Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A REVOLUÇÃO RUSSA DE 1917 (Parte 5)

VII.2 – A REVOLUÇÃO DE OUTUBRO OU REVOLUÇÃO VERMELHA

As manifestações, enormes, mas desorganizadas e sem nenhuma direção política, haviam falhado em seu objetivo de implantar um governo soviético, ante a negativa dos dirigentes socialistas moderados do Soviete de Petrogrado em tomar o poder e a ausência de uma direção política alternativa dentro do soviete. Os protestos haviam sido a expressão do descontentamento popular e do desejo da formação de um governo exclusivamente socialista, que aplicasse um programa de reformas radicais que incluísse a saída da Rússia da guerra, mudanças no programa econômico e a solução dos graves problemas que assolavam o país. Os bolcheviques se viram forçados a participar dos protestos por conta de um descontentamento popular que não podiam controlar. Para uma parte cada vez maior da população, a coalizão com as forças da burguesia havia fracassado ao não servir para satisfazer seus anseios por reformas fundamentais. Nas províncias, onde o apoio ao Governo Provisório e à coalizão com os liberais era maior, a população começou a demonstrar seu descontentamento nas semanas seguintes aos protestos ocorridos na capital, atitude que foi subestimada pelos socialistas moderados.
Kerensky, chefe do Governo Provisório
da Rússia, em 1917, durante a revolução.
Por seu lado, as classes médias e altas reagiram aos protestos de julho endurecendo sua posição e se negando cada vez mais a realizar novas concessões políticas ou econômicas, o que complicou ainda mais as relações entre socialistas e burgueses.
A crise de governo foi intensificada pela renúncia do Primeiro Ministro Lvov em favor do seu Ministro da Guerra, advogado Alexander Kerensky, do Partido Social-Revolucionário (apesar do nome, essa era uma agremiação política moderada), que gozava de uma certa popularidade, em 21 de julho. O líder dos Revolucionários Socialistas e Mencheviques dos Sovietes declarou que o Governo Provisório se autoconcedia poderes ilimitados. Os sovietes se tornaram um apêndice, sem poder, do governo. O encerramento das demonstrações marcou o fim do poder duplo e o desenvolvimento pacífico da revolução passou a ser visto como impossível.

KERENSKY

Alexander Fyodorovich Kerensky (02/05/1881–11/06/1970) nasceu em Simbirsk (agora Ulyanovsk), no rio Volga, de Fyodor Kerensky, um professor (foi professor de Lenin, amigo de Kerensky) e diretor do ginásio local e de Nadezhda, filha de um nobre russo germânico. Casado com Olga Lvovna Baranovskay, filha de um general russo, foi um advogado e político russo e segundo Premier do Governo Provisório Russo, de julho a novembro de 1917. Foi líder da fação socialista moderada do Partido Revolucionário Socialista e figura chave da Revolução Russa. Trabalhou como conselheiro legal das vítimas da Revolução de 1905 e ao final do ano foi preso como suspeito de pertencer a um grupo militante. Em 1º de novembro de 1916, na abertura da Duma, Kerensky chamou os ministros de “assassinos de aluguel” e “covardes”, dizendo que eram “guiados pelo desprezível Grishka Rasputin”. Quando a Revolução eclodiu em 1917, foi um dos mais proeminentes líderes, como membro do Comitê Provisório da Duma, vice-presidente do Soviete Petrogrado e ministro da justiça no recém-formado Governo Provisório pós-imperial e democrático de Georgy Lvov. Quando o Soviete passou uma resolução proibindo seus membros de se unirem ao Governo, Kerensky dirigiu um comovente discurso ao Soviete; embora a decisão nunca tenha sido formalizada, ele obteve uma exceção de facto e continuou a atuar nas duas posições. Ao final de maio, já como Ministro da Guerra, Kerensky foi à frente de batalha visitando todas as divisões e convocando os homens ao seu dever em discursos fortes e convincentes, mas de pouco efeito duradouro. Sob a pressão aliada para continuar na Guerra, lançou o que ficou conhecido como Ofensiva Kerensky contra o exército Austro-Húngaro/Alemão do sul, no final de junho. Inicialmente vitorioso, a ofensiva foi logo bloqueada e então forçada a recuar por um forte contra-ataque. O exército russo sofreu pesadas perdas e, pelos muitos incidentes de deserção, sabotagem e motins, ficou clara a total falta de vontade de atacar. Após os “Dias de Julho” e a supressão dos Bolcheviques, Kerensky sucedeu a Lvov como Primeiro Ministro da Rússia e com o caso Kornilov e a renúncia de outros ministros autonomeou-se, também, Comandante em Chefe do Exército. Kerensky manteve suas obrigações para com seus aliados da Primeira Guerra, sabendo que a economia tornar-se-ia totalmente inviável e o dilema da retirada aumentou. Além disso, adotou uma política que isolou os conservadores da ala direita, democratas e monarquistas. Sua filosofia de “sem inimigos à esquerda”, fortificou os bolcheviques, permitindo-lhes tomar o braço militar dos Sovietes Petrogrado e Moscou. Quando prendeu Kornilov e outros oficiais ficou sem aliados de força contra os bolcheviques que se tornaram os seus mais fortes e determinados adversários. Levou menos de 20 horas para os bolcheviques, liderados por Lenin, tomarem o seu governo em 7 de novembro. Kerensky fugiu para Pskov onde liderou algumas tropas leais para retomar a cidade, em vão. Mal conseguiu escapar, escondendo-se para finalmente chegar à França. Permaneceu no exílio pelo resto de sua vida, morrendo em New York com a idade de 89 anos e foi enterrado na Inglaterra.

Este novo governo se deteriorou rapidamente, devido à insistência de Kerensky em continuar a guerra contra a Alemanha, apesar dos anseios de paz da população e da impossibilidade de a Rússia poder sustentar um conflito militar de tais proporções. O processo de desintegração do Estado russo continuava. A comida era escassa, a inflação bateu a casa dos 1.000%, as tropas desertavam da frente matando seus oficiais, propriedades da nobreza latifundiária eram saqueadas e queimadas. Nas cidades, conselhos operários eram criados na maioria das empresas e fábricas.
As medidas repressivas do novo governo de Kerensky foram limitadas e ineficazes, não conseguindo reestabelecer a ordem totalmente. O envio das unidades da guarnição, que tiveram maior envolvimento nos protestos, à frente de combate se deu apenas parcialmente e a população não foi desarmada.
Em agosto de 1917, enquanto Lenin se encontrava na Finlândia, o General Lavr Kornilov[1], enviou tropas para Petrogrado no que pareceu ser uma tentativa de golpe contra o Governo Provisório. O Premier Kerensky voltou-se ao Soviete Petrogrado – incluindo seus membros bolcheviques – por ajuda, armando os revolucionários e permitindo-lhes organizar trabalhadores como “Guardas Vermelhos”, para defender a cidade. O golpe enfraqueceu antes de alcançar Petrogrado; contudo, os eventos haviam permitido aos bolcheviques retornar à arena política aberta. Temendo uma contrarrevolução de forças da direita hostis ao socialismo, os mencheviques e revolucionários socialistas, que então dominavam o Soviete Petrogrado, tentaram pressionar o governo para normalizar relações com os bolcheviques. Entretanto, mencheviques e revolucionários socialistas haviam perdido muito apoio popular por sua afiliação com o Governo Provisório e sua condição impopular na Grande Guerra. No começo de setembro, após o fracassado golpe de Estado de Kornilov, o partido de Lenin havia se recuperado completamente do fracasso das manifestações de julho.
O governo Kerensky não consegue mais se manter isolado das principais facções em luta e da Finlândia, onde se havia exilado, Lenin coordena os preparativos para aprofundar a revolução, passando a exigir a tomada imediata do poder, enquanto a Organização Militar Bolchevique, temerosa em repetir o fracasso de julho, defendia que o golpe fosse preparado de forma minuciosa.
Os bolcheviques ingressam em massa nos sovietes e Trotsky é eleito presidente do Soviete Petrogrado. A Guarda Vermelha, uma milícia popular, foi criada nas fábricas para ser o braço armado dos bolcheviques. Lenin entra clandestinamente na Rússia e convence o comando bolchevique a encampar a ideia de revolução. Em setembro, os bolcheviques ganham a maioria nas secções dos trabalhadores dos Sovietes Moscou e Petrogrado. Algumas medidas foram tomadas em vão, como as tentativas de dissolver o partido bolchevique e suas organizações dependentes, apesar da prisão de alguns de seus dirigentes.

TROTSKY

Leon Trotsky, nascido Lev Davidivich Bronshtein (26/10/1879 – 21/08/1940), foi um revolucionário e teorista marxista, político soviético e fundador e primeiro líder do Exército Vermelho.
No início de 1897, Trotsky ajudou a organizar a União dos Trabalhadores do Sul da Rússia. Em janeiro de 1898, ele e mais de 200 membros da União foram presos e por dois anos aguardaram julgamento. Na prisão de Moscou fez contato com outros revolucionários e pela primeira vez ouviu falar em Lenin e seus livros, tornando-se um marxista e passando a identificar-se com o POSDR. Em 1900 foi sentenciado a quatro anos de exílio na Sibéria, com a esposa Aleksandra, com quem tinha casado na prisão, e lá tiveram duas filhas. Em 1902 fugiu da Sibéria para Londres (onde manteve contato com Lenin também exilado) e logo separou-se de sua esposa, casando-se em seguida, mas permaneceram amigos. Suas filhas morreram diante dos pais e sua esposa foi assassinada em 1938 por forças stalinistas. Voltou à Rússia durante a Revolução de 1905 e no ano seguinte, foi preso e deportado, passando por diversos países e chegando finalmente aos Estados Unidos, onde recebeu a notícia da revolução de fevereiro de 1917. Trotsky, que inicialmente apoiara a facção menchevique do POSDR, uniu-se aos bolcheviques imediatamente antes da Revolução de Outubro, acabando por tornar-se um de seus líderes. Junto com Lenin, Zinoviev, Kamenv, Stalin, Sokolnikov e Bubnov, foi um dos sete membros do primeiro Politburo (o Politburo do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética foi o máximo órgão de governo e direção do Partido Comunista nos períodos intercongressos e era formado pelos principais membros do Comité Central e, na teoria, sujeito à sua disciplina. Na prática, o Politburo funcionava como o órgão principal de tomada de decisões políticas e o seu controle sobre o partido e sobre o Estado era quase absoluto) fundado em 1917 para gerenciar a Revolução Bolchevista. Durante os primeiros dias da República Federativa Socialista Soviética Russa (RFSSR) e da União Soviética serviu, primeiro, como Comissário do Povo para as Relações Exteriores e mais tarde como fundador e comandante do Exército Vermelho, com o título de Comissário do Povo dos Assuntos Navais e Militares. Foi figura importante na vitória bolchevique na Guerra Civil Russa (1918-1921) e tornou-se um dos primeiros membros do Politburo (1919-1926). Após liderar um conflito fracassado da oposição de esquerda contra as políticas e a ascensão de Stalin na década de 1920, e contra o papel crescente da burocracia na União Soviética, Trotsky foi removido do poder em outubro de 1927, expulso do Partido Comunista em novembro de 1927 e, finalmente, exilado da União Soviética, em fevereiro de 1929. Basicamente, Trotsky propugnava a expansão da revolução por outros países, enquanto Stalin formulava a doutrina do socialismo em um país único. Como presidente da Quarta Internacional, Trotsky continuou no exílio como opositor da burocracia stalinista na União Soviética. Por ordem de Stalin, foi assassinado no México, em agosto de 1940, por Ramon Mercader, um agente soviético espanhol. As ideias de Trotsky formaram a base do trotskysmo, escola importante do pensamento marxista que se opõe às teorias do stalinismo. Foi uma das poucas figuras políticas soviéticas que não foram reabilitadas pelo governo sob Nikita Khrushchev, na década de 1950. Ao final da década de 1980 seus livros foram liberados para publicação na União Soviética.

De setembro a outubro, a ofensiva militar contra os alemães, organizada por Kerensky (pressionado pelos aliados franco-britânicos) é derrotada. Milhares de soldados abandonam a frente, desertando em massa, terminando por engrossar as fileiras dos bolcheviques que prometiam paz imediata e distribuição das terras para os camponeses.
Em 6 de Outubro, com o avanço alemão ameaçando Petrogrado, o governo planejou evacuar a cidade. O Comitê Central foi contra e o plano foi abandonado. No dia 9, o Soviete votou a favor de um Comitê Militar Revolucionário (CMR) que o protegesse de possíveis golpes no estilo de Kornilov. Na prática, entretanto, esse comitê foi pouco mais que uma fachada para a atividade dos Guardas Vermelhos. Na noite de 21 de outubro, o CMR tomou o controle da guarnição de Petrogrado em nome da seção dos soldados do Soviete. O comandante do distrito, Coronel Polkovnikov, se recusou a ceder o comando, e foi condenado publicamente como "contrarrevolucionário".
A insurreição bolchevique começou em 24 de outubro, quando as forças contrarrevolucionárias tomaram medidas modestas para proteger o governo. O CMR enviou grupos armados para tomar as principais agências telegráficas e baixar as pontes sobre o rio Neva. A ação foi rápida e sem impedimentos.
O Governo Provisório não tinha mais condições de subsistir. Na madrugada do dia 25 de outubro, os bolcheviques liderados por Lenin, Zinoviev e Radek, com a ajuda de elementos anarquistas e Socialistas Revolucionários, cercaram a capital, onde estavam sediados o Governo Provisório e o Soviete de Petrogrado. Apoiados pelos principais regimentos de Petrogrado, pelos marinheiros da esquadra do Báltico e da Fortaleza de Kronstadt, e pelos Guardas Vermelhos (operários armados), tomam de assalto o Palácio de Inverno - sede do Governo Provisório. O mesmo acontece na maior parte do país, havendo apenas resistência maior em Moscou.
Um comunicado declarando o fim do Governo Provisório e a transferência do poder para o Soviete de Petrogrado foi emitida pelo CMR às 10 horas de 25 de outubro – de fato escrito por Lenin. À tarde, uma sessão extraordinária do Soviete de Petrogrado foi presidida por Trotsky. Ela estava cheia de deputados bolcheviques e socialistas de esquerda. O Segundo Congresso de Sovietes abriu naquela noite, escolhendo um Conselho de Comissários do Povo composto por três mencheviques e 21 bolcheviques e socialistas de esquerda que formaria a base de um novo governo. O Comitê Executivo do Soviete de Petrogrado rejeitou a decisão daquele congresso e convocou os sovietes e o exército para defender a Revolução.
Muitos foram presos, mas Kerensky conseguiu fugir da Rússia. À tarde, numa sessão extraordinária, o Soviete de Petrogrado delegou o poder governamental ao Conselho dos Comissários do Povo, dominado pelos bolcheviques e chefiado por Lenin. O Comitê Executivo do mesmo Soviete de Petrogrado rejeitou a decisão dessa assembleia e convocou os sovietes e o exército a defender a Revolução contra o golpe bolchevique. Entretanto, os bolcheviques predominaram na maior parte das províncias de etnia russa. O mesmo não se deu em outras regiões, tais como a Finlândia, a Polônia e a Ucrânia.
Na noite do dia 26 de outubro o Congresso aprovou o Decreto da Paz, propondo a retirada imediata da Rússia da Primeira Guerra Mundial e o Decreto da Terra, que propunha a abolição da propriedade privada e a redistribuição de terras entre os camponeses. Os bolcheviques finalmente haviam tomado o poder. Os sovietes, controlados por eles, haviam se transformado no poder de fato da Rússia, dissolvendo e anulando o papel da Duma e o governo de Kerensky.
Em 3 de novembro de 1917, um esboço do Decreto sobre o Controle Operário foi publicado. Esse documento instituía a autogestão em todas as empresas com cinco ou mais empregados. Isto acelerou a tomada do controle de todas as esferas da economia por parte dos conselhos operários, e provocou um caos generalizado, ao mesmo tempo que acelerou ainda mais a fuga dos proprietários para o exterior. Até mesmo Emma Goldman[2] viria a reconhecer que as empresas que se encontravam em melhor situação eram justamente aquelas em que os antigos proprietários continuavam a exercer funções gerenciais. Entretanto, este decreto levou a classe trabalhadora a apoiar o recém-criado e ainda fraco regime bolchevique, o que possivelmente teria sido o seu principal objetivo. Durante os meses que se seguiram, o governo bolchevique procurou então submeter os vários conselhos operários ao controle estatal, por meio da criação de um Conselho Pan-Russo de Gestão Operária. Os anarquistas se opuseram a isto, mas foram voto vencido. 
Lenin, Trotsky e a instalação do primeiro Estado Socialista
Era consenso entre todos os partidos políticos russos a necessidade da criação de uma assembleia constituinte, única com autoridade para decidir sobre a forma de governo que surgiria após o fim do absolutismo. Uma imensa manifestação pacífica a favor da assembleia constituinte foi dissolvida à bala por tropas leais ao governo bolchevique. As eleições para essa assembleia ocorreram em condições caóticas, em janeiro de 1918, como planejado pelo Governo Provisório e, à exceção do Partido Constitucional Democrata, perseguido pelos bolcheviques, todos os outros puderam participar livremente. Os bolcheviques dominavam Petrogrado, Moscou, Minsk e Kiev — ou seja, os grandes núcleos urbanos da Rússia Europeia. Mas seu poder estava longe de ser estável nas vastidões do agonizante Império Russo. Assim, as eleições deram imensa maioria aos partidos não-bolcheviques. Em seguida Lenin publicou suas Teses Sobre a Assembleia Constituinte, onde ele defendia os sovietes como uma forma de democracia superior à assembleia constituinte. Até mesmo os membros do partido bolchevique compreenderam que se preparava o fechamento da assembleia constituinte, e a maioria deles foi contra, mas o Comitê Central do partido ordenou o acatamento da decisão de Lenin. Pouco a pouco, se tornou claro que os bolcheviques pretendiam criar uma ditadura para si, inclusive contra os partidos socialistas revolucionários. Comprovada a hostilidade da maioria dos deputados ao Conselho de Comissários do Povo, Lenin ordenou seu fechamento. Isto levou os outros partidos a atuarem na ilegalidade, sendo que alguns deles passariam à resistência armada ao governo.
A Revolução de Outubro triunfara. O poder dos sovietes, dirigidos pelo partido bolchevista, desde então denominado de comunista, foi efetivado. Leon Trotsky assume o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Josef Stalin o das Nacionalidades (Interior). A Revolução Russa era vitoriosa e instalava o primeiro Estado socialista do mundo.
Como consequência da vitória bolchevique teve início uma era de terror, com o fuzilamento sumário de milhares de pessoas, que incluíram o do czar Nicolau II e de toda a sua família. O novo governo, presidido por Lenin, adotou uma série de reformas radicais, baseadas no marxismo e executadas por meio da ditadura dos sovietes. O objetivo dos comunistas, não fora apenas derrubar o governo provisório. Pretenderam criar uma nova sociedade, baseada no socialismo, com a nacionalização das terras de propriedade da nobreza e da igreja e cessão, aos camponeses, do direito exclusivo de sua exploração. O controle das fábricas e dos meios de produção seria abolida e transferido aos operários, os estabelecimentos industriais expropriados pelo governo e os bancos nacionalizados.
Começava a ditadura comunista, com todos os seus desdobramentos: a paz com a Alemanha, a Guerra Civil entre Brancos e Vermelhos (1918-23), a socialização (freada temporariamente pela NEP — Nova Política Econômica), a luta pelo poder entre Trotsky e Stalin e, enfim, a ditadura stalinista (1928-53), uma das mais sangrentas de todo o século XX.


[1] O assunto Kornilov (golpe Kornilov) foi uma tentativa militar de golpe de estado pelo então Comandante em Chefe do Exército Russo, General Lavr Kornilov, em agosto de 1917, contra o Governo Provisório Russo, chefiado por Alexander Kerensky. Após o golpe fracassado, Kornilov foi removido de sua posição no exército e encarcerado com outros 30 oficiais do exército, acusados de envolvimento na conspiração. Após a revolução de outubro de 1917, Kornilov conseguiu fugir e estabeleceu um Exército Voluntário, que lutou contra os bolchevistas durante a Guerra Civil Russa. Foi morto em batalha contra as forças bolcheviques em abril de 1918.
[2] Emma Goldman (27/06/1869 – 14/05/1940) foi uma anarquista e feminista lituana, que se tornou muito conhecida por seu ativismo, escritos políticos e conferências nos Estados Unidos. Emigrou para os Estados Unidos em 1885 e viveu em Nova Iorque, onde conheceu e passou a fazer parte do florescente movimento anarquista. Escreve artigos anticapitalistas e sobre a emancipação da mulher, problemas sociais e a luta sindical. Com seu amante, o escritor anarquista Alexander Berkman, planejou assassinar Henry Clay Frick como uma ação de propaganda. Frick sobreviveu ao atentado, mas Berkman foi sentenciado a vinte e dois anos na cadeia. Goldman foi presa várias vezes nos anos que se seguiram, por "incentivar motins" e ilegalmente distribuir informações sobre contracepção. Em 1917, Goldman e Berkman foram sentenciados a dois anos na cadeia por conspirarem para "induzir pessoas a não se alistarem" no serviço militar obrigatório, que havia sido recentemente instituído nos Estados Unidos. Depois de serem soltos da prisão, foram novamente presos, sendo deportados para a Rússia. Inicialmente simpatizantes da Revolução Bolchevique, Goldman rapidamente expressou sua oposição ao uso de violência dos sovietes e à repressão das vozes independentes. Em 1923, escreveu sobre suas experiências na Rússia, dando forma ao livro Minha Desilusão na Rússia.

Prossegue com a PARTE 6

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