Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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terça-feira, 30 de maio de 2017

UMA PEQUENA HISTÓRIA DOS ÁRABES MUÇULMANOS (Parte 5)

Honório III, sucessor de Inocêncio III
e corresponsável pela 5a. Cruzada

A Quinta Cruzada (1213-1221) foi mais uma tentativa dos europeus ocidentais para retomar Jerusalém e o resto da Terra Santa, a começar pela conquista do poderoso estado Aiúbida que ainda dominava o Egito. O Papa Inocêncio III e seu sucessor, Papa Honório III, organizaram exércitos cruzados conduzidos pelo rei Andrew II da Hungria e Leopoldo VI, duque da Áustria, que resultaram em fracasso pois Jerusalém permaneceu nas mãos dos muçulmanos. Em 1218, um exército germânico, conduzido por Oliver de Cologne, e um exército composto por holandeses, belgas e frísios, comandados por William I, conde da Holanda, juntaram-se à Cruzada. A fim de atacar Damietta, no delta do Nilo, Egito, eles aliaram-se, na Anatólia, ao Sultanato Seljúcida de Rum[1], que atacou os aiúbidas na Síria, numa tentativa de livrar os cruzados de lutar em duas frentes. Após ocupar o porto de Damietta, os cruzados marcharam em direção ao Cairo, no sul, em julho de 1221, mas foram forçados a uma retirada por falta de abastecimentos. Um ataque noturno pelo sultão al-Kamil resultou em grandes perdas entre os cruzados e, finalmente, na rendição de seu exército. Al-Kamil concordou com um acordo de paz de oito anos com a Europa. O fracasso da Quinta Cruzada provocou novos ressentimentos contra o Papa e foi a última organizada pela Igreja onde diferentes nações lutaram juntas para recuperar a Terra Santa. 
A corte do Rei Friedrich II em Palermo
Sob Friedrich II de Hohenstaufen, imperador do Sacro Império Romano, uma Sexta Cruzada (1227) foi lançada como mais uma tentativa de reconquistar Jerusalém, capitalizando a discórdia interna existente entre al-Kamil, do Egito e al-Mu’azzam, da Síria. A Sexta Cruzada foi de enorme importância para a Europa, por ter conseguido o que todas as cruzadas anteriores não haviam conseguido: recuperar a Terra Santa. Ela teve o mérito de envolver pouco luta e muita diplomacia. Para evitar uma invasão Síria do Egito, al-Kamil ofereceu Jerusalém a Friedrich, que recusou. A posição de al-Kamil foi reforçada quando al-Mu’azzam morreu, em 1227, sendo sucedido por seu filho an-Nasir Dawud. As negociações com Friedrich (embora excomungado pelo Papa) prosseguiram no Acre e, em 1228, levaram a um acordo assinado em 1229, pelo qual os cruzados recuperaram uma Jerusalém sem fortificação, além de outras áreas da Terra Santa, para o Reino de Jerusalém, por mais dez anos, garantindo aos árabes o controle sobre locais sagrados muçulmanos na cidade. Friedrich entrou em Jerusalém em 17 de março de 1229, participando de uma cerimônia de coroamento no dia seguinte. Não se sabe ao certo se ele pretendeu com isso sua coroação oficial como rei de Jerusalém, principalmente pela ausência do Patriarca Gerald. Na verdade, Friedrich era somente o regente de seu filho, Conrado II de Jerusalém, único filho de sua esposa Isabella II (Yolanda), rainha regente de Jerusalém (morta com o nascimento do filho), e neto de Maria de Montferrat e John de Brienne (governante nominal do Reino de Jerusalém), nascido imediatamente antes de Friedrich ter partido em Cruzada, em 1228. Apenas poucos meses depois, Friedrich teve que voltar para a Alemanha e deixou Jerusalém sem proteção, não correndo riscos, inicialmente, porque os aiúbidas se tornavam cada vez mais fracos.
Friedrich estabelecera um importante precedente ao alcançar sucesso com uma cruzada sem o envolvimento papal. Cruzadas adicionais seriam lançadas por reis individuais, tais como Theobald I de Navarra (a Cruzada dos Barões), Luís IX da França (Sétima e Oitava Cruzadas) e Edward I da Inglaterra (Nona Cruzada), efetivamente demonstrando uma erosão da autoridade papal. 
Gregório IX, o Papa da
Cruzada dos Barões
O término do prazo do tratado obtido pela Sexta Cruzada (1229), que ocorreria em 1239, fez com que o Papa Gregório IX convocasse uma nova cruzada para garantir as Terras Santas para a cristandade, além daquele ano. O resultado dessa ideia foi a Cruzada dos Barões, um movimento desorganizado que obteve apoio limitado, tanto de Friedrich quanto do Papa, mas que recuperou mais terras do que a Sexta Cruzada. Também chamada de Cruzada de 1239, em termos territoriais, ela obteve mais sucesso desde a Primeira e teve do Papa Gregório IX o maior empenho para fazer das cruzadas uma empresa cristã universal. Consistiu, na verdade, de duas cruzadas separadas: uma que teve lugar em Constantinopla e outra na Terra Santa.
No início de julho de 1239, o herdeiro do Império Latino e marquês de Namur, Baldwin de Courtney, com um pequeno exército, incluindo vários magnatas seculares, viajou para Constantinopla. No inverno do mesmo ano ele chegou lá, onde foi coroado dois anos após a morte do Imperador Regente John de Brienne. Após isso, na Páscoa de 1240, ele lançou a sua cruzada. A cento e vinte quilômetros de Constantinopla, ele sitiou e conquistou a fortaleza de Tzurulum, local de enorme importância estratégica que forneceria maior segurança para Constantinopla. Embora essa conquista, o Império continuaria a depender de ajuda do Oeste.
A Cruzada da Terra Santa é muitas vezes estudada como duas cruzadas separadas: a do Rei Theobaldo I de Navarra, que começou em 1239, e a de Richard da Cornualha, que chegou após Theobald partir, em 1240. 
Estados Cruzados em 1135 e Cidade do Acre
Theobald de Champagne, o rei de Navarra, reuniu uma lista impressionante de nobres europeus e condes de nível secundário, com uma força de 1.500 cavalheiros e partiu da França em agosto de 1239. Theobaldo alcançou o Acre em 01 de setembro e rapidamente recebeu o apoio dos cruzados que haviam sido espalhados por uma tempestade no Mediterrâneo. A ele se juntou logo um conselho de potentados cristãos locais e alguns cruzados de Chipre. Em novembro o grupo de 4.000 cavalheiros marchou para Ascalon onde construiriam um castelo que havia sido demolido por Saladino anos antes. Exércitos da Cruzada participaram de várias escaramuças, com algumas vitórias e outras derrotas até que An Nasir Dawud, da Transjordânia, cuja caravana havia sido capturada por um exército cruzado, marchou para Jerusalém, então praticamente sem defesas. Após um mês entrincheirada na Torre de David, a guarnição da cidadela rendeu-se em 7 de dezembro, aceitando a oferta de passagem segura para o Acre. E Jerusalém caía novamente em mãos muçulmanas pela primeira vez desde 1229 (Sexta Cruzada). Em seguida, uma guerra civil foi iniciada dentro da dinastia muçulmana Aiúbida, criando um ambiente favorável aos cristãos. Theobaldo negociou com os emires guerreiros de Damasco e do Egito e conseguiu um tratado com As-Salih Ismail, emir de Damasco, ao norte, contra Ayyub, do Egito e Dawud, da Transjordânia, ao sul, pelo qual o Reino de Jerusalém recuperava Jerusalém, além de Belém, Nazaré e a maior parte da região da Galileia, com muitos castelos templários, como Beaufort e Saphet. Essa nova ofensiva dos cruzados forçou Dawud a fazer a sua própria negociação com Theobald ao final do verão de 1240, completando, de fato, muitas das concessões que haviam sido garantidas somente em teoria por Ismail. Theobald não permaneceu para ver concretizados seus acordos com os muçulmanos, partindo da Palestina para a Europa em setembro de 1240, antes da chegada de Richard da Cornualha, para não estar presente a qualquer querela interna, sobre a liderança e rumo da empresa.
Em 10 de junho de 1240, Richard, Primeiro Conde da Cornualha deixou a Inglaterra com um pequeno grupo de cruzados, composta por uma dúzia de barões ingleses e várias centenas de cavalheiros, inclusiva William II Longespee. Chegaram em Acre em 8 de outubro, mas a resposta dos barões ingleses ao Papa Gregório revelou total falta de uma identidade cristã comum. Richard e seus cruzados não viram combate, mas completaram as negociações por uma trégua com os líderes muçulmanos, feita por Theobald poucos meses antes. Prosseguiram na reconstrução do castelo de Ascalon, que foi entregue a Walter Pennenpié, agente imperial de Friedrich II em Jerusalém, ao invés de aos homens do Reino de Jerusalém que se opunham fortemente ao governo de Friedrich. Em abril de 1241 eles trocaram prisioneiros muçulmanos com cativos cristãos, bem como transportaram os restos mortais de mortos em batalha, para o cemitério em Ascalon. Com esse trabalho completo, Richard partiu do Acre para a Inglaterra em 3 de maio de 1241. Embora a Cruzada dos Barões tenha devolvido ao Reino de Jerusalém a sua maior extensão desde 1187, os ganhos seriam dramaticamente revertidos poucos anos depois. Em julho de 1244 Jerusalém foi, não somente capturada, mas reduzida a ruinas e sua população cristão massacrada pelos Khwarazmians (dinastia muçulmana Suni pérsica de origem mameluca turca), do norte da Síria, os novos aliados do Sultão do Egito, As-Salih Ayyub. Poucos meses depois, Ayyub e os Khwarazmians alcançaram uma grande vitória militar na Batalha de La Forbie, que permanentemente aleijou o poder militar cristão na Terra Santa. Contudo, os cristãos haviam então assimilado muito da cultura do Oriente Médio, influenciando enormemente a vida medieval. 
Louis IX da França, morto
na Oitava Cruzada 
A Sétima Cruzada (1248-1254) foi conduzida por Louis IX, da França. Em 1248, ele e, aproximadamente, 15.000 homens fortemente armados, que incluíam 3.000 cavalheiros e 5.000 besteiros embarcaram em 36 navios, nos portos franceses de Aigues-Mortes e Marseille. Navegaram primeiro para Chipre, onde ficaram durante o inverno, negociando com várias outras potências do Oriente: o Império Latino pedira sua ajuda contra o Império Bizantino de Niceia; o Principado de Antioquia e os Cavalheiros Templários precisavam de sua ajuda na Síria, onde os muçulmanos haviam recentemente capturado Sidon. Entretanto, o objetivo da Cruzada era o Egito e Louis IX chegou em Damietta, Nilo, em 1249. Ele cria que o Egito serviria de base para atacar Jerusalém, fornecendo recursos financeiros e grãos que manteriam os cruzados alimentados e equipados. Tomaram Damietta com facilidade, mas a cheia do Nilo não fora levada em consideração; logo seu exército ficou preso por seis meses. Ignorando o acordo da Quinta Cruzada pelo qual Damietta seria incorporada ao Reino de Jerusalém, agora um estado anexo no Acre, Louis IX estabeleceu lá um Arcebispado sob a autoridade do Patriarcado Latino de Jerusalém, usando a cidade como base para operações militares diretas contra os muçulmanos da Síria. Louis falhou em sua conquista do Cairo e tentou o sítio de Al Mansurah, para manter Damietta. Tal tentativa findou com fome e morte para os cruzados que resolveram, em março de 1250 retornar a Damietta, quando Louis foi feito cativo na batalha de Fariskur - pelo exército egípcio conduzido pelo sultão Aiúbida, Turanshah, apoiado por mamelucos Bahariyya - e seu exército aniquilado. Em maio, 800.000 bezants (moedas de ouro produzidas pelo governo do Império Bizantino) foram pagos em resgate pelo rei Louis, metade dos quais antes que ele deixasse o Egito. Como parte do acordo, Damietta também foi entregue aos árabes e Louis abandonou o Egito para o Acre, uma das poucas possessões remanescentes dos cruzados na Síria. 
Representação alegórica da Sétima Cruzada
Louis IX fez uma aliança com os Mamelucos que, à época, eram rivais do sultão de Damasco e, de sua nova base no Acre, então capital do Reino de Jerusalém, começou a reconstrução de outras cidades cruzadas, particularmente Jaffa e Saida. Em 1254 seus recursos financeiros escassearam e sua presença estava sendo exigida na França, com a morte de sua mãe; antes de voltar ele estabeleceu uma forte guarnição francesa no Acre, às expensas da coroa francesa, que lá permaneceu até a queda da capital, em 1291. Sua cruzada foi um fracasso, mas sua fama deu-lhe ainda maior autoridade na Europa do que o Imperador do Sacro Império Romano. Em 1270 ele tentaria uma nova cruzada que também terminaria em fracasso.
A Oitava Cruzada foi lançada por Louis IX contra a cidade de Tunis, em 1270. O avanço de Baibars, quarto sultão do Egito da dinastia mameluca Bahri, na Síria, durante o início dos anos 1260, alarmava a cristandade. A guerra de São Sabas, entre as repúblicas marítimas de Gênova e Veneza, que lutavam pelo controle do Acre, no Reino de Jerusalém, havia arrastado os Estados Cruzados e exaurido suas finanças e contingentes. Os povoamentos exauridos eram sistematicamente batidos pelas campanhas metódicas de Baibars que, em 1265, havia atacado a Galileia e destruído a catedral de Nazaré, capturado Cesareia e Arsuf e, temporariamente, tomado Haifa. Em 1266, Louis IX informou ao Papa Clemente IV sua intenção de formar nova cruzada.
A Cruzada foi oficialmente formada em 24 de março de 1267, numa assembleia de seus nobres, embora com menos entusiasmo do que na Sétima, e partiu do porto de Aigues-Mortes no início do verão de 1270, em navios genoveses e marselheses. Um contingente aragonês, sob James I de Aragão, partiu de Barcelona em setembro de 1269, mas apanhado por uma tempestade foi seriamente danificado e muitos dos sobreviventes retornaram à pátria. Uma esquadra, sob o comando dos filhos do rei, Pedro Fernandez e Fernan Sanchez, alcançou o Acre, mas muito enfraquecida para enfrentar Baibars, também logo retornou para Aragão.
O plano inicial de Louis era descer por Chipre, mas foi trocado pelo desembarque em Túnis, capital da Tunísia, às margens do Mediterrâneo, por ser importante base de suprimentos para o Egito. Os cruzados construíram um campo fortificado nas ruínas de Cartago e esperaram pela chegada do contingente siciliano sob o comando de Charles de Anjou, irmão do rei. Uma epidemia de disenteria do verão norte-africano espalhou-se pelas fileiras cruzadas, matando, entre outros, o filho de Louis IX, John Tristan (03/08), e o próprio, em 25 de agosto de 1270. Seu irmão, Charles, chegou logo após a sua morte. Pelo prosseguimento das doenças, o sítio a Túnis foi abandonado em 30 de outubro por um acordo com o sultão, que garantia aos cristãos o livre comércio com Túnis e, aos monges e padres, residência na cidade. Ao saber da morte de Louis e da retirada dos cruzados de Túnis, Baibars do Egito cancelou seus planos de enviar tropas para a luta. O Príncipe Edward da Inglaterra chegou com a sua armada um dia antes dos cruzados deixarem Túnis. Ele retornou para a Sicília com o resto dos cruzados e o exército combinado ainda foi seriamente danificado por uma tempestade. Ao final de abril de 1271, os ingleses prosseguiram para o Acre, concretizando a Nona Cruzada. 
Edward da Inglaterra, o comandante
da última Cruzada
A Nona Cruzada, algumas vezes grupada à Oitava Cruzada, é considerada a última cruzada medieval importante à Terra Santa e aconteceu em 1271-1272, comandada por Edward da Inglaterra, que velejou diretamente ao Acre. Esta cruzada viu várias vitórias importantes sobre Baibars; infelizmente Edward foi ao final muito pressionado por problemas na Inglaterra e sentiu-se impossibilitado para resolver os seus conflitos internos em territórios ultramar, tendo que retirar-se.
Em 9 de maio de 1271, Edward chegou ao Acre com um contingente pequeno, mas não insignificante, de mil homens que incluíam 250 cavalheiros, exatamente quando Baibars sitiava Trípoli que, como local remanescente do Condado de Trípoli, abrigava dezenas de milhares de cristãos refugiados. Sua chegada fez Baibars alterar seus planos, afastando-se do Acre. Com forças insuficientes para enfrentar uma batalha direta contra os mamelucos, Edward optou por lançar uma série de ataques rápidos. Após capturar Nazaré, Edward atacou Saint Georges-de-Lebeyne. Com a chegada de reforços da Inglaterra e de Hugh III de Chipre, sob o comando de seu irmão mais novo, Edmund, Edward lançou um ataque maior, com o apoio dos cavalheiros Templários, Hospitalários e Teutônicos, sobre a cidade de Qaqun. Os cruzados surpreenderam uma grande força de turcomanos (adicionados ao exército de Baibars em troca de terras, cavalos e títulos), matando 1.500 deles e tomando 5.000 cavalos como saque de guerra. O comandante muçulmano do castelo foi obrigado a abandoná-lo, mas Edward retirou-se sem ocupar, antes que Baibar pudesse responder, pois sua força principal estava em Aleppo, aguardando um ataque mongol. Em dezembro de 1271 Edward e suas tropas repeliram um ataque à cidade do Acre por Baibars que, finalmente, também abandonou seu sítio à cidade de Trípoli. Em setembro de 1271 Edward obteve uma aliança com o mongol governante da Pérsia, Abagha, inimigo dos muçulmanos. A chegada dos mongóis na Síria provocou um formidável êxodo da população muçulmana para o Cairo. Além disso, os mongóis derrotaram as tropas turcomanas que protegiam Aleppo, atacando outras regiões ao sul. Mas não permaneceram na região e, quando Baibars montou uma contraofensiva do Egito, em novembro, os mongóis já haviam feito sua retirada para além do Eufrates, com farto saque de guerra. Baibars tentou uma manobra ousada para tentar a conquista de Chipre das mãos de Hugh III de Chipre (o nominal rei de Jerusalém), tirando sua frota do Acre e assim deixando o exército cruzado isolado na Terra Santa. Mas ao final os exércitos de Baibars foram forçados a retirar-se.
Após essa vitória, Edward sentiu que para criar uma força capaz de retomar Jerusalém seria necessário terminar com os atritos internos do Estado Cristão, agindo como mediador entre Hugh e seus cavalheiros sem entusiasmo da família Ibelin, de Chipre. Em paralelo com a mediação, Edward e Hugh começaram a negociar uma trégua com Baibars, o que foi conseguido (dez anos, dez meses e dez dias) em maio de 1272, em Cesareia. Em seguida, o príncipe Edmund partiu para a Inglaterra, enquanto Edward permanecia para assistir à concretização da trégua. No mês seguinte, uma tentativa frustrada de assassinato foi feita contra Edward, que acabou matando o assassino, mas teve um ferimento de uma adaga envenenada que acabou atrasando sua partida. Em setembro de 1272 ele partiu do Acre para a Sicília e durante sua recuperação teve notícias da morte de seu irmão John e de seu pai, alguns meses mais tarde. Em 1273 iniciou sua volta para casa via Itália, alcançando a Inglaterra em meados de 1274 e sendo coroado rei da Inglaterra em 19 de agosto de 1274.
Novas fissuras surgiram nos Estados Cristãos quando Charles de Anjou tirou vantagem de uma disputa entre Hugh III, os Cavalheiros Templários e os venezianos, para trazer ao seu controle o que deles restara. Endossando as reivindicações de Mary da Antioquia, de pretendente ao trono do Reino de Jerusalém, ele atacou Hugh III causando uma guerra civil. Em 1277, Roger de San Severino capturou o Acre para Charles. Embora a guerra fosse debilitante, ela forneceu a oportunidade de um só comandante ter o controle cruzado na pessoa de Charles. Contudo, tal esperança foi descartada quando Veneza sugeriu uma nova cruzada, não contra os mamelucos, mas contra Constantinopla, onde Michael VIII tinha recentemente restabelecido o Império Bizantino, expulsando os venezianos. O Papa Gregório não teria apoiado tal ataque, mas em 1281 o Papa Martinho IV consentiu e o fiasco que se seguiu ajudou a desencadear as “Vésperas Sicilianas”[2], em 31 de março de 1282, instigadas por Michael VIII, e obrigando Charles a voltar para casa. Esta foi a última expedição lançada contra os bizantinos na Europa ou os muçulmanos na Terra Santa. 
Nostálgica pintura do
"Último Cruzado"
Os restantes nove anos viram um aumento nas demandas dos mamelucos, incluindo tributos e perseguições aos peregrinos, em desconformidade com a trégua. Em 1289 o sultão Qalawun reuniu um enorme exército e investiu contra os habitantes remanescentes do Condado de Trípoli, tomando-o após um assalto sangrento. O assalto, entretanto, foi particularmente devastador para os mamelucos, pois a resistência cristã foi enorme e Qalawun perdeu seu filho mais velho e mais capaz no combate.
Em 1291, um grupo de peregrinos do Acre foi posto sob ataque e, em retaliação, matou 19 mercadores muçulmanos numa caravana síria, pelo que Qalawun pediu um pagamento extra, em compensação. Sem resposta o sultão sitiou o Acre para acabar com o último estado cruzado na Terra Santa. Qalawun morreu durante o cerco, deixando seu membro sobrevivente como Sultão Mameluco. Com o Acre sitiado, os Estados Cruzados, fora Chipre, deixaram de existir. O centro do poder foi movido para Tortosa e, finalmente, para as praias de Chipre. O último baluarte cruzado na Terra Santa, Ilha Ruad (ao lado de Tortosa), Síria, foi perdido em 1302/1303. O período das Cruzadas para a Terra Santa havia terminado, 208 anos após o início da Primeira Cruzada.
Com relação à Síria, em 1230, seus Emires[3] tentaram sua independência do Egito, permanecendo divididos até que o sultão as-Salih Ayyub restaurou a unidade Aiúbida tomando a maior parte da Síria, com exceção de Alepo, em 1247. À época, as dinastias muçulmanas locais haviam expulso os aiúbidas do Iêmen, Hejaz e partes da Mesopotâmia. Ao morrer em 1249, as-Salih Ayyub foi sucedido, no Egito, por al-Mu’azzam Turanshah, que logo foi derrubado pelos generais mamelucos que havia repelido com sucesso o ataque dos Cruzados no delta do Nilo. Embora algumas tentativas de emires da Síria, comandados por an-Nasir Yusuf, para retomar o poder, este episódio encerrou o controle Aiúbida no Egito. Em 1260, os mongóis saquearam Alepo logo conquistando os territórios restantes dos aiúbidas (Bagdá em 1261). Em 1299, um exército mongol conduzido por Ghazan Khan, realizou uma série de ataques contra os mamelucos, numa área a nordeste de Homs (Síria), para o sul, até Gaza (oeste da Palestina, Península do Sinai); finalmente, em 1300, retirou-se para a Síria.
O último governante aiúbida de Hama morreu em 1299, quando o principado passou breve e diretamente para a soberania mameluca; contudo, em 1310, sob o patrocínio do sultão mameluco al-Nasir Muhammad, Hama foi restituída ao aiúbida Abu al-Fida, que morreu em 1331 e foi sucedido por seu filho al-Afdal Muhammad, que acabou perdendo o favor dos lordes mamelucos, sendo afastado do seu posto em 1341; a partir daí, Hama passou formalmente para o domínio mameluco.
Finalmente, pelo ano 1570, como já havíamos dito, o Império Turco Otomano controlava a maioria do mundo Árabe.
Durante seu domínio, relativamente curto, os aiúbidas anteciparam uma era de prosperidade econômica nas terras que governaram e as facilidades e apoio que patrocinaram, conduziram ao renascimento da atividade intelectual no mundo islâmico. E com isso chegamos ao ponto em que havíamos interrompido, para um parênteses à dinastia Aiúbida.

[1] O Sultanato Seljúcida de Rum foi um estado Turco-Persa muçulmano Sunni, que se estabeleceu em partes da Anatólia conquistadas do Império Bizantino pelo Império Seljúcida, estabelecido pelos turcos seljúcidas. O nome Rum vem do nome árabe de Anatólia, ar-Rum, tomado emprestado do grego para “romanos”. O Sultanato de Rum foi o sucessor do Grande Império Seljúcida sob Suleiman ibn Qutulmish, em 1077.
[2] As “Vésperas Sicilianas” é o nome dado a uma revolução de sucesso na Ilha da Sicília, deflagrada na Páscoa de 1282, contra o governo do Rei Charles I (de Anjou), nascido francês, que exercia o poder do Reino da Sicília desde 1266. Em seis semanas, três mil homens e mulheres franceses foram assassinados pelos rebeldes e o governo de Charles perdeu o controle da Ilha. Era o início da Guerra das Vésperas Sicilianas.
[3] Emir, algumas vezes transliterado como Amir, é um título de alto posto usado em muitos lugares nos países árabes e Afeganistão. Significa comandante, general ou príncipe. Quando usado como “príncipe”, a palavra “emirado” é análoga a uma principalidade soberana. Originalmente significava simplesmente um comandante-em-chefe ou líder, em geral com referência a um grupo de pessoas.

Continua na próxima postagem com a PARTE 6

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

HISTÓRIA DOS REIS DA INGLATERRA A PARTIR DE 1066 (PARTE 3)

IDADE MÉDIA NA INGLATERRA (1154 – 1485)

A Bretanha de Henry II e de seus filhos Richard I, o Coração de Leão e John, experimentava um rápido crescimento de população, desmatamento de florestas para campos, estabelecimento de novas cidades e um zelo de aparência externa para as Cruzadas. O país também testemunhava o deleite do “renascimento do século XII” nas artes, exemplificado pela Bíblia de Winchester(1)
Os legados da invasão normanda permaneceram, com a aristocracia falando francês até após 1350, de forma que o saxão “ox” (boi) e “swine” (suíno), por exemplo, transformaram-se, na mesa, no francês “boeuf” e “porc” (até hoje “beef” e “pork”, em inglês). Ao norte da Inglaterra saxônica, a Escócia “normanizada” das terras baixas (the Lowlands), que compartilhou um dialeto vernacular comum com a Inglaterra ao norte do rio Humber, permaneceu diversa das terras altas (the Highlands), onde floresceu o galês. As famílias de Balliol e Wallace, dominantes na história medieval escocesa, derivaram todas de raízes francesas – uma minoria superpondo-se à população de escoceses. A Irlanda foi menos dominada por normandos e, em todos os lugares, muito da cultura regional nativa sobreviveu, a despeito da monarquia e aristocracia normandas. Sir Walter Scott descreve esses detalhes com maestria em sua obra prima “Ivanhoe”, de 1819, com personagens do século XII.

O REINADO DE HENRY II (1154-1189
Em laranja e amarelo, as terras de
Henry II, na França, em seu auge

Pela leitura atenta dos principais eventos do reinado de Henry II, pode-se ver que ele foi um oportunista consumado e com sucesso na exploração das chances que lhe foram concedidas para consolidar o seu poder. O domínio de que foi lorde, incluía a Inglaterra, Normandia, Maine(2) , Anjou(3) , Brittany(4)  e País de Gales (Wales). Da forma como via, ele tomou a Inglaterra por indisputável direito de sangue; pelo mesmo direito tomou a Normandia e Anjou, mas como um vassalo do rei francês Louis VII. Brittany, Wales e Maine a ele vieram por direito de conquista, cedido em parte por seus predecessores, mas necessitando que o selo final, assim como a benção do rei francês, fossem colocados para as terras da França. Todas essas terras tinham uma vez pertencido a Henry I, por conquista, casamento ou herança sendo, portanto, sua por direito inalienável. A esses territórios foi adicionada a Aquitaine(5) , através do seu casamento com Eleanor, em 1152, após sua separação do rei da França, por não lhe ter dado um filho homem; enquanto casados, Louis VII controlava três quartos do seu país, mas imediatamente após o casamento de Henry com Eleanor, o controle de mais da metade do país caiu nas mãos do Duque da Normandia. Um grande golpe, mas daí para a frente, a relação entre o Rei da França e seu vassalo Henry nunca mais seria a mesma, além de perseguir os reis da Inglaterra pelos séculos que se seguiriam.
Louis VII da França
Durante o seu reinado, Henry II tentou manter uma autoridade feudal, dispondo os termos pelos quais os reis da Inglaterra deveriam interagir com seus vizinhos da França, Escócia, País de Gales e Irlanda por muito do resto de sua história.
Um dos capítulos mais proeminentes do reinado de Henry II, foi o assassinato e subsequente martírio do arcebispo Thomas Becket, que tanto obscureceu o seu reinado. Quando Henry II subiu ao trono, o arcebispo de Canterbury(6)  era Theobald, que mantinha com a Coroa uma estável relação do tipo “toma cá, dá lá”. Quando Theobald morreu em 1161, Henry II conseguiu que Becket, seu amigo e confidente, assumisse seu posto, esperando que ele se tornasse um seu seguidor sem restrições. Entretanto, Becket pretendia levar muito seriamente a sua missão, e deu mostras disso ao renunciar imediatamente ao cargo de chanceler que então ocupava. A questão entre ambos começou quando Henry II tentou trazer a si o julgamento de “clérigos criminosos”, enquanto Becket sustentava que o assunto era questão da Igreja. Após meses de contenda, os dois lados se encontraram no Concílio de Clarendon, em janeiro de 1164, onde Henry II apresentou aos Bispos a infame Constituição de Clarendon, estabelecendo a relação entra a lei secular e a canônica, explicitamente contrariando um prévio acordo com os Bispos.
Santo Thomas Becket, mártir das
Igrejas Católica e Anglicana
Para evitar consequências sobre os seus Bispos, Becket assinou a Constituição para, imediatamente após, publicamente arrepender-se do seu juramento, promovendo a ira do rei que considerou o ato como traição e ao qual prometeu vingança. As desavenças entre ambos prosseguiram até que Becket fugiu para o exílio na França, sem que Henry II pudesse resolver a disputa a seu favor. Em 24 de maio de 1170, Henry II fez coroar seu filho Henry, o Jovem, em Canterbury, pelo Arcebispo de York, o que não foi tolerado por Becket, Arcebispo de Canterbury; chegaram a um compromisso em que o rei ignorou a origem da disputa, permitindo que Becket retornasse ao lar para recoroar seu filho numa segunda cerimônia. Becket necessitava recuperar seu prestígio na Inglaterra sem tornar-se submisso ao Rei e para isso, assim que chegado à Inglaterra, excomungou seus antigos inimigos eclesiásticos, que incluíam o Arcebispo de York. Quando essas notícias chegaram à corte natal de Henry, na Normandia, ele explodiu e teria proferido as palavras: 'Ninguém me livrará desse incômodo padre? Sem qualquer dúvida, foi algo dito quando em ira, mas quatro cavaleiros, chefiados por Reginald Fitz Urse, o tomaram pela palavra e, atravessando o Canal, assassinaram Becket na catedral onde rezava a missa matinal, em 29 de dezembro de 1170.
Dois anos após a sua morte, Becket foi canonizado pelo Papa Alexandre III, sendo venerado como santo e mártir pelas igrejas católica e anglicana. Cronistas contemporâneos rotularam Henry II como criminoso, seus inimigos clamaram pela excomunhão do rei e o ultraje do assassinato quase precipitou uma guerra. Com tudo isso, o Papa Alexandre III negociou uma trilha muito cuidadosa, excomungando os quatro cavalheiros envolvidos e proibindo Henry II de assistir missa até reparado o seu pecado e, para negociar tais reparações, enviou à Inglaterra dois legados papais. Num movimento inteligente, acordaram uma fórmula que permitiu a Henry II renunciar à Constituição de Clarendon, sem dar mostras de que o fazia. Em 21 de maio de 1172, Henry realizou uma cerimônia de penitência pública na Catedral de Avranches, em que jurou:
Fornecer recursos financeiros para 200 cavalheiros participarem de Cruzada à Terra Santa;
Restituir toda a propriedade da igreja de Canterbury;
Não obstruir quaisquer apelos do clero a Roma;
Abolir todos os costumes prejudiciais à Igreja.
Praticamente, Henry perdeu pouco por este compromisso, mas como a própria Constituição, as implicações do acordo foram enormes.

O CARÁTER E O LEGADO DE HENRY II

Eleanor da Aquitaine gerou, para Henry II, seis filhos que sobreviveram, entre eles quatro homens: Henry, the Younger (o Mais Jovem), Richard (o futuro “Coração de Leão”), Geoffrey e John (futuro perseguidor de Robin Hood). Mulher de forte personalidade, Eleanor protegeu ferozmente sua herança, que avaliou acima da lealdade a seu marido, criando enorme atrito com Henry II quando apoiou seus filhos contra ele na defesa da Aquitaine(7).
Eleanor da Aquitaine
Henry parece ter visto seu reino como uma espécie de corporação familiar a ser dividida entre seus filhos. Essa posição, explicitada em seu testamento de 1182, já funcionava dez anos antes. Em seu grande plano, o patrimônio central da Inglaterra, Normandia e Anjou iriam para seu filho mais velho, Henry; a Aquitaine foi colocada sob a responsabilidade de Richard; Geoffrey ficaria com a Britânia; e a John seria alocada a Irlanda. Pouco explícito em suas ideias, secreto e maquinador, por natureza, o grande erro de Henry II foi deixar seus filhos tentando adivinhar o futuro, até que, como verdadeiros Plantagenets, eles simplesmente perderam a paciência e tentaram tomar o que, por direito, era deles.
A primeira grande briga familiar ocorreu em 1173 quando Henry, the Younger, molestado por sua falta de poder e instigado pelos inimigos de Henry II, rebelou-se contra ele, conseguindo o apoio de seus dois irmãos Richard e Geoffrey, além de vários barões ingleses poderosos, dos reis da França e Escócia; até a rainha Eleanor tentou juntar-se a seu filho mais velho sem, entretanto, conseguir. Com sua posição mais precária do que em qualquer época anterior, na iminência de perder o apoio da maioria dos nobres ingleses, Henry II lutou uma hábil campanha defensiva, humilhando os franceses e os bretões e esmagando qualquer oposição na Inglaterra, enquanto seus agentes derrotavam e capturavam William da Escócia em 1174. Henry, the Younger, rendeu-se e seu pai, abalado pela experiência, reconheceu as queixas de seus filhos, dedicando rendas a todos eles.
Henry, the Younger, filho
mais velho de Henry II
Em 1183, quando Henry II recusou-se a dar-lhe controle da Normandia ou qualquer outra terra que pudesse ajuda-lo a pagar suas dívidas, Henry, the Younger, tentou novamente, investindo sobre os barões da Aquitaine. Richard queixou-se e iniciou a fortificação de seus castelos. Durante as negociações que se seguiram, Henry, the Younger, tentou emboscar seu pai em Limoges. Henry reuniu tropas para cercar a cidade enquanto seu filho teve o apoio do irmão Geoffrey e do novo rei da França, Philip, filho de Louis VII. Forçado a fugir de Limoge após saquear o templo local para pagar suas tropas, Henry, the Younger, fugiu sem rumo, pela Aquitaine, foi acometido por disenteria e morreu; com ele, a revolta.
Henry II tentou reestruturar seu reino solicitando a Richard que desistisse da Aquitaine em favor de John, prometendo-lhe a herança antes pertencente a Henry, the Younger. Richard, além de não confiar no pai e manipulado pelo rei Philip da França, cuja ambição era destruir o comando Angevin no seu reino, rompeu em 1189 quando, com Philip, emboscou Henry II após uma conferência de paz em La Ferté. Sentindo-se doente, Henry fugiu para Anjou, onde levou o golpe final ao descobrir que os rebeldes haviam recebido o apoio de seu filho mais jovem, John. Caiu em delírio durante uma conferência de paz, próximo de Tours, e morreu em 6 de julho de 1189, com 56 anos de idade.
Sem a decisão de Henry II sobre a sua sucessão, totalmente alterada em função da morte do seu primogênito Henry, the Younger, e do complô montado por seus filhos contra si, sempre com o apoio de sua esposa Eleanor, que por tais ações esteve presa durante 16 anos, Richard tomou as rédeas do poder em suas mãos, como Richard I da Inglaterra.

REINADO DE RICHARD I, O CORAÇÃO DE LEÃO (1189 – 1199)

Rei Richard I, o Coração de Leão
Richard I passou muito da sua juventude na corte de sua mãe em Poitiers, importando-se muito mais com ela e suas possessões continentais do que com seu pai e a Inglaterra. As relações familiares influenciaram muito a sua vida: lutou junto com seus irmãos em sua rebelião de 1173-1174; lutou com seu pai contra seus irmãos quando eles apoiaram uma revolta na Aquitaine em 1183; e lutou ao lado de Philip II da França contra seu pai, em 1188, derrotando-o em 1189.
Richard foi coroado em 3 de setembro de 1189 e tornou John conde de Mortain, garantindo-lhe extensas propriedades na Inglaterra, que incluíram Nottingham. Sabendo das tendências de John para criar casos, baniu-o da Inglaterra por três anos enquanto participava de uma cruzada; por influência de sua mãe, permitiu o retorno de John a Inglaterra, cometendo um enorme engano.
Do seu reinado de dez anos, Richard permaneceu apenas seis na Inglaterra. Para cumprir promessa a seu pai, juntou-se à Terceira Cruzada, partindo para a Terra Santa em 1190, acompanhado de seu companheiro/rival, Philip II da França. Em 1191 ele conquistou Chipre, a caminho de Jerusalém, e lutou admiravelmente contra Saladino, quase tomando a cidade santa em duas oportunidades. Enquanto isso, Philip II retornava à França e urdia com o príncipe John. A Cruzada falhou em seu objetivo primário, a libertação da Terra Santa dos turcos muçulmanos, mas obteve um resultado positivo: um acesso mais simples à região, para os peregrinos cristãos, através de uma trégua com Saladino.
Na Inglaterra, John conspirou contra William Longchamp, chanceler de Richard, conseguindo o seu banimento e tornando-se, não no nome, rei. Sua mãe antecipou-se a um complô entre John e o rei francês Philip II, para dividir entre si o império Angevin, informando da traição a Richard, que decidiu retornar para casa. Ao mesmo tempo, buscou apoio entre os barões ingleses e sitiou os castelos de John. No caminho de volta Richard foi capturado por Leopoldo V da Áustria e feito prisioneiro por Henry VI, Imperador do Sacro Império Romano, até o seu retorno à Inglaterra em 1194. Ao seu retorno, esmagou uma tentativa de golpe de John e recuperou as terras perdidas para Philip II. Suas escaramuças com Philip se repetiram esporadicamente até que os franceses foram finalmente derrotados em 1198. Foi nesse clima de desafio à lei que a lenda de Robin Hood surgiu.
Com a libertação de Richard, John fugiu para a França, mas foi rapidamente perdoado por seu irmão que, em seguida, retornou à França onde morreu em 6 de abril do ano seguinte, em consequência de um ferimento recebido em escaramuça no castelo de Chalus, no Limousin.. Em seu leito de morte Richard perdoou e nomeou John como seu herdeiro, embora pela lei de primogenitura, Arthur, o filho de seu irmão mais velho Geoffrey, o devesse substituir. Encontra-se enterrado na catedral de Rouen, capital da Normandia.
Em seu célebre romance “Ivanhoe”, Sir Walter Scot faz uma breve, mas precisa referência ao reino de Richard I, dizendo, entre outras coisas que, embora a sua fama e coragem, ele teria produzido muito pouco para a Inglaterra, quando comparado às suas façanhas nas Cruzadas.
Assim, a despeito da sua rivalidade, Richard e John conspiraram para manter a coroa na família e a coroação de John ocorreu na abadia de Westminster, em 27 de maio do ano de 1199.



(1) A Bíblia de Winchester é um manuscrito iluminado do Romanesco (ano 1000 até o advento do estilo gótico, no século XIII ou posterior, dependendo da região), produzido em Winchester, entre 1160 e 1175. Com 468 folhas de couro de bezerro, medindo 583 mm por 396 mm, é a maior Bíblia inglesa sobrevivente do século XII e pode ainda ser vista na Biblioteca da Catedral de Winchester, seu lar por mais de oitocentos anos. Seu primeiro registro descreve o manuscrito em dois volumes; com o passar dos anos ela foi reencadernada, primeiro em 1820, dividida em três volumes e, novamente, em 1948, em quatro volumes, encadernada em couro com incrustações a ouro.
(2) O Maine foi outro dos condados da França, pertencentes ao ducado da Normandia e existente desde o século VIII, localizado entre a Normandie, a Bretagne e Anjou. Com a morte de seu pai, Geoffrey, em 1151, pela primeira vez desde que Henry II se tornara Duque da Normandia, todos esses condados ficaram sob o mesmo governante.
(3) Anjou foi um condado a partir de 880, um ducado, a partir de 1360 e uma província, com sede em Angers, no baixo vale do Loire, oeste da França. Anjou foi unido à Coroa Inglesa entre 1151 e 1199, quando Henry II, e mais tarde seu terceiro filho, Ricardo, Coração de Leão, herdou o condado, tornando-se Conde de Anjou.
(4) Brittany (em português Britânia, em francês Bretagne) é hoje uma região administrativa do oeste da França, com uma grande costa entre o Canal da Mancha e o Oceano Atlântico. Sua capital é Rennes e seus habitantes chamam-se bretões. Cerca de 500 DC, os Bretões da então ilha da Bretanha (atual Inglaterra), atacados pelos anglo-saxões, para aí emigraram, trazendo os seus costumes e língua, denominando-a Pequena Bretanha, por oposição ao lugar de onde haviam emigrado.
(5) Aquitaine é hoje uma das 27 regiões da França, a sudoeste, ao longo do Oceano Atlântico e dos Pirineus, na fronteira com a Espanha. Na Idade Média a Aquitaine foi um reino e um ducado, cujos limites flutuaram consideravelmente.

(6) Canterbury, ao tempo dos romanos “Durovernum Cantiacorum” e ao tempo dos Jutes, Cantwaraburh, foi para onde foi enviado Santo Agostinho, pelo Papa Gregório o Grande, para converter o rei Ethelberht of Kent à cristandade, em 595. Após a sua conversão, Canterbury foi escolhida por Santo Agostinho como o centro de uma diocese episcopal em Kent e uma abadia e uma catedral foram aí construídas, sendo o seu primeiro Arcebispo. Em 672, o Sínodo de Hertford deu a Cantebury autoridade sobre toda a igreja inglesa, daí surgindo a importância do relacionamento entre o Rei e os futuros arcebispos. Ele é considerado o "Apóstolo dos ingleses" e o fundador da Igreja da Inglaterra. Não confundir este Santo Agostinho, da Cantuária, com o Santo Agostinho de Hipona, doutor da Igreja, que morreu em 430.
(7) Esses temas foram muito bem abordados no maravilhoso filme britânico de 1968, “The Lion in Winter” (O Leão no Inverno), dirigido por Anthony Harvey, baseado na peça homônima de James Goldman, estrelado por Peter O’Toole, Katharine Hepburn e o “novato” Anthony Hopkins, agraciado com três “Oscars” além de outros prêmios.


Prossegue na Parte 4