Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A REFORMA E OS REFORMADORES - PARTE 5


VI - DIFUSÃO DA REFORMA NOS VÁRIOS PAÍSES

VI.1 - ALEMANHA E SUÍÇA ALEMÃ
As 95 Teses de Lutero, que colocaram em dúvida e
repudiaram várias das práticas católicas

A Reforma foi inaugurada na Alemanha (então Prússia, como nação do Sacro Império Romano Germânico) quando Lutero afixou suas celebradas teses às portas da igreja de Wittenberg (cidade do estado da Saxônia onde fica a Universidade de mesmo nome, em que lecionava Lutero), em 31 de outubro de 1517. A partir das consequências da excomunhão papal e do banimento imperial, Lutero foi protegido pelo Eleitor Friedrich da Saxônia, seu soberano territorial. Friedrich da Saxônia teve, no episódio, participação bastante controvertida. Externamente, adotou uma atitude neutra, mas passou a encorajar a formação de comunidades luteranas dentro de seus domínios, após o retorno de Lutero a Wittenberg, onde assumiu a liderança da Reforma em oposição aos Anabatistas. Após a Dieta[1] de Worms, convocada pelo Imperador Carlos V em 1521, pela qual Lutero foi proclamado fugitivo e herege, tendo suas obras proscritas pelo édito correspondente, temendo pelo seu destino, Friedrich o abrigou no Castelo de Wartburg (Turíngia, Alemanha), onde ele permaneceu um ano, durante o qual traduziu o Novo Testamento para o alemão. Friedrich, fundador da Universidade de Wittenberg, entretanto, pouco contato teve com Lutero, tendo permanecido católico romano. 
Friedrich III, Eleitor da Saxônia

Foi Lutero que introduziu as regulações arbitrárias para a adoração Divina e funções religiosas; de acordo com tais regulações, comunidades luteranas foram estabelecidas formando um corpo herético que se opôs à Igreja Católica. Entre outros príncipes que logo se associaram a Lutero, apoiando seus esforços, estavam:
  • Johann da Saxônia (irmão de Friedrich);
  • Grande Mestre Albert da Prússia, que converteu as terras de sua ordem num ducado secular, tornando-se seu lorde hereditário ao aceitar o luteranismo;
  • Duques Heinrich e Albert de Mecklenburg;
  • Conde Albert de Mansfield;
  • Conde Edzard da Friesland Oriental;
  • Príncipe Philip de Hesse, que se declarou definitivamente pela Reforma após 1524.
Enquanto isso, em várias cidades da Alemanha Imperial o movimento da Reforma foi iniciado por seguidores de Lutero, especialmente em Ulm, Augsburg, Nuremberg, Nördlingen, Strasburg, Constance, Mainz, Erfurt, Zwickau, Magdeburg, Frankfort-on-the-Main e Bremen. Os príncipes luteranos formaram a Aliança de Torgau em 4 de maio de 1526, para sua defesa comum. Por sua presença na Dieta de Speyer em 1526, eles garantiram a adoção da resolução que, com relação ao Édito de Worms contra Lutero e sua errônea doutrina, cada um pudesse adotar uma atitude com a qual responder a Deus e o Imperador. A liberdade para introduzir a Reforma em seus territórios foi assim garantida aos governantes territoriais. Os estados católicos foram desencorajados enquanto os príncipes luteranos e suas demandas cresceram. Mesmo os decretos totalmente moderados da Dieta de Speyer de 1529 provocaram protestos dos estados luteranos e reformados.
As negociações na Dieta de Augsburg (1530), em que os estados, rejeitando a fé católica, elaboraram o seu credo (Confissão de Augsburg), demonstraram que a restauração da unidade religiosa não seria efetuada. A Reforma ampliou-se e o Luteranismo e o Zwinglianismo foram introduzidos em outros territórios germânicos. Além dos principados e cidades mencionados acima, por 1530 eles já haviam feito o seu caminho pelos principados de Bayreuth, Ansbach, Anhalt e Brunswick-Lunenburg; nos anos seguintes, na Pomerania, Jülich-Cleve e Wurtemberg. Na Silésia e no ducado de Liegnitz, a Reforma também fez grandes avanços. In 1531 a Liga Smalkaldic concluiu uma aliança defensiva e ofensiva entre os príncipes protestantes e as cidades. Especialmente após sua renovação (1535), a esta liga se uniram outras cidades e príncipes que haviam esposado a Reforma (Conde Palatine Rupert de Zweibrücken, Conde William de Nassau, as cidades de Augsburg, Kempten, Hamburg e outras.
Negociações adicionais entre as partes religiosas foram instituídas visando o fim do cisma, sem sucesso. Entre os métodos adotados para a difusão da Reforma, a força foi cada vez mais livremente empregada. Quando a diocese de Naumburg-Zeitz se tornou vaga, o eleitor Johann Frederick da Saxônia instalou, pela força, o pregador luterano Nicholas Amsdorf (no lugar do reitor da Catedral Julius von Pflug, escolhido por seus cônegos) que assumiu o governo secular. O duque Henry de Brunswick-Wolfenbuttel foi exilado em 1542 e a Reforma foi introduzida à força, como também em Colônia. O colapso da Liga Smalkaldic (1547) reduziu o progresso da Reforma: Julius von Pflug foi instalado em sua diocese de Naumburg, o duque Henry de Brunswick-Wolfenbuttel recuperou suas terras e Hermann von Wied teve de resignar à diocese de Colônia, onde a fé católica foi assim mantida.
A fórmula de união estabelecida pela Dieta de Augsburg, em 1547 (Augsburg Interim) não teve sucesso, embora introduzida em muitos territórios Protestantes. Enquanto isso, o Príncipe Moritz da Saxônia, fazia um tratado secreto com Henrique II da França, inimigo da Alemanha, formando uma confederação com os príncipes protestantes William de Hesse, John Albert de Mecklenburg e Albert de Brandenburg, para fazer Guerra contra o Imperador e o Império, quebrando o seu poder. Por sugestão de Carlos V, então Imperador do Sacro Império Germânico, seu irmão e sucessor, rei Fernando I, convocou a Dieta de Augsburg, em 1555 onde, após longas negociações, foi concluído o tratado conhecido por “Paz Religiosa de Augsburg”. Este pacto continha as seguintes disposições em seus vinte e dois parágrafos:
  • Entre os Estados imperiais católicos e os da Declaração de Augsburg (os Zwinglianos não foram considerados no Tratado) a paz e a harmonia deverão ser observadas;
  • Nenhum Estado do Império constrangerá outro Estado ou seus súditos a mudar de religião nem fará guerra por motivo religioso;
  • O dignitário eclesiástico que esposar a Declaração de Augsburg, perderá sua dignidade eclesiástica com todos os escritórios e salários a ele conectados, sem prejuízo, contudo, de sua honra e posses privadas. Contra este dispositivo eclesiástico, os Estados Luteranos protestaram:
  • Os proprietários da Declaração de Augsburg manterão todas as suas propriedades eclesiásticas possuídas desde o início da Reforma; após 1555 nenhuma parte poderá tomar nada de outra parte;
  • Até a conclusão da paz entre os corpos religiosos disputantes (a ser efetivada na próxima Dieta de Ratisbon) a jurisdição eclesiástica da hierarquia católica fica suspensa nos territórios da Declaração da Augsburg;
  • Se qualquer conflito surgir entre as partes relacionadas a terras ou direitos, uma tentativa inicial deve ser feita para ajustar tais disputas por arbitragem;
  • Nenhum Estado Imperial pode proteger seus súditos de outro estado das autoridades;
  • Cada cidadão do Império tem o direito de escolher qualquer uma das duas religiões reconhecidas e de praticá-la em outro território sem perda de direitos, honra ou propriedade (sem prejuízo, contudo, aos direitos do lorde territorial sobre classe camponesa);
  • Essa paz incluirá os cavalheiros livres e as cidades livres do Império; as cortes imperiais devem ser guiadas exatamente por estas provisões;
  • Os juramentos devem ser administrados ou em nome de Deus ou de seu Santo Evangelho.

Por esta paz, o Cisma religioso do Império Germânico foi definitivamente estabelecido; daí em diante os estados católicos e protestantes ficaram em campos opostos. Quase toda a Alemanha, da fronteira com a Holanda a oeste, à fronteira polonesa, a leste, o território da Ordem Teutônica na Prússia, a Alemanha Central com exceção da maior parte porção ocidental, e (no Sul da Alemanha) Wurtemburg, Ansbach, Pfalz-Zwibrucken e outros domínios menores, com numerosas cidades livres, haviam esposado o Luteranismo. Além disso, no sul e sudeste, que permaneceram predominantemente católicos, surgiram numerosos apoiadores. O Calvinismo também se espalhou amplamente.
Mas a Paz de Augsburg falhou em garantir a harmonia que se esperava. Desafiando suas expressas provisões, uma série de principados eclesiásticos (dois arcebispados, doze bispados e numerosas abadias) foram reformadas e secularizadas antes do início do século XVII. A “Liga Católica” foi formada para proteção dos interesses católicos e para compensar a “União Protestante”. Logo se seguiu a “Guerra dos Trinta Anos”[2], uma funesta luta para a Alemanha, que entregou o país aos seus inimigos do oeste e norte, destruindo o poder, riqueza e influência do Império Germânico. A Paz de Westphalia, concluída em 1648, com a França, em Munster, e com a Suécia, em Osnabrück, confirmando definitivamente o status do cisma religioso na Alemanha, colocou os Calvinistas e os Reformados no mesmo pé dos Luteranos e garantiu aos Estados imediatamente sujeitos ao imperador, o direito de introduzir a Reforma. Daí para a frente, os soberanos territoriais podiam obrigar seus súditos a adotar uma dada religião, sujeito ao reconhecimento da independência daqueles que, em 1624 tinham o direito de manter seus próprios serviços religiosos. O Absolutismo Estatal nas questões religiosas havia atingido seu mais alto desenvolvimento na Alemanha.
Na Suíça Germânica ocorreu algo similar. Após Zurich ter aceito e introduzido à força a Reforma, Basle seguiu o seu exemplo com John OEcolampadius e Wolfgang Capito associando-se a Zwingli, espalhando seu ensinamento e conquistando a vitória para a nova fé. Os membros católicos do Grande Conselho foram expulsos. Resultados similares foram obtidos em Appenzel Outer Rhodes, Schaffhausen e Glarus. Após longa hesitação a Reforma foi aceita também em Berna, onde um apóstata cartusiano (ordem religiosa), Franz Kolb, com Johann e Berthold Haller pregaram o Zwinglianismo. Todos os monastérios foram subjugados e uma grande violência foi usada para impor o Zwinglianismo ao povo do território. St. Gall, onde Joachim Vadianus pregava, e uma grande parte de Graubunden também adotaram as inovações. Por todo o Império o Zwinglianismo era um forte rival do Luteranismo e um violento conflito entre as duas profissões começou, a despeito das permanentes negociações pela união. As tentativas para terminar com a infeliz divisão da religião não eram desejadas na Suíça. Em maio de 1526 uma grande disputa religiosa ocorreu em Baden, com o catolicismo sendo representado por Johann Eckius (Eck), Johann Faber e Murner, e a Reforma por OEcolampadius e Berthold Haller. O resultado foi favorável aos católicos, com a maioria dos representantes dos Estados presentes declarando-se contra a Reforma e os escritos de Lutero e Zwingli sendo proibidos, o que veio a estimular a oposição dos Estados reformados. Em 1527 Zurich formou uma aliança com Constance; Basle, Berna e outros Estados reformados juntaram-se à Confederação em 1528. Como autodefesa, os Estados católicos formaram uma aliança em 1529 para a proteção da verdadeira fé dentro de seus territórios. Na guerra que se seguiu, os católicos obtiveram uma vitória em Kappel, com Zwingli morrendo no campo de batalha. Zurich e Berna tiveram a paz garantida sob a condição de não se perturbarem mutuamente por questões religiosas, com os serviços católicos podendo ser livremente mantidos nos territórios comuns. A fé católica foi restaurada em certos distritos de Glarus e Appenzell; a abadia de St. Gall foi retornada ao abade, embora a cidade tenha permanecido reformada. Em Zurich, Basle, Berna e Schaffhausen, contudo, os católicos não puderam garantir seus direitos. Os reformadores suíços logo compuseram declarações formais de suas crenças, sendo digna de nota a Primeira Profissão Helvética produzida por Bullinger, Myconius, Grynaeus e outros (1536), e a Segunda Profissão, composta por Bullinger em 1564, adotada pela maioria dos territórios reformados do tipo Zwingli.

VI.2 – OS REINOS DO NORTE: DINAMARCA, NORUEGA E SUÉCIA
Frederick I, rei da Dinamarca e Noruega

A Reforma Luterana fez uma penetração precoce na Dinamarca, Noruega (então unida à Dinamarca) e Suécia, principalmente devido a influências reais. O rei Christian II da Dinamarca (1513-1523) acolheu a Reforma como forma de enfraquecer a nobreza e, especialmente, o clero (que possuía extensas propriedades), por esse meio estendendo o poder do trono. Sua primeira tentativa de difusão dos ensinamentos de Lutero, em 1520, teve pouco sucesso: os barões e prelados logo o depuseram por tirania elegendo, em seu lugar, o Duque Frederick of Schleswig e Holstein (Rei Frederick I da Dinamarca e Noruega), secreto seguidor do luteranismo, que havia jurado, em sua coroação de 1523, manter a religião católica. Entretanto, assim que sentou no trono, favoreceu os reformadores, em particular o pregador Hans Tausen. Na Dieta de Odensee, em 1527, ele garantiu a liberdade de religião aos reformadores, permitiu o casamento ao clero e reservou ao rei a confirmação de 11 ordenações episcopais. O luteranismo difundiu-se por meios violentos e os fiéis da religião católica foram oprimidos. Seu filho Christian III, que já havia reformado Holstein, lançou às prisões os bispos dinamarqueses que haviam protestado contra sua sucessão, cortejando o apoio dos barões. Com exceção do bispo Ronow de Roskilde, que morreu na prisão (1544), todos os bispos concordaram em resignar e não mais opor-se à nova doutrina; com isso foram libertados tendo suas propriedades restituídas. Todos os padres que se opuseram à Reforma foram deportados, os monastérios fechados e a Reforma introduzida em todos os lugares à força. Em 1537, Johann Bugenhagen (Pomeranus), companheiro de Lutero, foi convocado de Wittenberg para a Dinamarca para estabelecer a Reforma de acordo com as ideias de Lutero. Na Dieta de Copenhagen, em 1546, os últimos direitos dos católicos foram retirados (direito de herança, elegibilidade para qualquer posto) e os padres católicos foram proibidos de morar no país sob pena de morte. 
Christian III, Rei da Dinamarca/Noruega
Na Noruega, o arcebispo Olaus de Trondhjem apostatou ao luteranismo, mas foi obrigado a deixar o país, como partidário do rei deposto, Christian II. Com a ajuda da nobreza dinamarquesa, Christian III introduziu a Reforma na Noruega à força. A Islândia resistiu mais tempo ao absolutismo real e às inovações religiosas. O inflexível bispo de Holum, Jon Arason, foi decapitado e a Reforma espalhou-se rapidamente após 1551. Algumas aparências do período católico foram mantidas – o título de bispo e, em alguma extensão, as vestimentas litúrgicas e formas de adoração.
Também na Suécia a Reforma foi introduzida por razões políticas pelo soberano secular. Gustavus Vasa, que havia sido dado a Christian II da Dinamarca, em 1520, como um refém e conseguira escapar para Lubeck, lá se familiarizou com o ensinamento luterano e reconheceu os serviços que ele poderia render-lhe. Retornando à Suécia, tornou-se o primeiro chanceler imperial e depois de ter sido eleito rei, com a deposição de Christian II na Dinamarca, tentou converter a Suécia numa monarquia hereditária, mas teve que curvar-se à oposição do clero e nobreza. A Reforma ajudou-o a atingir seus objetivos, embora sua introdução fosse difícil por conta da grande fidelidade do povo à fé católica. Indicou para altas posições dois suecos, os irmãos Olaf e Lorenz Peterson, que haviam estudado em Wittenberg e aceito os ensinamentos de Lutero; um capelão da corte em Estocolmo e o outro como professor em Upsla. Ambos trabalharam em segredo para a difusão do luteranismo, conseguindo muitos adeptos que incluíram o arquidiocesano Lorenz Anderson que o rei, a partir daí, nomeou seu chanceler. Em suas tratativas com o Papa Adriano VI e seus representantes, o rei simulava a máxima fidelidade à Igreja, enquanto fornecia às inovações religiosas o seu maior apoio. Os dominicanos, que ofereceram uma forte oposição aos seus projetos, foram banidos do reino e os bispos que resistiram foram sujeitos a todos os tipos de opressão. Após uma disputa religiosa na Universidade de Upsala, o rei concedeu a vitória a Olaf Peterson e procedeu à reforma da universidade, ao confisco da propriedade eclesiástica e ao emprego de todos os meios para compelir o clero a aceitar a nova doutrina. Uma revolução popular deu-lhe a oportunidade de acusar os bispos católicos de alta traição e, em 1527, o arcebispo de Upsala e o bispo de Westraes foram executados. Muitos eclesiásticos aderiram às vontades do rei; outros resistiram e tiveram de suportar violenta perseguição; um exemplo disso foi a heroica resistência das freiras de Wadstena. Após a dieta de Westraes, em 1527, grandes concessões foram feitas ao rei pelo medo da recente sujeição dos dinamarqueses, especialmente o direito de confisco da propriedade da Igreja, de indicações e remoções eclesiásticas etc. Alguns dos nobres logo se voltaram ao Rei quando da opção do retorno dos bens doados à Igreja pelo ancestral de alguém desde 1453. O celibato clerical foi abolido e o vernáculo foi introduzido no serviço Divino. O rei constituiu-se suprema autoridade em questões religiosas e rompeu a unidade religiosa do país. O Sínodo de Orebro (1529) completou a Reforma, embora muitos dos ritos externos, as imagens nas igrejas, as vestimentas litúrgicas e os títulos de arcebispo e bispo fossem mantidos. Em 1544 Gustavus Vasa tornou hereditário o seu trono. Os numerosos levantes contra ele e suas inovações foram debeladas com violência sangrenta. Mais tarde outras grandes revoltas religiosas surgiram, também de caráter político.
O Calvinismo também se espalhou e Eric XIV (1560-1568) dedicou-se a promove-lo. Foi, entretanto, destronado pela nobreza por sua tirania e seu irmão John III (1568-1592) nomeado rei. Este restaurou a Fé Católica e tentou devolver a terra à unidade da Igreja, mas com a morte de sua primeira esposa, Princesa Katherina, seu ardor declinou em face das numerosas dificuldades e sua segunda esposa favoreceu o luteranismo. Com a morte de John, seu filho Sigismund, já rei da Polônia e católico de sentimento, tornou-se rei da Suécia. Contudo, seu tio Duque Charles, chanceler do Reino, deu forte apoio à Reforma e a Confissão de Augsburg foi introduzida no Sínodo Nacional de Upsala, em 1593. Sigismund não teve poder contra o chanceler e a nobreza sueca; finalmente, em 1600, foi deposto como um apóstata da “verdadeira doutrina” e Charles foi coroado rei. Gustavus Adolphus (1611-1632), filho de Charles, usou a Reforma para aumentar o poder da Suécia pelas suas campanhas. A Reforma foi então oficializada em toda a Suécia.

VI.3 – FRANÇA E SUÍÇA FRANCESA

Em alguns círculos humanísticos[3] da França, muito anteriormente, originou-se um movimento favorável à Reforma. O centro desse movimento foi Meaux, onde o bispo Guillaume Briconnet favoreceu as ideias humanistas e místicas e onde ensinavam o professor Lefèvre d’Etaples, W. Farel e J. de Clerc, humanistas com tendências luteranas. Contudo, a Corte, a Universidade e o Parlamento se opuseram às inovações religiosas e a comunidade luterana de Meaux foi dissolvida. Centros mais importantes da Reforma foram encontrados ao sul, onde os Waldensianos[4] haviam preparado o terreno. Aqui muitos tumultos ocorreram, durante os quais imagens de Cristo e de Santos foram destruídas. Os parlamentos, na maioria dos casos, tomaram enérgicas medidas contra os inovadores embora em alguns lugares tenham encontrado protetores – especialmente em Margaret de Valois, irmã do rei Francisco I e esposa de Henrique d’Albret, rei de Navarra. Os líderes da Reforma na Alemanha buscaram derrotar Francisco I, aliado dos príncipes protestantes alemães por razões políticas; ele, entretanto, permaneceu fiel à Igreja e suprimiu os movimentos pró-reforma em todo o território. Nos distritos do sudeste, especialmente em Provence e Dauphine, os apoiadores das novas doutrinas cresceram em função dos esforços dos reformadores da Suíça e Strasburg, até que a profanação e o saque das igrejas obrigaram o rei a tomar medidas enérgicas contra eles. Após o calvinismo ter-se estabelecido em Genebra, sua influência cresceu rapidamente nos círculos da Reforma francesa. Calvino apareceu em Paris em 1533 como defensor do novo movimento religioso, dedicou ao rei francês Francisco I suas “Instituições das Religiões Cristãs” e foi para Genebra no mesmo ano. Expulso de Genebra ele retornou em 1541 e lá iniciou o estabelecimento final de sua organização religiosa. Com sua academia inaugurada por Calvino, Genebra era o principal centro da Reforma e afetou principalmente a França. Pierre le Clerc estabeleceu a primeira comunidade calvinista em Paris; outras foram estabelecidas em Lyons, Orléans, Angers e Rouen, onde medidas repressivas mostraram pouca valia. O bispo Jacques Spifamius, de Nevers, desviou-se para o calvinismo e, em 1559, ainda sob Henrique II, Paris testemunhou a reunião de um sínodo geral de reformadores franceses que adotou o credo calvinista, introduzindo a constituição presbiteriana suíça para as comunidades reformadas. Devido ao apoio dos waldensianos à disseminação da literatura reformista de Genebra, Basle e Strasburg, e ao permanente influxo de pregadores dessas cidades, os adeptos da Reforma cresceram na França. Com a morte do rei Henrique II (1559) os huguenotes[5] calvinistas pretenderam tirar vantagem da fraqueza do governo para aumentar o seu poder. A rainha viúva Catarina de Médici, ambiciosa e intrigante, perseguiu uma política oportunista. Logo aspirações políticas se emaranharam com o movimento religioso que assumiu proporções maiores e maior importância. De oposição à linha regulatória e aos poderosos e zelosamente católicos duques de Guise, os príncipes da linha Bourbon tornaram-se os protetores dos calvinistas, como Antoine de Vendôme, rei de Navarra e seus irmãos, especialmente Louis de Condé. A eles outros se juntaram, incluindo bispos e cardeais. 
O massacre do dia de São Bartolomeu, por François Dubois
A despeito de leis anti-heréticas, o calvinismo fazia constante progresso no sul da França, quando, em 17 de janeiro de 1562 a rainha viúva, regente de Charles IX, emitiu um édito de tolerância que permitia aos huguenotes a livre prática de sua religião fora das cidades e sem armas, mas proibindo toda a interferência e atos de violência contra instituições católicas, além de ordenar a restituição de todas as igrejas e propriedades eclesiásticas tomadas aos católicos. Os calvinistas ainda mais audaciosos, cometeram, especialmente no sul, revoltantes atos de violência contra os católicos, executando padres católicos até nos bairros de Paris. Em 1º de março de 1562, em Vassy, Champagne, a comitiva do Duque de Guise entra em conflito com os huguenotes inaugurando a primeira guerra civil e religiosa na França. Embora esta tenha encerrado com a derrota dos huguenotes, ocasionou grandes perdas aos católicos da França. Relíquias de Santos foram queimadas e espalhadas, igrejas magníficas reduzidas a cinzas e numerosos padres assassinados. O édito de Amboise garantiu novos favores a nobres calvinistas embora o édito de tolerância anterior tivesse sido retirado. Cinco outras guerras civis se seguiram, durante as quais ocorreu o massacre do dia de São Bartolomeu (24 de agosto de 1572), quando dezenas de líderes huguenotes foram assassinados numa série coordenada de ataques planejados pela família real católica. Esse foi o início de um massacre mais vasto que durou até outubro e envolveu doze cidades francesas.
Richelieu, cardeal da Igreja Católica
e primeiro-ministro da França
 
Somente com a extinção da linha de Valois com Henry III (1589) e a ascensão de Henry de Navarra (que abraçou o catolicismo em 1593) ao trono, as guerras religiosas chegaram ao fim pelo Édito de Nantes (13 de abril de 1598), que garantiu aos calvinistas plena liberdade religiosa, admissão a todos os serviços públicos e uma privilegiada posição no Estado. Dificuldades de natureza política surgiram e o Cardeal de Richelieu buscou acabar com a posição influente dos huguenotes. A captura de sua principal fortaleza, La Rochelle (28 de outubro de 1628), finalmente quebrou o poder dos calvinistas franceses como entidade política. Mais tarde, muitos deles retornaram ao catolicismo, embora ainda muitos adeptos do calvinismo na França tenham subsistido.




[1] A palavra dieta vem do latim dieta (de dies, dia, do primeiro significado, regime alimentício diário) e, no caso, significa uma assembleia política ou administrativa.
[2] A Guerra dos Trinta Anos (1618-48) iniciou quando Ferdinando II, Imperador do Sacro Império Romano, da Bohemia, tentou restringir as atividades religiosos de seus súditos, provocando a rebelião entre os protestantes. Incialmente envolvendo apenas alemães, a guerra incluiu as maiores potências da Europa: Suécia, França, Espanha e Áustria lutando em solo germânico. Com atrocidades cometidas por todos os lados, 20% da população alemã pereceu na guerra que terminou com uma série de tratados convertidos na Paz de Vestefália e redesenhou o mapa político e religioso da Europa Central.
[3] Humanismo é o nome dado ao movimento intelectual, literário e científico dos séculos XIV a XVI, um movimento que visava basear todo ramo do aprendizado na literatura e cultura da antiguidade clássica. Acreditando que apenas o treino clássico poderia formar um homem perfeito, os humanistas assim se auto denominaram em oposição aos escolásticos, adotando o termo humaniora (as humanidades) com o significado de sabedoria dos anciãos. Embora o intervalo entre o período clássico e os seus próprios dias fosse visto pelos humanistas como bárbaros e destrutivos com relação à arte e ciência, o Humanismo (como qualquer outro fenômeno histórico) estava ligado ao passado.
[4] Uma seita herética surgida na segunda metade do século XII e que, modificada de uma forma considerável, sobreviveu até os dias atuais. O nome é derivado de Waldes, seu fundador.
[5] Huguenote foi, originalmente, um termo político, não religioso, usado para descrever, entre 1520 e 1524, os patriotas de Genebra hostis ao Duque de Savoy que uniram a cidade à Confederação Suíça.

Prossegue com a PARTE 6

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