I - INTRODUÇÃO
Há mais ou menos um mês atrás, terminei de ler um livro antigo, famoso e que, em minha opinião, faz muito jus à sua fama. Seu nome: “E a Bíblia Tinha Razão ...”. O livro, de autoria de Werner Keller, foi originalmente editado em 1955, na Alemanha, e continua até hoje um enorme sucesso de literatura. Através de descobertas arqueológicas e muita pesquisa, o autor mostra que tudo o que está escrito na Bíblia, abrangendo o Antigo e o Novo Testamento, realmente são fatos históricos e não histórias da carochinha como muitos pretendem que sejam, ainda até hoje. O livro descreve, de uma forma muito simples de se entender, todos os principais acontecimentos da Bíblia e os compara com as descobertas arqueológicas correspondentes, facilmente demonstrando a sua veracidade.
O autor comove o leitor quando entra no Novo Testamento e apresenta os vários livros, contando sobre a vida de Jesus Cristo e dos lugares em que Ele viveu e frequentou, até o Seu calvário, morte na cruz e a ressurreição. Foi ao ler o capítulo em que Cristo abandona Nazaré, o lugar onde Se criou, para iniciar o Seu ministério em região específica da Galileia, na pequena vila de Cafarnaum, às margens do Mar da Galileia – ou Genezaré, segundo Lucas - , que senti um impulso enorme para aprender e escrever algo sobre essa região, da qual tão pouco eu conhecia. E foi então que me botei a pesquisar sobre o assunto que ora apresento aos meus leitores e que espero os cative assim como me cativou.
Para que o assunto não fique muito longo para uma só postagem, vou publicá-lo em duas partes, das quais esta é a primeira.
Para que o assunto não fique muito longo para uma só postagem, vou publicá-lo em duas partes, das quais esta é a primeira.
II - A GALILEIA
II.1 GENERALIDADES
A descrição desses locais é, em geral, bastante complicada, por se tratar de lugares conhecidos e mencionados há milhares de anos, que foram ocupados por vários povos, de origens muito diversas e que hoje, finalmente, pertencem a Israel. Por essa razão vou, inicialmente, apresentar e descrever alguns mapas para que o leitor bem possa se localizar a nível mundial e regional, temporalmente.
Como pano de fundo para o artigo, o primeiro mapa que eu gostaria de apresentar (Figura 1, abaixo), emprestado do Google Earth, mostra boa parte do Oriente Médio, com todas as regiões envolvidas na postagem. Nesse mapa podemos localizar, a nível mundial, parte do Mar Mediterrâneo (com a Ilha de Chipre), o norte do Egito (com o rio Nilo e Alexandria), o golfo de Suez, a Península do Sinai, o golfo de Aqaba e a extremidade norte do Mar Vermelho, os estados de Israel, Jordânia, Líbano, Síria (parcial), Iraque (parcial) e Arábia Saudita (parcial), além dos territórios em disputa, Faixa de Gaza, Cisjordânia e Colinas de Golã. No estado de Israel, é possível ver o Mar Morto, o Mar da Galileia e, em suas vizinhanças, a região da Galileia.
Figura 1 - Mapa do Oriente Médio, com todos os atores da peça |
Figura 2-Palestina cerca de 975 AC |
Para atingir o meu objetivo, penso acertado prosseguir pela descrição da Palestina, região com limites muito teóricos e pouco preciso. Assim, um dos nomes tradicionais para as “Terras da Bíblia”, que incluem “Terra Santa”, “Terra Prometida”, Israel e Canaan, sendo derivado dos Filisteus, inimigos dos israelitas, a Palestina (em árabe transliterado, Filastin; em grego transliterado, Palaistine; e em latim Paloestina) é a denominação histórica dada pelo Império Romano, a partir de um nome hebraico bíblico, a uma região do Oriente Médio, grosseiramente situada entre a costa oriental do Mediterrâneo e as atuais fronteiras ocidentais do Iraque e Arábia Saudita, hoje compondo os territórios da Jordânia e Israel, além do sul do Líbano e os territórios de Gaza e Cisjordânia (ou Margem Ocidental do rio Jordão, território sob ocupação de Israel, reclamado pela Autoridade Palestina e pela Jordânia, limitado a leste pela Jordânia e a norte, sul e oeste por Israel). Com o enfraquecimento do poder egípcio, em finais do século XIII AC, a região foi invadida pelos chamados “Povos do Mar”. Um destes povos, os filisteus, fixou-se junto à costa oriental do Mediterrâneo, contemporânea à chegada das tribos hebraicas, com Josué, que se instalaram no interior gerando guerras com os filisteus, que se recusaram a aceitar a presença hebraica. As tribos hebraicas, unidas sob os reis Saul, Davi e Salomão, finalmente derrotaram os filisteus, fixando a capital do reino em Jerusalém e constituindo, de certa forma, a original “terra dos judeus” (Figura 2, acima). Constituindo um trecho relativamente estreito, de favorável passagem entre a África e Ásia, a Palestina sempre foi palco de um grande número de conquistas, pelos mais variados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.
Figura 3 - A Judeia sob Herodes, pelo ano 37 AC |
No ano 40 AC, Herodes, o Grande, foi indicado como rei da Judeia ("Rei dos Judeus") pelo Senado do então Império Romano que, entre outras regiões, dominava a Palestina. Foram necessários três anos antes que Herodes e seu exército viajassem à Palestina para conquistar Jerusalém e tornar-se, de fato, o único governante de toda a Judeia. A linha negra da Figura 3, ao lado, delimita a área que constituía a Judeia sob o reinado de Herodes, o Grande, no ano 37 AC. No ano 4 AC, Herodes, o Grande, morre e o então imperador romano, Augusto, divide o seu reino entre alguns de seus filhos. Herodes Arquelaus é feito etnarca (governador de província) da Samaria, Idumeia e uma boa parte do reino anterior da Judeia que, logo no ano 6 AC, tornar-se-ia a província da Judeia, colocada diretamente sob o governo romano. Filipe, o tetrarca (muitas vezes referido como Herodes Filipe II), filho de Herodes e sua quinta esposa Cleópatra de Jerusalém e meio-irmão de Herodes Arquelaus e Herodes Antipas, recebe de Roma a parte nordeste do antigo reino de Herodes, que inclui Bataneia, Auranitis e Traconitis. Seu terceiro filho, Herodes Antipas, é feito tetrarca da Galileia e Pereia, governando-a de 4 AC a 39 DC; esse foi o Herodes que, Segundo os registros do Novo Testamento, não somente prendeu e decapitou João Batista, como também teve papel importante na crucificação de Cristo. Note-se que a Figura 3 já apresenta essas divisões e a correspondente legenda.
II.2 LOCALIZAÇÃO DA GALILEIA
A Galileia, por sua vez, é hoje uma grande área da região norte de Israel, entre o rio Litani, no Líbano atual, e o vale de Jezreel na Israel moderna, que envolve a maior parte dos distritos administrativos do Norte e Haifa. Tradicionalmente dividida em Galileia Superior, com chuvas pesadas e altos picos, Galileia Inferior, com clima mais ameno, e Galileia Ocidental, estende-se da cidade de Dan, na base do Monte Hermon, ao longo do Monte Líbano, ao norte, até as cristas do Monte Carmelo, Monte Gilboa, norte de Jenin e Tulkarm, ao sul, e do vale do Jordão, ao leste, através das planícies do vale Jezreel e Acre até as praias do mar Mediterrâneo e a planície costeira, no oeste. A região da Galileia mudou de mãos em várias oportunidades: egípcios, assírios, canaanitas e israelitas.
Figura 4 |
A Galileia – significando “círculo” ou “distrito” – era uma das maiores regiões da antiga Palestina, ainda maior que a Judeia ou Samaria. O nome Galileia, que à época dos romanos era aplicado a uma grande província, parece ter sido, originalmente, confinado a um pequeno circuito de terra em torno de Kedesh-Naphtali (uma das mais remotas cidades de Judá, junto ao limite sul de Edom), onde estavam situadas as vinte cidades doadas por Salomão a Hiram, rei do Tiro, em pagamento ao transporte de cedro do Líbano para Jerusalém. Ao tempo de Cristo, o território de Israel era dividido em três províncias: Judeia, Samaria e Galileia, esta última incluindo toda a secção norte do país, com os antigos territórios de Issachar, Zebulun, Asher e Naphtali. A oeste era limitada pelo território de Ptolemais; a fronteira sul corria ao longo da base do monte Carmelo e das colinas de Samaria até o monte Gilboa e então descendo ao vale de Jezreel por Scythopolis, ao Jordão; o rio Jordão, o Mar da Galileia e o alto Jordão até a fonte de Dan formavam o limite oeste; e o norte desenvolvia-se de Dan para o oeste ao longo da crista montanhosa até tocar no território dos fenícios. Era dividida em “Galileia Inferior” e “Galileia Superior” (com altitudes superiores a 900 metros). A mais alta região do país, com as menores temperaturas, bem irrigada pelas chuvas de inverno e com numerosas fontes, a Galileia era uma região de fertilidade natural, adequando-se a todas as variedades de flora, merecendo destaque especial a nogueira. As Figuras 4 a 8 se completam e mostram todos os pontos descritos acima.
Figura 5 |
A maior parte da Galileia é constituída por terreno rochoso, com alturas variando entre 500 e 700 metros. Entretanto, há várias montanhas altas na região, que incluem os Montes Tabor e Meron (1.208 m), com temperaturas relativamente baixas e altas precipitações. Como resultado deste clima, a flora e a fauna abundam na região, enquanto muitos pássaros anualmente migram de climas mais frios para a África e retornam através do corredor Hula-Jordão. Os cursos e quedas d’água – estas principalmente na Galileia Superior – junto com vastos campos de folhagens e folhas silvestres coloridas, bem como numerosas cidades de importância bíblica, tornam a região um popular destino turístico.
II.3 HISTÓRIA DA GALILEIA
Mencionada pela primeira vez pelo Faraó Tutmés III, que lá conquistou várias cidades canaanitas em 1.468 A.C., a Galileia foi também mencionada várias vezes no Velho Testamento (Josué, Crônicas, Reis).
Figura 6 |
Figura 7 |
De acordo com o Antigo Testamento da Bíblia, a Galileia foi nomeada pelos israelitas e, originalmente, foi a região tribal de Naftali e Dã, às vezes se envolvendo com a terra de Aser, sendo muitas vezes referida apenas como Naftali. O nome israelita da região vem da raiz hebraica galil, uma palavra para designar “distrito” e, usualmente, “círculo”.
A região da Galileia (Figuras 5 e 6) foi, presumivelmente, o lar de Jesus durante, pelo menos, 30 anos de sua vida, para onde havia sido levado por seus pais José e Maria assim que souberam da morte de Herodes, enquanto residindo no Egito. A Galileia é melhor conhecida como a região onde, de acordo com os Evangelhos, Jesus conduziu a maior parte do Seu ministério público, particularmente nas cidades de Nazaré e Cafarnaum, e onde realizou a maior parte dos seus conhecidos milagres. Por exemplo, a vila árabe de Kafr Cana (Figura 6), cerca de 7 km a nordeste de Nazaré, na Galileia Inferior, é identificada como a Canaã da Galileia onde, segundo a tradição, Jesus teria realizado o milagre da transformação da água em vinho, quando participando das bodas de um casal de poucos recursos. A Figura 9 abaixo mostra a "Igreja das Bodas", por se crer que fica no mesmo local onde Jesus teria praticado o seu primeiro milagre.
Figura 9 - A Igreja das Bodas |
Os autores dos Evangelhos declaram que a maior parte de Sua juventude foi vivida na Galileia Inferior, ao passo que Sua vida adulta, tempo da Sua pregação, foi passada nas margens a noroeste do Mar da Galileia, onde ficavam as cidades onde Jesus passou a maior parte da sua vida, aí incluídas Cafarnaum e Betsaida (ver Figuras 5 e 6).
Descobertas arqueológicas de sinagogas dos períodos helenístico e romano na Galileia, mostram forte influência fenícia e uma alto grau de tolerância por outras culturas, relativamente a outros locais sagrados dos judeus, no mesmo período, porque considerado “limpo de impurezas”. A Galileia oriental manteve uma maioria judia até o século VII.
O historiador judeu, Josephus, registra que havia mais de 200 vilas na Galileia no ano 66 DC, sendo bastante povoada nesta época. Sendo mais exposta a influências estrangeiras do que outras regiões judias, tinha também uma grande população pagã e era por isso conhecida por outro nome que, traduzido para o português, significava “Região dos Gentis”. Sob a dominação romana, desenvolveu-se uma característica identidade galileana, fazendo com que a Galileia fosse tratada como área administrativa separada da Judeia e da Samaria; tal fato foi majorado porque a Galileia foi, por muito tempo, governada por “fantoches” romanos ao invés de pela própria Roma. A consequência foi uma estabilidade social maior, significando não ter sido um centro de atividade política anti-romana, nem uma região marginalizada, como podem dar a entender os Evangelhos. A Galileia é também a região onde o judaísmo adquiriu a maior parte de sua forma moderna. Após a segunda revolta Judia (132 – 135 DC) quando os judeus foram totalmente expulsos de Jerusalém, muitos foram obrigados a emigrar para o norte, aumentando de forma considerável a população da Galileia, com o tempo atraindo mais judeus que já viviam em outras áreas.
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