Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

domingo, 17 de setembro de 2023

GUERRA CIVIL ESPANHOLA (1936 A 1939)

I - ANTECEDENTES

A Espanha permanecera neutra durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1919). Após a Guerra, amplas faixas da sociedade espanhola, incluindo as forças armadas, se uniram na esperança de remover o corrupto governo central do país em Madri, infelizmente sem sucesso. Durante este período, uma percepção popular do comunismo como a principal ameaça, aumentou significativamente. Em 1923, um golpe militar trouxe Miguel Primo de Rivera ao poder. Como resultado, a Espanha alterou seu governo para uma ditadura militar. O apoio para Rivera foi se reduzindo gradativamente e ele renunciou em janeiro de 1930, sendo substituído pelo General Dámaso Berenguer, posteriormente substituído pelo Almirante Juan Bautista Aznar-Cabañas; ambos, como Primeiros-Ministros, seguindo uma política de governo “por decreto”. Havia apoio pequeno para a monarquia nas cidades mais importantes. Em consequência, de forma muito semelhante a Amadeo I, aproximadamente sessenta anos antes, o Rei Alfonso XIII de Espanha cedeu à pressão popular para o estabelecimento de uma república em 1931 e convocou eleições municipais para 12 de abril daquele ano. Organizações da esquerda, como os socialistas e republicanos liberais venceram em quase todas as capitais provinciais e, seguindo à renúncia do governo de Aznar, Alfonso XIII abandonou o país. A esse tempo, foi formada a “Segunda República Espanhola” (a “Primeira República Espanhola” havia sido formada após a renúncia do Rei Amadeo I em 1873), que permaneceu no poder até a deflagração da guerra civil cinco anos após. 
Rei Alfonso XIII exilado com o advento
da Segunda República Espanhola.
O comitê revolucionário encabeçado por Niceto Alcalá-Zamora tornou-se o governo provisório, com o próprio Alcalá-Zamora como Presidente e Chefe do Estado. A República tinha amplo suporte de todos os segmentos da sociedade. Em maio de 1931, um incidente, onde um motorista de táxi foi atacado fora de um clube monarquista, desencadeou violência anticlerical por toda a Madri e a região sudoeste do país. A lenta resposta por parte do governo decepcionou a direita e reforçou sua visão de que a República estava determinada a perseguir a Igreja. Em junho e julho, a Confederação Nacional do Trabalho (CNT) convocou várias greves que conduziram a violentos incidentes entre membros da CNT e a Guarda Civil e a brutais sanções pela Guarda Civil e o Exército contra a CNT em Sevilha. Isso conduziu muitos trabalhadores a crer que a Segunda República Espanhola era tão opressiva quanto a monarquia e a CNT anunciou sua intenção de depô-la via revolução. As eleições de junho de 1931 trouxeram de volta uma grande maioria de Republicanos e Socialistas. Com o início da Grande Depressão, o governo tentou assistir a Espanha rural pela instituição do dia de oito horas e pela redistribuição da posse da terra aos trabalhadores das fazendas. Os trabalhadores rurais viviam, nesse tempo, uma das piores pobrezas da Europa e o governo tentou aumentar seus salários e melhorar suas condições de trabalho. Entretanto, essa ação alienou pequenos e médios proprietários de terra que contratavam trabalhadores. A Lei de Limites Municipais proibia a contratação de trabalhadores de fora da localidade dos pertences do trabalhador. Uma vez que nem todas as localidades tinham força de trabalho suficiente para as tarefas necessárias, a lei tinha consequências negativas não intencionais, tais como algumas vezes excluir camponeses e arrendatários do mercado de trabalho quando eles necessitavam de aporte extra como colhedores. Quadros de arbitragem do trabalho foram estabelecidos para regular salários, contratos e horas de trabalho; esses eram mais favoráveis aos trabalhadores do que aos empregadores tornando-os hostis aos empregados. Um decreto em julho de 1931 aumentou o pagamento de hora extra e várias leis posteriores restringiram a quem os proprietários de terras poderia contratar. Outros esforços incluíram decretos que limitavam o uso de maquinário, esforços para criar monopólio na contratação, greves e esforços de sindicatos para limitar o emprego de mulheres para preservar o monopólio do trabalho para seus membros. A luta entre classes se intensificou à medida que os proprietários de terras buscaram organizações contrarrevolucionárias e oligarquias locais. Greves, roubo de locais de trabalho, incêndios criminosos e assaltos em lojas, fura-greves, empregadores e máquinas tornaram-se cada vez mais comuns. Por fim, as reformas do governo Republicano-Socialista alienavam tantas pessoas quantas lhe agradavam. 
Altar principal da igreja do Salvador de Elche
antes de incendiada pelos Republicanos
em 20 de fevereiro de 1936.

Em outubro de 1931 o Republicano Manuel Azaña tornou-se o Primeiro-Ministro de um governo de minoria. O fascismo permanecia como uma ameaça reativa que foi ainda facilitado por reformas controversas ao exército. Em dezembro, uma nova constituição reformista, liberal e democrática foi declarada. Incluía fortes disposições impondo uma ampla secularização da Igreja Católica, incluindo a abolição de escolas e instituições de caridade, num movimento que sofreu forte oposição. Nesse momento, uma vez que a Assembleia Constituinte havia concluído seu mandato com a aprovação da nova Constituição, ela deveria ter providenciado novas eleições parlamentares e encerrado. Entretanto, temendo a crescente pressão popular, a maioria Radical e Socialista postergou as eleições regulares, prolongando seu tempo no poder por mais dois anos. O governo republicano de Diaz iniciou numerosas reformas para, do seu ponto de vista, modernizar o país. Em 1932 os jesuítas, encarregados das melhores escolas do país, foram banidos e suas propriedades confiscadas. O exército foi reduzido e os proprietários de terras expropriados. Autonomia de governo foi garantida à Catalunha, com um Parlamento local e Presidente próprio. Em junho de 1933 o Papa Pio XI emitiu a encíclica Dilectissima Nobilis, “Sobre a Opressão da Igreja da Espanha”, elevando sua voz contra a perseguição da Igreja Católica na Espanha, alvo frequente da esquerda revolucionária durante a República e a Guerra Civil. 
Mesma igreja incendiada pelos Republicanos
ao tempo da Segunda República Espanhola.

Em novembro de 1933 os partidos de direita venceram as eleições gerais devido ao ressentimento crescente contra o governo causado por um decreto controverso implementando a reforma da terra, pelo incidente de Casas Viejas[1], a formação de uma aliança de direita (Confederação Espanhola de Grupos Autônomos de Direita - CEDA) e pelo recente enfraquecimento das mulheres, que então votaram nos partidos de centro e direita. Os Republicanos de esquerda tentaram cancelar os resultados eleitorais, sem êxito. A despeito da vitória eleitoral da CEDA, o Presidente Alcalá Zamora não convidou seu líder Gil Robles para formar um governo temendo as simpatias monarquistas da CEDA e propôs mudanças na Constituição, convidando Alejandro Lerroux, do Partido Republicano Radical (PRR) para formar o governo em seu lugar. Além disso, à CEDA foram negadas posições no Gabinete por um ano.
Eventos ocorridos no período após novembro de 1933, chamado de “biênio negro”, indicaram a maior probabilidade de uma guerra civil. Alejandro Lerroux, do PRR, formou o novo governo, reverteu as mudanças feitas pela administração anterior e garantiu anistia aos colaboradores do fracassado levante pelo General José Sanjurjo em agosto de 1932. Alguns monarquistas juntaram-se a então nacionalista-fascista Falange[2] Espanhola para tentar atingir seus objetivos. Violência aberta ocorria nas ruas das cidades espanholas e a militância crescia, refletindo um movimento em direção a uma revolta radical ao invés de uma solução democrática pacífica. Uma pequena insurreição por anarquistas ocorreu em dezembro de 1933 como resposta à vitória da CEDA, em que morreram 100 pessoas. Após um ano de intensa pressão, a CEDA, partido com a maioria dos assentos no Parlamento, finalmente teve sucesso em forçar a aceitação de três ministros. Os Socialistas e Comunistas reagiram com uma insurreição que preparavam há nove meses e que se desenvolveu num sangrento levante revolucionário contra a ordem vigente. Revolucionários bem armados conseguiram tomar a totalidade da Província de Asturias, assassinaram numerosos policiais, clérigos e civis, destruindo prédios religiosos (incluindo igrejas e conventos) e parte da Universidade de Oviedo. Os rebeldes nas áreas ocupadas proclamaram a revolução para os trabalhadores e aboliram a moeda existente. A rebelião foi esmagada em duas semanas pela Marinha Espanhola e pelo Exército Republicano Espanhol, que usou principalmente tropas coloniais mouras do Marrocos Espanhol. Na ocasião, Azaña estava em Barcelona e o governo de Lerroux – CEDA tentou implicá-lo, provocando a sua prisão pela acusação de cumplicidade. De fato, Azaña não teve qualquer ligação com a rebelião e foi libertado em janeiro de 1935. 
Manuel Azaña, líder intelectual
da Segunda República Espanhola
O historiador espanhol Salvador de Madriarga, apoiador de Azaña e oponente exilado do General Franco, escreveu uma aguda crítica sobre a participação da esquerda na revolta: “O levante de 1934 foi imperdoável. O argumento de que o senhor Gil Robles tentou destruir a Constituição para estabelecer o fascismo foi totalmente hipócrita e falso. Com a rebelião de 1934, a esquerda espanhola perdeu qualquer sobra de autoridade moral para condenar a rebelião de 1936”.
Reversões na reforma agrária resultaram em expulsões, incêndios e alterações arbitrárias das condições trabalhistas no interior das regiões central e sul em 1935, com os procedimentos dos proprietários de terras alcançando genuína crueldade, com violência contra trabalhadores rurais e socialistas causando várias mortes. Um historiador declarou que os procedimentos da direita no interior da região sul foi uma das principais causas do ódio durante a Guerra Civil e possivelmente da própria Guerra. Os patrões atiravam nos esquerdistas e prendiam militantes socialistas e dos sindicatos; os salários foram reduzidos a salários de fome.
Em 1935 o governo conduzido pelo Partido Radical Republicano entrou numa série de crises. O Presidente Niceto Alcalá-Zamora, hostil a esse governo, convocou novas eleições. A Frente Popular venceu a eleição geral de 1936 por estreita margem. As massas revolucionárias esquerdistas tomaram as ruas e libertaram prisioneiros. Nas 36 horas seguintes à eleição, dezesseis pessoas foram mortas (a maior parte pele polícia tentando mantendo manter a ordem ou intervir em conflitos violentos) e trinta e nove foram gravemente feridas. Cinquenta igrejas e setenta centros políticos conservadores foram atacados ou incendiados. Manuel Azaña foi chamado para formar um governo antes do processo eleitoral terminar. Rapidamente substituiu Zamora como presidente aproveitando uma brecha constitucional. Convencido de que a esquerda não estava mais querendo seguir o estado de direito e que sua visão da Espanha estava sob ameaça, a direita abandonou a opção parlamentar e iniciou o planejamento para derrubar a República ao invés de tentar controlá-la.

II - A GUERRA CIVIL

Este era o trágico panorama vigente na Espanha às vésperas da real eclosão da Guerra Civil Espanhola, que teve seu início com uma revolta militar contra o governo Republicano da Espanha, apoiada por elementos conservadores[3] dentro do país.
A esquerda socialista através do PETS (Partido Espanhol dos Trabalhadores Socialistas) iniciou suas ações. Julio Álvarez del Vayo (político, jornalista e escritor socialista espanhol) falou “sobre a Espanha estar sendo convertida numa República Socialista em associação com a União Soviética”. Francisco Largo Caballero (político espanhol e sindicalista) declarou que “o proletariado organizado carregará tudo à sua frente e destruirá tudo até que alcancemos nossos objetivos”. O país havia rapidamente se tornado anárquico. Mesmo o contido socialista Indalecio Prieto, numa ação do partido em Cuenca, em maio de 1936, queixou-se: “Nunca vimos um panorama tão trágico ou um colapso tão grande na Espanha até hoje”. No exterior a Espanha é tida como insolvente. Esta não é a estrada para o socialismo ou comunismo, mas sim ao desesperado anarquismo sem nem mesmo a vantagem da liberdade”. O desencanto com o governo de Azaña foi também anunciado por Miguel de Unamuno, um republicano e dos mais respeitados intelectuais que, em junho de 1936, disse ao repórter que publicou sua declaração, que o Presidente Manuel Azaña deveria “cometer o suicídio como um ato patriótico”.
De acordo com Stanley Payne, autor do livro “A Guerra Civil Espanhola”, em julho de 1936 a situação na Espanha havia se deteriorado totalmente. Os comentaristas espanhóis falavam do caos na preparação para a revolução, diplomatas estrangeiros se preparavam para essa possibilidade e um interesse no fascismo se desenvolvia entre os ameaçados. Payne declarava: “As frequentes violações da lei, assaltos à propriedade privada e a violência política na Espanha eram sem precedentes para um moderno país europeu que não estivesse sob uma revolução total. Essas incluíam ondas de greve maciças, algumas vezes violentas e destrutivas, confisco ilegal em larga escala de fazendas no sul, uma onda de incêndios criminosos e destruição de propriedades, fechamento arbitrário de escolas católicas, confisco de igrejas e propriedades católicas em algumas áreas, censura difusa, milhares de prisões arbitrárias, impunidade absoluta para ação criminosa por parte de membros dos partidos da Frente Popular, manipulação e politização da justiça, dissolução arbitrária de organizações direitistas, eleições coercitivas em Cuenca e Granada que excluíram toda a oposição, subversão das forças de segurança e um crescimento substancial na violência política, resultando em mais de 300 mortes. Contudo, no início de julho a oposição do centro e da direita na Espanha permaneciam divididas e impotentes.”
Imediatamente antes do golpe, a polarização na Espanha era tão intensa que confrontos físicos entre esquerdistas e direitistas eram uma ocorrência de rotina em muitas localidades. Durante o primeiro mês do governo da Frente Popular, aproximadamente um quarto dos governadores provinciais haviam sido removidos devido ao seu fracasso em prevenir ou controlar greves, ocupação ilegal de terras, violência política e incêndios criminosos. O governo da Frente Popular processava muito mais facilmente direitistas por violência do que esquerdistas que cometiam ações similares. Azaña hesitava em usar o exército para atirar ou prender desordeiros pois muitos deles apoiavam sua coalizão. Por outro lado, relutava em desarmar os militares pois acreditava que necessitaria deles para impedir as insurreições da extrema esquerda. A ocupação ilegal de terra ampliou-se totalmente com os arrendatários pobres sabedores de que o governo não se inclinava a impedi-las. Já em abril de 1936, 100.000 camponeses haviam se apropriado de 400.000 hectares de terras e talvez 1 milhão de hectares até o início da guerra civil; como comparação, a reforma agrária de 1931-33 tinha cedido a 6.000 camponeses, 45.000 hectares de terras. Entre abril e julho de 1936, ocorreram tantas greves quantas em todo o ano de 1931. Os crimes sociais – recusa em pagar por bens e aluguéis – tornaram-se crescentemente comuns pelos operários, particularmente em Madri. Em alguns caso, tais ações eram perpetradas em companhia de militantes armados. Conservadores, a classe média, homens de negócio e proprietários de terras estavam convencidos de que a revolução já havia iniciado.
O Primeiro-Ministro Santiago Casares Quiroga ignorou os avisos de uma conspiração militar envolvendo vários generais que decidiram que o governo tinha que ser substituído para evitar a dissolução da Espanha. Os dois lados se haviam convencido de que se o outro lado vencesse o poder, ele discriminaria os membros do lado perdedor e tentaria suprimir suas organizações políticas.
A guerra foi consequência de uma polarização da vida e da política espanhola que havia se desenvolvido por várias décadas. De um lado, o Nacionalista, estavam a maioria dos católicos romanos, importantes elementos dos militares, a maioria dos proprietários de terras e muitos homens de negócios. Do outro lado, o Republicano, estavam os trabalhadores urbanos, muitos trabalhadores agrícolas e muitos da classe média educada. Politicamente, suas diferenças muitas vezes encontraram expressão extrema e veemente em partidos como a Falange, de orientação fascista e os anarquistas militantes. Entre esses extremos estavam outros grupos cobrindo o espectro político desde o monarquismo e o conservadorismo através do liberalismo ao socialismo, incluindo um pequeno movimento comunista dividido entre seguidores do líder soviético Joseph Stalin e seu arquirrival Leon Trotsky. Já em 1934 houvera um amplo conflito trabalhista e um sangrento levante dos mineiros das Astúrias[4], suprimido pelas tropas conduzidas pelo General Francisco Franco. Uma sucessão de crises governamentais culminou com as eleições de fevereiro de 1936, que trouxeram ao poder um governo de “Frente Popular”, apoiado pela maioria dos partidos de esquerda e oposto pelos partidos da direita e o que restou do centro.
Um bem planejado levante militar iniciou em 17 de julho de 1936, em cidades com guarnições de toda a Espanha. Em 21 de julho os rebeldes haviam obtido o controle do Marrocos espanhol, Ilhas Baleares (exceto Minorca) e, na parte da Espanha ao norte, das montanhas Guadarrama e do rio Ebro, exceto das Asturias, Santander (antiga Cantábria) e das províncias bascas ao longo da costa norte e da região da Catalunha no nordeste. As forças republicanas tinham eliminado o levante em outras áreas, exceto por algumas das maiores cidades da Andaluzia, incluindo Sevilha, Granada e Córdoba. 
General Francisco Franco,
ditador da Espanha com o
fim da Guerra Civil 1939.
Quando o golpe militar inicial falhou em tomar o controle de todo o país, seguiu-se uma sangrenta guerra civil com grande ferocidade de ambos os lados. Os Nacionalistas, como foram chamados os rebeldes, receberam ajuda da Itália fascista e da Alemanha nazista. Os Republicanos receberam ajuda da União Soviética e das Brigadas Internacionais[5], compostas por voluntários da Europa e dos Estados Unidos.
Os Nacionalistas e Republicanos começaram a organizar seus respectivos territórios e a reprimir a oposição ou suspeita de oposição. A violência republicana ocorreu inicialmente durante os estágios iniciais da guerra antes do restabelecimento do domínio da lei, mas a violência nacionalista era parte de uma política de terror consciente. A questão de quantos foram assassinados permanece controverso; contudo, crê-se que, em geral, a violência nacionalista foi mais elevada. De qualquer forma, a proliferação de execuções, assassinatos e homicídios de ambos os lados refletiu as grandes paixões que a guerra civil desencadeou. 
Mapa da Espanha em setembro de 1936, rosa sob controle
nacionalista e azul sob controle republicano.
O comando dos Nacionalistas foi gradualmente assumido pelo General Franco, conduzindo forças que havia trazido do Marrocos. Em 1º de outubro de 1936 ele foi nomeado chefe de Estado e estabeleceu um governo em Burgos. O governo Republicano, iniciando em setembro de 1936 foi encabeçado pelo líder socialista Francisco Largo Caballero. Foi seguido, em maio de 1937 pelo também socialista Juan Negrin que permaneceu como “premier” por todo o restante da guerra e serviu como “premier” no exílio até 1945. O presidente da República Espanhola até quase o fim da guerra foi Manuel Azaña, um liberal anticlerical. Um conflito destrutivo comprometeu o esforço Republicano desde o início. De um lado estavam os anarquistas e socialistas militantes que viam a guerra como um empenho revolucionário e lideraram uma ampla coletivização da agricultura, indústria e serviços; de outro lado estavam os socialistas mais moderados e os republicanos, cujo objetivo era a preservação da República. Buscando aliados contra a ameaça da Alemanha nazista, a União Soviética tinha adotado uma estratégia de Frente Popular e como resultado o Comintern (Internacional Comunista) conduziu os comunistas espanhóis a apoiar os Republicanos. 
Mapa da Espanha em outubro de 1937, rosa sob controle
nacionalista e azul sob controle republicano
.
Nacionalistas e Republicanos vendo-se muito fracos para obter uma rápida vitória, buscaram ajuda no estrangeiro. Alemanha e Itália enviaram tropas, tanques e aviões para ajudar os nacionalistas. A União Soviética contribuiu com equipamentos e abastecimentos para os Republicanos, que também receberam ajuda do governo mexicano. Durante as primeiras semanas de guerra o governo da Frente Popular da França também apoiou os Republicanos, mas uma oposição interna forçou uma mudança de política. Em agosto de 1936, a França juntou-se à Grã-Bretanha, União Soviética, Alemanha e Itália na assinatura de um acordo de não intervenção que seria ignorado por alemães, italianos e soviéticos. Cerca de 40.000 estrangeiros lutaram ao lado dos Republicanos nas Brigadas Internacionais, principalmente sob o comando do Comintern e outros 20.000 serviram em unidades médicas ou auxiliares. (Figura 7)
Em novembro de 1936 os Nacionalistas haviam avançado até as vizinhanças de Madri, que foi sitiada, mas sem que fossem capazes da avançar além da área da Cidade Universitária. Capturaram as províncias bascas do norte no verão de 1937 e então as Asturias, de forma que em outubro dominavam toda a costa norte. Uma guerra de desgaste foi então iniciada. Os Nacionalistas lançaram uma projeção para o leste, através de Teruel, alcançando o Mediterrâneo e dividindo em duas a República Espanhola em abril de 1938. Em dezembro de 1938 eles se deslocaram sobre a Catalunha no nordeste, forçando os exércitos Republicanos a se deslocarem para o norte em direção à França. 
Mapa da Espanha em julho de 1938, rosa sob controle
nacionalista e azul sob controle republicano.
Em fevereiro de 1939, 250.000 soldados republicanos, com igual número de civis, haviam fugido através da fronteira para a França. Em 5 de março o governo Republicano fugiu para exilar-se na França. Em 7 de março uma guerra civil explodiu em Madri entre facções comunistas e não comunistas. Em 28 de março todos os exércitos Republicanos haviam começado a debandar e render-se e neste dia as forças Nacionalistas entraram em Madri. O General Franco estabelecer-se ia como ditador e permaneceria no poder até a sua morte em 20 de novembro de 1975. (Figuras 8 e 9)
O número de pessoas mortas na Guerra Civil Espanhola pode ser apenas estimado. Os Nacionalistas estimam em 1.000.000 de pessoas, incluindo não somente as mortas em batalha, mas também as vítimas de bombardeios, execuções e homicídios. Estimativas mais recentes reduzem as estimativas a 500.000 ou menos. Essas não incluem todos os que morreram de mal nutrição, fome e doenças causadas pela guerra. 
Mapa da Espanha em fevereiro de 1939, rosa sob controle
nacionalista e azul sob controle republicano.
As repercussões políticas e emocionais da guerra transcenderam de longe às de um conflito nacional porque muitos de outros países viram a Guerra Civil Espanhola como parte de um conflito internacional entre, dependendo do seu ponto de vista, tirania e democracia, ou fascismo e liberdade, ou comunismo e civilização. Para Alemanha e Itália, a Espanha foi um campo de teste para novos métodos de guerra por tanques e aviões. Para a Grã-Bretanha e França, o conflito representou uma nova ameaça ao equilíbrio internacional que eles lutavam para preservar e que, em 1939 acabou na Segunda Guerra Mundial. A guerra também mobilizou muitos artistas e intelectuais às armas. Entre as mais notáveis respostas artísticas à guerra, estavam as novelas “Man’s Hope” (1938) de André Malraux, “Adventures of a Young Man” (1939) de John dos Passos e “For Whom the Bells Toll” (1940) de Ernest Hemingway; as memórias “Homage to Catalonia” (1938) de George Orwell; a pintura “Guernica” (1937) de Pablo Picasso; e a fotografia “Death of a Loyalist Soldier” (1936) de Robert Capa. 
Franco declara o fim da
Guerra Civil Espanhola
em 1° de abril de 1939.

Deixo, nesta minha postagem, um humilde pedido de reflexão aos três poderes constituídos do Brasil, pois resta-me a impressão de que nenhum dos seus membros, se conhece, não deu a devida importância a esse trágico episódio da história mundial. Não enxerga que a situação do Brasil é, neste momento, idêntica à situação da Espanha às vésperas de sua grande guerra civil. Fico me perguntando como é possível tanta cegueira! Não é possível que os homens públicos do Brasil desejem que uma guerra civil ocorra em nosso país, nos mesmos moldes da que ocorreu na Espanha, com milhares e milhares de mortos e feridos e uma tragédia cujas consequências até hoje se fazem sentir na Espanha. Que tristeza assistir a tanta irresponsabilidade e inconsequência por parte das pessoas que regem os destinos do Brasil. Que não haja dúvidas de que a História haverá um dia de responsabilizá-los e deles cobrar pelo que vier a ocorrer no Brasil. Este o meu apelo final nesta simples postagem: Congresso Nacional, STF e Executivo, acordem antes que seja tarde demais!


[1] Em janeiro de 1933, trabalhadores da CNT marcharam nas ruas de Casas Viejas, demonstrando e crendo que estavam iniciando uma revolução, durante a qual dois guardas foram feridos. A Guarda Civil e a Guarda de Assalto chegaram em Casas Viejas em 11 de janeiro. Muitos dos moradores fugiram, mas alguns anarquistas tentaram resistir à prisão e armaram barricadas na casa de um anarquista. Os guardas chegaram e atearam fogo na casa, com os anarquistas e suas famílias dentro. Uma anarquista sobreviveu ao fogo e saiu da casa com uma criança ainda viva. Os soldados e a polícia então prenderam qualquer morador da vila que possuísse uma arma, conduziram-nos para as cinzas fumegantes da casa e seus colegas mortos e os fuzilaram pelas costas. Vinte e quatro pessoas morreram no incidente.
[2] Grupo político nacionalista de extrema direita fundado na Espanha em 1933 por José Antonio Primo de Rivera, filho do ditador precedente Miguel Primo de Rivera. Influenciado pelo fascismo italiano, a Falange juntou forças (fevereiro de 1934) com o grupo de ideias similares, “Juntas de Ofensiva Nacional Sindicalista, emitindo um manifesto de 27 pontos que repudiava a constituição republicana, a política partidária, o capitalismo, o Marxismo e o clericalismo e proclamava a necessidade de um Estado nacional-sindicalista, um governo e exército fortes e uma expansão imperialista espanhola.
[3] De ou relacionado a uma filosofia de conservadorismo. Com tendência ou disposição a manter visões, condições ou instituições existentes. Aquele que adere ao ou advoga o conservadorismo político.
[4] Oficialmente “Principado de Asturias”, comunidade autônoma e região histórica ao noroeste da Espanha. Limitada pelas comunidades autônomas da Cantábria ao leste, Castela-Leão ao sul e Galicia ao oeste. Ao norte fica o Mar da Cantábria. A comunidade autônoma de Asturias foi estabelecida pelo estatuto de autonomia de dezembro de 1981 e sua capital é Oviedo.
[5] Assim chamadas porque seus membros vieram, inicialmente, de cerca de 50 países, as Brigadas Internacionais eram recrutadas, organizadas e dirigidas pela Internacional Comunista, com quartel general em Paris. Grande número da maior parte de jovens recrutas eram comunistas antes de se envolver no conflito e os demais se filiaram ao partido durante o curso da guerra. Os franceses faziam o maior grupo estrangeiro (cerca de 28.000); Alemanha, Áustria, Polônia, Itália, Estados Unidos, Reino Unido, Iugoslávia, Checoslováquia, Canadá, Hungria e Bélgica também foram representados por número significativo de voluntários.

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