliando ainda mais as suas revoltas. Em 1835 Mikahil Bakunin parte para Moscou com o objetivo de estudar filosofia, caminho natural para muitos jovens incomodados por problemas existenciais. A escolha se contrapunha frontalmente ao projeto de vida defendido por seu pai: tornar-se um grande oficial de carreira militar. E acontece o inevitável rompimento.
Mikahil Bakunin passou sua juventude em Moscou, estudando filosofia, com um grupo de estudantes universitários, engajados no estudo sistemático de filosofia idealista – em oposição à materialista. A filosofia de Kant era, inicialmente, a central neste círculo de estudos, mas depois alternaram para Schelling, Fichte e Hegel. E começou a frequentar os círculos radicais onde foi, em grande medida, influenciado pelas ideias de Aleksandr Herzen, considerado “o pai do socialismo russo”, filósofo, escritor, jornalista e político russo, seu contemporâneo e um dos primeiros críticos russos ao capitalismo e à burguesia. Esses, sempre e inevitavelmente, têm sido os grandes vilões de todos os males da humanidade, como se, não existindo, pudesse existir a riqueza possível de minorar os males maiores dos miseráveis. A propósito, Herzen era filho ilegítimo de um rico proprietário de terras russo com uma jovem protestante alemã, o que poderia ajudar a explicar a sua aversão ao capitalismo e à burguesia.
Foi fortemente influenciado pelo pensamento de Hegel, sendo o autor da primeira tradução de sua obra para o idioma russo, mesma época em que começa a desenvolver uma perspectiva pan-eslávica. Depois de longas discussões com seu pai, Bakunin foi para Berlin em 1840 onde, inicialmente, planejava tornar-se um professor universitário, mas logo encontrou e passou a fazer parte de um grupo de estudantes denominado "Esquerda Hegeliana", unindo-se ao movimento socialista. Em seu ensaio de 1842 “A Reação na Alemanha”, ele argumentava em favor da ação revolucionária da negação, resumida na frase:
A paixão pela destruição é uma paixão criativa”.
Mudou-se para Dresden (Alemanha) e depois para Paris (França), onde conheceu grandes pensadores políticos entre estes George Sand, Pierre-Joseph Proudhon e Karl Marx, todos socialistas. Por essa época já havia abandonado seu interesse na carreira acadêmica, devotando mais e mais do seu tempo à promoção da revolução. Preocupado com seu radicalismo o governo imperial russo ordenou que ele retornasse a Rússia. Diante de sua recusa, todas as suas propriedades – já herdadas de seu pai - em território russo foram confiscadas. Nesta mesma época Bakunin foi para a cidade suíça de Zurique, onde permaneceu por seis meses. Em Bruxelas encontrou-se com oradores do nacionalismo e do progressismo polonês, como Joachim Lelewel, membro da Associação Internacional de Trabalhadores, junto com Karl Marx e Friedrich Engels. Logo rompeu com os poloneses por discordar de muitas das suas ideias. Foi deportado da França por discursar publicamente contra a opressão russa na Polônia. No outono de 1848 Bakunin publicou seu “Apelo aos Eslavos”, em que propunha que os revolucionários eslavos se unissem com os revolucionários húngaros, italianos e alemães para derrubar as três maiores autocracias da Europa, o Império Russo, o Império Austro-Húngaro, e o Reino da Prússia. Em 1849 foi preso em Dresden por sua participação na Rebelião de 1848, ocorrida em toda a Europa Central.
Após ter sido preso e sentenciado em vários países da Europa, foi finalmente enviado de volta ao Império Russo, onde foi aprisionado na Fortaleza de Pedro e Paulo, em São Petersburgo, onde teria assinado confissão bastante controversa. Depois de três anos ele passaria outros quatro preso nas masmorras subterrâneas do castelo de Shlisselburg, onde sofreria com o escorbuto e perderia todos os dentes como resultado de aterradora dieta. Seu contínuo aprisionamento, nessas terríveis condições, fizeram com que ele pedisse ao seu irmão que lhe trouxesse veneno para dar um fim mais digno ao seu sofrimento. Em fevereiro de 1857, sua mãe fez um apelo ao imperador Alexandre II, que resultou na deportação de Bakunin ao exílio permanente na cidade de Tomsk, na Sibéria Ocidental. Após muitas peripécias e ajudado por parentes influentes na Sibéria, conseguiu escapar do exílio indo para o Japão, Estados Unidos e, de lá, retornando para Londres, onde ficou durante um curto período de tempo em que, juntamente com Herzen, colaborou para o periódico jornal radical Kolokol ("O Sino"). Em 1863 Bakunin partiu da Inglaterra para se juntar à insurreição na Polônia, mas não conseguiu chegar ao seu destino, permanecendo algum tempo na Suíça e na Itália, onde manteve contato com Garibaldi. Foi lá que pela primeira vez ele se autodeclarou anarquista e expôs suas ideias como tal.
Apesar de ser considerado um criminoso pelas autoridades religiosas e governamentais, já naquela época, Bakunin havia se tornado uma figura de grande influência para a juventude progressista e revolucionária, não só na Rússia, mas por toda a Europa. Em 1868, tornou-se membro da “Associação Internacional de Trabalhadores” (AIT), uma federação de progressistas e organizações sindicais com grupos, em grande parte, dos países europeus. Entre os anos de 1869 e 1870, Bakunin esteve envolvido com o revolucionário russo Sergey Nechayev em um número significativo de projetos clandestinos. Em conjunto os dois teriam escrito os livretos "Palavras à juventude – princípios da revolução" e "Catecismo de um Revolucionário", obras consideradas por muitos um exemplo de frieza maquiavélica. Entretanto, logo em seguida, Bakunin reveria esta posição rompendo com Nechayev devido aos seus métodos "jesuítas", como o próprio Bakunin posteriormente definiria. Desde então passa a criticar a ideia de Nechayev de que todos os meios são justificáveis para atingir aos fins revolucionários.
Em 1870, entrou na insurreição de Lyon, um dos principais precedentes da Comuna de Paris, o primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na capital francesa por ocasião da resistência popular ante a invasão alemã, durante a guerra franco-prussiana. Em 1872 Bakunin havia se tornado uma figura influente na AIT, fazendo com que, através de suas posições, o congresso ficasse dividido em duas tendências contrapostas: uma delas, que se organizava em torno da figura de Marx, defendia a participação em eleições parlamentares e a outra, de caráter libertário, opondo-se a essa, considerada não revolucionária, se articulava em torno de Bakunin.
A posição defendida pelo círculo de Bakunin acabaria sendo derrotada em votação e, ao fim do congresso, Bakunin e muitos membros foram expurgados sob a acusação de manterem uma organização secreta dentro da Internacional. Os libertários, entre eles Bakunin responderam à acusação afirmando que o congresso fora manipulado, e que por esse motivo organizariam sua própria conferência da Internacional em Santo-Imier na Suíça depois, de 1872. Ainda que Bakunin aceitasse a análise de classes de Marx e suas teorias econômicas relacionadas ao capitalismo, reconhecendo-o em sua genialidade, ele considerava Marx um arrogante, e achava que seus métodos poderiam comprometer a revolução social. Bakunin criticava de forma efusiva o que chamava de "socialismo autoritário" (que associava sobretudo ao Marxismo) e o conceito de ditadura do proletariado, que refutava abertamente:

“Se você pegar o mais ardente revolucionário e investi-lo de poder absoluto, dentro de um ano ele será pior que o próprio Kzar”.

Bakunin e a frase que o tornou famoso
As palavras de Bakunin, antecipadas em minha Introdução e causa primeira desta postagem, evidenciando a falha da estratégia marxista, soavam proféticas com relação aos acontecimentos do século XX.
Bakunin manteve-se envolvido em muitas atividades no âmbito dos movimentos revolucionários europeus.
De 1870 à 1876, escreveu grande parte de sua obra, textos como “Estadismo e Anarquia” e “Deus e o Estado”.  Apesar de sua saúde frágil, tentou participar em uma insurreição em Bolonha, mas foi forçado a voltar para a Suíça, disfarçado, para receber tratamento médico.
Vila Baronata, Lugano, cedida por Carlo Cafiero
Em 1873, morando em Lugano, Suíça, conviveu com Errico Malatesta, teórico e ativista anarquista italiano, também membro da AIT. Bakunin ainda participaria, em 1874, de uma tentativa de revolta na cidade italiana de Bologna. Esta, no entanto, não alcançou êxito, fazendo com que o velho revolucionário retornasse a Lugano, onde passou seus últimos anos. No final de sua vida, com muitos problemas de saúde, foi levado, por um amigo, para um hospital em Berna, onde encontrou seu fim em 1º de julho de 1876.
Seu corpo foi enterrado no cemitério de Bremgarten na cidade de Berna. Seu túmulo mantido graças às doações de um suíço anônimo, ainda é visitado por anarquistas vindos de todo o mundo.
Túmulo de Bakunin


Bakunin é lembrado como uma das maiores figuras da história do anarquismo e um oponente do Marxismo em seu caráter autoritário, especialmente das ideias de Marx de ‘Ditadura do Proletariado’. Ele segue sendo uma referência presente entre os anarquistas da contemporaneidade.

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