Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

“LA CUMPARSITA” - O MAIS FAMOSO TANGO DO MUNDO (PARTE 2 DE 2)

A HISTÓRIA DE "LA CUMPARSITA"

Gerardo era um estudante de arquitetura – que não completou o curso – ao tempo em que a compôs. Após escrever a partitura não teve a determinação ou talvez os meios para executá-la.
O famoso "Gran Café y Confiteria La Giralda" à época
 Como estivesse indo a um dos cafés da moda, “Confitería La Giralda”, levou-a consigo e lá encontrou uma das principais figuras do tango à época, Roberto Firpo, que dirigia sua Orquestra: David ‘Tito’ Roccatagliata e Agesilao Ferrazano nos violinos, Juan Baptist Deambroggio ‘Bachicha’, no bandônio e Alexander Michetti na flauta. O pianista Domingo Alonso relatou o incidente mais tarde, num livro que escreveu, dizendo que o olho especialista de Firpo enxergou à primeira vista o que estava examinando e que, imediatamente, garantiu a autorização para adaptá-lo e arranjá-lo. Então Gerardo Rodriguez lhe teria vendido a partitura e os direitos de um tango que escrevera – uma obra de arte que o público adoraria para sempre – pela irrisória quantia de vinte pesos! O dinheiro foi trocado rapidamente, a partitura recebida e a gravadora Breyer passou a proprietária do tango dali para frente. E assim nasceu uma lenda ... O mesmo Domingo teria escrito que a partitura estava eivada de defeitos e que Firpo teve que arrumá-la. Na primeira parte havia uma melodia para violino que poderia ser tocada de uma forma muito mais interessante.
Roberto Firpo e Orquestra, gravando
O próprio Roberto Firpo referiu-se, por escrito, à “La Cumparsita”, pelo menos por três vezes. Ao “O Cantar”, teria declarado: “Numa noite, em “La Giralda”, um famoso e clássico café de Montevidéu, um jovem bem aparentado mas um pouco tímido, aproximou-se de mim perguntando se poderia conversar por alguns minutos ... Ele mostrou-me uma partitura muito modesta. Era “La Cumparsita”. Eu a executei no piano e gostei. Após alguns ajustes na partitura eu a lancei com extraordinário sucesso, tanto pelo fato de que era um grande tango como por seu autor ser um jovem de Montevidéu. Retornando a Buenos Aires eu o lancei em cafés e o sucesso de Montevidéu se repetiu.”
“A Crônica”, teria publicado, em 17 de setembro de 1947: 'No Giralda, alguém chamado Barquita deu-me uma partitura de um estudante para ver se ela poderia resultar em um tango.A partitura tinha apenas duas estrofes e lhe acrescentei partes bem conhecidas dos conhecidos tangos ‘Gaucha Manuela’ e uma inspiração de Verdi ‘Misérias do Trovador’; e a partitura, transformada por mim em tango, tornou-se "La Cumparsita”'. “As Crônicas Argentinas” publicou, em 26 de dezembro de 1966: “Em 1916 eu estava em “La Giralda” e o Sr. Barquita chegou com 14 ou 15 estudantes e me disse: ‘Estamos trazendo uma partitura e que queremos que você a conserte. É necessário fazê-la um tango.’ Eles me deram a partitura e como eu havia composto La Gaucha Manuela em 1906 e Curda, coloquei nela as partes daqueles velhos tangos que não haviam feito sucesso. Naquela noite compartilhei a partitura com Tito Roccatagliata e Bachicha e ficou divino. Eles a devolveram a Gerardo e a recepção foi sensacional.” La Cumparista não foi imediatamente um sucesso, mas acabou tornando-se um e, ao final, deixou também de ser executada, caindo no esquecimento. O link conduzirá os leitores a um clip que mostra várias fotos da Montevidéu da época, incluindo o famoso “La Giralda”, ao som de "La Cumparsita".
Dia 6 de junho de 1924 foi um momento crucial para "La Cumparsita". Neste dia, a Companhia de Leopoldo Simari apresentava uma peça no Teatro Apolo, chamada “Um Programa de Night Club”, um original de Paschal Contursi e Enrique P. Maroni. O processo exigia que cada peça apresentasse um tango especial (de fato, como resultado deste processo, alguns tangos famosos surgiram). Para a peça, Paschal Contursi escreveu uma cena chamada “Si Supieras” e, como era costume, decidiu liga-la à melodia de um tango já composto (sem autorização do compositor) e, à época, já bem pouco executado: "La Cumparsita". O ator e cantor era Juan Ferrari. Maroni e Contursi colocaram letra ao tango e o chamaram "Si Supieras", sem pedirem a autorização de Gerardo, versão hoje executada em todos os lugares. O sucesso foi tão grande que até Carlos Gardel decidiu gravá-lo imediatamente.
Francisco Canaro relatou: “Em minha primeira viagem a Paris, logo que havia chegado, estava com Gerardo Matos Rodriguez ... Após uma saudação e um abraço, nossa conversa chegou a Buenos Aires e ao sucesso de "La Cumparsita", então considerado história por Gerardo. Eu contei-lhe que o tango havia ressurgido e de como ele era a moda de todas as orquestras, através do arranjo de Maroni e Contursi e da gravação de Carlos Gardel”.
A letra reescrita de fato tornou-se um sucesso, não apenas em Buenos Aires, onde era tocada em todos os eventos, e também regravada e transmitida por todas as emissoras de rádio, mas também em Paris onde fora introduzida por Canaro, tornando-se a música de dança preferida pelos parisienses. E, em questão de pouco tempo, espalhou-se pelo resto do mundo.
Tendo em vista a longa discussão estabelecida e todas as discrepâncias encontradas sobre o assunto, é importante que cinco pontos sejam bem salientados em toda a história.
1.    De fato, foi Contursi quem escreveu a nova letra e não Maroni; contudo, a parceria reside com ambos que permaneceram como autores conjuntos da peça.
2.    Os registros mostram que Carlos Gardel somente gravou a sua versão de "La Cumparsita" em 10 de janeiro de 1928.
3.    Maroni realmente admitiu que não era autor do tango.
4.    A letra reescrita e a melodia não se alinhavam com perfeição de forma que o diretor musical teve que, levemente, adaptar a melodia.
5.    Não se trata de desonestidade de Roberto Firpo, mas muito mais de que Gerardo Rodriguez nunca imaginara que o tango fosse ser o sucesso que foi.
Gerardo Rodriguez não foi o primeiro nem o último artista que se sentiu tão trapaceado pela ninharia que recebeu por sua obra de arte. Entretanto, já sabemos como, por duas décadas, ele tentou e conseguiu recuperar os seus direitos à composição pelos caminhos das cortes.

AS LETRAS

Há muitas variações de "La Cumparsita" (uma fonte chega a afirmar que já contou mais de duzentas!), embora apenas duas sejam consideradas representativas: a versão original de Gerardo Rodriguez e a de Maroni e Contursi, que a reescreveram. É importante observar que a versão original de Gerardo continha apenas duas estrofes; posteriormente duas estrofes adicionais foram adicionadas por Peroni.
Em minhas pesquisas encontrei referências ao título original do tango famoso, com as quais não concordo e gostaria de emitir minha opinião pessoal sobre o assunto. Eu sempre soube - e os dicionários de espanhol confirmam - o significado da palavra “cumparsa”, qual seja, comparsa e, num sentido mais íntimo e figurado, a companheira; de forma que “la cumparsita” significaria a pequena companheira ou a companheirinha querida. Possivelmente, essa palavra seria uma corruptela da palavra italiana “comparsa”, que significa, na linguagem do teatro ou cinema, o figurante ou coadjuvante, pois também existe, no espanhol, a palavra “comparsa”, com o significado de figurante, participante de bloco carnavalesco, equivocadamente mencionado, em minha opinão, em algumas das pesquisas que realizei.
Abaixo as duas letras mais difundidas do tango mais famoso do mundo, com seus títulos e autores correspondentes, para que os leitores possam acompanhar a melodia. Sempre terão que ter cuidado pois como já foi mencionado, dadas as duzentas possibilidades existentes, sempre poderão encontrar discrepâncias entre as apresentadas aqui e as executadas em suas gravações preferidas. A gravação de "La Cumparsita", pelo mais famoso cantor de tangos argentino, Carlos Gardel, também este de nacionalidade discutida (mas esse é assunto para outra postagem), permitirá que os leitores acompanhem a letra.

2 comentários:

mario rossini disse...

Onde encontro a PARTE 01 ?
Mario Rossini

Nelson Azambuja disse...

Prezado Mario:
Muito grato por acessar o meu blog.
No meu mesmo blog, no dia anterior. A Parte 1 foi publicada no dia 19 de janeiro de 2012. A Parte 2, no dia 20 de janeiro de 2012. Em caso de dúvida, uma pesquisa pode ser feita pela coluna da direita em "Pesquisar este Blog".
Um abraço e sempre às ordens.
Nelson Azambuja