Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 19 de março de 2015

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: EGITO (PARTE 02)

III.1.3 – NEOLÍTICO (OU PRÉ-DINÁSTICO)

Cerca de 5000 AC, quando o clima tornou-se mais árido, grupos nômades se deslocaram para o vale do Nilo, criando os primeiros assentamentos urbanos. Essas comunidades se concentraram ao norte e ao sul – Baixo Egito e Alto Egito. Como resultado, o Egito tornou-se conhecido como a “Dupla Terra” ou as “Duas Terras”.

III.1.3.1 – BAIXO EGITO
A desertificação continuada forçou os primeiros ancestrais dos Egípcios a se estabelecer em volta do Nilo mais permanentemente, adotando um estilo de vida mais sedentário.
O período entre 9000 e 6000 AC deixou muito pouco no caminho da evidência arqueológica. Cerca de 6000 AC, os assentamentos do Neolítico aparecem por todo o Egito. Estudos baseados em dados morfológicos, genéticos e arqueológicos, atribuíram esses assentamentos a migrantes do Fértil Crescente, durante o Neolítico Egípcio e Norte Africano, possivelmente trazendo a agricultura à região. Contudo, outras regiões na África desenvolveram, independentemente, a agricultura, na mesma época: as altas terras etíopes, o Sahel[1] e a África Ocidental. Além disso, alguns dados morfológicos e pós cranianos têm ligado as primeiras populações em Fayum, Merimde e El-Badari a populações do Nilo norte africano. Os dados arqueológicos sugerem que os civilizados do Oriente Próximo foram incorporados numa estratégia de pilhagem preexistente e só lentamente se desenvolveram num estilo de vida pleno, contrário ao que seria esperado de colonizadores do Oriente Próximo. Finalmente, os nomes dos civilizados do Oriente Próximo para o Egito, não eram palavras emprestadas sumérias nem proto-semitas, o que ainda mais diminui a semelhança de uma colonização imigrante em massa do Baixo Egito durante a transição para a agricultura.
A Tecelagem foi evidenciada pela primeira vez durante o Período Fayum A. Os povos deste período, diferentemente dos egípcios, enterravam seus mortos muito próximo e, algumas vezes, dentro dos seus assentamentos. Mais tarde, em cemitérios, com poucos bens.
O cobre era conhecido e alguns enxós deste material foram encontrados. A cerâmica, simples e sem decoração mostra, em algumas formas, fortes conexões com o sul de Israel. As pessoas viviam em pequenas cabanas parcialmente enterradas no solo.

III.1.3.2 - ALTO EGITO
Pote típico da cultura Naqada II
com tema de navios
Várias culturas ocuparam o Alto Egito em épocas diversas: Tasiana, Badariana (4400 a 4000 AC), Naqada, Amratiana ou Naqada I (4000 a 3500 AC), Gerzeana ou Naqada II (3500 a 3200 AC). Foi a partir da cultura Gerzeana que os egípcios habitantes da cidade pararam de construir com junco e iniciaram a produção em massa de tijolos de barro para construir suas cidades. Foi também durante esta cultura que uma grande influência da Mesopotâmia se fez sentir no Egito.

III.1.3.3 – PERÍODO PROTO-DINÁSTICO (NAQADA III)
O período Proto-Dinástico, de 3200 a 3000 AC, é geralmente considerado como idêntico ao período Naqada III, durante o qual o Egito foi unificado. Embora disputado por estudiosos, foi a primeira era com hieróglifos (ou hieroglifo), ideograma figurativo que constituiu a notação da escrita egípcia. Pela primeira vez passou a usar-se regularmente o serekh[2], a primeira irrigação e o primeiro cemitério real.
As datas do período Pré-Dinástico foram definidas pela primeira vez, antes que escavações arqueológicas disseminadas, no Egito, fossem iniciadas; e recentes achados, indicando um desenvolvimento Pré-Dinástico muito gradual, conduziram a controvérsias sobre a data correta do final deste período. Por isso, o termo Proto-Dinástico, muitas vezes chamado de “Dinastia Zero”, foi usado pelos estudiosos para indicar a parte do período que podia ser caracterizada como Pré-Dinástica, por alguns, e como Antiga Dinástica, por outros.
As duas terras (Alto e Baixo Egito) foram unidas em 3100 AC pelo legendário Rei Menes, que estabeleceu uma nova cidade administrativa onde o rio Nilo se ramifica no delta. Em tempos antigos ela foi chamada “Muralhas Brancas” ou Mennefer; os gregos a chamaram Memphis. Ela permaneceu como capital do Egito por mais de 3.500 anos. Embora não haja prova arqueológica de que o Rei Menes existiu, a famosa paleta Narmer que mostra duas imagens de um rei, um usando uma coroa do Alto Egito e o outro a coroa do Baixo Egito, parece indicar o Rei Menes. Talvez por isso, os reis Menes e Narmer podem ter sido a mesma pessoa, o primeiro Rei do Egito.

III.2 – ANTIGO PERÍODO DINÁSTICO (3100–2686 AC)

O Antigo Período Dinástico foi aproximadamente contemporâneo ao início da civilização Sumério-Akkadiana da Mesopotâmia e do antigo Elam. O sacerdote egípcio Manetho, do terceiro século AC, grupou a longa linha de faraós, de Menes até o seu próprio tempo, em 30 dinastias, um sistema ainda hoje em uso. Ele decidiu iniciar a sua história oficial com o rei chamado “Meni” (ou Menes, em grego), que se acreditava ter unido os dois reinos do Alto e Baixo Egito, cerca de 3100 AC.
A transição para um estado unificado aconteceu muito mais gradualmente do que os escritores egípcios antigos revelaram e não há registro contemporâneo de Menes. Alguns estudiosos agora acreditam, que o mítico Menes possa ter sido o faraó Narmer, conforme mencionamos acima. No Antigo Período Dinástico, cerca de 3150 AC, o primeiro faraó dinástico solidificou o controle sobre o baixo Egito, estabelecendo a capital em Memphis, de onde podia controlar a força de trabalho e a agricultura da fértil região do delta, bem como as lucrativas e críticas rotas de comércio para o Levante[3]. O crescente poder e riqueza dos faraós durante o antigo período dinástico refletiu-se nos seus elaborados túmulos mastaba[4] e estruturas mortuárias de culto, em Abydos, onde eram usados para celebrar o faraó deificado, após a sua morte. A forte instituição do reinado, desenvolvido pelos faraós, serviu para legitimar o controle do estado sobre a terra, trabalho e recursos essenciais à sobrevivência e crescimento da antiga civilização egípcia.

III.3 – O REINO ANTIGO (2686–2181 AC)

O Reino Antigo é principalmente visto como o período que vai da Terceira Dinastia à Sexta Dinastia, embora muitos egiptólogos incluam também a Sétima e Oitava Dinastias Memphita, como um prosseguimento da administração centralizada em Memphis. Durante o Reino Antigo, o rei do Egito (que só foi chamado de faraó a partir do Novo Reino) tornou-se um deus vivo, que governava de forma absoluta e podia demandar os serviços e a fortuna dos seus súditos.
As grandes pirâmides de Giza: Quéops, Quéfrem e Miquerinos
Importantes avanços na arquitetura, arte e tecnologia foram obtidos durante o Reino Antigo, estimulado pela melhoria da produtividade agrícola e a população resultante, apenas tornadas possíveis por uma bem desenvolvida administração central. Alguns dos empreendimentos reais do antigo Egito, as Pirâmides de Giza (ou Gizeh ou Gizé), - platô a sudoeste da moderna cidade do Cairo - e a Grande Esfinge, foram construídas durante o Reino Antigo, provavelmente mais conhecido pelo grande número de pirâmides construídas como locais de sepultamento dos reis do período, que por isso é frequentemente chamado de “Idade das Pirâmides”.
A Grande Esfinge
Sob a direção do vizir[5], funcionários do Estado coletavam impostos, coordenavam projetos de irrigação para melhorar a colheita, recrutavam camponeses para trabalhar nas construções e estabeleciam um sistema de justiça para manter a paz e a ordem.
Junto com a importância crescente de uma administração central, uma nova classe de educados escribas e funcionários surgiu, aos quais eram garantidos estados, pelo faraó, como paga pelos seus serviços. Terras eram também doadas pelo faraó, para seus cultos mortuários e templos locais, para garantir que essas instituições tivessem os recursos para adorar o faraó após a sua morte. Estudiosos acreditam que cinco séculos destas práticas, lentamente desgastaram o poder econômico do rei fazendo com que a economia não mais pudesse suportar uma administração centralizada tão grande. À medida que o poder do rei diminuía, governadores regionais, nomarcas[6], começaram a desafiar a supremacia do faraó. Junto com as severas secas entre 2200 e 2150 AC, possivelmente causaram o período de 140 anos de fome e discórdia, conhecido como Primeiro Período Intermediário.
Pirâmide de Djoser, projetada por Imhotep 

O primeiro rei da Terceira Dinastia foi Djoser, que transferiu a capital real do Egito para Memphis, onde estabeleceu sua corte, e ordenou a construção de uma pirâmide com pedras, em degraus, na necrópole de Memphis, Saqqara, cuja concepção é creditada a seu arquiteto, Imhotep.
O Reino Antigo e seu poder real alcançaram o zênite com a Quarta Dinastia, iniciada com Sneferu (2613–2589 AC), que usando mais pedras que qualquer outro rei, construiu três pirâmides: uma já ruída em Meidum, a Pirâmide Bent em Dahshur e a Pirâmide Vermelha em Dahshur Norte. Contudo, o pleno desenvolvimento das pirâmides não foi atingido em Saqqara, mas com a construção das “Grandes Pirâmides”, em Giza.
O Complexo do Templo de Djoser ao lado da sua Pirâmide
Sneferu foi sucedido por seu filho Khufu (2589–2566 AC) – ou Quéops, em grego -, que construiu a Grande Pirâmide de Queóps, em Giza. Com a morte de Khufu, seus filhos Djedefra (25828–2520 AC) e Khafra (2520–2494 AC) - ou Quéfrem - terão lutado. O último construiu a pirâmide de Quéfrem e, segundo consta, a Esfinge, em Giza, embora hajam outras versões.
Durante essa dinastia foram realizadas expedições militares a Canaã e Núbia, com a influência egípcia se alastrando a montante do Nilo até o Sudão. Os últimos reis da Quarta Dinastia foram o rei Menkaure (2494–2472 AC), que construiu a terceira grande pirâmide de Giza, Miquerinos, Shepseskaf (2472–2467 AC) e, talvez, Djedefptah (2486–2484).
A Quinta Dinastia (2494-2345 AC) iniciou com Userkaf (2494-2487 AC) e foi marcada pela crescente importância do culto ao deus sol Ra. Consequentemente, menos esforços foram devotados à construção de pirâmides e mais à construção de templos ao sol, em Abusir, outra necrópole do período do Reino Antigo, nas vizinhanças da moderna Cairo.
Userkaf foi sucedido por seu filho Sahure (2487-2475 AC), que comandou uma expedição a Punt, conhecido pela produção e exportação de ouro, de questionável localização. Sahure foi sucedido por Neferirkare Kakai (2475-2455 AC), seu filho ou irmão, podendo ter usurpado o trono, neste caso. Foi seguido por dois vagos reis de curta vida e pelo irmão de um deles. Os últimos reis da dinastia foram Menkauhor Kaiu (2421-2414 AC), Djedkare Isesi (2414-2375 AC) e Unas (2375-2345 AC), o primeiro governante a ter os textos piramidais (em egípcio antigo, possivelmente os mais velhos textos religiosos do mundo) inscritos em sua pirâmide.
Durante a Sexta Dinastia (2345-2181 AC), o poder do rei gradualmente enfraqueceu em favor de poderosos nomarcas (governadores regionais). Estes não mais pertenciam à família real, mas seu cargo tornou-se hereditário, com isso criando dinastias regionais independentes da autoridade central do rei. O reinado incrivelmente longo de Pepi II (2278-2187 AC), ao final da dinastia, criou lutas sucessórias entre os descontentes herdeiros, afundando o país em guerras civis. O golpe final ficou por conta de uma drástica redução na pluviometria do país, entre 2200 e 2150 AC, que impediu as cheias normais do rio Nilo, causando décadas de inanição e discórdia e o colapso do Reino Antigo.

III.4 – PRIMEIRO PERÍODO INTERMEDIÁRIO
(2181-2055 AC)

O Primeiro Período Intermediário, muitas vezes descrito como um “período negro” na história do antigo Egito, abarcou o período entre 2181-2055 AC, incluindo a Sétima e parte da Décima Primeira Dinastia. Muito pouca evidência sobreviveu deste período.
Após o governo central do Egito ter malogrado, ao final do Reino Antigo, a administração não pode mais estabilizar a economia do país. Os governadores regionais não podiam confiar na ajuda do rei em tempo de crise e a falta de comida e disputas políticas que se seguiram, transformaram-se em inanição e guerras civis de pequena escala. Contudo, a despeito dos problemas, os líderes locais, sem dever tributo ao faraó, usaram sua recente independência para estabelecer uma florescente cultura nas províncias. Com o controle de seus próprios recursos, as províncias tornaram-se mais ricas, demonstrado pelos maiores e melhores funerais entre todas as classes sociais. Em ímpetos de criatividade, os artesãos provinciais adotaram e adaptaram motivos culturais anteriormente restritos à realeza do Reino Antigo; escribas desenvolveram estilos literários que expressavam o otimismo e originalidade do período.
A Sétima e Oitava dinastias são muitas vezes negligenciadas porque pouco se sabe dos governantes desses dois períodos. A Sétima pode ter sido uma oligarquia de poderosos oficiais da Sexta, baseados em Memphis, que tentaram reter o controle do país. Os governantes da Oitava Dinastia reivindicavam uma descendência dos reis da Sexta e também governaram de Memphis. Uns poucos artefatos foram encontrados, que incluem escaravelhos (camafeus com suas imagens) atribuídos ao rei Neferkare II, da Sétima Dinastia, bem como um grande cilindro de jaspe verde, creditada à Oitava Dinastia; além disso, em Saqqara foi encontrada uma pequena pirâmide que se crê tenha sido construída pelo rei Ibi, da Oitava Dinastia.
Livres de suas lealdades ao faraó, os governantes locais começaram a competir entre si por controle territorial e poder político. Após o obscuro reinado dessas duas dinastias, por volta de 2160 AC, um grupo de mandatários surgiu de Heracleópolis (nome grego da capital da vigésima nomo), no Baixo Egito, que subjugou os fracos governantes de Memphis, criando a Nona Dinastia e reinando por aproximadamente 100 anos, compreendendo a Nona e Décima Dinastias, cada uma com 19 governantes listados. O fundador da Nona Dinastia, Wahkare Khety I (também conhecido por Akhthoes ou Akhtoy), é muitas vezes descrito como um governante mau e violento que causou muito dano aos habitantes do Egito. Khety I foi sucedido por Khety II, também conhecido por Meryibre, que teve um reinado pacífico, mas teve problemas no Delta. Seu sucessor Khety III conseguiu trazer a paz ao Delta, embora seu poder e influência fosse ainda insignificante quando comparados aos reis do Reino Antigo.
Uma distinta linha de nomarcas surgiu em Siut (ou Asyut), uma poderosa e rica província ao sul do reino Heracleopolitano, cujos príncipes guerreiros mantiveram um bom relacionamento com aqueles reis. Tal província atuaria como um estado abafador entre os governantes do norte e do sul, com os príncipes de Siut sofrendo o ímpeto dos ataques dos reis de Tebas (não confundir com a Tebas grega).
Sugere-se que uma invasão do Alto Egito ocorreu simultaneamente à fundação do reino de Heracleópolis, por descendentes de Intef (ou Inyotef), nomarca de Tebas, responsável pela linha tebana de reis, que constituiu a Décima Primeira e Décima Segunda Dinastias e que acabou tomando o controle do Alto Egito. Os Intef’s cresceram em poder e expandiram seu domínio para o norte, tornando inevitável um choque entre as duas dinastias rivais. Intef II começou o assalto ao norte, particularmente em Abydos. Intef III completou esse ataque ao norte e acabou capturando Abydos, pentrando o Médio Egito contra os reis heracleopolitanos. Os primeiros três reis da Décima Primeira Dinastia foram, portanto, os três últimos reis do Primeiro Período Intermediário e seriam sucedidos por uma linha de reis chamados Mentuhotep. Mentuhotep II, também conhecido por Nebhepetra, e entronado em 2055 AC, acabaria derrotando os reis heracleopolitanos cerca de 2033 AC, unificando o país para prosseguir a Décima Primeira Dinastia e trazendo o Egito a um período de renascimento cultural e econômico conhecido como Reino Médio.



[1] O Sahel é a zona de transição eco climática e biogeográfica na África, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul. Com um clima semiárido, ela se estende através da extensão mais ao sul da África do Norte, entre o Oceano Atlântico e o Mar Vermelho.
[2] Nos hieróglifos egípcios, um serekh é um cercado retangular representando a fachada, com portão, de um palácio, em geral coroado pelo falcão Horus (deus), indicando que o texto anexo era um nome real.
[3] Levante é um termo geográfico impreciso que se refere, historicamente, a uma grande área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada, a oeste, pelo Mediterrâneo, e a leste, pelo deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia. Hoje, a região incluiria Síria, Jordânia, Israel, Palestina, Líbano e Chipre.
[4] Um mastaba era um tipo de túmulo egípcio antigo em forma de uma estrutura retangular com telhado plano e paredes externas inclinadas, construídos de tijolos de barro ou pedras. Mastabas marcaram os locais de enterros de muito egípcios eminentes durante o Antigo Período Dinástico e o Reino Antigo, quando os reis começaram a ser enterrados em pirâmides.
[5] O vizir era o funcionário mais alto, do Egito antigo, a serviço do rei ou faraó durante os reinos Antigo, Médio e Novo. Os vizires eram, muitas vezes, indicados pelo faraó, por sua lealdade ou talento, mas eram muitas vezes seus parentes.
[6] Nomarcas eram governadores semi-feudais das províncias (nomes) do antigo Egito. Mantinham autoridade sobre cada uma das 42 províncias (em grego, nomo) em que o país era dividido.

Continuação na próxima postagem: PARTE 03

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