Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 13 de outubro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 2)

O REI WILLIAM

A disputa pela Inglaterra, contudo, não havia terminado. William manteve seu exército em Hastings por uma semana e então marchou pelo sudeste da Inglaterra, via Dover e Canterbury, para a Ponte de Londres. Também aí encontrando forte resistência, prosseguiu pela margem sul do Tâmisa para Wallingford, enviando um destacamento para tomar Winchester, a caminho. Já era novembro e a longa campanha havia solapado a vontade inglesa à resistência. Dover e Southwark haviam sido arrasadas e William tinha agora o controle de Canterbury, o centro religioso da Inglaterra, além de Winchestrer, o assento cerimonial dos reis ingleses. Em Wallingford ocorreram as primeiras submissões, quando o arcebispo Stigand de Canterbury conduziu uma delegação de importantes bispos e nobres do rei que se renderam a Williams, e o guardião de Wallingford, Wigot, abriu-lhe os portões. Perto do Natal, os condes Edwin, Morcar e Waltheof, com o arcebispo Ealdred, de York, também já haviam se rendido, após assegurarem suas posições sob o novo regime.
William foi coroado pelo arcebispo Ealdred, no dia de Natal, na nova abadia-catedral de Edward, em Westminster, como William I da Inglaterra. Significativo pelo fato de aí também ter sido coroado o rei Harold, assim reforçando a continuidade entre o seu e o velho regime de Edward; além disso, não foi coroado por Stigand, cuja legitimidade fora questionada pelo Papa.

A INGLATERRA APÓS WILLIAM

O vitorioso William, agora conhecido como “O Conquistador”, trouxe uma nova aristocracia, da Normandia e outras áreas da França, para a Inglaterra. Também reforçou a aristocracia dos lordes e avançou na reforma da igreja. Ao mesmo tempo, fui cuidadoso ao preservar a poderosa máquina administrativa que havia caracterizado o regime dos últimos reis anglo-saxões.
Robert Curthose, primogênito de William I, Duque da
Normandia, de 1087 a 1106
Com a morte de William, em 1087, suas terras da Normandia e Inglaterra foram divididas, com seu filho mais velho, Robert, ficando com o controle da Normandia, e seu segundo filho, William Rufus, tornando-se rei da Inglaterra, como Williams II.
A posse de Williams II não foi bem aceita por todos, em particular pelo grupo formado por vários barões e o meio-irmão de William o Conquistador, Odo, bispo de Bayeux, que queria seu irmão Robert como governante da Inglaterra e Normandia. Robert da Normandia enviou tropas para apoiar o levante, que foram rechaçadas pelo mau tempo. William II mostrou habilidade política para convencer seu apoio e os rebeldes foram derrotados. Em 1095 ele derrotou outra rebelião, conduzida pelo Conde da Northumbria e, posteriormente, derrotou Robert, numa invasão à Normandia, assim mantendo o poderoso reino de seu pai.
William II da Inglaterra,
1087 a 1100
Lanfranc, um lombardo muito próximo de William o Conquistador, a partir de 1040, foi feito arcebispo de Canterbury em 1070, após a deposição do arcebisbo anglo-saxão Stigand. Por todo o seu arcebispado, Lanfranc foi figura central nas questões seculares e eclesiásticas da Inglaterra. Representou um papel chave ao detectar a “Revolta dos Condes”, ajudar a manter a independência da igreja na Inglaterra e atuar como influência restritiva sobre o rei. Com sua morte, em 1089, as boas relações entre o rei e a igreja tombaram. O novo arcebispo, Anselm, investido pelo rei em março de 1093, era um teólogo e filósofo muito influente, canonizado após sua morte, mas que envolveu-se em disputas com Rufus e seu sucessor Henry I.
Rufus morreu em um acidente de caçada em 1100 e seu irmão mais novo, Henry, rapidamente e com êxito movimentou-se para tomar o trono. Reforçou os laços do regime normando com o passado anglo-saxon, casando-se com Edith (também conhecida como Matilda), a bisneta de Edmund Ironside, rei da Inglaterra.
Henry I da Inglaterra, 1100 a 1135
Em 1106, Henry arrancou o controle da Normandia de seu irmão Robert, a quem manteve prisioneiro a partir daí. Enquanto os conflitos prosseguiam na Normandia, a Inglaterra passou por uma paz bastante duradoura durante o reinado de Henry I.
O único filho legítimo de Henry afogou-se em um naufrágio em 1120 e o rei forçou seus nobres a jurar o reconhecimento de sua filha Matilda como sua herdeira, embora muitos a considerassem inadequada para governar, situação agravada pelo seu casamento com membro da família Anjou, em 1127. Quando Henry I morreu em 1135, a sucessão ainda estava indefinida e o seu sobrinho Stephen of Blois, conde de Boulogne, tirou vantagem da discórdia assegurando apoio para sua própria sucessão a partir de figuras políticas e administrativas chaves da Inglaterra. Ele foi coroado rei por William of Corbel, arcebispo de Canterbury
Matilda, a filha de Henry, desafiou a posição de Stephen e com seu marido, Geoffrey, Conde de Anjou, teve rápido sucesso na Normandia, mas na Inglaterra uma extensa guerra civil desenvolveu-se. O poderoso governo real, que tinha caracterizado o reinado normando, baqueou.
Stephen, rei da Inglaterra
de 1135 a 1154
Em 1153 acordou-se que Stephen reinaria pelo resto de sua vida, mas que seria sucedido pelo filho de Matilda, Henry of Anjou. É possível que o acordo não tivesse sido feito para ser cumprido, mas Stephen morreu ao final de 1154 e Henry foi coroado como Henry II da Inglaterra, o primeiro rei Plantagenet(1), que sucedeu à anarquia e guerra civil do reinado de Stephen. Assim, ele adicionou a Inglaterra às suas extensas terras continentais, que incluíam a Normandia, Anjou e a Aquitânia, herdade de sua esposa Eleanor.

NOVAS CONQUISTAS

Os normandos também se expandiram para a Escócia e País de Gales, embora de uma forma diferente do que a conquista da Inglaterra. Os reis escoceses, a partir de Malcolm Canmore (1058 a 1093), consideraram introduzir o pessoal e as práticas normandas em seu reino, talvez um pouco por respeito à sua observada superioridade cultural, mas certamente a fim de reforçar sua própria posição política. Os reis e religiosos também trouxeram a igreja escocesa mais em linha com aquela da cristandade mais ao sul. Houve períodos significativos de antagonismo entre os reis escoceses e ingleses, mas também períodos da paz, como durante David I da Escócia e Henry I da Inglaterra.
Henry of Anjou, depois Henry II,
rei da Inglaterra de 1135 a 1189
A expansão normanda no País de Gales ainda tomou um rumo diferente, grandemente conduzida pela aristocracia normanda. As incursões tiveram lugar ao longo da fronteira anglo-galesa, mas notadamente ao norte, a partir do condado de Chester e ao sul, onde emergiu o domínio dos lordes Marcher(2), como Pembroke e Ceredigion. Os reis ingleses participaram deste processo e Henry I, em particular, foi ativo no País de Gales. Contudo, com a ascensão de Stephen na Inglaterra, houve uma confirmação do poder independente galês.

A SOCIEDADE E A ARQUITETURA DURANTE O PERÍODO

A economia da Inglaterra vinha se expandindo pelo menos há um século antes da conquista normanda e era caracterizada por mercados crescentes e cidades em expansão. Pelo século XII, uma das maneiras pela qual escritores ingleses depreciaram outros povos, notavelmente galeses e irlandeses, foi descrever suas economias como primitivas, como mercados, câmbio e cidades deficientes.
Eleanor of Aquitaine, esposa de Henry II
Ao mesmo tempo, reis e lordes fora da Inglaterra deliberadamente procuraram estimular a riqueza de outros países, como claramente visto pela introdução da cunhagem e o estabelecimento de burgos por David I da Escócia e seus sucessores. Numa tal economia, havia, claramente, espaço para homens ascenderem pelo aumento de suas riquezas. Ao mesmo tempo, ela permaneceu uma sociedade notavelmente hierárquica, o processo da conquista reforçando o papel da nobreza. O “Domesday Book”(3)  mostrou que 11 membros líderes da aristocracia detinham em torno de um quarto do reino. Outro quarto estava em mãos de menos de 200 outros aristocratas. Tais nobres haviam recebido suas terras por outorga real dando, por sua vez, parte de suas terras a seus próprios seguidores. Essa forma de posse de terra é muitas vezes vista como elemento chave de um sistema “feudal” – uma forma de organização social tida como introduzida pelos normandos após 1066. O processo de conquista e povoamento normandos uniu uma boa variedade da nobreza – com relação à proteção, servico e jurisdição – e ligou-os ao vínculo da posse da terra, ao qual os homens da época se referiam como “feudo” ou “fief”. O poder do domínio dos lords podia resultar no enfraquecimento real e o rompimento do controle politico em grande escala. Foi o que sucedeu durante a guerra civil do reinado de Stephen, entre 1135 e 1154.
O "Domesday Book", o grande levantamento
da Inglaterra feito por William I
Contudo, seria errado ver a aristocracia e o rei, o domínio dos lordes e o reino como necessariamente opostos. Reis e lordes viam-se uns ao outros como companheiros naturais, engajados numa relação mutualmente benéfica.
Os normandos tiveram uma enorme influência no desenvolvimento arquitetônico da Bretanha. Havia, antes, em larga escala, assentamentos fortificados conhecidos como burghs (burgos) e também casas fortificadas na Inglaterra anglo-saxã, mas o castelo foi uma importação normanda. Os números são incertos, mas parece razoável que em torno de 1.000 castelos foram construídos até o reinado de Henry I, quatro décadas após a conquista normanda. Alguns eram apenas torres ou colinas cercadas por grandes muralhas; outros eram imensos, particularmente os castelos-palácios que William construiu em Colchester e Londres. Estes foram as maiores construções seculares em pedra desde o tempo dos romanos, seis séculos antes. Foram uma celebração ao triunfo de William, mas também um sinal da sua necessidade intimidar os conquistados.
Igrejas também foram construídas em grande número e variedade, embora usualmente no estilo romanesco com seus característicos arcos arredondados. As vastas catedrais do final do século XI e início do século XII, colossais quando comparadas aos padrões europeus, enfatizaram o poder dos normandos bem como a reforma da igreja no reino conquistado. Os normandos também continuaram a grande construção de igrejas paroquiais lá iniciadas, ao final do período anglo-saxão. Tais igrejas apareceram também no resto das ilhas britânicas e podem ainda ser vistas em muitos lugares da Escócia. Um lorde podia dispor sua riqueza, poder e devoção, através de uma combinação de castelo e igreja bem próximos, como ainda espetacularmente visível em Durham, nordeste da Inglaterra.

(1) A Casa dos Plantagenet foi uma dinastia real que ganhou proeminência na Idade Média superior e durou até o seu final. Dentro desse período alguns historiadores identificam quatro casas reais: Angevin, Plantagenet, Lancaster e York. O nome da dinastia Plantagenet data do século XV e vem de um apelido de Geoffrey, do século XII. Uma visão retrospectiva comum é de que Geoffrey of Anjou fundou a dinastia através do seu casamento com Matilda, a filha de Henry I da Inglaterra. A partir da ascensão do seu filho Henry II através do Tratado de Winchester que encerrou décadas de uma guerra civil, uma longa linha de reis Plantagenet governou a Inglaterra, até a morte de Richard III, em 1485 (na batalha de Bosworth). Henry II acumulou uma vasta e complexa propriedade feudal através do seu casamento com Eleanor of Aquitaine, que se estendia dos Pirineus à Irlanda e às bordas da Escócia, mais tarde chamado de Império Angevin.
(2) Um lorde Marcher era um nobre poderoso e confiável, indicado pelo rei da Inglaterra para guardar a fronteira entre a Inglaterra e o País de Gales. Esse lorde Marcher é o equivalente ao Marquês da França e, neste contexto, a palavra march significa uma região limite ou fronteira, possuindo a mesma raiz do verbo to march, que significa, também, bordejar. Os maiores lordes Marcher, incluíram os condes de Chester, Gloucester, Hereford e Pembrook.
(3) O Domesday Book, hoje mantido nos Arquivos Nacionais, em Londres, é o resultado do grande levantamento de quase toda a Inglaterra e partes do País de Gales, iniciado em 1085 e completado em 1086, por determinação de William I da Inglaterra, com o objetivo principal de descobrir o que e quanto cada proprietário possuía em terras e criações e qual o seu valor.


Prossegue na Parte 3

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