Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 5)

Edward III da Inglaterra
O REINADO DE EDWARD III (1327-1377)

A juventude de Edward foi passada na corte de sua mãe e ele foi coroado com a idade de catorze anos, após a deposição de seu pai. Após três anos de dominação por sua mãe e o amante, Mortimer, Edward instigou uma revolta no palácio, em 1330, e assumiu o controle do governo, executando Mortimer e exilando Isabella da corte. Casou-se com Philippa de Hainault, em 1328, com quem teve nove filhos que sobreviveram até a idade adulta.
A guerra ocupou a maior parte do reinado de Edward III. Com Baliol ele derrotou e colocou no exílio a David II da Escócia. A cooperação francesa com os escoceses, a agressão francesa na Gasconha e a reivindicação de Edward ao disputado trono da França (através de sua mãe Isabella), conduziram à primeira fase da “Guerra dos Cem Anos”, nome que os historiadores dão a uma séria de conflitos ocorridos por mais de um século (1337 a 1453), entre a Inglaterra e a França, e que consagrou Joana D’Arc. As causas foram complexas e variadas, incluindo ambições inglesas territoriais e dinásticas na França e vice-versa, e iniciaram quando o rei francês Philip VI confiscou a Gasconha, o que fez com que Edward III da Inglaterra se declarasse o herdeiro legítimo do trono francês, por sua mãe Isabella, filha de Philip IV e irmã de Charles IV.
Em 1340, uma frota inglesa, muito inferior, atacou e destruiu esquadra francesa, deslocada para Sluys (atual Vlissingen) para ameaçar a Inglaterra após a deflagração da Guerra dos Cem Anos, em 1337, e a guerra que se seguiu foi travada em solo francês.
Neste mesmo ano, Edward III formalmente assumiu como ‘Rei da França e do Real Exército Francês’.Embora os historiadores discutam sobre suas pretensões, tal reivindicação deu-lhe importante poder em suas negociações com Philip.
Em julho de 1346 Edward III invadiu a Normandia, marchando para o norte, onde os dois exércitos de enfrentaram em Crécy. Embora em número bem superior, os fragmentados ataques franceses foram sempre repelidos pelos arqueiros ingleses e galeses, que causaram pesadas baixas, constituindo a primeira grande vitória inglesa da Guerra dos Cem Anos, seguidas por Poitiers (1356) e Agincourt (1415).
"O Triunfo da Morte" (Pieter Bruegel) - representando a
Europa Medieval após o advento da Peste Negra.
O desastre mais tarde conhecido como “Peste Negra”, uma das mais devastadoras epidemias da história humana, chegou à Europa em 1347, onde matou entre 70 e 200 milhões de pessoas. Após o primeiro registro relatado em solo inglês, em Melcombe Regis, Dorset, a praga apareceu em vários pontos da costa sul inglesa no verão de 1348, espalhando-se para o interior. Em média, entre 30% e 45% da população mais baixa morreu, mas em algumas localidades, 80 a 90% da população sucumbiu. A praga recorreu regularmente, embora menos severamente, por toda a segunda metade do século XIV e ainda século XV. Embora várias teorias divergentes sobre a etiologia da Peste Negra, análises recentes de DNA das vítimas, nas regiões sul e norte da Europa, indicam que a responsável foi a bactéria Yersinia Pestis, provavelmente causando várias formas de pestes, entre elas a peste bubônica, transportada por ratos, passageiros regulares dos navios mercantes da época.
As hostilidades cessaram após a eclosão da Peste Negra, mas a guerra reacendeu com uma invasão inglesa na França em 1355. Edward, o Príncipe Negro e filho mais velho de Edward III, derrotou a cavalaria francesa em Poitiers (1356) e capturou o rei francês John. Em 1539 o Príncipe Negro cercou Paris com seu exército e os franceses derrotados negociaram a paz. O tratado de Brétigny, em 1360, cedeu enormes áreas da França norte e oeste à soberania inglesa. As hostilidades recrudesceram em 1369 quando os exércitos ingleses sob o comando do terceiro filho do rei, John of Gaunt, invadiu a França. O poderio militar inglês, enfraquecido após a peste, gradualmente perdeu tanto terreno que, em 1375, Edward concordou com o Tratado de Bruges, que deixava apenas as cidades costeiras de Calais, Bordeaux e Bayonne em mãos inglesas.
John of Gaunt, irmão do Príncipe
Negro e pai de Henry IV

A natureza da sociedade inglesa mudou muito durante o reinado de Edward III, que aprendeu com os enganos do seu pai e teve relações mais cordiais com a nobreza do que qualquer outro rei anterior. O feudalismo se dissipou à medida que o mercantilismo emergia: a nobreza mudou de um grande corpo com pequenas posses para um pequeno corpo com muitas terras e riquezas. Tropas mercenárias substituíram as obrigações feudais na reunião de exércitos. A taxação de exportações e comércio substituiu os impostos sobre a terra como fonte primária de financiamento do governo (e da guerra). A riqueza resultou dos mercadores, à medida que eles e outros súditos da classe média apareciam regularmente às sessões parlamentares. O Parlamento foi formalmente dividido em duas casas – a superior (dos Lordes), representando a nobreza e o alto clero, e a inferior (dos Comuns), representando a classe média – e se reunia regularmente para financiar as guerras de Edward e votar as leis. A traição foi definida pela primeira vez por lei (1352), o escritório da Justiça da Paz foi criada para ajudar os corregedores (1361) e o inglês substituiu o francês como língua nacional (1362)!
A despeito dos sucessos iniciais do rei e da prosperidade geral da Inglaterra, muito ainda permaneceu errado no reino. Edward e seus nobres estimularam o cavalheirismo romântico como seu credo, enquanto saqueavam uma França devastada; o cavalheirismo enfatizava a glória da guerra enquanto a realidade exauria as finanças. A influência da igreja diminuiu, mas John Wycliff liderou um movimento de reforma eclesiástica (como precursor da Reforma Protestante) que desafiou a exploração da Igreja pelo Rei e pelo Papa. As incursões militares fracassadas de John of Gaunt na França, causaram uma taxação excessiva, desgastando o apoio popular de Edward.
Os últimos dias do reinado de Edward III espelharam os primeiros: novamente uma mulher o dominou. Philippa morreu em 1369 e Edward tomou como amante a inescrupulosa Alice Perrers. Com Edward na senilidade e o Príncipe Negro doente, Perrers e William Latimer (o camareiro mor) dominaram a corte com o apoio de John of Gaunt. Edward, o Príncipe Negro, morreu em 1376 e o velho rei passou seus últimos dias em dor.

RICHARD II (1377 – 1399)
Richard II da Inglaterra

Como Edward, o 'Príncipe Negro', morreu cedo, a sucessão passou para o neto de Edward, Richard II, filho do ‘Príncipe Negro’ e Joan, a ‘Formosa Donzela de Kent’, que tinha apenas 10 anos de idade. A Inglaterra foi então governada, enquanto menor, por um Conselho sob a liderança de seu tio John of Gaunt, o mais poderoso dos nobres.
Em 1382 Richard II casou-se com Anne of Bohemia, que morreu sem filhos em 1394. Casou-se novamente em 1396 com Isabella de Valois, então com 7 anos de idade, filha de Charles VI da França, para encerrar uma nova luta com aquele país.
Richard afirmou autoridade real durante uma era de restrições reais. A privação econômica seguiu-se à peste negra, salários e preço subiram abruptamente. O Parlamento piorou o problema passando uma legislação que limitava os salários, mas não regulava os preços. Em maio de 1381, Wat Tyler conduziu a Revolta dos Camponeses – a mais significativa da História Inglesa - contra as opressivas políticas de governo de John of Gaunt. Iniciando em Brentwood, Essex, a turba insurgiu-se contra os coletores de impostos, uniram-se com seus colegas em Kent e milhares de pessoas saquearam o centro de Londres. Faltou ao governo qualquer competência militar significativa e decidiu seguir uma política de conciliação, através do encontro do rei com a turba e seu líder, Wat Tyler, primeiro em Mile End e então Smithfield. O rei ouviu e aceitou as demandas de Tyler e então observou enquanto seus guarda-costas assassinavam o líder rebelde, com ou sem provocação. Vendo-o morto, Richard vagou sozinho entre os rebeldes, gritando: “Vocês não terão outro líder além de mim!” Com isso a turba rebelde abandonou o centro de Londres e dispersou. Seus líderes foram posteriormente julgados e muitos enforcados. Richard havia pessoalmente visto a maior ameaça popular à monarquia medieval inglesa.
Geoffrey Chaucer, autor dos
"Contos de Canterbury"
Digno de nota, durante o reinado de Richard II, foi o surgimento, em 1387, do poema “Canterbury Tales”, do primeiro grande poeta da língua Inglesa, Geoffrey Chaucer; antes dele, a maioria dos escritores usava francês ou latim em detrimento do inglês mais plebeu. Nesse seu mais conhecido trabalho, incompleto, um grupo variado de pessoas conta histórias, para passar o tempo, durante uma peregrinação a Canterbury.
A tola generosidade de Richard aos seus favoritos – Michel de la Pole, Robert de Vere e outros – conduziu Thomas, duque de Gloucester, e quatro outros magnatas, a formar o “Lords Appellant” (Apelo dos Lordes), que julgou e condenou, por traição, os cinco mais próximos conselheiros de Richard. Como retaliação, em 1397, Richard prendeu três dos cinco lordes, coagiu o Parlamento a condená-los à morte e baniu os outros dois. Um dos exilados era Henry Bolingbroke, filho de John of Gaunt e o futuro rei Henry IV.
O rei sentia-se tão seguro que marchou para a Irlanda, pela segunda vez, em 1399, para subjugar os líderes rivais, levando consigo os seus melhores e mais leais homens. Tal expedição logrou pouco sucesso, parcialmente porque foi interrompida pelas notícias de que Bolingbroke havia aportado uma pequena força em Yorkshire. Retido na Irlanda sem meios para retornar ao País de Gales e então Inglaterra, Richard teve que apreciar seus maiores nobres desertarem para se unirem a Bolingbroke. As regiões leste e oeste da Inglaterra rapidamente uniram-se a Bolingbroke, por temor às suas próprias heranças e por antipatia geral ao governo de Richard. O norte, última esperança do rei, falhou em unir-se à causa após a queda de Chester, sem luta. Finalmente de volta à Inglaterra, Richard rendeu-se no Conway Castle, após a garantia do Duque da Northumberland de que a posição do rei seria respeitada. O rei passou à custódia de Bolingbroke, na Torre, sem qualquer resistência e foi assassinado enquanto na prisão por Henry IV.
O reinado de Ricardo II ilustra a natureza da mudança da Coroa e da Sociedade após a Peste Negra ter acabado com a metade da população, a partir de 1348. A queda de Richard foi também considerada o primeiro “round” do que os Vitorianos denominaram 'Wars of the Roses(1),' (Guerra das Rosas), as sangrentas guerras civis dos nobres que devastaram a Inglaterra de 1450 a 1487. Junto com o impacto da Peste, o legado do seu governo atingiu uma transformação social que mudou para sempre a Bretanha.
Em sua peça “A tragédia do Rei Ricardo II”, Shakespeare bem apanhou o caráter de Richard, que era capaz de ‘capturar a essência do seu súdito ... a tragédia de Richard foi que ele trocou a realidade do mundo em torno de si pela ilusão do palco’.
Antes de penetrar no reinado de Henrique IV faremos, seguindo a esta, uma publicação ‘hors concours’, sobre a Torre de Londres, já mencionada algumas vezes e da qual ainda voltaremos a falar, que teve, realmente, um papel muito importante na história dos reis da Inglaterra.

HENRY IV (1399 – 1413)

Henry IV, rei da Inglaterra

Henry, o primeiro de três monarcas da casa de Lancaster, nasceu em Lancashire, em abril de 1367. Seus pais, John of Gaunt, terceiro filho sobrevivente de Edward III, e sua mãe, Blanche of Lancaster, descendente de Henry III, eram primos. Ele casou com Mary Bohun em 1380, que gerou sete filhos e morreu em 1394. Em 1402, Henry casou-se novamente, com Joan of Navarre.
Com a morte de John Gaunt, Richard II apossou-se dos domínios da família, privando Henry de sua herança e induzindo-o a invadir a Inglaterra. Ele encontrou pouca oposição, pois a população já cansara das ações do rei. Como vimos, Richard rendeu-se em agosto e Henry foi coroado em outubro de 1399, alegando que Richard havia abdicado por vontade própria.
Tal usurpação ditou as circunstâncias do seu reinado, com rebeliões incessantes em favor de Richard, iniciadas em 1400, logo após a sua deposição.
Dessa forma, a primeira tarefa de Henry foi consolidar a sua posição. A maioria das rebeliões foi esmagada facilmente, mas a revolta do cavalheiro galês Owen Glendower, em 1400, foi bem mais séria. Em 1403 Glendower aliou-se a Henry Percy, Conde da Northumberland e seu filho Henry “Hotspur” (colérico). Esta revolta só terminou quando Hotspur foi morto pelas forças do rei, em batalha próxima de Shresbury, em julho de 1403. O também galês Owain Glyn Dwr servira no exército de Richard II na década de 1380 e a lealdade ao rei deposto encorajou-o a liderar uma revolta contra Henry IV. Em 1404 ele recebeu apoio francês e presidiu o primeiro Parlamento galês. À medida que Henry IV consolidava seu controle sobre a Inglaterra, seu filho, o futuro Henry V, conduziu as campanhas no País de Gales. Em 1409 a revolta foi abatida. Glyn Dwr voltou-se para a Guerra de guerrilha até a sua morte em 1416, atestando o permanente empenho dos galeses pela independência, embora seus príncipes tenham sido substituídos por príncipes ingleses desde Edward I.
A rebelião seguinte, de Northumberland, em 1408 foi rapidamente debelada, sendo o último desafio armado à autoridade de Henry. Contudo, ele também teve de lutar contra os ataques escoceses de fronteira e conflitos com a França. Para financiar tais atividades, Henry foi forçado a confiar nas subvenções parlamentares. Entre 1401 e 1406, o rei foi repetidamente acusado pelo Parlamento de mal gerenciar as finanças e gradualmente adquiriu novos poderes sobre os gastos e nomeações reais.
Henry acabou por desenvolver uma terrível doença de pele e epilepsia, a muitos persuadindo de que Deus o punia pela execução do arcebispo Scrope, em 1406, por conspiração contra o rei. À medida que sua saúde deteriorava, uma luta acirrada iniciou entre o seu favorito, Thomas Arundel, arcebispo de Canterbury e uma facção liderada por meio-irmãos de Henry e seu filho, o príncipe Henry. De 1408 a 1411, o governo foi dominado, inicialmente, pelo arcebispo Arundel e, posteriormente, pelo príncipe Henry. A guerra civil eclodiu na França e enquanto o príncipe Henry queria reiniciar a Guerra contra ela, o rei manifestava-se pela paz. Tais relações desconfortáveis persistiram até a morte de Henry IV, em Londres, a 20 de março de 1413 e, a despeito da quantidade de revoltas durante o seu reinado, seu filho mais velho assumiu uma indisputada sucessão.

(1) As "Wars of the Roses" (Guerras das Rosas) foram uma série de guerras dinásticas lutadas entre partidários de dois ramos rivais da real Casa dos Plantagenet, as Casas de Lancaster e York, ao trono da Inglaterra. O nome provém dos emblemas heráldicos associados às duas casas reais: a Rosa Branca de York e a Rosa Vermelha de Lancaster. A facção yorkista usava o símbolo da rosa branca desde o início do conflito, mas a rosa vermelha dos lancastrianos foi, aparentemente, introduzida posteriormente. As guerras foram travadas em episódios esporádicos entre 1455 e 1487, embora tivessem acontecido rixas relacionadas antes e após esse período, resultado de problemas sociais e financeiros que se seguiram à "Guerra dos Cem Anos".  A vitória final foi para um remoto reclamante lancastriano, Henry Tudor, que derrotou o último yorkista, rei Richardo III e casou com a filha de Edward IV, Elizabeth of York, para unir as duas casas. A Casa dos Tudor, subsequentemente, governou a Inglaterra e País de Gales até 1603.

(Continua com a PARTE 6)

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