Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 27 de julho de 2015

HISTÓRIA DO POVO HEBREU APÓS A CONQUISTA DE JUDÁ PELA BABILÔNIA (PARTE 2)

Matatias, o Hasmoneano,
iniciador da revolta dos Macabeus
As tentativas de Antíoco IV de proscrever a religião judia, conduziram a um conflito entre um grupo judeu rebelde, conhecido como Macabeus, e o Império Selêucida, que durou de 167 a 160 AC e que ficou conhecido como a “Revolta dos Macabeus”. Segundo “Macabeus I, Antigo Testamento”, um sacerdote judeu, chamado Matatias, o Hasmoneano, inflamou a revolta pela recusa em adorar deuses gregos, matando um judeu helenístico que avançou para sacrificar a um ídolo, em seu lugar, e fugindo, em seguida, para o deserto de Judá, com seus cinco filhos. Após a morte de Matatias, um ano depois, em 166 AC, seu filho Judas Macabeu conduziu um exército de judeus dissidentes à vitória sobre a dinastia Selêucida, em ações de guerrilha, inicialmente contra judeus helenizados. Os Macabeus destruíram altares pagãos, circuncisaram meninos e obrigaram os judeus a se oporem à lei. O termo “Macabeus”, usado para descrever o exército judeu, foi tomado da palavra hebraica para “martelo”.
Após as vitórias iniciais, os Macabeus entraram triunfalmente em Jerusalém, limparam o Templo, restabeleceram a tradicional adoração judia e instalaram Jônatas Macabeu, irmão de Judas Macabeu, como alto sacerdote. A nova consagração do Templo, quando retomado pelos Macabeus de Judá, após sua vitória, é a base da celebração do Hanuka no Judaísmo. Após cinco anos de guerra, em 161 AC, Judas buscou uma aliança com a República Romana, para remover os gregos. 
Jônatas Macabeu, irmão de Judas,
continuador da revolta dos Macabeus
Um grande exército selêucida foi enviado para esmagar a revolta, mas retornou à Síria com a morte de Antíoco IV. Seu comandante Lysias, preocupado com problemas internos, concordou com um compromisso político que restaurava a liberdade religiosa. Antíoco IV foi substituído por Demetrius I Soter, o sobrinho cujo trono ele havia usurpado. Demetrius enviou para Israel o general Bachides, com um poderoso exército, a fim de instalar Alcimus no posto de Alto Sacerdote. Bachides subjugou Jerusalém, matou Judas Macabeu e estabeleceu os helenos como governantes de Israel. Com isso, os patriotas perseguidos, sob a liderança de Jônatas Macabeu, fugiram, estabelecendo acampamento a leste do rio Jordão e permanecendo em guerrilha contra os selêucidas.
Após a morte de seu governador fantoche, Alcimus, alto sacerdote de Jerusalém, Bachides sentiu-se seguro para deixar o país. Mas as guerrilhas de Jônatas o chamaram de volta e depois de sitiado vários dias por Bachides, ele ofereceu um tratado de paz e troca de prisioneiros de guerra. Bachides rapidamente assentiu e afirmou nunca mais fazer guerra contra Jônatas, abandonando Israel com suas forças. Jônatas fixou residência na velha cidade de Michmash e de lá empenhou-se em limpar Jerusalém. 
Attalus II Philadelphus, rei
de Pergamo, relevo em pedra 
As relações de Demetrius I Soter com Attalus II Philadelphus, do Pergamo (1), (que reinou entre 159 e 138 AC neste reino importante do período helenístico), Ptolomeu VI do Egito (reinou entre 163 e 145 AC) e sua irmã e rainha conjunta Cleópatra II, estavam se deteriorando e eles apoiaram um reclamante rival ao trono selêucida, Alexandre Balas, que pretendia ser filho de Antíoco IV Epifânio e primo de Demetrius. Este foi obrigado a chamar de volta as guarnições da Judeia, exceto as das cidades do Acra e Beth-zur, para reforçar seu poderio. Além disso, ele fez uma proposta pela lealdade de Jônatas, permitindo-lhe recrutar um exército e recuperar os reféns mantidos na cidade de Acre. Jônatas aceitou tais termos, estabeleceu residência em Jerusalém e iniciou a fortificação da cidade. Alexander Balas ofereceu a Jônatas termos ainda mais favoráveis, que incluíam o posto de Alto Sacerdote em Jerusalém; apesar de uma segunda carta de Demetrius que fazia promessas quase impossíveis de honrar, Jônatas declarou seu apoio a Balas, tornando-se líder oficial do seu povo e já oficiando a Festa dos Tabernáculos de 153 AC com as vestes do Alto Sacerdote. Com isso, o partido helenístico já não poderia ataca-lo sem severas consequências.
Em 150 AC, Demetrius perdia seu trono e sua vida. Ao vitorioso Alexander Balas foi dada a honra adicional de casar com Cleopatra Thea, filha de seus aliados Ptolomeu VI e Cleopatra II. Convidado para a cerimônia, Jônatas compareceu com presentes para os reis e sentou-se entre eles como seu igual. Foi declarado por Balas uma espécie de governador militar e governador civil da Província, e enviado de volta  para Jerusalém, com honras.
Em 147 AC, Demetrius II Nicator, filho de Demetrius I Soter, reivindicou o trono de Balas. O governador de Coele Syria (termo helenístico para uma região da Síria), Apolônio Taos, aproveitou para desafiar Jônatas para uma batalha. Jônatas e Simeão conduziram uma força de 10.000 homens contra o exército de Apolônio, em Jafa, que não estava preparado para o rápido ataque e abriu os portões para render-se aos judeus, mas recebendo reforços de Azotus, apareceu na planície com 3.000 homens, incluindo forças de cavalaria superiores. Jônatas atacou, capturou e queimou Azotus, com o templo residente de Dagon, e as vilas da vizinhança.
Alexander Balas honrou o Alto Sacerdote vitorioso, dando-lhe a cidade de Ekron com seu território circunjacente. O povo de Azotus queixou-se ao rei Ptolomeu VI, que tinha vindo para lutar com seu genro, mas Jônatas encontrou-o em Jaffa, em paz, e acompanhou-o até o rio Eleuterus, retornando a Jerusalém e mantendo a paz com o rei do Egito, a despeito do seu apoio a diferentes rivais ao trono Selêucida.
Em 145 AC, a Batalha de Antióquia (capital do Império Selêucida, fundada por Seleucos I Nicator em finais do século IV AC) resultou na derrota final de Alexander Balas pelas forças de seu sogro Ptolomeu VI, que foi uma das baixas da batalha. Demetrius II Nicator ficou como único mandatário do Império Selêucida, tornando-se o segundo marido de Cleópatra.
Jônatas não se submeteu ao novo rei e aproveitou a oportunidade para sitiar a fortaleza selêucida de Acra, em Jerusalém, símbolo do controle selêucida sobre a Judeia. Ela era fortemente guarnecida por uma força selêucida e oferecia asilo a judeus helenistas. Jônatas foi chamado a conversar com Demetrius e foi acompanhado dos anciãos e sacerdotes com muitos presentes. Por 300 talentos (medida de peso em metal precioso) Jônatas consegui a isenção do pagamento de impostos, por escrito, para todo o país. Em troca, Jônatas levantou o cerco de Acra, deixando-a em mãos selêucidas.
Logo em seguida, um novo reclamante ao trono selêucida surgiu na figura de Antíoco VI Dionysus, filho de Alexandre Balas e Cleopatra Thea. Tinha apenas três anos de idade mas o general Diodotus Tryphon o usou para avançar nos seus projetos ao trono. Demetrius então chamou Jônatas, como seu aliado, prometendo a retirada da guarnição de Acra. Jônatas deu-lhe a proteção de 3.000 homens em sua capital, Antióquia, contra seus próprios súditos.
Demetrius não cumpriu sua promessa para com Jônatas que resolveu então apoiar o novo rei quando Diodotus Tryphon e Antíoco VI capturaram a cidade, especialmente quando o último confirmou seus direitos e indicou seu irmão Simão como strategos (líder militar) da Paralia (província costeira da Palestina à época), desde a “Escada do Tiro” (penhasco ao sul do Tiro) até a fronteira com o Egito.
Jônatas e Simão tinham agora poder para realizar conquistas e foi o que fizeram: Ashkelon (sul de Israel), Gaza (mais ao sul),a planície de Hazar (ao norte de Israel) e a fortaleza de Beth-Zur (próximo de Jerusalém). Como Judá nos primeiros anos, Jônatas buscou alianças com outros povos. Renovou seus tratados com os romanos e trocou mensagens amistosas com Partia e outras potências.
Diodotus Tryphon foi com um exército à Judeia e convidou Jônatas a Scythopolis (nome grego da cidade de Beit She’an, às margens do Jordão, a jusante do Mar da Galileia) para uma conferência amistosa onde ele o persuadiu a dispensar seu exército de 40.000 homens, prometendo-lhe Acra e outras fortalezas. Jônatas caiu na armadilha, levou com ele 1.000 homens a Acra, onde foram todos mortos e ele aprisionado.
Quando Diodotus Tryphon entrava em Judeia, foi confrontado pelo novo líder judeu, Simão, pronto para a batalha. Pretendendo evitar a batalha, Tryphon exigiu 100 talentos e os dois filhos de Jônatas como reféns, para libertar Jônatas. Para não ser acusado da morte de seu irmão, Simão concordou com as exigências. Tryphon executou Jônatas para que ele não fosse empecilho às suas conquistas e nada se sabe sobre seus dois filhos. Jônatas foi enterrado por Simão em Modin (a moderna Modin a 30 km a oeste de Jerusalém). Uma de suas filhas foi uma ancestral de Flavius Josephus.
Simão assumiu a liderança em 142 AC, recebendo os cargos de Alto Sacerdote e Príncipe de Israel. A liderança dos Hasmoneanos foi estabelecida por uma resolução adotada em 131 AC, numa grande assembleia dos sacerdotes, anciãos e povo da terra, para que Simão fosse o seu líder e Alto Sacerdote para sempre, até que surgisse um “profeta confiável”. Ironicamente, a eleição foi realizada no estilo helenístico. 
Simão Macabeu, fundador da
Dinastia Hasmoneana
Simão fez o povo judeu semi-independente dos gregos selêucidas e reinou de 142 a 135 AC, inaugurando a Dinastia Hasmoniana, com a concordância do Senado Romano, em 139 AC. Simão foi assassinado (junto com seus filhos mais velhos, Matatias e Judá) pela instigação de seu genro Ptolomeu, filho de Abubus (ou Abobus ou Abobi), que havia sido nomeado governador da região pelos selêucidas.

IV – A DINASTIA HASMONEANA

A Dinastia Hasmoneana foi a dinastia governante de Judá e regiões vizinhas, de 140 a 116 AC, reinando quase autonomamente dos selêucidas. A dinastia foi estabelecida sob a liderança de Simão Macabeu, duas décadas depois que seu irmão Judas Macabeu derrotou o exército selêucida durante a Revolta dos Macabeus. Essa revolta iniciou um período de 25 anos de independência judia, potencializado pelo permanente colapso do Império Selêucida sob ataques das potências nascentes da República Romana e do Império Parta. Contudo, o mesmo vácuo de poder que permitiu ao Estado Judeu ser reconhecido pelo Senado Romano em 139 AC, propiciou a sua exploração pelos próprios romanos.
Em 135 AC, João Hircano, o terceiro filho de Simão, assumiu a liderança e governou como Alto Sacerdote, tomando um nome de governante grego (de Hyrcania) em aceitação à cultura helenística de seus suseranos selêucidas. No primeiro ano da morte de Simão, o rei selêucida Antíoco VII Sidetes atacou Jerusalém e, de acordo com Flavius Josephus, Hircano abriu o sepulcro do Rei David e removeu 3.000 talentos, que pagou como tributo para que poupassem a cidade. Ele permaneceu como governador, como um vassalo selêucida, como seu pai, reinando pelas duas décadas seguintes, como semiautônomo.
O Império Selêucida se desintegrava em face das guerras Selêucida – Parta e em 129 AC, Antíoco VII Sidetes foi morto por forças de Phraates II da Partia, permanentemente encerrando o mando selêucida a leste do Eufrates. Em 116 AC explodiu uma guerra civil entre os meio irmãos Antíoco VIII Grypus e Antíoco IX Cyzicenus, que resultou numa ruptura adicional do já significantemente reduzido reino, propiciando a revolta dos estados clientes selêucidas, como a Judeia.
Em 110 AC, com o desmoronamento do império selêucida, a dinastia tornou-se totalmente independente e João Hircano conseguiu suas primeiras conquistas militares, levantando um exército mercenário para capturar Madaba (na Jordânia, imediatamente a montante do Mar Morto) e Schechem (Siquém, margem ocidental do Jordão ao norte de Jerusalém, primeira capital do Reino de Israel), aumentando consideravelmente sua influência regional. Em seguida capturou a Transjordânia, Samaria, Galileia e Idumeia (a bíblica Edom) forçando o seu povo a converter-se ao judaísmo, como condição para permanecerem em seu país. Ele queria que sua mulher o sucedesse como chefe do governo e seu filho Aristobulus I permanecesse apenas como Alto Sacerdote. Entretanto, com sua morte, Aristobulus encarcerou sua mãe (deixando-a morrer) e três irmãos, tomando o poder como o primeiro hasmoneano com o título de basileus (termo grego com o mesmo significado de rei ou imperador), afirmando a independência do estado. Morreu apenas um ano depois, em 103 AC.
Seus irmãos foram libertados e um deles, Alexander Janeu, reinou de 103 a 76 AC, morrendo durante o cerco da fortaleza Ragaba. Em 87 AC, de acordo com Josephus, após uma guerra civil de seis anos, envolvendo o rei selêucida Demetrius III Eucaerus, Alexander crucificou 800 rebeldes judeus em Jerusalém.
Alexander foi sucedido por sua esposa Salomé Alexandra, que reinou de 76 a 67 AC, sendo a primeira rainha judia. Em seu reinado, seu filho Hircano II foi o Alto Sacerdote e nomeado seu sucessor. Ele reinava há apenas três anos quando seu irmão mais jovem, Aristobulus II iniciou uma revolução. Hircano II avançou contra ele com exército de mercenários e seus seguidores fariseus (logo falaremos deles), mas Aristobulus possuía um exército mais forte e na batalha que decidiria o reino, próximo de Jericó, a maior parte dos mercenários desertou de Hircano bandeando-se para seu irmão. Hircano refugiou-se na cidadela de Jerusalém, mas a captura do templo, por Aristobulus, obrigou-o a render-se. A paz foi acertada com a renúncia de Hircano ao reino e ao posto de alto sacerdote, mas mantendo as demais dignidades a que fazia jus como irmão do novo rei Aristobulus II, que reinou de 67 a 63 AC.
De 63 a 40 AC, o governo esteve nas mãos de Hircano II como alto sacerdote e etnarca (líder político), embora o poder estivesse nas mãos de seu conselheiro Antipater, o Idumeu, fundador da Dinastia Herodiana e pai de Herodes, o Grande. É importante lembrar que em 63 AC, com a conquista do reino pela República Romana (veremos abaixo, a “Palestina Romana”), dissolvido e estabelecido como Estado Cliente Romano, os governantes, daí para a frente, tornaram-se fantoches de uma guerra entre Júlio César e Pompeu, o Grande. As mortes de Pompeu (em 48 AC), César (em 44 AC) e as guerras civis romanas relacionadas, temporariamente relaxaram a pressão de Roma sobre Israel, permitindo a breve ressurgência de um hasmoneano apoiado pelo Império Parta. Esta curta independência foi rapidamente esmagada pelos romanos sob Marco Antônio e Otávio.

(1) Pergamo foi, inicialmente, uma antiga cidade grega, hoje localizada na moderna Turquia, entre o Mar Egeu (Mediterrâneo grego, a 26 km dele) e o Mar Negro. A partir da dinastia dos Attalus, a cidade expandiu-se para formar o Reino de Pergamo, tornando-se sua capital (281 a 133 AC), durante o período helenístico. Pergamo é citada no Livro das Revelações (Bíblia), como uma das sete igrejas da Ásia.

Na próxima postagem, conclusão da HISTÓRIA DO POVO HEBREU ..., com a terceira e última parte.

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