Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 12)

A ERA VITORIANA (1837 - 1901)
Rainha Victoria, o mais longo reinado do UK

Victoria, nascida em 24 de maio de 1819, era filha de Edward, Duque de Kent e Strathearn, e Victoria de Saxe-Coburg-Saalfeld. Edward morreu quando Victoria tinha apenas 8 meses de idade, após o que sua mãe determinou um rígido regime para evitar as cortes de seus tios, George IV e William IV. Casou-se com o Príncipe Albert de Saxe-Coburg-Gotha in 1840 e a união produziu quatro filhos e cinco filhas.
Victoria subiu ao trono com a morte de William IV, recém completados 18 anos, e recusou qualquer influência além da sua dominante mãe, governando por si própria. O respeito popular pela Coroa era muito baixo à época da sua coroação, mas a modesta e direta jovem rainha venceu os corações de seus súditos. Desejava ser informada dos assuntos políticos, embora não tivesse acesso direto nas decisões da política. A ‘Lei da Reforma’, de 1832, havia estabelecido que o padrão da autoridade legislativa residia na Casa dos Lordes e a autoridade executiva, em um Gabinete formado por membros da Casa dos Comuns, com o monarca, essencialmente, removido do circuito. Ela respeitava e trabalhou muito bem com Lorde Melbourne, Primeiro Ministro nos primeiros anos do seu reinado, e a Inglaterra cresceu social e economicamente.
Albert, príncipe consorte
O Príncipe Albert, a quem ela era fortemente devotada, substituiu Melbourne como a influência masculina dominante na vida de Victoria. O povo, contudo, não simpatizava  com o príncipe alemão: ele foi excluído de qualquer posição política oficial, nunca possuiu um título de nobreza e só foi chamado Príncipe Consorte após 17 anos de casamento. Victoria não fazia nada sem a aprovação de seu marido. Seus interesses em arte, ciência e indústria, o estimularam a organizar a ‘Exibição do Palácio de Cristal’, em 1851, uma convenção industrial altamente lucrativa. Ele usou os lucros (algo em torno de £186,000), para adquirir terras em Kensington para o estabelecimento de vários museus culturais e industriais. Em janeiro de 1858, por influência do Príncipe consorte, o pianista e condutor Charles Hallé fundou a primeira orquestra sinfônica britânica, indicando o crescimento das atividades culturais proporcionadas aos cidadãos do Reino Unido. A morte de Alberto, de tifo, em 1861, afetou profundamente a mente de Victoria, que entrou numa reclusão por mais de 25 anos, só saindo dela para as celebrações do Jubileu Dourado de 1887, a celebração do seu 50º ano no trono. Uma geração inteira criou-se sem jamais ter visto a face de sua rainha.
A reforma do governo permitiu que a Inglaterra evitasse as condições politicamente tumultuadas que varriam a Europa no meio do século XIX. O continente experimentava as crescentes dores do conservadorismo, liberalismo, socialismo e as lutas nacionalistas por unificação política. A Inglaterra focou no desenvolvimento industrial e comercial e na expansão do alcance imperial. Durante o reinado de Victoria o império dobrou o seu tamanho, abarcando o Canadá, Austrália, Índia e vários locais da África e sul do Pacífico. Seu reinado, quase livre de guerras, enfrentou um levante irlandês (1848), as Guerras dos Boers(1)  na África do Sul (1881, 1899-1902) e uma rebelião na Índia (1857), além da Guerra da Crimeia (1853-56) que, unida à França, travou contra a Rússia, e venceu. Os sucessos em evitar envolvimentos europeus foi devido, em grande parte, aos casamentos dos filhos de Victoria: ou diretamente, ou por casamento, ela ficou ligada às casas reais da Alemanha, Rússia, Grécia, Romênia, Suécia, Dinamarca, Noruega e Bélgica. Nicholas II da Rússia foi casado com uma neta de Victoria, Alexandra e o temível imperador da Alemanha, Kaiser Wilhelm II, era o seu neto "Willy". Durante sua reclusão, ela governou sua família com a mão de ferro que lhe foi negada pelo arranjo institucional inglês.
O governo Whig, sob o visconde Melbourne, enfrentou crescentes dificuldades de ordem financeira e pública. Em agosto de 1841, Sir Robert Peel forçou uma eleição geral, após derrotar os Whigs numa moção de ‘não confiança’ na Casa dos Comuns. Os Tories venceram uma maioria por mais de 70, na Casa dos Comuns, escolhendo Peel como novo primeiro ministro. Essa foi a primeira eleição dos tempos modernos, em que um partido politico com maioria parlamentar foi derrotado por outro, que ganhou uma marcante maioria. Os velhos partidos políticos da Inglaterra, os Whigs e os Tories, se transformaram durante o reinado de Victoria. O apoio de Robert Peel para o Corn Law Repeal(2) (Anulação da Lei dos Cereais), em 1846, contra a ideia dos seus próprios pares, dividiu os Tories em dois campos. Os adeptos de Peel juntaram-se com os Whigs para criar o Partido Liberal e os Tories contrários a Peel, tornaram-se o Partido Conservador. Ao contrário da maioria da Europa, os políticos ingleses concordaram nas principais questões da estrutura governamental e ideologia política, mas diferiram nas questões menores de prática política e sua implementação. Os Liberais representavam comerciantes e artesãos, enquanto os Conservadores representavam a pequena nobreza proprietária de terra. O papel de Victoria nesse realinhamento politico foi o de mediadora entre os Primeiros Ministros que saíam e que chegavam (o Primeiro Ministro era escolhido pelo partido que tinha o controle da Casa dos Comuns). Ela gostava particularmente do Conservador Benjamin Disraeli que, por ligar Victoria à expansão do Império, respeitava a monarquia que havia faltado desde a reclusão de Victoria. Por outro lado, desprezou o proeminente Primeiro Ministro Liberal William Gladstone, cujo partido dominou o Parlamento de 1846 a 1874.
Mesmo entre as dores do luto, durante a sua reclusão, Victoria deu muita atenção aos negócios e administração diários, num tempo de grande evolução política e social. Foram muitas e importantes as leis apresentadas e aprovadas em sua era, incluindo as Leis da Reforma de 1867 e 1884 que ampliaram o sufrágio.
O termo Victorian England (Inglaterra Victoriana), derivou da ética e gostos pessoais da Rainha que, em geral, refletiam os da classe media. O Jubileu de Ouro retirou-a de sua concha e ela voltou a abraçar a vida pública. Visitou as possessões inglesas e a França (primeira monarca inglesa a fazer isso desde a coroação de Henry VI, em 1431. Quando ela morreu, com avançada idade, uma inteira era morreu com ela.
Antes de encerrar o seu reinado, porque muito importantes, gostaríamos de alinhar alguns fatos relacionados à era victoriana.
O escritor Charles Dickens
Charles Dickens foi um dos maiores novelistas victorianos. No ano de 1838, 'Oliver Twist' foi, como muitas das suas outras novelas, originalmente publicada em capítulos, trazendo à atenção pública contemporânea vários de seus males sociais. Outros trabalhos de Dickens incluem 'The Pickwick Papers' (As Aventuras de Mr. Pickwick), 'A Christmas Carol' (Um Conto de Natal), 'David Copperfield' e 'Great Expectations' (Grandes Esperanças), uma de suas obras primas de minha preferência.
Outro grande nome da ciência e literatura victoriana, Charles Darwin, publicou, em novembro de 1859, sua obra universal “Sobre a Origem das Espécies”, após vinte anos de pesquisas. Embora a polêmica levantada pela obra, poucos cientistas victorianos adotaram uma posição ateísta por sua leitura; imagino porque, de fato, ele nunca a escreveu com essa intenção.
Fato importante e desconhecido da maioria, servindo inclusive como explicação, mais ou menos recente, para os incidentes religiosos na Irlanda, a estabelecida Igreja da Irlanda era anglicana, embora somente 3% da população irlandesa pertencesse a ela, a vasta maioria sendo Católica Romana. A legislação de William Gladstone colocou as propriedades da Igreja nas mãos de comissários que podiam usá-las para ‘esquemas sociais’, incluindo alívio da pobreza e a expansão da educação superior. Os bispos irlandeses não mais puderam ter assento na Casa dos Lordes.
Charles Darwin
É também da era victoriana (17 de novembro de 1869) a abertura do canal de Suez, ligando o Mar Mediterrâneo ao mar Vermelho. A Bretanha se havia oposto à construção do canal por uma companhia internacional, mas mudou sua posição em 1875, quando o governo Conservador de Benjamin Disraeli comprou 40% das cotas da Companhia do Canal. O canal então tornou-se de interesse estratégico vital, particularmente como rota para a Índia e o Oriente, sendo protegido por tropas britânicas desde 1883.
A partir de agosto de 1880, a educação tornou-se obrigatória na Grã Bretanha, para crianças entre 5 e dez anos de idade. As despesas estatais com a educação, que eram da ordem de 1,25 milhões de libras em 1870, passaram para 4 milhões e chegariam a 12 milhões de libras ao final do reinado de Victoria (a total dessemelhança com o que ocorre no Brasil, não é mera coincidência).
Em janeiro de 1881, a mansão do magnata da Engenharia, Sir William Armstrong, tornou-se a primeira casa da Inglaterra a ter luz elétrica. Construída em Cragside in Rothbury (Northumberland) e projetada pelo arquiteto escocês Richard Norman Shaw, incorporou todas as modernidades possíveis; suas lâmpadas eram energizadas pela água de um riacho local passando por um gerador rudimentar.
Guglielmo Marconi, inventor
O físico italiano de Nascimento, Guglielmo Marconi, conduziu um grande número de experimentos ligados à comunicação, ao sul da Bretanha, entre 1896 e 1897, recebendo a patente em julho de 1897, logo após sua primeira comunicação através da água, de Lavernock Point, South Wales, para Flat Holm Island, no Canal de Bristol. Ele estabeleceu o primeiro sinal transatlântico em dezembro de 1901, inaugurando a ‘Era Sem Fio’.
Em 22 de janeiro de 1901, com a idade de 81 anos, Victoria morreu, tornado o seu reinado de 63 anos, o mais longo da Bretanha e marcando, realmente, o fim de uma era.

AS DUAS GUERRAS MUNDIAIS E A CONSTRUÇÃO DA MODERNA GRÃ-BRETANHA (1901 – 1945)

EDWARD VII – (1901-1910)

Edward VII rei do UK
Edward VII, nascido em 9 de novembro de 1841, era o primogênito da rainha Victoria e tomou o nome da família de seu pai, o príncipe consorte Albert, daí a troca de linhagem, embora fosse ainda Hanoverian por parte de sua mãe. Casou-se com a princesa Alexandra da Dinamarca, em 1863, com apenas 22 aos de idade, e com ela teve três filhos e três filhas.
Victoria e Albert impuseram um regime estrito sobre Edward e mesmo após a morte de seu pai, Victoria sempre lhe negou papel oficial no governo, com o que ele se rebelou, entregando-se às mulheres, comidas, bebidas, jogos, esportes e viagens. Alexandra fez vistas grossas às suas atividades extramaritais, que continuaram até os seus sessenta anos e o implicaram em vários casos de divórcios.
Edward sucedeu no trono após a morte de Victoria e, a despeito de sua má reputação, lançou-se ao seu papel de rei com vitalidade. Suas muitas viagens à Europa lhe deram sólida fundação como embaixador em relações exteriores, ajudado por suas relações com as casas reais do continente. Os receios de Victoria foram provados errados: as incursões de Edward na política externa foram muito eficientes nas alianças entre Grã Bretanha, França e Rússia, e a par de suas indiscrições sexuais, suas maneiras e estilos o valorizaram frente ao povo inglês.
A legislação social foi o foco do Parlamento durante o reinado de Edward. A Lei da Educação, de 1902, forneceu educação secundária subsidiada, e o governo Liberal passou uma série de leis beneficiando as crianças, após 1906; após 1908, foram estabelecidas pensões aos idosos. A Lei das Trocas de Emprego, de 1909, lançou as bases para o seguro de saúde nacional, que conduziu a uma crise constitucional sobre os meios de financiamento de tal legislação. O orçamento feito por David Lloyd-George propôs importantes aumentos de impostos sobre ricos proprietários de terras e foi derrotado no Parlamento. O Primeiro Ministro Asquith apelou a Edward para criar vários novos lordes que pudessem virar a votação, mas ele recusou fortemente.
Edward morreu em 6 de maio de 1910, com a idade de 68 anos, após uma série de ataques do coração, no meio da crise orçamentária que foi resolvida no ano seguinte com a aprovação da lei pelo governo Liberal.


(1) A África do Sul é um país africano colonizado, principalmente, por holandeses e ingleses, embora também franceses e alemães tenham participado da colonização. Os Trekboer (posteriormente chamados Grensboer e finalmente Boer - palavra holandesa para “fazendeiros”), eram pastores nômades descendentes, em grau praticamente igual, de colonizadores holandeses, franceses e alemães, que começaram migrando das áreas adjacentes ao atual Cape Town, durante o século XVII e por todo o século XVIII, e posteriormente durante o século XIX para se estabelecer no Orange Free State, Transvaal (no conjunto conhecido como “República dos Boers”) e, em menor número, Natal. Sua principal motivação para deixar Cape Town foi escapar ao governo inglês e das constantes lutas entre o governo britânico e as tribos da fronteira leste. As “Boer Wars” (Guerras dos Boer) foram duas guerras lutadas, durante 1880-1881 e 1899-1902, entre o Império Britânico e as duas repúblicas Boer independentes de Orange Free State e Transvaal.
(2) A Corn Law foi uma lei de comércio criada para proteger os produtores de cereais do Reino Unido contra a competição com produtos importados mais baratos, através da imposição de altos impostos de importação; tal lei permitia que os agricultores cobrassem os valores que quisessem, sem a possibilidade de importação a preços mais competitivos mesmo quando o povo do Reino Unido mais necessitasse dos cereais (épocas de fome). A lei foi criada em 1815, pelo Ato de Importação, e revogada em 1846, pelo mesmo Ato, com o decisivo apoio de Peel, num significativo avanço do livre comércio.

Conclui na PARTE 13

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