Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (13) (Vigésima Primeira Parte)

O VERDADEIRO REI ARTHUR

Após todos os indícios confiáveis apresentados até então por vários historiadores, alguns dos quais tendo vivido praticamente à mesma época em que teria vivido Arthur, não podemos ter dúvidas de que as lendas do Rei Arthur foram baseadas num personagem histórico real e não uma mera invenção de vários autores. Nesse caso, por que o seu nome não aparece na genealogia dos Reis da Britain de todos os tempos, como História? Estaria faltando uma ligação entre o nome de Arthur e o nome de algum Rei da Britain que tivesse existido em sua história? Graham Phillips e Martin Keatman, em seu trabalho “King Arthur – The True Story” chegaram, através de laboriosa pesquisa, a um nome, que poderia muito bem atender a todas as demandas da História e da Lenda, para ser aceito como o Rei Arthur real.
Se o tão decantado guerreiro, por tantas fontes históricas, tivesse sido o Rei Arthur, deveríamos encontrar esse personagem real na família Cunedda de Powys, em torno do ano 490. Como os nomes dessa família que governou os West Midlands e Norte de Wales encontram-se preservados nas genealogias da Era Negra da Idade Média, por um processo de eliminação foi possível descobrir o nome real do Rei Arthur.
Como Cuneglasus e Maglocunus (todos nomes já citados anteriormente) pertenceram a gerações posteriores à época de Arthur, foi necessário examinar seus antepassados. Parece haver pouca dúvida de que Cunedda foi sucedido por seu filho Enniaun Girt - identificado nos “Annales Cambriae” como avô de Cuneglasus e Maglocunus, reis por direito, de acordo com Gildas -, que embora um rei de Gwynedd, como Cunerix, em Powys, era provavelmente subordinado a Ambrosius, o líder maior da Britain. Mas Enniaun Girt, embora filho de um rei de Gwynedd e podendo ter sucedido a Ambrosius como comandante das forças British, é registrado por Nennius como tendo chegado com seu pai cerca de 460, uma geração cedo demais para ser Arthur. Além disso, as genealogias mostram que Maglocunus e Cuneglasus sucederam ao filho de Enniaun e não ao próprio. Após a morte deste filho de Enniaun, forte e poderosa figura de unificação, em torno de 520, a unidade British deve ter-se rompido, causando a separação dos reinos de Powys e Gwynedd, com a ascensão de Maglocunus e Cuneglasus e o abandono de Viroconium, à mesma época. Seria Arthur o filho de Enniaun? A data da morte de Enniaun é desconhecida, mas como Cunorix morreu cerca de 480, o seu filho só poderia ter assumido o controle de Powis e Gwynedd alguns anos após essa data.
De Gildas, sabemos que Maglocunus sucedeu a seu tio e não a seu pai, pois ele o acusa textualmente “você esmagou o rei seu tio e suas bravas tropas com fogo e lança e espada”. Da mesma forma, Geoffrey of Monmouth e os romances subsequentes falam da morte de seu tio, Arthur, numa tentativa de assumir o trono. Teria sido o tio de Maglocunus o guerreiro que deu origem à lenda de Arthur? Se o sobrinho do Rei Arthur fosse Maglocunus, essa rebelião em Gwynedd poderia também ter sido interpolada por Geoffrey em sua história da revolta de Mordred.
Dolgellau, no Condado de Gwynedd. O vale de Camlan
encontra-se a 8 km a leste dessa cidade

Uma vez que as genealogias mostram que Gwynedd e Powys formavam um só reino antes da sucessão de Maglocunus em Gwynedd, a faixa de terra entre os dois reinos seria o local lógico para uma batalha em que Maglocunus teria desmembrado o seu reino de Gwynedd do reino de Powys. Um vale remoto e desolado, cerca de 8 km a leste de Dolgellau, no condado de Gwynedd, no Wales centro-oeste, é chamado de Camlan, com apenas um ‘n’ ao final. Está muito além da coincidência que o único local na Great Britain com esse nome, esteja precisa e estrategicamente colocada nessa faixa entre os dois reinos, como eles existiam no início do século VI.
Se o tio de Maglocunus tivesse dominado os reinos de Gwynedd e Powys, a derrubada desse tio teria dado a Maglocunus o poder sobre Gwynedd mas não sobre Powys, em que teria assumido o poder seu primo Cuneglasus. Nessas circunstâncias, o abandono de Viroconium poderia ser visto como estratégia de Cuneglasus para defende-lo de um futuro ataque por parte de Maglocunus. Embora Gildas não mencione o nome desse tio cujo trono Maglocunus usurpou matando-o, ele terá certamente sido o pai de Cuneglasus, já que ambos eram primos e as genealogias atestam que esses dois reis o sucederam. Em consequência, o pai de Cuneglasus é o mais provável guerreiro que possuía o título Arthur. Finalmente, na lista de genealogias compilada em torno de 955 de registros anteriores, anexada aos “Annales Cambriae” e contida no manuscrito Harley 3859 na Biblioteca British em London, o pai de Cuneglasus e tio de Maglocunus é identificado, de fato, como o filho de Enniaun Girt e seu nome era OWAIN DDANTGWYN, figura histórica que teria assumido o título de Rei Arthur!
No trabalho de Graham Phillips e Martin Keatman, “King Arthur – The True Story”, são relacionadas algumas evidências que indicam que Owain Ddantgwyn e Arthur eram a mesma e única pessoa:

•    Owain Ddantgwyn governava na última década de Século V, precisamente o período em que a “Historia Brittonum” localiza Arthur.
•    Owain Ddantgwyn era o filho de um dos reis de Gwynedd, conhecidos como “dragões líderes”, sabendo-se que “Uther Pendragon”, significando “o terrível dragão líder”, era o pai (Enniaun Girt) de “Arthur”.
•    Owain Ddantgwyn, como rei de Gwynedd e Powys, era o mais poderoso governante na Britain à época da Batalha de Badon, onde os British foram conduzidos à vitória por “Arthur”.
•    Owain Ddantgwyn era o pai de Cuneglasus, cujo predecessor era chamado o “Urso”, certamente a origem do nome “Arthur” (Arth + Ursus).
•    Owain Ddantgwyn pode ter morrido na Batalha do Vale de Camlan, próximo de Dolgellau, local onde os “Annales Cambriae” registram a morte de “Arthur”.

Ironicamente, nada mais se conhece além do nome Owain Ddantgwyn e de sua família imediata, o que justamente explicaria porque esse homem poderia ter feito Arthur tão famoso: se ele tivesse sido historicamente bem definido, não poderia, posteriormente, ser tão bem adaptado a tão diferentes idéias.
Identificada a figura histórica do Rei Arthur, como Owain Ddantgwynn, para concluir, o trabalho de Graham Phillips e Martin Keatman apresenta um sumário do que se acredita ter sido a vida dessa figura mítica.
Em torno de 460, enquanto a Britain estava sendo devastada pelos Anglo-Saxons, os Britons empenhavam-se em terrível guerra civil. Ambrosius Aurelianus, do seu trono nas montanhas de Gwynedd, marchava sobre o reino de Powis, derrotando o último dos reis Vortigern e, com seus guerreiros Votadini, ocupando a capital Viroconium e assumindo o comando das forças British. Desta fortaleza, Ambrosius iniciou a árdua tarefa de reorganizar os Britons para resistir à invasão estrangeira.
Foi provavelmente por esta época que teria nascido Owain Ddantgwyn, filho do rei Votadini Enniaun Girt, que governava o reino de Gwynedd enquanto Ambrosius combatia os Anglo-Saxons. Owain viveu seus primeiros vinte anos em meio a essa batalha e acabou lutando ao lado de Ambrosius quando provou ser excepcional guerreiro e estrategista. Com isso, logo recebeu o comando das forças British no leste da England, onde derrotou os Angles em uma série de batalhas decisivas em Lincolnshire e vizinhanças de Wash.
Com os Angles em retirada, seu aliado, o rei Saxon Hengist, despachou seu filho Octha ao norte da muralha de Hadriano, em busca de aliança com os Picts, onde Owain provavelmente teria lutado sua mais feroz batalha. Em 488 Hengist morreu e Octha retornou ao sul para tornar-se o rei de Kent. Com a ameaça Pict temporariamente eliminada, Owain também retornou ao sul, onde não mais reinava Ambrosius. Não sem batalhas ao sul de Wales, contra a família Vortigern que tentava recuperar poder, Owain acabou por triunfar como incontestável líder da aliança British de reis, demonstrando sua decisão de unificar a nação que adotara e recebendo o nome de guerra “o Urso”, ou Arthur. Em 493, com os Saxons avançando sobre a cidade de Bath e ameaçando repartir a nação British em duas, Arthur reuniu suas forças para uma decisiva defesa em Little Solsbury Hill (Monte Badon), onde foram sitiados no forte de colina fortificado, por forças superiores, durante três dias; num contra-ataque conduzido por Arthur as forças Saxon foram derrotadas, Sussex reocupado pelos British e os Saxons restantes empurrados para o sudeste.
Com a maior parte da Britain livre de invasão, Arthur enviou seu parente Cunomorus para governar Dumnonia, possivelmente para proteger a costa sudoeste de futuras invasões. Cunomorus, contudo, decidiu aliar-se com um novo líder Saxon, Cerdic, que ganhou o controle de Hampshire, em 508, ao derrotar o rei British Natanleod. Cerdic e Cunomorus estenderam sua influência sobre a costa sul até que Arthur resolveu marchar de Viroconium contra a aliança Wessex/Dumnonian, derrotando Cunomorus e abrindo uma cunha entre as forças inimigas, embora saindo muito enfraquecido de uma batalha em Certicesford. Logo após, ao retornar ao norte, Arthur é morto por seu sobrinho, Maglocunus, na batalha de Camlan, no centro-oeste de Wales, que assume o controle de Gwynedd, enquanto o filho de Arthur, Cuneglasus, assume o controle em Powys, abandonando Viroconium, com uma guerra civil total ameaçando toda a terra. Morre o homem Owain Ddantgwyn e nasce a mais famosa lenda da história British, o Rei Arthur.

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