Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 7)


VIII – A GUERRA CIVIL RUSSA (Continuação)


Stalin, Lenin e Kalinin em 1919, Guerra Civil Russa

Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves problemas para recuperar sua produção agrícola e industrial; e os bolcheviques interpretaram corretamente a situação. Os camponeses resistentes em entregar sua produção ao governo, os trabalhadores e soldados desanimados diante das dificuldades, a população descontente com os problemas de produção e abastecimento, os operários se insurgindo contra o governo e outras rebeliões internas, deixaram claro que era impossível dar seguimento ao comunismo de guerra. Tornava-se necessário recuar nas ambições de implantação imediata do comunismo. Voltar atrás não era uma medida fácil de ser tomada e somente Lenin tinha condições morais e políticas para ordenar a retirada sem perder apoio dentro do partido, dar uma volta ao capitalismo de Estado, como solução para vencer o impasse econômico. E disse então a famosa frase: 'É preciso dar dois passos atrás para depois voltar a avançar'.


PERDAS DA GUERRA CIVIL RUSSA

Os resultados da Guerra Civil russa foram terríveis. O demógrafo soviético Boris Urlanis estimou o número total de mortos em ação na Guerra Civil e com a Polônia em cerca de 300.000 (125,000 no Exército Vermelho e 175.000 no Exército Branco e entre os poloneses) e o total de pessoal militar morto por doenças, de ambos os lados, em 450.000. Durante o “Terror Vermelho”, a Cheka (primeira de uma sucessão de organizações de segurança e braço militar do Estado Soviético, criada em dezembro de 1917 por um decreto de Lenin, foi o instrumento do Terror Vermelho) realizou pelo menos 250.000 execuções sumárias de “inimigos do povo”, com estimativas que alcançam mais de um milhão. Entre 300.000 e 500.000 cossacos foram mortos ou deportados durante a ‘limpeza” de uma população de três milhões. Uma estimativa diz que 100.00 judeus foram mortos na Ucrânia, a maior parte pelo Exército Branco. Órgãos punitivos do todo poderoso Don Cossack Host (uma república autônoma ou independente ao sul da atual Rússia e a região de Donbas, na Ucrânia, do final do século XVI até 1918), sentenciou 25.000 pessoas a morte, entre maio de 1918 e janeiro de 1919. O governo de Kolchak (estabeleceu um governo comunista na Sibéria e foi reconhecido por algum tempo como o chefe supremo e comandante em chefe das forças militares russas; mais tarde foi preso e executado pelos bolcheviques) executou 25.000 pessoas apenas na província de Ekaterinburg. Ao final da Guerra Civil, a República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR) estava exausta e próxima da ruína. As secas de 1920 e 1921, bem como a fome de 1921, pioraram o desastre, com as doenças alcançando proporções pandêmicas, com 3 milhões morrendo somente de tifo em 1920. Outros milhões morreram de fome generalizada. Em 1922 haviam pelo menos sete milhões de crianças de rua na Rússia como resultado de aproximadamente dez anos de devastação da Grande Guerra e da Guerra Civil. Outros dois milhões de “russos emigrados” fugiram da Rússia pelo extremo oriente e pelos países recém independentes do Mar Báltico, incluindo uma alta percentagem da população mais culta e especializada da Rússia. A economia russa ficara devastada pela guerra, com fábricas e pontes destruídas, gado e matéria prima saqueados, minas inundadas e o maquinário destruído. O valor da produção industrial caiu a 1/7 do valor de 1913 e a agricultura a 1/3. De acordo com o jornal Pravda, “os trabalhadores das cidades e alguns das vilas sufocavam nos espasmos da fome”. As estradas de ferro rastejavam, as casas ruíam, as cidades se enchiam de resíduos, as epidemias se espalhavam causando muitas mortes e a indústria se extinguia. Estima-se que a produção total de minas e fábricas em 1921 havia caído a 20% dos níveis de antes da guerra e muitos itens cruciais experimentaram declínio ainda mais drástico. Por exemplo, a produção de algodão caiu a 5% e o ferro a 2% dos níveis pré-guerra. O Comunismo de Guerra salvou o governo soviético durante a sua Guerra Civil, mas muito da economia da Rússia havia chegado a uma paralisação. Os camponeses respondiam ao confisco (política e campanha bolchevique de confisco de grãos e outros produtos agrícolas dos camponeses por um preço fixo nominal de acordo com cotas especificados) pela recusa em arar a terra. Em 1921 a terra cultivada encolheu a 62% da área pré-guerra; o rebanho de cavalos caiu de 35 milhões em 1916 para 24 milhões em 1920 e o gado de 58 para 37 milhões. A taxa de câmbio passou de dois rublos por dólar em 1914 para 1200 rublos em 1920. As perdas humanas totais foram avaliadas entre 7 milhões e 12 milhões durante a Guerra, em sua maioria civis. A Guerra Civil Russa foi a maior catástrofe nacional que a Europa jamais vira.
Cadáveres das vítimas da fome russa em 1921,
em Buzuluk, a poucos quilômetros de Saratov

 Visando, portanto, promover a reconstrução do país, Lenin introduziu muitas regras contraditórias à sua própria filosofia, pois enquanto apoiava o “tudo pertence ao Estado”, criou políticas que apoiavam a iniciativa privada de modo a poder reconstruir o país devastado por sucessivas revoluções. Em fevereiro de 1921, criou a Comissão Estatal de Planificação Econômica ou GOSPLAN, encarregada da coordenação geral da economia do país. Em seguida, em março de 1921, adaptou um conjunto de medidas conhecidas como “Nova Política Econômica” ou NEP, que restabelecia as práticas capitalistas vigentes antes da Revolução. Entre as medidas contidas na NEP destacavam-se: liberdade de comércio interno, liberdade de salário aos trabalhadores, autorização para o funcionamento de empresas particulares e permissão de entrada de capital estrangeiro para a reconstrução do país. O estímulo pelo ganho pessoal foi reintroduzido e o igualitarismo teve que ceder passo à hierarquia e aos privilégios materiais. O Estado russo continuou, no entanto, exercendo controle sobre setores considerados vitais para a economia, como o comércio exterior, o sistema bancário e as grandes indústrias de base. Num certo sentido, o país passou a ter uma constituição produtiva anacrônica onde medidas socialistas (estatização das empresas, minas, transportes e bancos) conviviam com medidas capitalistas (o médio produtor rural, o capitalismo urbano) e com a economia tradicional (economia de subsistência empregada pelos camponeses pobres). Entretanto, foi essa política que permitiu a sobrevivência do Regime, dando-lhe a folga necessária para a reordenação de forças. O próprio Lenin teve dificuldade em definir o estado de coisas que, ironicamente, classificava como uma "mistura de czarismo com práticas capitalistas, besuntadas por um verniz soviético". Os resultados práticos não demoraram a surtir efeito. Lentamente a produção agrícola foi sendo restabelecida; o sistema viário voltou a funcionar com maior regularidade e as pequena indústrias começaram a lançar seus produtos no mercado. 
Mais vítimas da fome de 1921 e 1922 na RSFSR

Em dezembro de 1922, foi organizado um congresso geral de todos os sovietes, com a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS)[1]. O governo da União, cujo órgão máximo era o Soviete Supremo (Legislativo), passou a ser integrado por representantes das diversas repúblicas. Competia ao Soviete Supremo, eleger um comitê executivo (Presidium), dirigido por um presidente com a função de chefe de estado. Competiam ao governo da União as grandes tarefas relativas ao comércio exterior, política internacional, planificação da economia, defesa nacional, entre outras. Paralelamente a essa estrutura formal, funcionava o Partido Comunista, que controlava, efetivamente, o poder da URSS. Sua função era controlar os órgãos estatais, estimulando sua atividade e verificando sua lealdade, e manter os dirigentes em contato permanente com as massas. Também assegurava à população a difusão das ideologias vindas da alta cúpula. 
Iosif Vissarionovich Dzugashvili, o
" Homem de Ferro", terror da Era Stalin

A tragédia do bolchevismo dos anos vinte se deu na medida em que, devido ao peso das circunstâncias, tiveram que transformar-se num partido que representava a si mesmo. Suas bases sociais - o proletariado urbano -, além de escassas numericamente, foram literalmente dizimadas pela guerra civil e pela desorganização da economia ocorrida neste período. Depois de longos anos de guerra e de guerra civil, a extrema tensão a que foram submetidas as massas, tornou-as apáticas. Este comportamento favoreceu a implantação da ditadura partidária, mas os custos políticos foram terríveis - não só para o socialismo russo, como para a causa do socialismo internacional.
O isolamento em que o país se encontrava aprofundou-se ainda mais. A tão esperada revolução que deveria ocorrer num país desenvolvido, não aconteceu. Depois do fracasso dos espartaquistas (na Alemanha) em 1919 e dos comunistas em 1923, a Alemanha deixou de figurar como uma possível aliada. Estes fatores terminaram por fazer com que os bolcheviques fossem obrigados a alterar sua estratégia interna. A União Soviética de agora em diante deveria contar com seus próprios recursos. Evidentemente que aceitar esta nova situação era uma heresia. O socialismo era um movimento internacional, que não podia ser limitado por fronteiras, embora os fatos fossem uma poderosa evidência para qualquer teoria internacionalista. A União Soviética teria que lançar-se na "construção do Socialismo" enfrentando todos os fatores adversos: a falta de quadros técnicos e culturais, o imenso analfabetismo do campesinato, a baixa produtividade e a pouca qualificação de seu operariado. Lenin, contudo, não viveria para ver este dia, pois sua saúde deteriorou-se rapidamente desde julho de 1922, sendo frequentemente incapacitado por derrames e, relutantemente, passando muitas de suas atividades para Stalin e Trotsky. O fundador do primeiro Estado socialista morreu em 21 de janeiro de 1924, com a idade de 53 anos. A Guerra Civil russa terminara em 1923 e a Era Lenin em 1924, contudo, a pior parte da Revolução Russa ainda estava por vir, durante os anos de terror da Era Stalin.

JOSEF STALIN

Iosif Vissarionovich Dzugashvili (18/12/1879 – 05/03/1953) nasceu filho único na vila de Gori, próximo de Tiflis, capital da Georgia, do Império Russo, de uma pia lavadeira analfabeta e ex-escrava (Ekaterina Gheladze) e de um sapateiro bêbado, ex-servo, de quem sofria (como sua mãe) impiedosas surras e que os abandonou bem cedo, causando seu crescimento em extrema pobreza. A varíola dos seus sete anos deixou-lhe a face marcada e o braço esquerdo levemente deformado, o que lhe causava intimidação por parte das outras crianças, provocando-lhe uma necessidade constante de provar-se a si mesmo. Ainda jovem tornou-se um rebelde, sonhando em liderar uma revolução para libertar a Georgia do Império Russo.
Pobre como era, foi enviado por sua mãe para o seminário ortodoxo em Tiflis, para se tornar padre. A escola era um instrumento da russificação czarista, causando aos alunos georgianos, uma permanente resistência na defesa da nacionalidade e no aumento do sentimento anti-russo que contaminou Stalin e o fez ingressar nas fileiras dos primeiros grupos da social democracia russa, fundada por Lenin e outros intelectuais em 1898. Foi expulso da escola e logo a Okrana, polícia secreta do Czar, colocou-lhe as mãos em cima, submetendo-o às agruras da prisão e deportação, por subversão ao regime. Em 1901 tornou-se membro do Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). No mesmo ano, depois de uma manifestação organizada por ele e reprimida violentamente pelas autoridades tentou, sem sucesso, eleger-se líder do já combalido POSDR de Tiflis. Neste mesmo ano, foi expulso do partido de forma unânime pelos mencheviques, acusado de caluniador e agente provocador.
Sua vida até a Revolução de 1917 foi uma sucessão de prisões, fugas, curtas viagens ao exterior e novos desterros, durante as quais foi descoberto por Lenin, também vivendo no exterior. Em 1906, Stalin casa com sua primeira esposa Ketevan Svanidze, oriunda de família pobre da baixa nobreza, que lhe dá o filho Yakov no ano seguinte. Na facção bolchevique do POSDR, Stalin organizava greves e assaltos a bancos (em 1907 rouba 250.000 rublos de um banco em Tiflis.), de onde provinham os fundos para as atividades revolucionárias, embora fortemente condenado pela maioria dos socialistas. Após o assalto de Tiflis, Stalin e família fogem das forças czaristas para Baku, no Azerbaijão, onde sua esposa morre de tifo e ele fica arrasado com a perda. Entrega o filho para ser criado pelos pais da esposa e dedica-se ao trabalho revolucionário, adotando então o codinome Stalin (“homem de ferro”).
Seu primeiro encontro com Lenin ocorreu numa reunião do Partido na Finlândia, quando este ficou impressionado com seu “implacável operador subterrâneo”. Em 1912 foi indicado por Lenin para integrar o Comitê Central do Partido Bolchevique, considerada por Stalin uma decorrência lógica da sua fidelidade aos princípios leninistas, desde o fracionamento da socialdemocracia russa entre bolcheviques e mencheviques ocorrida em 1903.
A Revolução de 1917 encontrou Stalin preso na Sibéria, por agitação contra a Primeira Grande Guerra. Com o Czar deposto por essa revolução, ele retornou a Petrogrado, seu berço, assumindo, temporariamente a chefia do partido enquanto Lenin não retornava do seu exílio. Saudado como herói quando ajudou Lenin a escapar para a Finlândia, desta vez, é indicado para o círculo mais interno do Partido Bolchevique. Com a queda do Tzar e o início da Guerra Civil, Stalin, como outros da linha dura do Partido, ordena a execução pública de desertores e renegados. Tornou-se editor do Pravda, mas embora Lenin claramente respeitasse suas habilidades, não teve um papel importante no período de março a novembro de 1917, a não ser por um curto período em julho e agosto, quando Lenin ainda encontrava-se na Finlândia e os outros líderes estavam na prisão. Um diarista da revolução, Nikolai Sukhanov (de nome real Gimmer), então um menchevique e membro do Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado em 1917, referia-se a Stalin como a “mancha cinza”. Quando Lenin retorna e toma o poder, indica Stalin para o posto de Secretário Geral do Partido Comunista, onde ganha novas habilidades como mediador dos funcionários de todo o Partido. A Guerra Civil, entre 1918 e 1921, deu a Stalin sua primeira chance de comando, fonte de conflitos entre ele e Trotsky, o chefe supremo das forças armadas da Revolução.
Em sua luta pelo poder Stalin tinha várias desvantagens. Não era um orador, falava devagar e com forte acento da Georgia, não era um intelectual como os maiores líderes bolcheviques e escreveu pouco. Seus colegas o viam, inicialmente, como um irrelevante e obtuso camarada, bom administrador que poderia encarregar-se da papelada. E esse foi o grande engano da parte deles. Stalin logo entendeu que poderia usar a burocracia do Partido como a ferramenta para ganhar o poder. Em 1922 ele mantinha as seguintes posições: (1) membro do Politburo (principal órgão executivo do Partido, criado em janeiro de 1919 e mais tarde rebatizado de Presidium); (2) Membro do Comitê Central, onde a política era debatida e as decisões tomadas; (3) Membro do Bureau de Organização, que supervisionava as organizações do Partido; (4) Chefe do Secretariado do Partido, que estabelecia a agenda para o Comitê Central e os encontros do Politburo; (5) Comissário do Inspetorado dos Operários e Camponeses, que controlava o aparelhamento administrativo e, ironicamente, protegia contra a burocratização; (6) Comissário das Nacionalidades; e (7) Secretário Geral do Partido, por recomendação de Lenin, após ter sofrido o seu primeiro derrame em maio de 1922.
Com a morte de Lenin, em janeiro de 1924, o vazio deixado por seu líder logo seria preenchido por Stalin e sua gente. Já durante as pompas fúnebres de Lenin, o Secretário Geral do Partido, encarregado de prestar as últimas homenagens, apresenta-se ao público como herdeiro direto do líder morto. Muitos no Partido esperavam que o líder do Exército Vermelho, Leon Trotsky, fosse o sucessor natural de Lenin, mas suas ideias eram idealistas demais para a maioria do Partido Comunista. Stalin, contudo, desenvolve sua própria marca de marxismo – “Socialismo em um País” -, concentrado no vigor da União Soviética em vez de na revolução mundial. De 1924 a 1929, várias coligações foram estabelecidas entre Stalin e seus companheiros do Comitê Central. Numa primeira ele aliou-se a Zinoviev e Kamenev para neutralizar a ameaça de Trotsky que foi banido para uma região central da Rússia e depois expulso do país. No momento seguinte ele encontrou em Bukharin um aliado contra seus ex-colaboradores e, finalmente, reduziu-o também ao silêncio. As ideias de Stalin tornaram-se populares no Partido e, em 1929, ele torna-se ditador da União Soviética. Nesse ano Stalin fomenta seus Planos Quinquenais para transformar a União Soviética num país industrializado. Para modernizar a agricultura, Stalin determina a “coletivização”: aglutinação e estatização das propriedades. Cerca de 5 milhões morrem de fome, mas Stalin, na crença de que “o fim justifica os meios”, prende e mata milhões de pequenos proprietários. Durante os anos de terror, Stalin promove a sua imagem de líder benevolente e herói da União Soviética ao mesmo tempo em que cresce sua paranoia e os expurgos do Partido e do Exército de todos a que a ele se opõem. 93 dos 139 membros do Comitê Central são assassinados, assim como 81 dos 103 generais e almirantes. A sua polícia secreta impõe o stalinismo e as pessoas são encorajadas à denúncia recíproca. Três milhões de pessoas são acusadas de se oporem ao comunismo e enviadas aos “gulags” (campos de trabalhos forçados da Sibéria). Em 1932, sua segunda esposa Nadezhda Alliluyeva, com quem se casara em 1919 e que lhe dera os filhos Svetlana e Vassily, se suicida pelos maus tratos que recebia de Stalin e sua morte é oficialmente relatada como causada por apendicite. Seu filho da primeira esposa, Yakov, um soldado do Exército Vermelho, é capturado ao início da Segunda Guerra Mundial; os alemães propõem uma troca de prisioneiros para soltá-lo e Stalin recusa por acreditar que seu filho se rendera voluntariamente; Yakov morre num campo de concentração nazista em 1943. Sua filha Svetlana, criada em circunstâncias privilegiadas na União Soviética, por odiar o sistema que seu pai criara, foge para o ocidente, em 1967. Em 1939, Segunda Guerra Mundial, Stalin assina com Hitler um pacto de não agressão. Quando os exércitos de Hitler derrotam a França e a Inglaterra recua, Stalin ignora os avisos de seus generais e não se prepara para o ataque nazista de 1941, que surge da Polônia. Com o futuro da União Soviética pendurado na balança, Stalin sacrifica milhões de russos para vencer a Alemanha. Só em Stalingrado (hoje Volgogrado), ponto de virada da guerra, as forças soviéticas perderam um milhão de homens, mas conseguiram derrotar os nazistas em 1943. É visto como um dos personagens mais importantes da vitória dos aliados contra as forças do Eixo, ao ocupar grandes faixas da Europa Oriental, incluindo Berlim Oriental. Em 1946 até mesmo Berlim Ocidental, ocupada pelos aliados, é bloqueada pelas forças de Stalin. Em seus últimos anos de vida, Stalin torna-se crescentemente desconfiado de tudo e de todos, prosseguindo os expurgos contra os seus inimigos dentro do Partido. Stalin morre de um derrame em 5 de março de 1953 com muitos russos pranteando a perda do grande líder que transformou o país. Mas os milhões de encarcerados saúdam a morte de um dos maiores homicidas e ditadores da História, conforme denunciado por seu sucessor, Nikita Khrushchev, ao iniciar a “desestalinização” da URSS.
Duas frases de Stalin que bem definem o seu caráter:
1 - “A morte de um homem é uma tragédia. A morte de milhões é apenas uma estatística”.
O historiador Anton Antonov- Ovseyenko alega que esta teria sido a resposta de Stalin a Churchill quando este objetou à abertura precipitada de uma nova frente na Europa, em 1943, durante uma conferência em Teerã, com a seguinte versão: “Quando um homem morre é uma tragédia. Quando milhares morrem é uma estatística”.
2 – “Ideias são mais poderosas que armas. Não permitiríamos que nossos inimigos tivessem armas, por que permitiríamos que tivessem ideias?”



[1] A União Soviética (URSS), portanto, sucedeu à Rússia czarista e existiu entre 1922 e 1991, como uma união de 15 repúblicas soviéticas subnacionais, com a capital em Moscou. A República Socialista Russa era a maior e mais populosa das que compunham a URSS, dominando-a durante toda a sua existência de 69 anos. Em 25 de dezembro de 1991, como resultado da dissolução da URSS, a Federação Russa, seu estado sucessor, assumiu os direitos e obrigações da antiga União Soviética e tornou-se reconhecida como a continuação de sua personalidade jurídica. A União Soviética também era conhecida como СССР, um acrônimo para União das Repúblicas Socialistas Soviéticas de acordo com seu nome em russo. Escrita originalmente no alfabeto cirílico (russo), o mundo ocidental “latinizou” as letras, acabando por adotá-la como CCCP. A sigla ficou bastante conhecida no mundo ocidental, devido ao uso do acrônimo em uniformes em competições esportivas e outros objetos, em eventos culturais e tecnológicos ocorridos na URSS, pelo destaque da União Soviética em tais eventos. Durante a gestão de Vladimir Putin, o antigo nome foi retomado, mas desta vez descrito como o original “Rossiya”, restaurando o hino soviético, a águia bicéfala da Rússia czarista e reutilizando a foice e o martelo como símbolo do exército russo.

Na próxima postagem, prossegue com a PARTE 08

sábado, 21 de novembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 4)

VII.1 – A REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO OU REVOLUÇÃO BRANCA

A Revolução Russa de Fevereiro foi um enorme movimento de massas que, espontaneamente, rebelaram-se contra o czarismo. As pesadas perdas sofridas pelo exército, com as dificuldades de abastecimento, somadas à alta do custo de vida e à ineficiência e corrupção administrativas, levaram o povo russo a uma situação de verdadeiro desespero. Nenhum partido insuflou tais massas. Na verdade, a grande maioria dos revolucionários militantes foi surpreendida, já que a maioria deles estava presa na Sibéria (como Stalin) ou no exílio (Lenin na Suíça, Zurique e Trotski nos Estados Unidos). Como também foi espontânea a organização dos sovietes, em todas as fábricas, repartições, bairros e regimentos militares, que passaram a formar um poder paralelo.
Eclodiram manifestações em Petrogrado (novo nome de São Petersburgo, alterado em 1914, pela guerra contra a Alemanha), exigindo a saída da Rússia da guerra. As tropas da capital recusaram-se a reprimir os manifestantes e aderiram a eles. O czar Nicolau II, que se encontrava em seu quartel-general, foi impedido de entrar em Petrogrado. Em questão de dias, a insurreição alastrou-se por todas as grandes cidades do Império e o governo Czarista ficou totalmente debilitado.
No dia 27 de fevereiro, um mar de soldados e trabalhadores, com trapos vermelhos em suas roupas, invadiu o Palácio Tauride[1], onde a Duma se reunia. Durante a tarde, formaram-se dois comitês provisórios em salões diferentes do palácio. Um, formado por deputados moderados da Duma, que se tornaria o Governo Provisório; o outro era o Soviete de Petrogrado, formado por trabalhadores, soldados e militantes socialistas de várias correntes. Temendo uma repetição do Domingo Sangrento, o Grão-Duque Mikhail ordenou que as tropas leais, baseadas no Palácio de Inverno, não se opusessem à insurreição e se retirassem. Em 2 de Março, cercado por amotinados, Nicolau II assinou sua abdicação. Como o príncipe-herdeiro era hemofílico, Nicolau II preferiu abdicar em favor de seu irmão, mas este recusou o trono.
Após a derrubada do czar, instalou-se o Governo Provisório, constituído de aristocratas e burgueses, sob a chefia do príncipe Georgy Lvov[2], tendo Alexander Kerensky como ministro da guerra. Era um governo de caráter liberal burguês, comprometido com a manutenção da propriedade privada e interessado em manter a participação russa na Primeira Guerra Mundial. No início, o governo de Lvov pretendia consolidar uma monarquia constitucional, mas acabaram por implantar um governo republicano. A burguesia liberal e vários setores da aristocracia apoiaram o novo governo, que iniciou uma série de reformas. Entre elas, destacamos a adoção do sufrágio universal, a convocação de uma Assembleia Constituinte e anistia aos líderes revolucionários bolcheviques então exilados. Enquanto isso, o Soviete de Petrogrado reivindicava para si a legitimidade para governar. Já no início de março, o Soviete ordenava ao exército que lhe obedecesse, em vez de obedecer ao Governo Provisório. O Soviete pretendia dar terra aos camponeses, um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos de forma democrática, bem como o fim da guerra, objetivos bem mais populares do que os almejados pelo Governo Provisório. Dessa forma existiam, na verdade, dois poderes paralelos governando juntos.
Enquanto isso, a guerra contra a Alemanha continuava. A crise criada pela guerra e a variada composição do governo revolucionário não permitiram que os grandes problemas econômicos que afetavam a população russa fossem solucionados. De fevereiro a julho o governo encontrou-se dividido entre o poder formal (o Governo Provisório) e os Sovietes (de operários soldados e marinheiros) sem cuja aquiescência pouco podia ser feito, além de muita confusão entre as fileiras bolcheviques. Tentando ganhar o apoio das massas, o novo governo adotou uma postura liberal, decretando anistia política. Com isso, milhares de prisioneiros seriam libertados e centenas de exilados retornariam à Rússia. Entre eles, inúmeros revolucionários bolcheviques, liderados por Lenin. Imediatamente começaram a ser organizados sovietes de operários, soldados e camponeses, com vistas à realização da revolução socialista.

NICOLAU II

Nicolau II foi o último Czar da Rússia, da dinastia Romanov. Nasceu em 06 de maio de 1868 (calendário Juliano) em Pushkin, Rússia, como Nikolai Aleksandrovich Romanov, primeiro filho de seus pais. Seu pai era Alexandre III, Czar da Rússia e sua mãe, Maria Feodorovna, dinamarquesa.
Sofreu forte influência de seu pai que moldou seus valores religiosos conservadores e sua crença num governo autocrático. Muito forte em história e línguas estrangeiras, tinha muita dificuldade para entender as sutilezas da política e da economia, e seu pai falhou em seu treino nas relações do Estado. Quando Nicolau II tinha 13 anos, seu avô, Alexandre II, foi assassinado por um revolucionário, o que causou a ascensão de seu pai ao trono. Aos 19 anos entrou no exército e, apaixonado pela arte militar, ascendeu ao posto de coronel.
Subiu ao trono quando seu pai morreu de uma doença dos rins, com a idade de 49 anos, em 20 de outubro de 1894. Vacilante com a sua perda e pouco treinado nas relações de Estado, temeu ao assumir o papel de seu pai, confidenciando a um amigo próximo não estar preparado para ser um Czar. Casou-se com a princesa Alix de Hesse-Darmstadt (apenas conhecida como Alexandra), um mês após a morte do seu pai. Como soberano tinha que casar e ter filhos rapidamente para assegurar um herdeiro ao trono. Em 1895 o par teve a sua primeira filha Olga. Em 1897 nasceu a segunda filha do casal, Tatiana, seguida por uma terceira, Maria, em 1899 e por uma quarta, Anastasia, em 1901. Em 1904 Alexandra deu à luz o tão esperado herdeiro homem, Alexei, que para tristeza do casal logo foi diagnosticado como hemofílico. Desesperado por encontrar um tratamento efetivo para Alexei, excedeu-se ao se tornar uma espécie de refém emocional do monge Rasputin, em quem o casal depositava uma fé inabalável.
Inicialmente, o principal objetivo da política externa de Nicolau II foi manter o status quo na Europa e não conquistar novos territórios. Mas na década de 1890, com o crescimento econômico da Rússia, iniciou a expansão de sua indústria para o extremo oriente, com a construção da estrada de ferro Trans-Siberiana, ligando a Rússia à Costa do Pacífico. Com isso, o Japão sentiu-se ameaçado e, em 1904, declarou Guerra à Rússia, uma guerra catastrófica que acabou com a rendição da Rússia, na primavera de 1905.
Em janeiro de 1905 Nicolau II teve que enfrentar o “Domingo Sangrento”, e foi responsabilizado pela morte de mais de mil russos. Como reação, operários indignados realizaram greves por toda a Rússia, no que contaram com a simpatia de camponeses de todo o país. Os levantes foram abafados pelas tropas de Nicolau II, o que serviu para aumentar ainda mais as tensões. Nicolau II acabou sendo forçado a criar a Duma, mas persistiu resistindo à reforma governamental.
Com o exército russo atuando muito mal na Primeira Guerra Mundial, Nicolau II nomeou-se comandante em chefe das forças russas, contra os conselhos de seus ministros. Com isso, passou do final de 1915 a Agosto de 1917 ausente do Palácio em São Petersburgo. Na sua ausência, a imperatriz tornou-se totalmente dependente de Rasputin que passou a exercer grande influência na política do país. Seus ministros renunciavam em rápida sucessão e eram substituídos pelas escolhas de Alexandra sob a influência de Rasputin, até o seu assassinato, ordenado pelos nobres, em 1916.
Responsabilizado pelo fracasso na Primeira Grande Guerra e pela derrocada do país, sob todos os aspectos, Nicolau II renunciou sob pressão em 15 de março de 1917; ele e sua família foram transferidos para os Montes Urais em prisão domiciliar. Na primavera de 1918 a Rússia entrou em guerra civil e em 17 de julho de 1918 Nicolau II e sua família foram assassinados pelos Bolcheviques, sob as ordens de Lenin, em Yekaterinburg, Rússia, assim encerrando mais de três séculos de dinastia Romanov.


Vladimir Ulyanov (Lenin), 1920, comunista
revolucionário russo, político teórico
Em 15 de março, Lenin preparava-se para ir à biblioteca de Altstadt, em Zurique, quando um colega de exílio, Mieczyslav Bronski, perguntou-lhe se não escutara a notícia de que havia uma revolução na Rússia. No dia seguinte, Lenin escreve para Alexandra Kollontai, em Estocolmo, fornecendo-lhe instruções para a formação da propaganda revolucionária. Lenin estava determinado a voltar à Rússia, árdua tarefa no meio da Guerra, já que a Suíça ficara cercada pelos países em guerra e com os mares dominados pela Grã-Bretanha. Ignorando o Governo Provisório Russo que buscava a obtenção de passagem, através da Alemanha, para os exilados russos, em troca de prisioneiros alemães e austro-húngaros da guerra, o suíço comunista Fritz Platten obteve permissão do ministro alemão das Relações Exteriores, através de seu embaixador na Suíça, o barão Gisbert von Romberg, para que Lenin e outros exilados russos viajassem da Alemanha para a Rússia, de trem. Em 9 de abril Lenin e sua esposa Krupskaia, com 30 outros exilados, iniciaram a sua viagem de retorna à Rússia, partindo de Berna, via Zurique, Gottmadingen (daí escoltados por dois oficiais do exército alemão), Frankfurt e Berlim. Nesta capital permaneceu por um dia, para a realização de acordos, recebendo do governo alemão uma quantia de 40 milhões de Marcos de Ouro (substituído pelo Marco papel, justamente com o advento de Primeira Grande Guerra) para financiar sua revolta na Rússia (exatamente quando seu país se encontrava em guerra com a Alemanha!). Importante figura nessas negociações foi o russo Aleksandr Parvus, que durante anos procurou obter recursos do II Reich para rebeliões na Rússia. Em suas Teses de Abril, Lenin explicitou seu desejo de retirar a Rússia da guerra, algo vital para os alemães. O objetivo do Império Alemão ao financiar o projeto revolucionário de Lenin, era desestabilizar o governo provisório, obrigando a Rússia a retirar-se da guerra, encerrando a frente Oriental e assim concentrando suas tropas na frente Ocidental. Pouco antes da meia-noite de 16 de abril de 1917, o trem de Lenin chegou à Estação Finlândia, em Petrogrado. Ele foi recebido, ao som da Marselhesa, por uma multidão de trabalhadores, marinheiros e soldados levando bandeiras vermelhas, um ritual na Rússia revolucionária para os exilados que retornavam. E a grande ironia, Lenin , o presidente dos bolcheviques, foi formalmente recebido por Nikolay Chkheidze, o presidente menchevique do Soviete de Petrogrado.
Os sovietes continuaram a funcionar, o governo provisório tornava-se cada vez mais impopular. A timidez da política social do novo governo propiciou o avanço dos bolcheviques. Nesse quadro, a liderança de Lenin cresce. O líder bolchevista prega a saída da Rússia da guerra, o fortalecimento dos sovietes e o confisco das grandes propriedades rurais, com a distribuição de terra aos camponeses afirmando que seu governo traria pão, paz e terra ao povo. Os bolcheviques tornaram-se mais numerosos, chegando a 80 mil militantes. Lenin pregava o "Todo o poder aos sovietes" e sua meta era a adoção da ditadura do proletariado para realizar a revolução socialista na Rússia e alcançar a paz. Várias sublevações e protestos atingiram as principais cidades russas.
Durante a tarde de 4 de julho, o ministro da justiça, Pereverzev, sem consultar o Soviete de Petrogrado, decidiu publicar uma investigação levada a cabo pelo governo sobre a possibilidade de que Lenin estivesse trabalhando para os alemães. A investigação se encontrava ainda incompleta e os indícios em favor desta tese se baseavam em testemunhos duvidosos, porém o ministro decidiu levar os dados à imprensa para tentar enfraquecer os bolcheviques e ganhar o apoio dos regimentos da capital que não haviam apoiado a revolta. Sua ação surtiu efeito, e várias unidades foram postas a caminho do Palácio Tauride. As discussões continuaram na sede do soviete, que foi ocupada pela multidão, sem que isto tenha interrompido o debate. Ao passar da meia noite e com a maioria dos delegados opostos à derrubada do Governo Provisório e à transferência do poder aos sovietes, chegaram as tropas leais aos dirigentes soviéticos, para alívio da maioria dos delegados.
Após o alvoroço causado pela chegada das tropas favoráveis ao Governo Provisório, os comitês executivos aprovaram a resolução dos defensistas, apresentada pelo socialista revolucionário Avram Gots, que reconhecia a autoridade do governo formado pelos novos ministros que haviam substituído os kadetes[3] e adiou os debates sobre a formação de um novo Conselho de Ministros até a reunião plenária do Comitê Executivo Central (CEC), eleito em junho, que deveria ocorrer duas semanas mais tarde. A resolução, acordada entre os líderes defensistas antes da eclosão dos protestos, permitiu que estes dispusessem de mais tempo para recompor a aliança com a burguesia, que se sentia lesada após a demissão dos ministros kadetes, e também serviu para tentar acabar com os distúrbios causados nos últimos dias pelos protestos. A crescente indignação de parte da população por conta da acusação feita contra Lenin, a iminente chegada das tropas da frente de combate, o apoio de parte da guarnição às autoridades e a desmoralização de uma parte considerável dos manifestantes reforçaram a postura do Soviete de Petrogrado e do Governo Provisório na madrugada de 5 de julho.
Ante a crescente oposição às manifestações, o partido bolchevique, que havia fomentado e apoiado os protestos a tal ponto que não poderia se retirar das manifestações sem sofrer prejuízos, teve que optar entre uma tentativa de golpe contra o Governo Provisório ou persuadir os manifestantes para cessarem os protestos o quanto antes. O jornal Pravda[4] anunciou que as greves e manifestações previstas para o dia 5 de julho haviam sido suspensas; a maioria dos marinheiros, principal força de apoio aos manifestantes, haviam regressado à fortaleza nacional da cidade portuária de Kronstadt, na noite anterior.
As manifestações começaram a ser reprimidas com violência pelos partidários do Governo Provisório. Nas primeiras horas da manhã, um oficial encarregado de um destacamento arrasou os escritórios do jornal Pravda. Por volta do meio dia, as tropas leais ao Soviete de Petrogrado e ao governo já controlavam a maior parte da cidade, com exceção dos bairros operários; o ambiente na capital havia se tornado perigoso para os agitadores bolcheviques e a possibilidade de uma contrarrevolução alarmou até mesmo os socialistas moderados. Pela tarde, começaram as negociações entre as partes; as forças leais exigiam a rendição dos manifestantes, o que não ocorreu. Um acordo preliminar entre os representantes do Soviete de Petrogrado e dos bolcheviques, que limitava as represálias e garantia o desarmamento dos insurretos foi descumprido durante o período da noite. A maioria dos marinheiros de Kronstadt voltou para a base naval sem problemas, restando apenas algumas forças para defender a sede do partido bolchevique e a Fortaleza de São Pedro e São Paulo[5].
Apesar dos rumores sobre a relutância dos bolcheviques em resistir às tropas leais ao Soviete de Petrogrado e ao Governo Provisório, o comando do distrito militar decidiu tomar à força as áreas ainda sob controle bolchevique. As operações começaram na madrugada de 6 de julho; a Fortaleza de São Pedro e São Paulo e a sede do partido foram isoladas.


LENIN

Vladimir Ilyich Ulyanov (22/04/1870–21/01/1924) foi um revolucionário comunista, político e teórico político russo. Foi o líder de governo da República Federativa Socialista Soviética Russa de 1917, e da União Soviética de 1922 até a sua morte. Sob sua administração o Império Russo foi dissolvido e substituído pela União Soviética, como Estado de um só partido, quando toda terra, recursos naturais e indústria foram confiscados e nacionalizados. Ideologicamente, um marxista, suas teorias políticas são conhecidas como leninismo. Nascido de uma família abastada da classe média, em Simbirsk, Lenin ganhou interesse na política revolucionária de esquerda com a execução de seu irmão Aleksandr, em 1887. Expulso da Universidade Estatal de Kazan por participar de protestos anti-czaristas, devotou-se a um título de advogado e à política radical, tornando-se marxista. Em 1893 mudou-se para São Petersburgo e tornou-se sênior do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Foi preso por incitação ao motim e exilado em Shushenkoye por 3 anos, quando casou com Nadezhda Krupskaya. Ao fim do seu exílio fugiu para a Europa Ocidental onde ficou conhecido como proeminente teorista por suas publicações. Em 1903 teve um papel chave no cisma do POSDR por diferenças ideológicas, liderando a facção Bolchevique contra os Mencheviques de Julius Martov. Retornando brevemente à Rússia durante a fracassada revolução de 1905, fomentou a insurreição violenta e fez campanha para transformar a Primeira Guerra Mundial na revolução proletária na Europa que, como marxista, acreditava resultaria na derrubada do capitalismo e sua substituição pelo socialismo. Após a Revolução de 1917 ter expelido o Czar e estabelecido um Governo Provisório, ele retornou à Rússia e estimulou a substituição do novo governo por um governo dos sovietes liderados pelos bolcheviques. Representou importante papel na Revolução vitoriosa de 1917, estabelecendo o “Conselho dos Comissários do Povo”, como seu Presidente. Introduzindo uma radical reforma agrária, transformou o país na República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR). Foi guindado a chefe do governo pelo Congresso dos Sovietes Russos. A feroz oposição ao mando bolchevique resultou na Guerra Civil de 1917 a 1922 em que estes se tornaram vitoriosos com o uso do “Terror Vermelho”. Lenin apoiou uma revolução mundial e a paz imediata com a Alemanha e seus aliados, concordando com um tratado punitivo que entregou parcela significativa da Rússia Imperial à Alemanha. O tratado foi anulado após os aliados vencerem a Guerra. Lenin propôs a Nova Política Econômica (NEP), um sistema econômico misto de capitalismo estatal que iniciou o processo de industrialização e recuperação da Guerra Civil. Em 1922, a RSFSR uniu antigos territórios do Império Russo, transformando-se na União Soviética com Lenin na chefia do governo. Lenin sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Em 14/01/1918, em Petrogrado, foi emboscado em seu automóvel com Fritz Platten, que ficou ferido ao salvá-lo. Na segunda tentativa, em 30/08/1918, Lenin foi ferido no braço, queixo e pescoço, pela revolucionária socialista Fanya Kaplan, que declarou nos interrogatórios, que o considerava “um traidor da Revolução”, por dissolver a Assembleia Constituinte e colocar fora da lei outros partidos esquerdistas. Com a saúde se deteriorando, morreu em sua casa em Gorki. Reconhecido como uma das figuras históricas mais influentes do século XX, Lenin permanece como uma figura altamente controversa. Os admiradores o vêm campeão dos direitos e riqueza dos operários, enquanto seus críticos como fundador de uma ditadura responsável pela guerra civil e abusos em massa dos direitos humanos.

Trotsky, 1921, revolucionário, teorista
marxista, criador do Exército Vermelho
No período da manhã, os bolcheviques receberam um ultimato exigindo sua rendição e se refugiaram na fortaleza. As forças governamentais ocuparam a sede do partido logo depois, sem encontrar resistência. Até o meio dia, as negociações entre as partes acabaram com a rendição dos bolcheviques. Nas províncias houve pouco apoio às manifestações desde o início e ocorreram incidentes em poucas cidades.
Após o fim das manifestações, os dirigentes mencheviques enfatizaram sua postura de rejeição à formação de um governo exclusivamente socialista, como haviam reivindicado os manifestantes. Na opinião dos dirigentes mencheviques, a formação de um poder soviético poderia levar a Rússia a um conflito armado entre os socialistas e a burguesia que resultaria no triunfo da contrarrevolução. Para os mencheviques, o atraso social, político e econômico da Rússia impediria o sucesso de um governo exclusivamente socialista. Os socialistas moderados sustentaram, portanto, a necessidade de realizar uma nova coalizão com os representantes da burguesia para manter o sistema democrático e evitar conflitos civis.
Foi emitido um mandado de prisão contra Lenin, Zinoviev[6] e Kamenev[7] que, certos de que não teriam um julgamento imparcial, decidiram passar à clandestinidade, com Lenin e Zinoviev fugindo para Helsinque, Finlândia.
O partido bolchevique decidiu, no dia 6 de julho, não passar à clandestinidade e continuar suas atividades legalmente, ainda que tenham ocultado Lenin e Zinoviev, que estavam sendo procurados pelo governo. Outros dirigentes bolcheviques considerados culpados pela revolta, como Kamenev e Trotsky, foram presos nos dias seguintes à repressão. Cerca de duzentas pessoas foram acusadas formalmente pelo governo de haver instigado os protestos.
O desgaste dos bolcheviques parecia evidente, com a fuga de parte dos dirigentes, a prisão de outros, a hostilidade por parte de outras correntes socialistas e a estagnação no número de filiações ao partido.

[1] Construído ao final do século XVIII, em São Petersburgo, é um dos maiores e mais históricos palácios da Rússia. Logo após a Revolução de Fevereiro de 1917, Tauride sediou o Governo Provisório e o Soviete Petrogrado. A incipiente Assembleia Constituinte Russa teve lá os seus encontros, em 1918. Em maio de 1918, os Bolcheviques lá realizaram seu 7o Congresso, onde pela primeira vez se autonomearam Partido Comunista Russo (Bolcheviques).
[2] O Príncipe Georgy Yevgenyevich Lvov (02/11/1861 – 08/03/1925) foi um estadista russo e o primeiro Primeiro Ministro da Rússia pós-imperial, de 15/03 a 21/07 de 1917. Durante a Revolução Russa de Fevereiro e a renúncia do Imperador Nicolau II, Lvov foi feito líder do Governo Provisório fundado pela Duma em 2 de março. Impossibilitado de grupar apoio suficiente, resignou em julho de 1917 em favor do seu Ministro da Guerra, Alexander Kerensky. Lvov foi preso quando os bolcheviques tomaram o poder, no mesmo ano. Conseguiu fugir e estabeleceu-se em Paris, onde ficou até morrer.
[3] O Partido Democrático Constitucional, também chamados Democratas Constitucionais, formalmente Partido da Liberdade do Povo e informalmente Kadetes, era um partido liberal no império russo. Seus membros eram chamados de Kadetes, a partir das iniciais K D do nome do partido, em russo, nome que não deve ser confundido com os cadetes, estudantes das escolas militares russas do mesmo império. O historiador Pavel Miliukov foi o líder do partido por toda a sua existência. A base de apoio dos Kadetes era formada por intelectuais e profissionais, tendo professores universitários e advogados como figuras proeminentes dentro do partido, que fora formado a partir de vários grupos e organizações liberais. Seu programa econômico favorecia o direito dos trabalhadores a oito horas diárias, era decididamente comprometido com a plena cidadania a todas as minorias russas e apoiava a emancipação judia.
[4] O Pravda (Verdade) foi o principal jornal da União Soviética e órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética entre 1918 e 1991. Foi fundado por Leon Trotsky, Victor Kopp, Adolf Joffe e Matvey Skobelev como um jornal socialdemocrata russo semanal voltado para os operários, como Zvezda. Publicado no exterior para evitar censura, de lá enviava a Rússia. A primeira edição foi publicada em Viena, em 3 de outubro de 1908. A redação era constituída por Trotsky e, em épocas diferentes, Victor Kopp, Adolf Joffe e Matvey Skobelev. Os dois últimos, de pais ricos, sustentavam o jornal financeiramente.
[5] A Fortaleza de São Pedro e São Paulo é a cidadela original de São Petersburgo (Petrogrado). Foi projetada por Domenico Trezzini e inaugurada em 1703. A fortaleza contém diferentes edifícios memoráveis, entre eles a Catedral de Pedro e Paulo, onde estão enterrados os czares, desde Pedro, o Grande a Nicolau II e sua família.
[6] Grigory Yevseevich Zinoviev (23/09/1883–25/08/1936), foi um revolucionário bolchevique e político comunista soviético, um dos sete membros do primeiro Politburo, fundado em 1917, para gerenciar a revolução bolchevista, juntamente com Lenin, Kamenev, Trotsky, Stalin, Sokolnikov e Bubnov. Zinoviev é melhor lembrado como líder da Internacional Comunista e arquiteto de tentativas fracassadas para transformar a Alemanha num país comunista no início da década de 1920. Entrou em choque com Stalin que o eliminou da liderança política do Soviete. Com o início do chamado “Grande Terror” na Rússia, foi preso por ordem de Stalin e executado um dia após a sua prisão, em Agosto de 1936.
[7] Lev Borisovich Kamenev (18/07/1883-25/08/1936). Ver nota acima, como complemento. Era cunhado de Leon Trotsky. Foi brevemente o líder de estado do Partido Comunista da Rússia Soviética, em 1917 e Premier no último ano da vida de Lenin, entre 1923 e 1924. Mais tarde, visto como fonte de inquietação e oposição à sua liderança, caiu no desagrado de Joseph Stalin e foi executado por suas ordens, após julgamento sumário, em 25 de agosto de 1936.
Prossegue com a PARTE 5