Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 26 de setembro de 2023

A CHINA ANTIGA (PARTE 2/2)

IV.2 – O PERÍODO DA PRIMAVERA E OUTONO & OS ESTADOS GUERREIROS

Durante o Período da Primavera e Outono (cerca de 772-476 AC), assim chamado por causa dos Anais da Primavera e Outono, a crônica oficial do estado à época e uma fonte antiga mencionando o General Sun Tzu, o governo Zhou tornou-se descentralizado em seu movimento para a nova capital em Luoyang (cidade capital de muitas dinastias antigas chinesas, frequentemente trocada com Chang’an, em geral quando havia uma troca de dinastia, localizada na província Henan, parte oriental da planície central da China), marcando o fim do período ‘Zhou Ocidental’ e o início do ‘Zhou Oriental. Foi o período mais notável pelos avanços em filosofia, poesia e as artes, além de assistir à ascensão dos pensamentos Confucionista, Taoísta e Mohista.
Ao mesmo tempo, contudo, os diferentes estados estavam se separando do governo central em Luoyang e proclamando-se soberanos, causa principal do chamado Período dos Estados Guerreiros (cerca de 481-221 AC), em que sete estados lutaram entre si pelo controle. Os sete estados eram Chu, Han, Qi, Qin, Wei, Yan e Zhao e consideravam-se soberanos sem que qualquer um deles tenha se sentido confiante para reivindicar o Mandato do Céu, ainda em poder da Dinastia Zhou de Luoyang. 
Os Estados Guerreiros e a conquista de Qin em 250 AC
Os sete estados usavam as mesmas táticas e observavam as mesmas regras de conduta em batalha, sem que qualquer um deles ganhasse vantagem sobre os demais. Essa situação foi explorada pelo filósofo pacifista Mo Ti, um habilidoso engenheiro que fez sua missão fornecer a cada estado o mesmo conhecimento de fortificações e escadas de sítio na esperança de neutralizar a vantagem de qualquer dos estados e assim acabar com a guerra. Seus esforços, contudo, não tiveram sucesso e entre 262 e 260 AC o estado de Qin ganhou supremacia sobre Zhao, derrotando-o finalmente na Batalha de Changping.
Um político de Qin, chamado Shang Yang, crente da eficiência e da lei, reformulou o entendimento Qin da arte da guerra para focar na vitória a qualquer custo. Se a Sun-Tzu ou a Shang Yang deve ser creditada a reforma do protocolo e estratégia militar na China, vai depender da aceitação da historicidade de Sun-Tzu. Se ele não existiu, como muitos dizem, é muito provável que Shan Yang leve o mérito pelo famoso trabalho “A Arte da Guerra”[1], que hoje traz o nome de Sun-Tzu como seu autor.
Antes dessas reformas, a arte da guerra chinesa era considerada um jogo de habilidade da nobreza, com bem estabelecidas regras ditadas pela cortesia e entendida vontade do céu. Um não atacava o fraco ou despreparado e esperava-se que o outro protelasse a ação até que o oponente tivesse mobilizado e formado fileiras no campo. Shang advogava guerra total em busca da vitória e aconselhava tomar as forças do inimigo por todos os meios que estivessem à disposição. Os princípios de Shang eram conhecidos em Qin e deles foi feito uso em Changping (onde mais de 450.000 soldados Zhao foram executados após a batalha), dando a Qin a vantagem pela qual eles estavam esperando.
Contudo, não fizeram efetivo uso adicional dessas táticas até a ascensão de Ying Zheng, rei de Qin. Utilizando as diretivas de Shang e com um exército de considerável tamanho, usando armas de ferro e conduzindo carros, Ying Zheng emergiu do conflito supremo dos Estados Guerreiros em 221 AC, subjugando e unificando os outros seis estados sob o seu governo, proclamando-se Shi Huangdi, ‘Primeiro Imperador’ da China. 
Shi Huangdi, o primeiro Imperador da China


IV.3 – A DINASTIA QIN

Assim, Shi Huangdi estabeleceu a Dinastia Qin (221-296 AC), iniciando na China o período conhecido como Era Imperial (221 AC – 1912 DC), quando as dinastias governaram a terra. Ele ordenou a destruição das fortificações com muralhas que haviam separado os diferentes estados e determinou a construção de uma grande muralha ao longo da fronteira norte do seu reino. Embora hoje permaneça pouco da muralha original de Shi Huangdi, a ‘Grande Muralha da China’ começou sob o seu governo.
A “Grande Muralha da China”, a mais longa fortificação de defesa do mundo, se estendia por mais de 5.000 km, através das montanhas e planícies, desde as fronteiras com a Coreia no leste, até o terrível Deserto Ordos no oeste. Tratava-se de um enorme empreendimento logístico, embora tenha incorporado, ao longo de sua extensão, vários trechos de muralhas anteriormente construídas pelos reinos chineses separados, para defender suas fronteiras do norte no quarto e terceiro séculos AC, principalmente contra os mongóis.
Shi Huangdi também reforçou a infraestrutura através da construção de estradas que ajudaram a aumentar o comércio com a facilidade das viagens. Cinco estradas tronco partiam da capital imperial em Xianyang, cada uma delas equipada com forças policiais e estações de correio. A maioria dessas estradas eram construções de terra compactada com largura de 15 m. A mais longa delas corria para sudoeste cerca de 7.500 km até a região fronteira de Yunnan. Tão acidentada era a região interior que trechos da estrada tiveram que ser construídos a partir de penhascos verticais através de galerias de madeira proeminentes. 
A fantástica "Grande Muralha da China"
Shi Huangdi também expandiu os limites do seu império, construiu o Grande Canal no sul, redistribuiu terras e, no início, foi um governante legítimo e justo.
O Grande Canal, Patrimônio Histórico Mundial da Unesco, é o mais longo canal ou rio artificial do mundo, constituído por uma série de hidrovias do norte e leste da China, com cerca de 1.800 km de comprimento. O Grande Canal representou um importante papel na unificação do norte com o sul da China, conectando o Rio Amarelo, ao norte, com o rio Yangtze, ao sul, com isso tornando muito mais fácil o transporte de grãos do sul aos centros de poder político e militar do norte do país.
Embora tendo feito grandes avanços na construção de projetos e campanhas militares, seu governo tornou-se crescentemente caracterizado por uma pesada mão na política doméstica. Reivindicando o Mandato do Céu, ele suprimiu todas as filosofias com exceção do Legalismo[2] que tinha sido desenvolvido por Shang Yang e, atendendo o conselho de seu principal conselheiro Li Siu, ele ordenou a destruição de todos os livros de história e filosofia que não correspondessem ao Legalismo, sua linha familiar, o estado de Qin ou ele próprio.
Como os livros fossem então escritos em tiras de bambu amarrados com pinos giratórios formando volumes pesados, os estudiosos que procuraram fugir da ordem tiveram que enfrentar muitas dificuldades. Um grande número deles foi descoberto e diz a tradição que muitos deles foram enviados para trabalhar na Grande Muralha, com quatrocentos e sessenta condenados à morte. Contudo, alguns dos literatos memorizaram os trabalhos completos de Confúcio e os transmitiram oralmente para outras memórias.
Essa ação, juntamente com a supressão das liberdades gerais, inclusive a liberdade de expressão, tornaram Shi Huangdi progressivamente mais impopular. A antiga adoração do ancestrais e a terra dos mortos começaram a interessar mais o imperador do que o seu reino dos vivos e Shi Huangdi tornou-se crescentemente absorvido no que consistiria esse outro mundo e como ele poderia evitar a sua viagem para lá. Parece ter desenvolvido uma obsessão com a morte, tornando-se crescentemente paranoico com relação à sua segurança pessoal e buscando ardentemente a imortalidade. 
Vista panorâmica do fabuloso Exército de Terracota
Seu desejo de garantir a si uma vida após a morte compatível com a sua vida presente, levou-o a autorizar a construção de um palácio para a sua tumba e um exército de mais de 8.000 guerreiros de terracota criados para servi-lo na eternidade. Este exército de cerâmica, enterrado junto com ele, tembém incluiu carros de terracota, cavalaria, um comandante em chefe, bem como pássaros e animais variados. Diz-se que morreu em 210 AC enquanto numa busca por um elixir da imortalidade e Li Siu, esperando ganhar o controle do governo, manteve sua morte secreta até que pudesse, mais tarde, alterar o seu testamento para nomear seu dócil filho, Hu-Hai, como herdeiro.
Tal plano provou-se, contudo, insustentável já que o jovem príncipe mostrou-se muito instável, executando muitos e iniciando uma ampla rebelião por toda a região. Logo após a morte de Shi Huangdi, a dinastia Qin rapidamente entrou em colapso pela intriga e ineptitude de gente como Hu Hai, Li Siu e outro conselheiro, Zhao Gao, e a Dinastia Han (202 AC-220 DC) iniciou com o acesso de Liu Bang.

IV.4 – A DISPUTA CHU-HAN

Com a queda da Dinastia Qin a China mergulhou no caos conhecido como a “Disputa Chu-Han (206-202 AC). Dois generais emegiram entre as forças que se rebelaram contra o Qin: Liu-Bang de Han (viveu cerca de 256 a 195 AC) e o general Xiang-Yu de Chu (viveu cerca de 232 a 202 AC), que lutaram pelo controle do governo. Xiang-Yu, que tinha provado ser o mais formidável oponente de Qin, concedeu a Liu-Bang o título de ‘Rei do Han’, em reconhecimento à decisiva derrota que causou às forças de Qin em sua capital de Xianyang. 
Mapa da disputa Chu-Han pelo poder na China

Os dois antes aliados, rapidamente tornaram-se antagonistas na luta pelo poder, até que Xiang-Yu negociou o Tratado do Canal Hong, que trouxe uma paz temporária. Xiang-Yu sugeriu dividir a China sob o comando de Chu, no leste e de Han, no oeste, mas Liu-Bang queria uma China unida sob o comando de Han e, quebrando o tratado, reiniciou as hostilidades. Na Batalha de Gaixia, em 202 AC, o grande general de Liu-Bang, Han-Xin, emboscou e derrotou as forças de Chu sob Xiang-Yu e Liu-Bang foi proclamado imperador (conhecido para a posteridade como Imperador Gaozu de Han). Xiang-Yu suicidou-se, mas sua família foi poupada servindo ainda em posições governamentais.
O novo imperador Gaozu tratou todos os seus anteriores adversários com respeito, unindo a terra sob seu governo. Repeliu as tribos nômades Xiongnu, que realizou algumas incursões à China, e fez a paz com os outros estados que se tinham levantado em rebelião contra a frágil Dinastia Qin. A Dinastia Han (que deriva seu nome do lar de Liu-Bang, na província de Hanzhong) governaria a China, com uma breve interrupção, pelos seguintes 400 anos, de 202 AC a 220 DC. A Dinastia Han dividiu-se em dois períodos: Han Ocidental (202 AC a 9 DC) e Han Oriental (25 a 220 DC).

IV.5 – A DINASTIA HAN

A paz resultante iniciada por Gaozu trouxe a estabilidade necessária para a cultura prosperar novamente. O comércio com o ocidente iniciou durante este tempo e as artes e a tecnologia aumentaram em sofisticação. A Dinastia Han é considerada a primeira a escrever a sua história, mas como Shi Huangdi destruiu muito dos registros históricos dos que vieram antes dele, essa reivindicação permanece em dúvida. Não há dúvida, contudo, de que grandes avanços foram feitos sob a Dinastia Han em todas as áreas da cultura.
O “Canon de Medicina” do Imperador Amarelo, primeiro registro escrito sobre medicina, foi codificado durante a Dinastia Han. O papel foi inventado nesse tempo e a escrita tornou-se mais sofisticada. Gaozu abraçou o Confucionismo, tornando-a a única filosofia do governo, estabelecendo um padrão que continuaria até os dias presentes.
Contudo ele não legislou a filosofia para os demais como Shi Huangdi. Praticou a tolerância para com outras filosofias e, como resultado, a literatura e a educação floresceram sob o seu reinado. Ele reduziu os impostos e licenciou seu exército que, entretanto, reagrupava-se rapidamente quando convocado.
Com sua morte em 195 AC, sua esposa, imperatriz Lu Zhi (241 a 180 AC), instalou uma série de reis fantoches, começando com o príncipe herdeiro Liu Ying (Imperador Hui, que reinou entre 195 e 188 AC), que atendeu os interesses dela, mas ainda continuou com suas próprias políticas. Estes programas mantiveram a estabilidade e a cultura, permitindo que o maior dos imperadores Han, Wu Ti (também conhecido como Wu, o Grande, que reinou de 141 a 87 AC) embarcasse em seus empreendimentos de expansão, obras públicas e iniciativas culturais. Ele enviou seu emissário Zhang Qian ao ocidente em 138 AC que acabou resultando na abertura oficial da Estrada da Seda em 130 AC
O Confucionismo foi, além disso, incorporado como a doutrina oficial do governo e Wu Ti estabeleceu escolas por todo o império para promover a leitura e escrita e ensinar os preceitos de Confúcio. Ele também reformou o transporte, as estradas e o comércio, decretando muitos outros projetos públicos, empregando milhões como trabalhadores do estado nesses empreendimentos. Após Wu Ti, seus sucessores praticamente mantiveram sua visão para a China e tiveram sucesso similar.
O aumento na riqueza conduziu ao nascimento de estados grandes e prosperidade geral, mas para os camponeses que trabalhavam na terra, a vida tornou-se cada vez mais difícil. Em 9 DC o regente atuante, Wang Mang (45 AC a 23 DC), usurpou o controle do governo, reivindicando o Mandato do Céu para si próprio e declarando o fim da Dinastia Han, fundando a Dinastia Xin (9 a 23 DC) sobre a plataforma de uma extensa reforma da terra e redistribuição de riqueza.
Inicialmente ele teve enorme apoio da população camponesa e oposição dos proprietários das terras. Seus programas, contudo, foram pobremente concebidos e executados, resultando num desemprego geral e ressentimento. Revoltas e grandes enchentes do Rio Amarelo mais ainda desestabilizaram o governo de Wang Mang e ele foi assassinado por uma turba furiosa de camponeses por quem ele havia ostensivamente tomado o governo e iniciado suas reformas.

IV.6 – A QUEDA DA DINASTIA HAN E A ASCENSÃO DA DINASTIA XIN

A ascensão da Dinastia Xin encerrou o período conhecido como período Han Ocidental e seu fim conduziu ao estabelecimento do período Han Oriental. O Imperador Guangwu (que reinou entre 25 e 57 DC) devolveu as terras aos ricos proprietários do estado e restaurou a ordem na terra, mantendo as políticas dos governantes do antigo Han Ocidental. Guangwu, ao recuperar terras perdidas durante a Dinastia Xin, foi forçado a despender muito do seu tempo abafando rebeliões e restabelecendo o governo chinês nas regiões da moderna Coreia e Vietname.
A rebelião das Irmãs Trung de 39 DC no Vietname, conduzida por duas irmãs, exigiu a participação de dez mil homens e qutro anos para ser debelada. Mesmo assim, o imperador consolidou seu governo e ainda expandiu suas fronteiras, propiciando a estabilidade que deu origem a um aumento no comércio e prosperidade. Ao tempo do Imperador Zhang (reinou entre 75 e 88 DC), a China foi tão próspera a ponto de se tornar parceira no comércio de todas as maiores nações da época e continuou nesse caminho após sua morte. Os romanos sob Marcus Aurelius, em 166 DC, consideravam a seda chinesa mais valiosa que ouro, pagando à China o preço que ela pedisse.
Disputas entre a baixa nobreza proprietária e os camponeses, contudo, continuaram a causar problemas para o governo, como exemplificado pela Rebelião dos Cinco Montes de Arroz (142 DC) e a Rebelião do Turbante Amarelo (184 DC). Embora a primeira começasse como um movimento religioso, envolveu muitas pessoas da classe camponesa em desacordo com os ideais de Confúcio do governo e da elite. As duas revoltas foram uma resposta à negligência governamental para com o povo, que piorou à medida que a Dinastia Han, ao final, tornava-se cada vez mais corrupta e inefectiva. Os líderes das duas rebeliões pregavam que a Dinastia Han havia faltado com o Mandato do Céu e tinha que abdicar.
O poder do governo para controlar o povo começou a desintegrar-se até que uma revolta em grande escala irrompeu por todo o país com o aumento da Rebelião do Turbante Amarelo. Os generais de Han foram enviados para abafar a rebelião, mas logo que um território era esmagado, outro surgia. A revolta foi, finalmente, encerrada pelo General Cao Cao (viveu entre 155 e 220 DC). Cao Cao e seu anterior amigo e aliado Yuan-Shao então lutaram entre si pelo controle das terras, com Cao Cao saindo vitorioso no norte. Tentou uma completa unificação da China invadindo o sul, mas foi derrotado na Batalha dos Penhascos Vermelhos, em 208 DC, deixando a China dividida em três reinos separados: Cao Wei, Wu Oriental e Shu Han, cada um dos quais reivindicando o Mandato do Céu. Esta era é conhecida como o Período dos Três Reinos (220-228 DC), um período de violência, instabilidade e incerteza que inspiraria, mais tarde, alguns dos maiores trabalhos da literatura chinesa.
A Dinastia Han era então uma memória, e outras dinastias, de vida mais curta (como a Wei e Jin, a Wu Hu e a Sui) assumiram o controle do governo, por vez, iniciando suas próprias plataformas entre 208 e 618 DC. A Dinastia Sui (589-618 DC) finalmente teve sucesso na reunificação da China em 589 DC. A importância da Dinastia Sui está na sua implementação de uma burocracia altamente eficiente que modernizou a operação do governo conduzindo a uma tranquilidade maior na manutenção do Império. Sob o Imperador Wen e então seu filho Yang, o Grande Canal foi completado e a Grande Muralha alargada com a reconstrução de algumas porções, o exército foi aumentado à maior dimensão do mundo à época e a cunhagem foi padronizada por todo o reino.
A literatura floresceu e diz-se que a famosa “Lenda de Hua Mulan”, sobre uma jovem que toma o lugar do seu pai no exército e salva o país, foi desenvolvida nessa ápoca (embora o poema original pareça ter sido composto durante o Período Wei Norte, 386-535 DC). Infelizmente, nem Wen, nem Yang estavam contentes com a estabilidade doméstica e organizaram expedições maciças contra a Península Coreana. Após haver arruinado o tesouro com seus projetos de construção e campanhas militares, Yang seguiu o exemplo de seu pai também falhando nas conquistas militares. Yang foi assassinado em 618 DC quando então iniciou o levante de Li-Yuan que tomou o controle do governo, denominando-se Imperador Gao-Tzu de Tang e reinando de 618 a 626 DC).

IV.7 – A DINASTIA TANG

A Dinastia Tang (618 a 907 DC) é considerada a idade de ouro da Civilização Chinesa. Gao-Tzu prudentemente manteve e melhorou a burocracia iniciada pela Dinastia Sui, enquanto evitando operações militares e projetos de construção extravagantes. Com modificações menores, as políticas burocráticas da Dinastia Tang ainda estão em uso pelo governo chinês da atualidade.
A despeito de seu eficiente governo, Gao-Tzu foi deposto por seu filho Li-Shimin, em 626 DC. Após assassinar seu pai, Li-Shimin matou seus irmãos e outros da nobreza, assumindo o título de Imperador Taizong, reinando de 626 a 649 DC. Após o golpe sangrento, Taizong decretou que templos budistas[3] fossem construídos nos locais de batalhas e que os mortos fossem celebrados.
Continuando sua construção sobre os conceitos de adoração aos ancestrais e o Mandato do Céu, Taizong reivindicou vontade divina em suas ações, sugerindo que os que havia matado, eram agora seus conselheiros no após vida. À medida que mostrava ser um eficiente governante, bem como um hábil estrategista militar e guerreiro, seu golpe permaneceu sem desafio e ele se dedicou à tarefa de governar o seu vasto império.
Taizong seguiu os preceitos de seu pai mantendo muito do que era bom da Dinastia Sui, com melhorias. Isso pôde ser visto especialmente em seu código legal grandemente baseado nos conceitos da Sui, mas ampliados no que se refere à especificidade de crimes e punições. Ignorou o modelo de seu pai de política externa e embarcou numa série de campanhas militares vencedoras que ampliaram e garantiram o seu império, ajudando a difundir o seu código legal e a cultura chinesa.
Taizong foi substituído por seu filho Gaozong (reinou entre 649 e 683 DC), cuja esposa, Wu Zetian, se tornaria a primeira e única monarca mulher. A Imperatriz Wu Zetian (reinou entre 690 e 704 DC) iniciou um bom número de políticas que melhoraram as condições de vida na China, fortalecendo a posição do imperador. Ela também fez uso de uma força policial secreta e de canais de comunicação altamente eficientes para estar sempre à frente de seus inimigos domésticos e exteriores.
O comércio floresceu dentro do império e, ao longo da Estrada da Seda, com o Ocidente. Com a queda de Roma, o Império Bizantino tornou-se o principal comprador da seda chinesa. Ao tempo do Imperador Xuanzong (reinou entre 712 e 756 DC), a China foi o maior, mais populoso e mais próspero país do mundo. Devido à sua grande população, exércitos de muitos milhares de homens podiam ser convocados e as campanhas militares contra os turcos nômades ou rebeldes internos eram rápidas e com sucesso. A arte, tecnologia e ciência floresceram sob a Dinastia Tang (embora o pico da ciência tenha ocorrido ao final da Dinastia Sung, de 960 a 1234 DC) e muitas das mais importantes peças da escultura e prataria chinesa veem desse período.

IV.8 – A QUEDA DA DINASTIA TANG E ASCENSÃO DA DINASTIA SONG

Contudo, o governo central não era universalmente admirado e levantes regionais eram uma questão regular. O mais importantes destes, foi a Rebelião Na Shi (também conhecida como rebelião An Lushan) de 755 DC. O General An Lushan, um favorito da Corte Imperial, reagiu contra o que ele viu como extravagância intolerável do governo. Com uma força de 100.000 soldados ele se rebelou e declarou-se o novo imperador pelos preceitos do Mandato do Céu.
Embora sua revolta fosse sufocada cerca de 763 DC, as causas subjacentes da insurreição e ações militares adicionais continuaram a fustigar o governo até 770 DC. A mais aparente consequência da rebelião An Lushan foi uma dramática redução na população da China. Estima-se que cerca de 36 milhões de pessoas morreram como resultado direto da rebelião, seja em batalha, como retaliação ou por doenças e falta de recursos.
O comércio sofreu, os impostos não foram arrecadados e o governo, que havia abandonado Chang’an quando a revolta começou, foi ineficiente na manutenção de qualquer tipo de presença significativa. A Dinastia Tang continuou a sofrer de revoltas domésticas e, após a Rebelião Huang Chao (874-884 DC), nunca conseguiu se recuperar. O país se esfacelou no período conhecido como "As Cinco Dinastias e Dez Reinos" (907-960 DC), com cada regime reivindicando a legitimidade para si próprio, até a ascensão da Dinastia Song (Aka Sung).
Com a Dinastia Song, a China tornou-se novamente estável e as instituições, leis e costumes foram mais codificadas e integradas na cultura. O Neo Confucionismo tornou-se a filosofia mais popular do país, influenciando suas leis e costumes e dando forma à cultura da China ainda reconhecível atualmente. Contudo, a despeito dos avanços em cada área de civilização e cultura, a antiga discórdia entre ricos proprietários de terra e os camponeses que trabalhavam a terra, continuou pelos séculos seguintes.
Revoltas periódicas de camponeses foram esmagadas tão rapidamente quanto possível, mas remédios efetivos nunca foram oferecidos às queixas populares e cada ação militar buscava os sintomas do problema em vez do próprio problema. Em 1949, Mao Tse Tung conduziu uma revolta popular na China, derrubando o governo e instituindo a República Popular da China com a promessa de que, finalmente, todos seriam igualmente ricos. Assunto para uma próxima publicação.


[1] “A Arte da Guerra é um tratado militar do século V AC que se supõe ter sido escrito pelo estrategista chinês Sun-Tzu. Cobrindo todos os aspectos da arte da guerra, ele busca aconselhar os comandantes sobre como preparar, mobilizar, atacar, defender e tratar os derrotados. Um dos mais influentes textos na história, tem sido usado por estrategistas militares por mais de 2.000 anos e admirado por líderes como Napoleão e Mao Tze Tung.
[2] O Legalismo, na China Antiga, era uma crença filosófica de que os seres humanos são mais inclinados a fazer o errado do que o certo, porque são inteiramente motivados por interesses próprios e necessitam de leis estritas para controlar seus impulsos.
[3] O Budismo é uma religião não teística (não há uma crença num Deus criador), também considerada uma filosofia e uma disciplina moral, originada na Índia, no sexto e quinto séculos AC. Foi fundado pelo sábio Siddhartha Gautama (o Buda, cerca de 563 a 483 AC) que, de acordo com a lenda, tinha sido um príncipe hindú.

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