Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 21 de novembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 4)

VII.1 – A REVOLUÇÃO DE FEVEREIRO OU REVOLUÇÃO BRANCA

A Revolução Russa de Fevereiro foi um enorme movimento de massas que, espontaneamente, rebelaram-se contra o czarismo. As pesadas perdas sofridas pelo exército, com as dificuldades de abastecimento, somadas à alta do custo de vida e à ineficiência e corrupção administrativas, levaram o povo russo a uma situação de verdadeiro desespero. Nenhum partido insuflou tais massas. Na verdade, a grande maioria dos revolucionários militantes foi surpreendida, já que a maioria deles estava presa na Sibéria (como Stalin) ou no exílio (Lenin na Suíça, Zurique e Trotski nos Estados Unidos). Como também foi espontânea a organização dos sovietes, em todas as fábricas, repartições, bairros e regimentos militares, que passaram a formar um poder paralelo.
Eclodiram manifestações em Petrogrado (novo nome de São Petersburgo, alterado em 1914, pela guerra contra a Alemanha), exigindo a saída da Rússia da guerra. As tropas da capital recusaram-se a reprimir os manifestantes e aderiram a eles. O czar Nicolau II, que se encontrava em seu quartel-general, foi impedido de entrar em Petrogrado. Em questão de dias, a insurreição alastrou-se por todas as grandes cidades do Império e o governo Czarista ficou totalmente debilitado.
No dia 27 de fevereiro, um mar de soldados e trabalhadores, com trapos vermelhos em suas roupas, invadiu o Palácio Tauride[1], onde a Duma se reunia. Durante a tarde, formaram-se dois comitês provisórios em salões diferentes do palácio. Um, formado por deputados moderados da Duma, que se tornaria o Governo Provisório; o outro era o Soviete de Petrogrado, formado por trabalhadores, soldados e militantes socialistas de várias correntes. Temendo uma repetição do Domingo Sangrento, o Grão-Duque Mikhail ordenou que as tropas leais, baseadas no Palácio de Inverno, não se opusessem à insurreição e se retirassem. Em 2 de Março, cercado por amotinados, Nicolau II assinou sua abdicação. Como o príncipe-herdeiro era hemofílico, Nicolau II preferiu abdicar em favor de seu irmão, mas este recusou o trono.
Após a derrubada do czar, instalou-se o Governo Provisório, constituído de aristocratas e burgueses, sob a chefia do príncipe Georgy Lvov[2], tendo Alexander Kerensky como ministro da guerra. Era um governo de caráter liberal burguês, comprometido com a manutenção da propriedade privada e interessado em manter a participação russa na Primeira Guerra Mundial. No início, o governo de Lvov pretendia consolidar uma monarquia constitucional, mas acabaram por implantar um governo republicano. A burguesia liberal e vários setores da aristocracia apoiaram o novo governo, que iniciou uma série de reformas. Entre elas, destacamos a adoção do sufrágio universal, a convocação de uma Assembleia Constituinte e anistia aos líderes revolucionários bolcheviques então exilados. Enquanto isso, o Soviete de Petrogrado reivindicava para si a legitimidade para governar. Já no início de março, o Soviete ordenava ao exército que lhe obedecesse, em vez de obedecer ao Governo Provisório. O Soviete pretendia dar terra aos camponeses, um exército com disciplina voluntária e oficiais eleitos de forma democrática, bem como o fim da guerra, objetivos bem mais populares do que os almejados pelo Governo Provisório. Dessa forma existiam, na verdade, dois poderes paralelos governando juntos.
Enquanto isso, a guerra contra a Alemanha continuava. A crise criada pela guerra e a variada composição do governo revolucionário não permitiram que os grandes problemas econômicos que afetavam a população russa fossem solucionados. De fevereiro a julho o governo encontrou-se dividido entre o poder formal (o Governo Provisório) e os Sovietes (de operários soldados e marinheiros) sem cuja aquiescência pouco podia ser feito, além de muita confusão entre as fileiras bolcheviques. Tentando ganhar o apoio das massas, o novo governo adotou uma postura liberal, decretando anistia política. Com isso, milhares de prisioneiros seriam libertados e centenas de exilados retornariam à Rússia. Entre eles, inúmeros revolucionários bolcheviques, liderados por Lenin. Imediatamente começaram a ser organizados sovietes de operários, soldados e camponeses, com vistas à realização da revolução socialista.

NICOLAU II

Nicolau II foi o último Czar da Rússia, da dinastia Romanov. Nasceu em 06 de maio de 1868 (calendário Juliano) em Pushkin, Rússia, como Nikolai Aleksandrovich Romanov, primeiro filho de seus pais. Seu pai era Alexandre III, Czar da Rússia e sua mãe, Maria Feodorovna, dinamarquesa.
Sofreu forte influência de seu pai que moldou seus valores religiosos conservadores e sua crença num governo autocrático. Muito forte em história e línguas estrangeiras, tinha muita dificuldade para entender as sutilezas da política e da economia, e seu pai falhou em seu treino nas relações do Estado. Quando Nicolau II tinha 13 anos, seu avô, Alexandre II, foi assassinado por um revolucionário, o que causou a ascensão de seu pai ao trono. Aos 19 anos entrou no exército e, apaixonado pela arte militar, ascendeu ao posto de coronel.
Subiu ao trono quando seu pai morreu de uma doença dos rins, com a idade de 49 anos, em 20 de outubro de 1894. Vacilante com a sua perda e pouco treinado nas relações de Estado, temeu ao assumir o papel de seu pai, confidenciando a um amigo próximo não estar preparado para ser um Czar. Casou-se com a princesa Alix de Hesse-Darmstadt (apenas conhecida como Alexandra), um mês após a morte do seu pai. Como soberano tinha que casar e ter filhos rapidamente para assegurar um herdeiro ao trono. Em 1895 o par teve a sua primeira filha Olga. Em 1897 nasceu a segunda filha do casal, Tatiana, seguida por uma terceira, Maria, em 1899 e por uma quarta, Anastasia, em 1901. Em 1904 Alexandra deu à luz o tão esperado herdeiro homem, Alexei, que para tristeza do casal logo foi diagnosticado como hemofílico. Desesperado por encontrar um tratamento efetivo para Alexei, excedeu-se ao se tornar uma espécie de refém emocional do monge Rasputin, em quem o casal depositava uma fé inabalável.
Inicialmente, o principal objetivo da política externa de Nicolau II foi manter o status quo na Europa e não conquistar novos territórios. Mas na década de 1890, com o crescimento econômico da Rússia, iniciou a expansão de sua indústria para o extremo oriente, com a construção da estrada de ferro Trans-Siberiana, ligando a Rússia à Costa do Pacífico. Com isso, o Japão sentiu-se ameaçado e, em 1904, declarou Guerra à Rússia, uma guerra catastrófica que acabou com a rendição da Rússia, na primavera de 1905.
Em janeiro de 1905 Nicolau II teve que enfrentar o “Domingo Sangrento”, e foi responsabilizado pela morte de mais de mil russos. Como reação, operários indignados realizaram greves por toda a Rússia, no que contaram com a simpatia de camponeses de todo o país. Os levantes foram abafados pelas tropas de Nicolau II, o que serviu para aumentar ainda mais as tensões. Nicolau II acabou sendo forçado a criar a Duma, mas persistiu resistindo à reforma governamental.
Com o exército russo atuando muito mal na Primeira Guerra Mundial, Nicolau II nomeou-se comandante em chefe das forças russas, contra os conselhos de seus ministros. Com isso, passou do final de 1915 a Agosto de 1917 ausente do Palácio em São Petersburgo. Na sua ausência, a imperatriz tornou-se totalmente dependente de Rasputin que passou a exercer grande influência na política do país. Seus ministros renunciavam em rápida sucessão e eram substituídos pelas escolhas de Alexandra sob a influência de Rasputin, até o seu assassinato, ordenado pelos nobres, em 1916.
Responsabilizado pelo fracasso na Primeira Grande Guerra e pela derrocada do país, sob todos os aspectos, Nicolau II renunciou sob pressão em 15 de março de 1917; ele e sua família foram transferidos para os Montes Urais em prisão domiciliar. Na primavera de 1918 a Rússia entrou em guerra civil e em 17 de julho de 1918 Nicolau II e sua família foram assassinados pelos Bolcheviques, sob as ordens de Lenin, em Yekaterinburg, Rússia, assim encerrando mais de três séculos de dinastia Romanov.


Vladimir Ulyanov (Lenin), 1920, comunista
revolucionário russo, político teórico
Em 15 de março, Lenin preparava-se para ir à biblioteca de Altstadt, em Zurique, quando um colega de exílio, Mieczyslav Bronski, perguntou-lhe se não escutara a notícia de que havia uma revolução na Rússia. No dia seguinte, Lenin escreve para Alexandra Kollontai, em Estocolmo, fornecendo-lhe instruções para a formação da propaganda revolucionária. Lenin estava determinado a voltar à Rússia, árdua tarefa no meio da Guerra, já que a Suíça ficara cercada pelos países em guerra e com os mares dominados pela Grã-Bretanha. Ignorando o Governo Provisório Russo que buscava a obtenção de passagem, através da Alemanha, para os exilados russos, em troca de prisioneiros alemães e austro-húngaros da guerra, o suíço comunista Fritz Platten obteve permissão do ministro alemão das Relações Exteriores, através de seu embaixador na Suíça, o barão Gisbert von Romberg, para que Lenin e outros exilados russos viajassem da Alemanha para a Rússia, de trem. Em 9 de abril Lenin e sua esposa Krupskaia, com 30 outros exilados, iniciaram a sua viagem de retorna à Rússia, partindo de Berna, via Zurique, Gottmadingen (daí escoltados por dois oficiais do exército alemão), Frankfurt e Berlim. Nesta capital permaneceu por um dia, para a realização de acordos, recebendo do governo alemão uma quantia de 40 milhões de Marcos de Ouro (substituído pelo Marco papel, justamente com o advento de Primeira Grande Guerra) para financiar sua revolta na Rússia (exatamente quando seu país se encontrava em guerra com a Alemanha!). Importante figura nessas negociações foi o russo Aleksandr Parvus, que durante anos procurou obter recursos do II Reich para rebeliões na Rússia. Em suas Teses de Abril, Lenin explicitou seu desejo de retirar a Rússia da guerra, algo vital para os alemães. O objetivo do Império Alemão ao financiar o projeto revolucionário de Lenin, era desestabilizar o governo provisório, obrigando a Rússia a retirar-se da guerra, encerrando a frente Oriental e assim concentrando suas tropas na frente Ocidental. Pouco antes da meia-noite de 16 de abril de 1917, o trem de Lenin chegou à Estação Finlândia, em Petrogrado. Ele foi recebido, ao som da Marselhesa, por uma multidão de trabalhadores, marinheiros e soldados levando bandeiras vermelhas, um ritual na Rússia revolucionária para os exilados que retornavam. E a grande ironia, Lenin , o presidente dos bolcheviques, foi formalmente recebido por Nikolay Chkheidze, o presidente menchevique do Soviete de Petrogrado.
Os sovietes continuaram a funcionar, o governo provisório tornava-se cada vez mais impopular. A timidez da política social do novo governo propiciou o avanço dos bolcheviques. Nesse quadro, a liderança de Lenin cresce. O líder bolchevista prega a saída da Rússia da guerra, o fortalecimento dos sovietes e o confisco das grandes propriedades rurais, com a distribuição de terra aos camponeses afirmando que seu governo traria pão, paz e terra ao povo. Os bolcheviques tornaram-se mais numerosos, chegando a 80 mil militantes. Lenin pregava o "Todo o poder aos sovietes" e sua meta era a adoção da ditadura do proletariado para realizar a revolução socialista na Rússia e alcançar a paz. Várias sublevações e protestos atingiram as principais cidades russas.
Durante a tarde de 4 de julho, o ministro da justiça, Pereverzev, sem consultar o Soviete de Petrogrado, decidiu publicar uma investigação levada a cabo pelo governo sobre a possibilidade de que Lenin estivesse trabalhando para os alemães. A investigação se encontrava ainda incompleta e os indícios em favor desta tese se baseavam em testemunhos duvidosos, porém o ministro decidiu levar os dados à imprensa para tentar enfraquecer os bolcheviques e ganhar o apoio dos regimentos da capital que não haviam apoiado a revolta. Sua ação surtiu efeito, e várias unidades foram postas a caminho do Palácio Tauride. As discussões continuaram na sede do soviete, que foi ocupada pela multidão, sem que isto tenha interrompido o debate. Ao passar da meia noite e com a maioria dos delegados opostos à derrubada do Governo Provisório e à transferência do poder aos sovietes, chegaram as tropas leais aos dirigentes soviéticos, para alívio da maioria dos delegados.
Após o alvoroço causado pela chegada das tropas favoráveis ao Governo Provisório, os comitês executivos aprovaram a resolução dos defensistas, apresentada pelo socialista revolucionário Avram Gots, que reconhecia a autoridade do governo formado pelos novos ministros que haviam substituído os kadetes[3] e adiou os debates sobre a formação de um novo Conselho de Ministros até a reunião plenária do Comitê Executivo Central (CEC), eleito em junho, que deveria ocorrer duas semanas mais tarde. A resolução, acordada entre os líderes defensistas antes da eclosão dos protestos, permitiu que estes dispusessem de mais tempo para recompor a aliança com a burguesia, que se sentia lesada após a demissão dos ministros kadetes, e também serviu para tentar acabar com os distúrbios causados nos últimos dias pelos protestos. A crescente indignação de parte da população por conta da acusação feita contra Lenin, a iminente chegada das tropas da frente de combate, o apoio de parte da guarnição às autoridades e a desmoralização de uma parte considerável dos manifestantes reforçaram a postura do Soviete de Petrogrado e do Governo Provisório na madrugada de 5 de julho.
Ante a crescente oposição às manifestações, o partido bolchevique, que havia fomentado e apoiado os protestos a tal ponto que não poderia se retirar das manifestações sem sofrer prejuízos, teve que optar entre uma tentativa de golpe contra o Governo Provisório ou persuadir os manifestantes para cessarem os protestos o quanto antes. O jornal Pravda[4] anunciou que as greves e manifestações previstas para o dia 5 de julho haviam sido suspensas; a maioria dos marinheiros, principal força de apoio aos manifestantes, haviam regressado à fortaleza nacional da cidade portuária de Kronstadt, na noite anterior.
As manifestações começaram a ser reprimidas com violência pelos partidários do Governo Provisório. Nas primeiras horas da manhã, um oficial encarregado de um destacamento arrasou os escritórios do jornal Pravda. Por volta do meio dia, as tropas leais ao Soviete de Petrogrado e ao governo já controlavam a maior parte da cidade, com exceção dos bairros operários; o ambiente na capital havia se tornado perigoso para os agitadores bolcheviques e a possibilidade de uma contrarrevolução alarmou até mesmo os socialistas moderados. Pela tarde, começaram as negociações entre as partes; as forças leais exigiam a rendição dos manifestantes, o que não ocorreu. Um acordo preliminar entre os representantes do Soviete de Petrogrado e dos bolcheviques, que limitava as represálias e garantia o desarmamento dos insurretos foi descumprido durante o período da noite. A maioria dos marinheiros de Kronstadt voltou para a base naval sem problemas, restando apenas algumas forças para defender a sede do partido bolchevique e a Fortaleza de São Pedro e São Paulo[5].
Apesar dos rumores sobre a relutância dos bolcheviques em resistir às tropas leais ao Soviete de Petrogrado e ao Governo Provisório, o comando do distrito militar decidiu tomar à força as áreas ainda sob controle bolchevique. As operações começaram na madrugada de 6 de julho; a Fortaleza de São Pedro e São Paulo e a sede do partido foram isoladas.


LENIN

Vladimir Ilyich Ulyanov (22/04/1870–21/01/1924) foi um revolucionário comunista, político e teórico político russo. Foi o líder de governo da República Federativa Socialista Soviética Russa de 1917, e da União Soviética de 1922 até a sua morte. Sob sua administração o Império Russo foi dissolvido e substituído pela União Soviética, como Estado de um só partido, quando toda terra, recursos naturais e indústria foram confiscados e nacionalizados. Ideologicamente, um marxista, suas teorias políticas são conhecidas como leninismo. Nascido de uma família abastada da classe média, em Simbirsk, Lenin ganhou interesse na política revolucionária de esquerda com a execução de seu irmão Aleksandr, em 1887. Expulso da Universidade Estatal de Kazan por participar de protestos anti-czaristas, devotou-se a um título de advogado e à política radical, tornando-se marxista. Em 1893 mudou-se para São Petersburgo e tornou-se sênior do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR). Foi preso por incitação ao motim e exilado em Shushenkoye por 3 anos, quando casou com Nadezhda Krupskaya. Ao fim do seu exílio fugiu para a Europa Ocidental onde ficou conhecido como proeminente teorista por suas publicações. Em 1903 teve um papel chave no cisma do POSDR por diferenças ideológicas, liderando a facção Bolchevique contra os Mencheviques de Julius Martov. Retornando brevemente à Rússia durante a fracassada revolução de 1905, fomentou a insurreição violenta e fez campanha para transformar a Primeira Guerra Mundial na revolução proletária na Europa que, como marxista, acreditava resultaria na derrubada do capitalismo e sua substituição pelo socialismo. Após a Revolução de 1917 ter expelido o Czar e estabelecido um Governo Provisório, ele retornou à Rússia e estimulou a substituição do novo governo por um governo dos sovietes liderados pelos bolcheviques. Representou importante papel na Revolução vitoriosa de 1917, estabelecendo o “Conselho dos Comissários do Povo”, como seu Presidente. Introduzindo uma radical reforma agrária, transformou o país na República Socialista Federativa Soviética Russa (RSFSR). Foi guindado a chefe do governo pelo Congresso dos Sovietes Russos. A feroz oposição ao mando bolchevique resultou na Guerra Civil de 1917 a 1922 em que estes se tornaram vitoriosos com o uso do “Terror Vermelho”. Lenin apoiou uma revolução mundial e a paz imediata com a Alemanha e seus aliados, concordando com um tratado punitivo que entregou parcela significativa da Rússia Imperial à Alemanha. O tratado foi anulado após os aliados vencerem a Guerra. Lenin propôs a Nova Política Econômica (NEP), um sistema econômico misto de capitalismo estatal que iniciou o processo de industrialização e recuperação da Guerra Civil. Em 1922, a RSFSR uniu antigos territórios do Império Russo, transformando-se na União Soviética com Lenin na chefia do governo. Lenin sobreviveu a duas tentativas de assassinato. Em 14/01/1918, em Petrogrado, foi emboscado em seu automóvel com Fritz Platten, que ficou ferido ao salvá-lo. Na segunda tentativa, em 30/08/1918, Lenin foi ferido no braço, queixo e pescoço, pela revolucionária socialista Fanya Kaplan, que declarou nos interrogatórios, que o considerava “um traidor da Revolução”, por dissolver a Assembleia Constituinte e colocar fora da lei outros partidos esquerdistas. Com a saúde se deteriorando, morreu em sua casa em Gorki. Reconhecido como uma das figuras históricas mais influentes do século XX, Lenin permanece como uma figura altamente controversa. Os admiradores o vêm campeão dos direitos e riqueza dos operários, enquanto seus críticos como fundador de uma ditadura responsável pela guerra civil e abusos em massa dos direitos humanos.

Trotsky, 1921, revolucionário, teorista
marxista, criador do Exército Vermelho
No período da manhã, os bolcheviques receberam um ultimato exigindo sua rendição e se refugiaram na fortaleza. As forças governamentais ocuparam a sede do partido logo depois, sem encontrar resistência. Até o meio dia, as negociações entre as partes acabaram com a rendição dos bolcheviques. Nas províncias houve pouco apoio às manifestações desde o início e ocorreram incidentes em poucas cidades.
Após o fim das manifestações, os dirigentes mencheviques enfatizaram sua postura de rejeição à formação de um governo exclusivamente socialista, como haviam reivindicado os manifestantes. Na opinião dos dirigentes mencheviques, a formação de um poder soviético poderia levar a Rússia a um conflito armado entre os socialistas e a burguesia que resultaria no triunfo da contrarrevolução. Para os mencheviques, o atraso social, político e econômico da Rússia impediria o sucesso de um governo exclusivamente socialista. Os socialistas moderados sustentaram, portanto, a necessidade de realizar uma nova coalizão com os representantes da burguesia para manter o sistema democrático e evitar conflitos civis.
Foi emitido um mandado de prisão contra Lenin, Zinoviev[6] e Kamenev[7] que, certos de que não teriam um julgamento imparcial, decidiram passar à clandestinidade, com Lenin e Zinoviev fugindo para Helsinque, Finlândia.
O partido bolchevique decidiu, no dia 6 de julho, não passar à clandestinidade e continuar suas atividades legalmente, ainda que tenham ocultado Lenin e Zinoviev, que estavam sendo procurados pelo governo. Outros dirigentes bolcheviques considerados culpados pela revolta, como Kamenev e Trotsky, foram presos nos dias seguintes à repressão. Cerca de duzentas pessoas foram acusadas formalmente pelo governo de haver instigado os protestos.
O desgaste dos bolcheviques parecia evidente, com a fuga de parte dos dirigentes, a prisão de outros, a hostilidade por parte de outras correntes socialistas e a estagnação no número de filiações ao partido.

[1] Construído ao final do século XVIII, em São Petersburgo, é um dos maiores e mais históricos palácios da Rússia. Logo após a Revolução de Fevereiro de 1917, Tauride sediou o Governo Provisório e o Soviete Petrogrado. A incipiente Assembleia Constituinte Russa teve lá os seus encontros, em 1918. Em maio de 1918, os Bolcheviques lá realizaram seu 7o Congresso, onde pela primeira vez se autonomearam Partido Comunista Russo (Bolcheviques).
[2] O Príncipe Georgy Yevgenyevich Lvov (02/11/1861 – 08/03/1925) foi um estadista russo e o primeiro Primeiro Ministro da Rússia pós-imperial, de 15/03 a 21/07 de 1917. Durante a Revolução Russa de Fevereiro e a renúncia do Imperador Nicolau II, Lvov foi feito líder do Governo Provisório fundado pela Duma em 2 de março. Impossibilitado de grupar apoio suficiente, resignou em julho de 1917 em favor do seu Ministro da Guerra, Alexander Kerensky. Lvov foi preso quando os bolcheviques tomaram o poder, no mesmo ano. Conseguiu fugir e estabeleceu-se em Paris, onde ficou até morrer.
[3] O Partido Democrático Constitucional, também chamados Democratas Constitucionais, formalmente Partido da Liberdade do Povo e informalmente Kadetes, era um partido liberal no império russo. Seus membros eram chamados de Kadetes, a partir das iniciais K D do nome do partido, em russo, nome que não deve ser confundido com os cadetes, estudantes das escolas militares russas do mesmo império. O historiador Pavel Miliukov foi o líder do partido por toda a sua existência. A base de apoio dos Kadetes era formada por intelectuais e profissionais, tendo professores universitários e advogados como figuras proeminentes dentro do partido, que fora formado a partir de vários grupos e organizações liberais. Seu programa econômico favorecia o direito dos trabalhadores a oito horas diárias, era decididamente comprometido com a plena cidadania a todas as minorias russas e apoiava a emancipação judia.
[4] O Pravda (Verdade) foi o principal jornal da União Soviética e órgão oficial do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética entre 1918 e 1991. Foi fundado por Leon Trotsky, Victor Kopp, Adolf Joffe e Matvey Skobelev como um jornal socialdemocrata russo semanal voltado para os operários, como Zvezda. Publicado no exterior para evitar censura, de lá enviava a Rússia. A primeira edição foi publicada em Viena, em 3 de outubro de 1908. A redação era constituída por Trotsky e, em épocas diferentes, Victor Kopp, Adolf Joffe e Matvey Skobelev. Os dois últimos, de pais ricos, sustentavam o jornal financeiramente.
[5] A Fortaleza de São Pedro e São Paulo é a cidadela original de São Petersburgo (Petrogrado). Foi projetada por Domenico Trezzini e inaugurada em 1703. A fortaleza contém diferentes edifícios memoráveis, entre eles a Catedral de Pedro e Paulo, onde estão enterrados os czares, desde Pedro, o Grande a Nicolau II e sua família.
[6] Grigory Yevseevich Zinoviev (23/09/1883–25/08/1936), foi um revolucionário bolchevique e político comunista soviético, um dos sete membros do primeiro Politburo, fundado em 1917, para gerenciar a revolução bolchevista, juntamente com Lenin, Kamenev, Trotsky, Stalin, Sokolnikov e Bubnov. Zinoviev é melhor lembrado como líder da Internacional Comunista e arquiteto de tentativas fracassadas para transformar a Alemanha num país comunista no início da década de 1920. Entrou em choque com Stalin que o eliminou da liderança política do Soviete. Com o início do chamado “Grande Terror” na Rússia, foi preso por ordem de Stalin e executado um dia após a sua prisão, em Agosto de 1936.
[7] Lev Borisovich Kamenev (18/07/1883-25/08/1936). Ver nota acima, como complemento. Era cunhado de Leon Trotsky. Foi brevemente o líder de estado do Partido Comunista da Rússia Soviética, em 1917 e Premier no último ano da vida de Lenin, entre 1923 e 1924. Mais tarde, visto como fonte de inquietação e oposição à sua liderança, caiu no desagrado de Joseph Stalin e foi executado por suas ordens, após julgamento sumário, em 25 de agosto de 1936.
Prossegue com a PARTE 5

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