Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 2a PARTE

A BUSCA
Embora os três parceiros contassem com muitos elementos, ainda faltavam algumas respostas essenciais para a montagem do seu musical. Por exemplo, quem seria a enigmática prioresa Elizabeth de Staynton e porque essa mulher da Igreja havia aparentemente assassinado Robin Hood e então se suicidado? O que aconteceu com Marian e, mais intrigante de tudo, onde teria Robin passado os misteriosos vinte e dois anos entre o seu desaparecimento em 1325 e a sua morte em Kirklees em 1347? Em busca desses elementos, os Russells e Graham Phillips decidiram passar o verão viajando pela Inglaterra em busca de novas pistas históricas. Eles nunca imaginaram quão extraordinária se tornaria essa busca.

No mapa dos condados da Grã Bretanha, ao lado, pode-se apreciar o palco onde se desenrolaram os eventos relacionados à vida de Robin Hood. Em amarelo, quase no centro da Ilha, encontra-se o maior condado inglês, Yorkshire, onde se situa a Floresta de Barnsdale; limítrofe deste, ao sul, em azul e bem pequeno, o condado de Nottinghamshire, onde fica a cidade de Nottingham e a floresta de Sherwood.
Vencedores da batalha de Hastings, os normandos franceses invadiram a Inglaterra saxônica em 1066. Em remotos condados do interior, muitos saxões que haviam sido oprimidos por seus supremos senhores Normandos, permaneceram fiéis à sua antiga religião pré-cristã e ainda veneravam suas principais deidades pagãs – o deus da floresta Herne, o deus caçador Laan e a deusa da natureza Eostre. Nos condados do Conde de Lancaster permitiu-se que a antiga religião prosseguisse paralelamente à Igreja estabelecida e ambas coexistiam pacificamente. Após a morte de Lancaster, entretanto, Henry de Facombery proibiu a velha religião e os fora-da-lei foram declarados heréticos.
Phillips e os Russells descobriram um manuscrito do século XVI, previamente desprezado, nas criptas da Biblioteca William Salt, em Stafford, que lançou uma fascinante nova luz sobre os papéis que Robin e Marian representaram nessa velha religião. O autor era o historiador Elizabethano Robert Vernon, que tinha feito um estudo da lenda de Robin Hood após a estréia da peça de Anthony Munday em 1598. A partir de documentos que ainda existiam em seu tempo, Vernon descobriu que os fora-da-lei de Sherwood consideravam Robin e Marian como personificações dos antigos deuses Eostre e Laan. De acordo com Vernon, após a morte dos históricos Robin e Marian, surgiu a lenda de que eles retornariam um dia. Além disso, a velha religião sobreviveu e ainda era praticada em segredo no principal santuário ao deus Herne – um azevinho sagrado que permanecia num antigo círculo de pedra nas profundezas da floresta da Inglaterra central. Sendo guardado por dois lobos espectrais, o santuário era conhecido por “The Heart of the Rose” (o Coração da Rosa).
Nos seus escritos, Roberto Vernon havia feito referência a uma lenda similar relativa a Robin e Marian. A lenda contava que Robin havia sido mortalmente ferido em batalha e que a donzela Marian o tinha levado ao ‘Coração da Rosa’ para tratar de suas feridas. Ali o deus Herne apareceu e deu-lhe o poder de cura para revivê-lo. De acordo com o conto popular, uma vez recuperado, Robin ganhou o poder do deus caçador Laan e foi capaz de reunir os fora-da-lei como oposição à tirania do Sheriff de Nottingham.
Assim, os Russells e Phillips tinham agora a resposta a um enigma previamente não resolvido: por que a lenda de Robin Hood havia sobrevivido por tão longo tempo antes que fosse popularizada pela peça de Anthony Munday. Segundo parece, Robin e Marian eram vistos, no passado, como figuras celestiais na mitologia Saxã; além de herói popular, Robin Hood era visto como ser semi-divino.

Intrigados por essas novas descobertas, Phillips e os Russells decidiram redescobrir a localização, há tanto esquecida, do ‘Coração da Rosa’. Embora ainda existissem registros históricos relativos à sua importância como santuário Saxão, em épocas pré-Cristãs, nenhuma referência específica à sua localização sobreviveu. O nome ‘Coração da Rosa’ parecia ser o nome medieval para o santuário, previamente referido em Latim como ‘Litha Duodecima’ (A Duodécima Pedra). Tudo o que eles sabiam é que ela estaria em algum lugar no centro da Inglaterra, pois era evidente o que o nome medieval implicava, tendo em vista que a rosa era o emblema da Inglaterra. Além disso, as lendas de Robin Hood sugeriam que ela estaria em algum lugar da Floresta de Sherwood.
Diz-se que o exato coração da Inglaterra é a vila de Meriden em Warwickshire, onde um monumento ainda marca o local. Por isso, eles decidiram concentrar sua busca numa mata próxima; se o ‘Coração da Rosa’ tivesse realmente existido, parecia improvável que o círculo de pedras ainda sobrevivesse. Havia, de fato, apenas uma área de bosque que poderia ter qualquer associação com Robin Hood: era um denso trecho de um bosque de pinho chamado Braden Wood, onde a lenda falava de um encontro entre Robin e um cervo gigante. Embora puro folclore, a história pode ter-se originado de uma tradição genuína relativa ao histórico Robin e sua associação com um santuário local onde o deus Herne era venerado. O cervo era considerado consagrado e Herne era muitas vezes representado com uma cabeça de cervo.
O círculo vermelho no mapa ao lado, localiza a Vila de Meriden, situada no condado de Warwickshire, considerado o ponto central da Inglaterra, não da Grã Bretanha. Logo acima pode-se ver a cidade de Nottingham e, um pouco mais ao norte, York.
Numa ensolarada e quente tarde do meio do verão, Phillips e os Russells visitaram Braden Wooden e foi ali que a extraordinária série de eventos iniciou. Os três encontravam-se seguindo uma trilha nas profundezas da floresta quando, subitamente, o som de uivos encheu o ar. Eles congelaram e olharam-se com surpresa, pois soava exatamente como o uivo de um lobo. Tal som, que poderia ser comum no agreste dos EUA, na Inglaterra central seria impossível, pois há séculos que não existiam mais lobos selvagens nas Ilhas Britânicas. Enquanto eles permaneciam escutando, o som gélido se fez ouvir novamente, desta feita como se dois lobos estivessem uivando em uníssono. Recuperando o ânimo, eles seguiram o som até uma solitária cabana à beira do caminho. Olhando em torno, eles viram que havia, de fato, dois lobos dentro de um cercado isolado no jardim da cabana. Verificou-se que o proprietário da cabana mantinha os animais como animais de estimação, tendo-os salvo quando um zoológico local havia sido obrigado a fechar. Pareceu uma estranha coincidência que eles estivessem procurando por um local que, dizia a lenda, fosse guardado por dois lobos e ali eles tivessem encontrado dois lobos reais.
Os três brincaram com a ideia de que tal fato poderia ser a forma do destino dizer-lhes que eles estavam próximos do local que procuravam. Embora, no momento, eles não vissem razão lógica para considerar a possibilidade seriamente, concluíram que não perderiam nada se procurassem na área de mata atrás da cabana e logo se encontraram numa clareira no meio da qual havia um único grande azevinho com cerca de 10m de altura. Quando Graham Phillips lembrou-lhes que o azevinho era considerado consagrado ao Deus Herne e que se dizia que havia um deles no ‘Coração da Rosa’, Graham Russell percebeu que havia algo realmente misterioso. A árvore estava coberta de frutos vermelho brilhante e ele disse que as bagas de azevinho não amadureciam até a chegada do inverno – de fato, pelo meio do inverno, razão pela qual elas são tradicionalmente associadas com o Natal. Contudo, aqui, elas haviam amadurecido no pico do verão. Obviamente, a árvore não poderia ter permanecido ali por mais de 700 anos, mas era certamente algo muito singular. Os lobos e agora o azevinho bizarramente amadurecido!
Diz-se que o ‘Coração da Rosa’ era um antigo círculo de pedras, chamados megálitos e encontrados por toda a Inglaterra; alguns deles estão admiravelmente bem preservados, como é o caso do maior e mais famoso, Stonehenge. Embora a maioria fosse muito menor e menos elaborada que Stonehenge, esses antigos monumentos foram todos erigidos há mais de 3.000 anos atrás, como locais de adoração. Anos depois, os Anglo-Saxões adotaram alguns deles como templos para seus próprios deuses e diz-se que o ‘Coração da Rosa’ teria sido o mais importante.
Não havia pedras aparentes em torno do azevinho. Contudo, se tivesse existido um círculo de pedras ali, seus megálitos poderiam ter caído há séculos atrás. Eles decidiram afastar as samambaias que cobriam o solo e, imediatamente, encontraram três grandes pedras semi-enterradas e cobertas de limo. Cada uma delas tinha cerca de 1,4 m de comprimento e eram retangulares, claramente modeladas pelo homem. Eram em tudo exatamente como os megálitos caídos de um antigo círculo de pedras. Nada estava marcado no mapa, mas os arqueólogos estão continuamente descobrindo os restos de círculos de pedra até então desconhecidos, quando megálitos caídos são desenterrados ou descobertos sob a terra por acidente. Os três não podiam ver outra razão pela qual tais pedras pudessem estar no meio da floresta e pareceu que eles tinham descoberto um círculo de pedras esquecido.
Teriam eles encontrado o ‘Heart of the Rose’? Certamente era uma possibilidade razoável. As pedras estavam no que tinha sido uma vez parte da Floresta de Sherwood; era próximo do centro da Inglaterra; era a única mata por milhas a volta, ligada a uma lenda de Robin Hood – especificamente, alguma que associasse os fora-da-lei com um cervo, o animal sagrado de Herne. Embora círculos de pedra megalíticos fossem comuns em algumas partes do país, muito poucos são conhecidos na Inglaterra Central. Que eles tivessem encontrado os restos do que parecia um, nesse local particular, tornou muito provável que fosse o sítio pelo qual estivessem procurando. O que era particularmente singular é que eles jamais teriam encontrado as pedras não fosse pelos lobos e então pelo azevinho peculiar. A despeito do que o senso comum ditasse, eles não poderiam fazer nada a não ser acreditar que tivessem sido conduzidos ao ‘Coração da Rosa’.

Nenhum comentário: