Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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sábado, 13 de maio de 2017

UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS ÁRABES MUÇULMANOS (Parte 4)

V – DINASTIA ABÁSSIDA

O califado abássida foi o terceiro dos califados islâmicos (após Maomé). Como dissemos antes, tal dinastia era descendente do tio mais jovem de Maomé, Abbas ibn Abd al-Muttalib (566-653), de quem a dinastia tomou o nome. A dinastia governou, pela maior parte do seu período, de sua capital em Bagdá (no atual Iraque), após assumir controle sobre o Império Muçulmano dos Omíadas em 750. Inicialmente o governo foi centrado em Kufa (170 km ao sul da atual Bagdá), mas em 762 o califa Al-Mansur fundou a cidade de Bagdá, ao norte da capital sassânida de Ctesiphon. A escolha da nova capital, tão próxima da Pérsia, refletia a crescente confiança nos burocratas persas, notavelmente a família Barmakid, para governar os territórios conquistados pelos muçulmanos, além da crescente inclusão de muçulmanos não árabes na comunidade. A despeito dessa colaboração inicial, os abássidas do final do século VIII alienaram os cooperantes muçulmanos não árabes e os burocratas iranianos, sendo forçados a ceder autoridade sobre Al-Andalus e Magrebe aos Omíadas, Marrocos à dinastia Idríssida, a Ifriqiya (praticamente a atual Tunísia) à dinastia Aghlabid e o Egito ao califado shiita[1] dos Fatímidas (falaremos logo desta dinastia). O poder político dos califas, praticamente, acabou, com a ascensão dos buídas[2] e dos turcos seljúcidas[3]. Embora a liderança abássida sobre o Império Islâmico fosse gradualmente reduzida a uma função cerimonial religiosa, a dinastia manteve o controle sobre suas terras mesopotâmicas. A capital Bagdá tornou-se um centro de ciência, cultura, filosofia e invenções durante a Idade Áurea do Islã. 
Papa Urbano II, iniciador das Cruzadas
Foi bem depois dessa época a ocorrência da Primeira Cruzada, primeira de uma série de Cruzadas envolvidas com a retomada de Jerusalém que, como sabemos, havia caído em 638, durante a conquista do Levante, incluída no rol das primeiras conquistas muçulmanas, então em poder dos romanos. Tal Cruzada, convocada pelo Papa Urbano II em 1095, começou como uma peregrinação difundida pela Cristandade ocidental e terminou como uma expedição militar da Europa Católica Romana para reconquistar a Terra Santa (como sinônimo de Israel). Ela respondeu a um apelo do Imperador Bizantino (Romano) Alexios I Komnenos, que pediu que voluntários do ocidente viessem em sua ajuda para repelir a invasão dos turcos seljúcidas da Anatólia. Um objetivo adicional logo transformou-se na principal meta: a reconquista cristã da sagrada cidade de Jerusalém e da Terra Santa e a libertação de cristãos orientais do domínio islâmico. Cavalheiros, camponeses e servos de várias regiões da Europa Ocidental viajaram por terra e mar, primeiro a Constantinopla e, posteriormente, para Jerusalém. Os Cruzados chegaram em Jerusalém, lançaram um assalto à cidade e a capturaram em julho de 1099, massacrando muitos dos habitantes muçulmanos e judeus da cidade. E estabeleceram os estados cruzados do Reino Latino de Jerusalém (ao sul do Levante), o Condado de Trípoli, o Principado da Antioquia e o Condado de Edessa. Lembrar que o Levante havia sido conquistado pelos muçulmanos, entre 634 e 641, ainda durante a dinastia Rashidun, com Jerusalém caindo em 638, quando foi construída a mesquita de Al Aqsa. O Reino Cruzado durou praticamente 200 anos, até 1291, quando a última possessão, Acre (litoral norte de Israel), foi destruída pelos mamelucos, mas sua história foi dividida em dois períodos: o chamado Primeiro Reino de Jerusalém durou de 1099 a 1187, quando foi quase inteiramente devastado por Saladino; após a Terceira Cruzada, o Reino foi restabelecido no Acre, em 1192, e durou até a destruição da cidade, em 1291, como veremos adiante. Este segundo reino é muitas vezes chamado de Segundo Reino de Jerusalém ou Reino do Acre, sua nova capital. A Primeira Cruzada foi o primeiro passo importante para a reabertura do comércio internacional no ocidente, desde a queda do Império Romano do Ocidente. 
Papa Eugênio III, anunciador da Segunda Cruzada
A Segunda Cruzada (1147-1149) foi deflagrada em resposta à queda do Condado de Edessa (fundado durante a Primeira Cruzada, pelo Rei Baldwin de Bolonha, em 1098), em 1146, para Imad ad-Din Zengi. A Segunda Cruzada foi anunciada pelo Papa Eugênio III e foi a primeira conduzida por reis europeus – Luís VII da França e Conrado III da Alemanha – com a ajuda de outros nobres europeus. Os dois exércitos marcharam separadamente pela Europa e após atravessarem o território Bizantino para a Anatólia, ambos foram, separadamente, derrotados pelos turcos Seljúcidas. Fontes fidedignas dizem que o Imperador Bizantino Manuel I Komnenos, por temer os procedimentos cruzados, secretamente retardou o seu progresso, particularmente na Anatólia, onde ele, deliberadamente, ordenou aos turcos que os atacassem. Luís VII e Conrado III, com os restantes de seus exércitos, alcançaram Jerusalém e, em 1148, participaram de um ataque mal coordenado a Damasco. No Oriente, a Segunda Cruzada foi um grande fracasso e uma grande vitória para os muçulmanos. O seu grande sucesso veio com uma força combinada de belgas, frísios (das costas holandesa e germânica), normandos (norte da França), ingleses, escoceses e alemães, em 1147. Viajando da Inglaterra, de navio, para a Terra Santa, a Cruzada fez uma parada e ajudou o pequeno exército português na captura de Lisboa, expulsando os ocupantes mouros, como parte da Reconquista da Europa. 
Hulagu Khan, o mongol que decretou o
fim da idade áurea do Império Islâmico
Retornando à dinastia Abássida, a Idade Áurea do Islã, já dividido por uma série de dinastias, terminou em 1258, com a invasão e o saque de Bagdá pelos mongóis, sob Hulagu Khan (neto de Genghis Khan e irmão de Kublai Khan), quando lá reinava o último califa abássida Al-Musta’sim, um descendente direto do tio de Maomé, Abbas ibn Abd al-Muttalib. Em 1206, Genghis Khan estabelecera uma poderosa dinastia entre os mongóis da Ásia Central. Durante o século XIII, esse Império Mongol conquistou a maior parte da Eurásia, incluindo a China, no leste, e grande parte do antigo califado islâmico, no oeste. A destruição de Bagdá por Hulagu Khan em 1258, é tradicionalmente vista como o final da Idade Áurea do Império Islâmico. O último califa abássida Al-Musta’sim foi enrolado em um tapete e pisoteado por cavalos até a morte, em 20 de fevereiro de 1258. A família imediata do califa também foi executada, com exceção do seu filho mais jovem, enviado para a Mongólia, e uma filha que se tornou escrava no harém de Hulagu. 
Al-Musta'sim, o último califa Abássida
de Bagdá
No século IX, os abássidas haviam criado, em Bagdá, um exército leal apenas ao seu califado, composto por povos de origem não árabe, que ficaram conhecidos por Mamelucos. Essa força, criada no reino de al-Ma’mun (813-833) e de seu irmão e sucessor, al—Mu’tasim (833-842), evitou uma maior desagregação do Império. O exército mameluco, muitas vezes visto negativamente, ajudou e prejudicou o califado. Inicialmente ele garantiu ao governo uma força estável para cuidar de problemas domésticos e externos. Contudo, a criação desse exército de estrangeiros e a transferência da capital do Império de Bagdá para Samarra[4], no Iraque Central, criou uma divisão entre o califado e os povos que governava; além disso, o poder dos mamelucos cresceu persistentemente até que al-Radi (934-941) teve que passar a maior parte das funções reais para Muhammad ibn Ra’iq, oficial sênior desse exército e os mamelucos acabaram chegando ao poder no Egito, Levante e Hejaz. Esta dinastia dos mamelucos durou da queda da dinastia Aiúbida (que reinou entre 1171 e 1260), dinastia muçulmana de origem curda, fundada por Saladino e centrada no Egito, até a conquista otomana do Egito (1517).
Em 1261, após a devastação de Bagdá pelos mongóis, os governantes mamelucos do Egito restabeleceram o califado abássida no Cairo, com Al-Mustansir, seu primeiro califa no Cairo. Os califas abássidas – e a cultura islâmica, em geral - continuaram a manter a presença de autoridade, mas confinada a questões religiosas, até a conquista otomana do Egito, quando reinava Al-Mutawakkil III, levado como prisioneiro, por Selim I, para Constantinopla. A partir deste momento o mundo árabe praticamente passou a ser dominado pelo Império Turco Otomano.

VI – DINASTIA AIÚBIDA

Saladino, Sultão da Síria e do Egito, oposição
maior às Cruzadas no Levante

Embora algo fora do contexto e da cronologia, estamos abrindo um capítulo especial dedicado à Dinastia Aiúbida, porque foi mencionada há pouco e pelo importante papel que ela representou nas guerras pela conquista de Jerusalém e pelo seu envolvimento com as Cruzadas.
A Dinastia Aiúbida, cujo nome vem de seu pai, Najm ad-Din Ayyub, era uma dinastia islâmica de origem Curda[5], fundada por Saladino e centrada no Egito. A dinastia governou muito do Oriente Médio durante os séculos XII e XIII. Saladino havia sido o Vizir[6] do Egito Fatímida antes de extingui-la no ano 1171. Tal dinastia foi outra das dinastias muçulmanas que governou no norte da África, com centro no Egito, cujo nome deriva de Fatima bint Muhammad, a filha do profeta Maomé.
Em 1164, Nur al-Din (Nur ad-Din), membro da dinastia turca Zengid, que governou a província síria do Império Seljúcida de 1146 a 1174, enviou Shirkuh (tio de Saladino, irmão de seu pai) com uma força expedicionária para evitar o estabelecimento de uma forte presença dos Cruzados num Egito então crescentemente anárquico. Shirkuh recrutou Saladino como um oficial sob seu comando e juntos destituíram Dirgham, vizir do Egito, reinstalando seu predecessor Shawar. Após reinstalado, Shawar ordenou a retirada de Shirkuh do Egito com suas forças. Este negou-se a retirar-se pois lá estava sob as ordens de Nur al-Din. Em alguns anos, Shirkuh e Saladino derrotaram as forças combinadas dos Cruzados e de Shawar, com a batalha final em Alexandria, onde Saladino permaneceu para proteger enquanto Shirkuh perseguia as forças cruzadas pelo baixo Egito.
Shawar morreu em 1169 e Shirkuh tornou-se vizir, morrendo mais tarde no mesmo ano. Com sua morte, Saladino foi feito vizir pelo califa fatímida al-Adid, do Egito, tornando-se mais independente, para temor de Nur al-Din. Em 1171 Al-Adid morreu de causas naturais e Saladino, aproveitando o vácuo do poder, efetivamente tomou o controle do país, mudando a sujeição do Egito para o califado abássida de Bagdá, que aderira ao islamismo Sunni. Saladino consolidou seu controle no Egito ao enviar, ao final de 1172, seu irmão mais velho, Turan-Shah, para abafar uma revolta no Cairo, encenada por 50.000 núbios do exército fatímida. Após este sucesso, Saladino começou a entregar, a seus parentes, altos postos do país e a aumentar a influência do Islamismo Sunni (mais puro islamismo) sobre o Islamismo Shia, que dominava no Cairo, pela construção de numerosas escolas de direito islâmico nas principais cidades.
Embora ainda nominalmente um vassalo de Nur al-Din, Saladino adotou uma política externa cada vez mais independente, que tornou-se mais pronunciada, publicamente, após a morte de Nur al-Din em 1174. Daí para a frente, Saladino dedicou-se à conquista da Síria dos Zengids e, em 23 de novembro deste ano, foi aclamado em Damasco pelo governador da cidade. Em 1175 ele tinha o controle de Hama (cidade nas margens do rio Orontes, na Síria centro-oeste, a 213 km de Damasco) e Homs (cidade no rio Orontes, Síria Ocidental, a 162 km ao norte de Damasco), mas falhou na tomada de Alepo (norte da atual Síria). O sucesso de Saladino alarmou o emir Saif al-Din, de Mosul (cidade do Iraque, na margem ocidental do rio Tigre, a 400 km ao norte de Bagdá), líder dos Zengids à época, que via a Síria como estado de sua família e usurpada por um antigo servo de Nur al-Din. Ele reuniu um exército para enfrentar Saladino próximo de Hama e foi por ele derrotado. Após essa vitória Saladino proclamou-se rei. O califa abássida em Bagdá, al-Mustadi, graciosamente aclamou a sua subida ao poder e deu-lhe o título de Sultão[7] do Egito e da Síria, recebendo em troca a lealdade de Saladino (não esquecer que o Egito se encontrava então, sob o domínio abássida).
Em 1177 Saladino conduziu uma força de 26.000 soldados ao sul da Palestina, após ter ciência de que soldados do Reino de Jerusalém estavam sitiando Alepo. Subitamente atacados pelos Templários sob Baldwin IV de Jerusalém, próximo de Ramla (cidade no centro de Israel), o exército aiúbida foi derrotado na batalha de Montgisard, com a maioria dos soldados mortos. Saladino acampou em Homs, no próximo ano, quando ocorreram várias escaramuças entre suas tropas, comandadas por Farrukh Shah, e as tropas cruzadas. Saladino invadiu os estados cruzados pelo oeste, derrotando Baldwin na Batalha de Marj Ayyun, em 1179. No ano seguinte ele destruiu o recém construído castelo cruzado de Chastellet, na Batalha de Passo de Jacó. Na campanha de 1182, ele lutou novamente com Baldwin na indecisa batalha de Castelo Belboir, em Kawkab al-Hawa (norte do atual Israel).
Em maio de 1182, Saladino capturou Alepo após um breve sítio. Em seguida marchou para Harim, próxima da Antioquia, governada pelos cruzados, conquistando sua guarnição. A esse tempo, apenas Mosul possuía como governante um importante muçulmano rival dos aiúbidas, na figura de Izz al-Din al-Mas’ud. A possibilidade de uma união deste governante com o governador do Azerbaijão arrefeceu o ânimo de Saladino quanto a um novo ataque a Mosul. Um acordo foi negociado pelo qual al-Adil, irmão de Saladino, administraria Alepo em nome do seu filho al-Afdal, enquanto o Egito seria governado por al-Muzaffar Umar (sobrinho de Saladino) em nome de outro filho de Saladino, Uthman. Quando seus dois filhos chegassem à idade assumiriam o poder nos dois territórios, mas se um morresse, um dos irmãos de Saladino tomaria seu lugar. No verão de 1183, após devastar a Galileia Oriental, Saladino chegou à Batalha de al-Fule contra os cruzados de Guy de Lusignan, que acabou indecisa. Muitos confrontos aconteceram nesse período e, durante 1184 e 1185, uma paz relativa seguiu-se entre os Estados Cruzados e o Império Aiúbida que, por essa época mantinha sob seu controle o Egito, a Síria, o norte da Mesopotâmia, Hejaz, Iêmen e a Costa Norte Africana até a fronteira da atual Tunísia.
Saladino sitiou Tibérias, na Galileia Ocidental, em 3 de julho de 1187 e o exército cruzado tentou atacar os aiúbidas por Kafr Kanna (ao norte de Nazaré e associada à vila de Canaã do novo testamento). Em 4 de julho de 1187 foi travada a Batalha de Hattin, quando os cruzados foram batidos decisivamente pelos muçulmanos. Em 8 de julho o baluarte cruzado do Acre foi capturado por Saladino, enquanto suas forças capturavam Nazaré e Saffuriya (também ao norte de Nazaré). Outras cidades e vilas foram rapidamente tomadas e, finalmente, em 2 de outubro de 1187, o Reino de Jerusalém foi conquistado após negociações com Balian of Ibelin, o nobre cruzado local. Ao final de 1187 os aiúbidas controlavam virtualmente todo o reino cruzado no Levante, com exceção do Tiro, governado por Conrado de Montferrat. Em janeiro de 1188, Saladino reuniu um Conselho de Guerra onde decidiram pela retirada do Condado de Trípoli, às margens do Mediterrâneo, bem ao norte do atual Líbano. 
Papa Gregório VIII, autor da bula que
convocou a Terceira Cruzada
O Papa Gregório VIII convocou uma “Terceira Cruzada”, contra os muçulmanos, no ano de 1187, em resposta à derrota do Reino Cruzado de Jerusalém, na Batalha de Hattin, por meio da Bula Papal “Audita Tremendi”. Atendendo ao apelo do Papa, Friedrich Barbarossa, do Sacro Império Romano, Philippe Auguste, da França e Richard the Lionheart (Ricardo Coração de Leão), da Inglaterra, formaram uma aliança para reconquistar Jerusalém. Enquanto isso, os cruzados e aiúbidas lutavam perto do Acre, ganhando reforços da Europa. De 1189 a 1191, o Acre foi sitiado pelos cruzados e embora um sucesso inicial dos muçulmanos, ele caiu às forças de Ricardo. À tomada seguiu-se o massacre de 2.700 habitantes muçulmanos e os cruzados planejaram tomar Ascalon, no litoral sul de Israel. Sob o comando unificado de Ricardo, os cruzados derrotaram Saladino na batalha de Arsuf, o que lhes permitiu a conquista de Jaffa e grande parte da costa Palestina, sem, entretanto, conseguir recuperas as regiões interiores. Em vez disso, Ricardo assinou com Saladino um tratado, em 1192, pelo qual restaurava o Reino de Jerusalém numa uma faixa costeira entre Jaffa e Beirute, ficando este como o último maior esforço da carreira de Saladino, que morreu no ano seguinte, 1193. Após a sua morte, seus filhos contestaram o controle sobre o sultanato, mas o irmão de Saladino, al-Adi, acabou por estabelecer-se como sultão em 1200 e todos os sultões posteriores do Egito foram seus descendentes, até 1249, quando assumiram os mamelucos (já que Egito e Síria se separaram em 1230 para se reunirem em 1247, novamente). 
Ricardo I da Inglaterra, Coração de Leão
A Quarta Cruzada (1202-1204) foi uma expedição armada da Europa Ocidental convocada pelo Papa Inocêncio III, com o objetivo original de conquistar a Jerusalém controlada pelos muçulmanos, através de uma invasão pelo Egito. Entretanto, uma sequência de eventos culminou com os Cruzados saqueando a cidade de Constantinopla, capital do Império Bizantino (Romano) controlado pelos cristãos. Em janeiro de 1203, a caminho de Jerusalém, a maioria da liderança cruzada entrou em acordo com o príncipe bizantino Alexios IV Angelos, para desviar a Constantinopla e restaurar seu pai, Isaac II Angelus, como imperador, deposto que fora por um golpe, em 1195, de seu tio, imperador Alexius III Angelus. A intenção dos cruzados era então prosseguir para a Terra Santa, com a promessa da assistência financeira e militar bizantina. Em 23 de junho de 1203, a principal frota cruzada atingiu Constantinopla enquanto os contingentes menores seguiram para o Acre. Em agosto de 1203, após conflitos fora de Constantinopla, Alexios Angelos foi coroado coimperador (como Alexios IV Angelos), com apoio cruzado,
Inocêncio III, o Papa mais poderoso da história,
segundo os historiadores
na Igreja de Santa Sofia. Alexios foi coroado coimperador, porque o povo libertara seu pai e o queria como rei, com o que não concordaram os cruzados, pois ele havia sido cego e tornado inapto para governar. Contudo, em janeiro de 1204 Alexios foi deposto por um levante popular em Constantinopla. Com isso os cruzados perderam o seu prometido pagamento e quando Alexios foi assassinado em 8 de fevereiro de mesmo ano, os cruzados e venezianos decidiram pela completa conquista de Constantinopla. Em abril de 1204 eles capturaram e brutalmente saquearam a cidade, estabelecendo um novo Império Latino (Império Latino de Constantinopla) e repartindo outros territórios entre si. A resistência bizantina, baseada em seções não conquistadas do Império, como Niceia, Trebizonda e Épiro, acabaram por recuperar Constantinopla em 1261. Como vemos, a Quarta Cruzada, convocada como nova tentativa para a retomada de Jerusalém, não produziu qualquer impacto sobre os povos árabes, sendo citada apenas por fazer parte do grande grupo das Cruzadas. Entretanto, ela é considerada como um dos atos finais do Grande Cisma entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Oriental, além de ponto chave no declínio do Império Bizantino e da Cristandade no Oriente Médio.

[1] Shia é o substantivo; shiita é o adjetivo. Os shias (partido de Ali) são os membros do segundo maior ramo de crentes do Islamismo, constituindo 16% do total dos muçulmanos (o maior ramo é o dos muçulmanos sunitas, que são 84% da totalidade dos muçulmanos). Os shias consideram Ali, genro e primo do profeta Maomé, como o seu sucessor legítimo e consideram ilegítimos os três califas sunitas que assumiram a liderança da comunidade muçulmana após a morte de Maomé.
[2] O Império Buída ou Emirado Buída foi um Estado iraniano medieval shiita que existiu entre 934 e 1055. Foi governado pela dinastia buída, também referida como dinastia Buyida. Eles fundaram uma confederação que controlou a maior parte do Irã e do Iraque nos séculos X e XI.
[3] Os turcos seljúcidas ou Dinastia Seljúcida foi uma dinastia muçulmana Suni (o maior ramo do Islamismo) de turcos Oghuz (da Ásia Central, de língua oghuz) que, gradualmente, tornou-se uma sociedade pérsica, que muito contribuiu para a tradição turco-persa, na Ásia Central e Ocidental medieval. Os seljúcidas estabeleceram o Império Seljúcida e o Sultanato de Rum que, em seu ápice, estendia-se da Anatólia por todo o Irã.
[4] Samarra é uma cidade do Iraque Central que serviu como capital do Califado Abássida, de 836 a 892. Fundada pelo califa al-Mu’tasim, foi brevemente uma metrópole importante que se estendia por vários quilômetros ao longo da margem oriental do Tigre. Foi abandonada durante a segunda metade do século IX, em seguida ao retorno dos califas para Bagdá.
[5] Os Curdos são um grupo étnico do Oriente Médio, habitando principalmente áreas do leste e sudeste da Turquia, (Curdistão Norte), oeste do Irã (Curdistão Iraniano ou Norte), norte do Iraque (Curdistão Iraquiano Sul) e Síria (Curdistão Oeste ou Rojava). Os Curdos são cultural e linguisticamente parentes imediatos dos povos iranianos e, como resultado, frequentemente classificados como um povo iraniano. Muitos curdos se consideram descendentes dos Medos, um antigo povo iraniano.
[6] Um vizir era um conselheiro político de alto nível ou ministro. Os califas abássidas davam o título de vizir a um ministro anteriormente chamado secretário, que era, inicialmente, um mero ajudante, mas tornou-se, posteriormente o representante e sucessor do escriba oficial dos reis sassânidas. No Egito antigo era o mais alto funcionário a servir o rei ou faraó, durante os reinos antigo, médio e novo.
[7] Sultão é um título nobre com vários significados históricos. Originalmente era um nome árabe abstrato significando força, autoridade e poder. Mais tarde veio a ser usado como título para certos governantes que reivindicavam quase plena soberania em termos práticos (independência de qualquer governante superior) sem, contudo, reivindicar o “califado” ou referir-se a um poderoso governador de uma província dentro do califado. À dinastia e terras governadas por um sultão, dava-se o título de “sultanato”.

Continua com a PARTE 5

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 3)

IDADE MÉDIA NA INGLATERRA (1154 – 1485)

A Bretanha de Henry II e de seus filhos Richard I, o Coração de Leão e John, experimentava um rápido crescimento de população, desmatamento de florestas para campos, estabelecimento de novas cidades e um zelo de aparência externa para as Cruzadas. O país também testemunhava o deleite do “renascimento do século XII” nas artes, exemplificado pela Bíblia de Winchester(1)
Os legados da invasão normanda permaneceram, com a aristocracia falando francês até após 1350, de forma que o saxão “ox” (boi) e “swine” (suíno), por exemplo, transformaram-se, na mesa, no francês “boeuf” e “porc” (até hoje “beef” e “pork”, em inglês). Ao norte da Inglaterra saxônica, a Escócia “normanizada” das terras baixas (the Lowlands), que compartilhou um dialeto vernacular comum com a Inglaterra ao norte do rio Humber, permaneceu diversa das terras altas (the Highlands), onde floresceu o galês. As famílias de Balliol e Wallace, dominantes na história medieval escocesa, derivaram todas de raízes francesas – uma minoria superpondo-se à população de escoceses. A Irlanda foi menos dominada por normandos e, em todos os lugares, muito da cultura regional nativa sobreviveu, a despeito da monarquia e aristocracia normandas. Sir Walter Scott descreve esses detalhes com maestria em sua obra prima “Ivanhoe”, de 1819, com personagens do século XII.

O REINADO DE HENRY II (1154-1189
Em laranja e amarelo, as terras de
Henry II, na França, em seu auge

Pela leitura atenta dos principais eventos do reinado de Henry II, pode-se ver que ele foi um oportunista consumado e com sucesso na exploração das chances que lhe foram concedidas para consolidar o seu poder. O domínio de que foi lorde, incluía a Inglaterra, Normandia, Maine(2) , Anjou(3) , Brittany(4)  e País de Gales (Wales). Da forma como via, ele tomou a Inglaterra por indisputável direito de sangue; pelo mesmo direito tomou a Normandia e Anjou, mas como um vassalo do rei francês Louis VII. Brittany, Wales e Maine a ele vieram por direito de conquista, cedido em parte por seus predecessores, mas necessitando que o selo final, assim como a benção do rei francês, fossem colocados para as terras da França. Todas essas terras tinham uma vez pertencido a Henry I, por conquista, casamento ou herança sendo, portanto, sua por direito inalienável. A esses territórios foi adicionada a Aquitaine(5) , através do seu casamento com Eleanor, em 1152, após sua separação do rei da França, por não lhe ter dado um filho homem; enquanto casados, Louis VII controlava três quartos do seu país, mas imediatamente após o casamento de Henry com Eleanor, o controle de mais da metade do país caiu nas mãos do Duque da Normandia. Um grande golpe, mas daí para a frente, a relação entre o Rei da França e seu vassalo Henry nunca mais seria a mesma, além de perseguir os reis da Inglaterra pelos séculos que se seguiriam.
Louis VII da França
Durante o seu reinado, Henry II tentou manter uma autoridade feudal, dispondo os termos pelos quais os reis da Inglaterra deveriam interagir com seus vizinhos da França, Escócia, País de Gales e Irlanda por muito do resto de sua história.
Um dos capítulos mais proeminentes do reinado de Henry II, foi o assassinato e subsequente martírio do arcebispo Thomas Becket, que tanto obscureceu o seu reinado. Quando Henry II subiu ao trono, o arcebispo de Canterbury(6)  era Theobald, que mantinha com a Coroa uma estável relação do tipo “toma cá, dá lá”. Quando Theobald morreu em 1161, Henry II conseguiu que Becket, seu amigo e confidente, assumisse seu posto, esperando que ele se tornasse um seu seguidor sem restrições. Entretanto, Becket pretendia levar muito seriamente a sua missão, e deu mostras disso ao renunciar imediatamente ao cargo de chanceler que então ocupava. A questão entre ambos começou quando Henry II tentou trazer a si o julgamento de “clérigos criminosos”, enquanto Becket sustentava que o assunto era questão da Igreja. Após meses de contenda, os dois lados se encontraram no Concílio de Clarendon, em janeiro de 1164, onde Henry II apresentou aos Bispos a infame Constituição de Clarendon, estabelecendo a relação entra a lei secular e a canônica, explicitamente contrariando um prévio acordo com os Bispos.
Santo Thomas Becket, mártir das
Igrejas Católica e Anglicana
Para evitar consequências sobre os seus Bispos, Becket assinou a Constituição para, imediatamente após, publicamente arrepender-se do seu juramento, promovendo a ira do rei que considerou o ato como traição e ao qual prometeu vingança. As desavenças entre ambos prosseguiram até que Becket fugiu para o exílio na França, sem que Henry II pudesse resolver a disputa a seu favor. Em 24 de maio de 1170, Henry II fez coroar seu filho Henry, o Jovem, em Canterbury, pelo Arcebispo de York, o que não foi tolerado por Becket, Arcebispo de Canterbury; chegaram a um compromisso em que o rei ignorou a origem da disputa, permitindo que Becket retornasse ao lar para recoroar seu filho numa segunda cerimônia. Becket necessitava recuperar seu prestígio na Inglaterra sem tornar-se submisso ao Rei e para isso, assim que chegado à Inglaterra, excomungou seus antigos inimigos eclesiásticos, que incluíam o Arcebispo de York. Quando essas notícias chegaram à corte natal de Henry, na Normandia, ele explodiu e teria proferido as palavras: 'Ninguém me livrará desse incômodo padre? Sem qualquer dúvida, foi algo dito quando em ira, mas quatro cavaleiros, chefiados por Reginald Fitz Urse, o tomaram pela palavra e, atravessando o Canal, assassinaram Becket na catedral onde rezava a missa matinal, em 29 de dezembro de 1170.
Dois anos após a sua morte, Becket foi canonizado pelo Papa Alexandre III, sendo venerado como santo e mártir pelas igrejas católica e anglicana. Cronistas contemporâneos rotularam Henry II como criminoso, seus inimigos clamaram pela excomunhão do rei e o ultraje do assassinato quase precipitou uma guerra. Com tudo isso, o Papa Alexandre III negociou uma trilha muito cuidadosa, excomungando os quatro cavalheiros envolvidos e proibindo Henry II de assistir missa até reparado o seu pecado e, para negociar tais reparações, enviou à Inglaterra dois legados papais. Num movimento inteligente, acordaram uma fórmula que permitiu a Henry II renunciar à Constituição de Clarendon, sem dar mostras de que o fazia. Em 21 de maio de 1172, Henry realizou uma cerimônia de penitência pública na Catedral de Avranches, em que jurou:
Fornecer recursos financeiros para 200 cavalheiros participarem de Cruzada à Terra Santa;
Restituir toda a propriedade da igreja de Canterbury;
Não obstruir quaisquer apelos do clero a Roma;
Abolir todos os costumes prejudiciais à Igreja.
Praticamente, Henry perdeu pouco por este compromisso, mas como a própria Constituição, as implicações do acordo foram enormes.

O CARÁTER E O LEGADO DE HENRY II

Eleanor da Aquitaine gerou, para Henry II, seis filhos que sobreviveram, entre eles quatro homens: Henry, the Younger (o Mais Jovem), Richard (o futuro “Coração de Leão”), Geoffrey e John (futuro perseguidor de Robin Hood). Mulher de forte personalidade, Eleanor protegeu ferozmente sua herança, que avaliou acima da lealdade a seu marido, criando enorme atrito com Henry II quando apoiou seus filhos contra ele na defesa da Aquitaine(7).
Eleanor da Aquitaine
Henry parece ter visto seu reino como uma espécie de corporação familiar a ser dividida entre seus filhos. Essa posição, explicitada em seu testamento de 1182, já funcionava dez anos antes. Em seu grande plano, o patrimônio central da Inglaterra, Normandia e Anjou iriam para seu filho mais velho, Henry; a Aquitaine foi colocada sob a responsabilidade de Richard; Geoffrey ficaria com a Britânia; e a John seria alocada a Irlanda. Pouco explícito em suas ideias, secreto e maquinador, por natureza, o grande erro de Henry II foi deixar seus filhos tentando adivinhar o futuro, até que, como verdadeiros Plantagenets, eles simplesmente perderam a paciência e tentaram tomar o que, por direito, era deles.
A primeira grande briga familiar ocorreu em 1173 quando Henry, the Younger, molestado por sua falta de poder e instigado pelos inimigos de Henry II, rebelou-se contra ele, conseguindo o apoio de seus dois irmãos Richard e Geoffrey, além de vários barões ingleses poderosos, dos reis da França e Escócia; até a rainha Eleanor tentou juntar-se a seu filho mais velho sem, entretanto, conseguir. Com sua posição mais precária do que em qualquer época anterior, na iminência de perder o apoio da maioria dos nobres ingleses, Henry II lutou uma hábil campanha defensiva, humilhando os franceses e os bretões e esmagando qualquer oposição na Inglaterra, enquanto seus agentes derrotavam e capturavam William da Escócia em 1174. Henry, the Younger, rendeu-se e seu pai, abalado pela experiência, reconheceu as queixas de seus filhos, dedicando rendas a todos eles.
Henry, the Younger, filho
mais velho de Henry II
Em 1183, quando Henry II recusou-se a dar-lhe controle da Normandia ou qualquer outra terra que pudesse ajuda-lo a pagar suas dívidas, Henry, the Younger, tentou novamente, investindo sobre os barões da Aquitaine. Richard queixou-se e iniciou a fortificação de seus castelos. Durante as negociações que se seguiram, Henry, the Younger, tentou emboscar seu pai em Limoges. Henry reuniu tropas para cercar a cidade enquanto seu filho teve o apoio do irmão Geoffrey e do novo rei da França, Philip, filho de Louis VII. Forçado a fugir de Limoge após saquear o templo local para pagar suas tropas, Henry, the Younger, fugiu sem rumo, pela Aquitaine, foi acometido por disenteria e morreu; com ele, a revolta.
Henry II tentou reestruturar seu reino solicitando a Richard que desistisse da Aquitaine em favor de John, prometendo-lhe a herança antes pertencente a Henry, the Younger. Richard, além de não confiar no pai e manipulado pelo rei Philip da França, cuja ambição era destruir o comando Angevin no seu reino, rompeu em 1189 quando, com Philip, emboscou Henry II após uma conferência de paz em La Ferté. Sentindo-se doente, Henry fugiu para Anjou, onde levou o golpe final ao descobrir que os rebeldes haviam recebido o apoio de seu filho mais jovem, John. Caiu em delírio durante uma conferência de paz, próximo de Tours, e morreu em 6 de julho de 1189, com 56 anos de idade.
Sem a decisão de Henry II sobre a sua sucessão, totalmente alterada em função da morte do seu primogênito Henry, the Younger, e do complô montado por seus filhos contra si, sempre com o apoio de sua esposa Eleanor, que por tais ações esteve presa durante 16 anos, Richard tomou as rédeas do poder em suas mãos, como Richard I da Inglaterra.

REINADO DE RICHARD I, O CORAÇÃO DE LEÃO (1189 – 1199)

Rei Richard I, o Coração de Leão
Richard I passou muito da sua juventude na corte de sua mãe em Poitiers, importando-se muito mais com ela e suas possessões continentais do que com seu pai e a Inglaterra. As relações familiares influenciaram muito a sua vida: lutou junto com seus irmãos em sua rebelião de 1173-1174; lutou com seu pai contra seus irmãos quando eles apoiaram uma revolta na Aquitaine em 1183; e lutou ao lado de Philip II da França contra seu pai, em 1188, derrotando-o em 1189.
Richard foi coroado em 3 de setembro de 1189 e tornou John conde de Mortain, garantindo-lhe extensas propriedades na Inglaterra, que incluíram Nottingham. Sabendo das tendências de John para criar casos, baniu-o da Inglaterra por três anos enquanto participava de uma cruzada; por influência de sua mãe, permitiu o retorno de John a Inglaterra, cometendo um enorme engano.
Do seu reinado de dez anos, Richard permaneceu apenas seis na Inglaterra. Para cumprir promessa a seu pai, juntou-se à Terceira Cruzada, partindo para a Terra Santa em 1190, acompanhado de seu companheiro/rival, Philip II da França. Em 1191 ele conquistou Chipre, a caminho de Jerusalém, e lutou admiravelmente contra Saladino, quase tomando a cidade santa em duas oportunidades. Enquanto isso, Philip II retornava à França e urdia com o príncipe John. A Cruzada falhou em seu objetivo primário, a libertação da Terra Santa dos turcos muçulmanos, mas obteve um resultado positivo: um acesso mais simples à região, para os peregrinos cristãos, através de uma trégua com Saladino.
Na Inglaterra, John conspirou contra William Longchamp, chanceler de Richard, conseguindo o seu banimento e tornando-se, não no nome, rei. Sua mãe antecipou-se a um complô entre John e o rei francês Philip II, para dividir entre si o império Angevin, informando da traição a Richard, que decidiu retornar para casa. Ao mesmo tempo, buscou apoio entre os barões ingleses e sitiou os castelos de John. No caminho de volta Richard foi capturado por Leopoldo V da Áustria e feito prisioneiro por Henry VI, Imperador do Sacro Império Romano, até o seu retorno à Inglaterra em 1194. Ao seu retorno, esmagou uma tentativa de golpe de John e recuperou as terras perdidas para Philip II. Suas escaramuças com Philip se repetiram esporadicamente até que os franceses foram finalmente derrotados em 1198. Foi nesse clima de desafio à lei que a lenda de Robin Hood surgiu.
Com a libertação de Richard, John fugiu para a França, mas foi rapidamente perdoado por seu irmão que, em seguida, retornou à França onde morreu em 6 de abril do ano seguinte, em consequência de um ferimento recebido em escaramuça no castelo de Chalus, no Limousin.. Em seu leito de morte Richard perdoou e nomeou John como seu herdeiro, embora pela lei de primogenitura, Arthur, o filho de seu irmão mais velho Geoffrey, o devesse substituir. Encontra-se enterrado na catedral de Rouen, capital da Normandia.
Em seu célebre romance “Ivanhoe”, Sir Walter Scot faz uma breve, mas precisa referência ao reino de Richard I, dizendo, entre outras coisas que, embora a sua fama e coragem, ele teria produzido muito pouco para a Inglaterra, quando comparado às suas façanhas nas Cruzadas.
Assim, a despeito da sua rivalidade, Richard e John conspiraram para manter a coroa na família e a coroação de John ocorreu na abadia de Westminster, em 27 de maio do ano de 1199.



(1) A Bíblia de Winchester é um manuscrito iluminado do Romanesco (ano 1000 até o advento do estilo gótico, no século XIII ou posterior, dependendo da região), produzido em Winchester, entre 1160 e 1175. Com 468 folhas de couro de bezerro, medindo 583 mm por 396 mm, é a maior Bíblia inglesa sobrevivente do século XII e pode ainda ser vista na Biblioteca da Catedral de Winchester, seu lar por mais de oitocentos anos. Seu primeiro registro descreve o manuscrito em dois volumes; com o passar dos anos ela foi reencadernada, primeiro em 1820, dividida em três volumes e, novamente, em 1948, em quatro volumes, encadernada em couro com incrustações a ouro.
(2) O Maine foi outro dos condados da França, pertencentes ao ducado da Normandia e existente desde o século VIII, localizado entre a Normandie, a Bretagne e Anjou. Com a morte de seu pai, Geoffrey, em 1151, pela primeira vez desde que Henry II se tornara Duque da Normandia, todos esses condados ficaram sob o mesmo governante.
(3) Anjou foi um condado a partir de 880, um ducado, a partir de 1360 e uma província, com sede em Angers, no baixo vale do Loire, oeste da França. Anjou foi unido à Coroa Inglesa entre 1151 e 1199, quando Henry II, e mais tarde seu terceiro filho, Ricardo, Coração de Leão, herdou o condado, tornando-se Conde de Anjou.
(4) Brittany (em português Britânia, em francês Bretagne) é hoje uma região administrativa do oeste da França, com uma grande costa entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico. Sua capital é Rennes e seus habitantes chamam-se bretões. Cerca de 500 DC, os Bretões da então ilha da Bretanha (atual Inglaterra), atacados pelos anglo-saxões, para aí emigraram, trazendo os seus costumes e língua, denominando-a Pequena Bretanha, por oposição ao lugar de onde haviam emigrado.
(5) Aquitaine é hoje uma das 27 regiões da França, a sudoeste, ao longo do Oceano Atlântico e dos Pirineus, na fronteira com a Espanha. Na Idade Média a Aquitaine foi um reino e um ducado, cujos limites flutuaram consideravelmente.

(6) Canterbury, ao tempo dos romanos “Durovernum Cantiacorum” e ao tempo dos Jutes, Cantwaraburh, foi para onde foi enviado Santo Agostinho, pelo Papa Gregório o Grande, para converter o rei Ethelberht of Kent à cristandade, em 595. Após a sua conversão, Canterbury foi escolhida por Santo Agostinho como o centro de uma diocese episcopal em Kent e uma abadia e uma catedral foram aí construídas, sendo o seu primeiro Arcebispo. Em 672, o Sínodo de Hertford deu a Cantebury autoridade sobre toda a igreja inglesa, daí surgindo a importância do relacionamento entre o Rei e os futuros arcebispos. Ele é considerado o "Apóstolo dos ingleses" e o fundador da Igreja da Inglaterra. Não confundir este Santo Agostinho, da Cantuária, com o Santo Agostinho de Hipona, doutor da Igreja, que morreu em 430.
(7) Esses temas foram muito bem abordados no maravilhoso filme britânico de 1968, “The Lion in Winter” (O Leão no Inverno), dirigido por Anthony Harvey, baseado na peça homônima de James Goldman, estrelado por Peter O’Toole, Katharine Hepburn e o “novato” Anthony Hopkins, agraciado com três “Oscars” além de outros prêmios.


Prossegue na Parte 4