Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ROBIN HOOD E O CORAÇÃO DA ROSA - 3a PARTE


A LENDA
Sempre tive uma atração especial pelas histórias e lendas medievais, com seus monstros e dragões, cavalheiros destemidos e donzelas em aflição. E sempre me pergunto por que essas lendas sobrevivem? Talvez por que pessoalmente nos relacionamos ao que elas dizem? As lendas são de fato um exagero de uma verdade original? Este é o caso da lenda de Robin Hood? Por que a história de Robin Hood desafia o tempo e renasce com cada nova narrativa? É por que os personagens na história eram carne e sangue e viveram e amaram exatamente como nós? É por que eles se empenharam para conquistar os seus próprios medos e lutar pelo que as suas consciências lhes disseram o que era certo? Ou é por que há um elemento de magia e mistério situado apenas abaixo da superfície do conto – um que ainda existe logo abaixo da superfície do mundo moderno?
A popular história de Robin Hood que todos conhecem, imortalizada pelo mito de Hollywood e outras mecas da cinematografia, é baseada numa peça escrita por um contemporâneo de Shakespeare, Anthony Munday, em 1598. Ela narra o conto de um nobre deserdado que conduz um bando de foras-da-lei em sua luta contra o inescrupuloso Sheriff de Nottingham, a partir das profundezas da Floresta de Sherwood. A história é assentada nos anos 1190 quando o Rei Ricardo I, o Coração de Leão (Richard I, the Heart of Lion) encontra-se fora, participando das Cruzadas, e seu irmão, Príncipe John, governa a Inglaterra em seu lugar.
Na lenda, Robin Hood é o maior arqueiro e o melhor líder de homens – um fora da lei injustamente expulso de suas terras. Roubando dos ricos para dar aos pobres ele é uma inspiração para o tiranizado e oprimido. Para aqueles que abandonaram tudo o que tinham para segui-lo, ele é quase uma figura messiânica cuja liderança fornece finalidade e razão para as suas duras e amargas vidas. A história de Robin Hood tem sido contada por centenas de anos. Ela tem sido retratada em poemas, peças e novelas por sete séculos e, presentemente, aparece nos cinemas, na TV e até mesmo em desenhos. Mas trata-se simplesmente de uma história? De fato, soa muito como material de fantasia e sonho. Contudo, atrás do conto há uma verdade histórica: uma história real e tão impressionante e romântica quanto um mito medieval.

A HISTÓRIA
Muitos historiadores que haviam previamente buscado evidência da verdade através da história, examinaram registros a partir do reinado de Ricardo I. Como nada conclusivo foi encontrado, muitos acreditaram que Robin Hood era nada mais do que um mito.
Contudo, em sua pesquisa histórica, o escritor Graham Phillips descobriu evidência conclusiva de um Robin Hood histórico, de um período inteiramente diferente. A razão pela qual outros falharam em descobrir essa evasiva documentação foi que, baseados em enganos feitos por Anthony Munday, eles haviam pesquisado datas erradas. Nas criptas da Biblioteca Britânica, em Londres, sobrevive um conto de Robin Hood escrito mais de 200 anos antes dos tempos de Munday. Trata-se de um trabalho anônimo que apareceu pela primeira vez na segunda metade do século XIV, chamado “As Façanhas de Robin Hood”. A palavra original inglesa “Gest” (Façanhas) era uma palavra medieval que significa uma história ou conto, de forma que, por conveniência, o trabalho é mencionado como Gest. Estudiosos literários há muito que sabiam da existência da Gesta, mas muitos historiadores negligenciaram sua importância como evidência para um Robin Hood histórico. Significativamente, ela coloca a história numa época diferente da peça de Munday. Ela é assentada no início do século XIV e não ao final do século XII, quando o rei não é Ricardo I, mas Eduardo II. Robin também não é um nobre, mas um soldado – um cavalheiro no exército de Thomas, Conde de Lancaster. A ação se desenrola em 1322 quando Robin é forçado a tornar-se um fora-da-lei após o Conde de Lancaster ter falhado numa rebelião contra o Rei. A rebelião de Lancaster é um evento histórico e os registros mostram que muitos dos seus seguidores se refugiaram na Floresta de Sherwood para continuar uma campanha de guerrilha. O Conde de Lancaster havia sido o Lorde de Nottinghamshire e Yorkshire e havia liderado um levante popular contra as injustas taxas impostas pelo Rei, imediatamente após uma extrema falta de víveres. Infelizmente, Lancaster foi traído pela revelação de seus planos ao Rei por seu, até então leal, braço direito, Henry de Facombery. Quando o exército rebelde foi derrotado na batalha de Boroughbridge, em Yorkshire, em 15 de março de 1322, Lancaster foi morto e o Rei recompensou Facombery, designando-o Sheriff de Nottinghamshire e Yorkshire, sendo encarregado de capturar os rebeldes que haviam se refugiado na Floresta de Sherwood. Tudo leva a crer que Henry de Facombery tenha se tornado o lendário Sheriff de Nottingham.
  
O mapa ao lado mostra a região onde teria vivido Roberto Hode, ou Robin Hood, podendo-se ver Barnsdale (ao centro do mapa) no condado de Yorkshire e, mais abaixo, Nottingham e a Floresta de Shervood, já no condado de Nottinghamshire, conforme é relatado a seguir.
Seguindo o trabalho de um obscuro historiador de Yorkshire, de meados do século XIX, chamado Joseph Hunter, Graham descobriu um registro do líder dos rebeldes, que havia escapado logo após a derrota de Lancaster. Nos arquivos de Wakefield Manor, na borda norte da Floresta Barnsdale, cinquenta milhas ao norte de Sherwood, seu nome está registrado como Robert Hode. Como Robin era o apelido de Robert e Hode era a ortografia medieval de Hood, parecia que o Robin Hood histórico havia sido finalmente encontrado. De fato, em um documento particular, ele é referido como ‘Robin Hode’. É muito possível que esta e a Floresta de Sherwood fossem, naquele período da história uma só floresta ou que Robin tivesse atuado nos dois locais. Atualmente, Barnsdale Forest situa-se em Yorkshire ao passo que Sherwood Forest situa-se em Nottinghamshire, ao sul.
A possibilidade de que Robert Hode fosse de fato o histórico Robin Hood, foi apoiada pelos nomes dos outros fora-da-lei registrados como sendo do seu bando. Little John, o poeta equilibrado que compôs a primeira história de Robin Hood para preservar a verdade para o futuro, como braço direito de Robin tornou-se o contrapeso das decisões muitas vezes impulsivas do seu líder, geradas por seu amor por Marian.

Um homem conhecido por Little John é registrado como tendo sido enterrado no pátio da igreja próxima de Hathersage, onde seu túmulo ainda pode ser visto.
Além disso, há registros de um certo Frei Tuck, tido como Capelão de Lancaster e que tomou parte na revolta.
A esposa de Robert também era uma perfeita candidata para a donzela Marian, pois, digno de nota à época, ela de fato se teria juntado a ele na floresta e tido um papel ativo no conflito.
Tudo isso funcionou como prova adicional de que Roberto Hode teria sido o histórico Robin Hood. Robert era um cavalheiro relativamente abastado, nascido em Loxley, Yorkshire, que viveu em um solar modesto na margem da Floresta de Barnsdale. Em 1321 ele casou com uma garota da vila próxima de Woolley, chamada Matilda. Na peça de Anthony Munday, Matilda era o nome real da donzela Marian, sendo o nome Marian um cognome adotado por ela após ter-se refugiado na Floresta de Sherwood. Exatamente como na lenda, Matilda Hode juntou-se ao seu marido na floresta e, raro para a época, ela de fato representou um importante papel no movimento. Foi ela que primeiro conduziu Robin na confusão celestial de um novo mundo, pela descoberta do Coração da Rosa – o antigo santuário nas profundezas da floresta onde o tempo e o espaço não podiam penetrar. Todos esses fatos servem como espantosa confirmação de que Robert Hode foi de fato o Robin Hood histórico.
Os arquivos reais, datando do reinado de Edward II em Winchester, ao sul da Inglaterra, revelam que aos fora-da-lei de Sherwood, fora finalmente concedida anistia pelo rei em 1323, como recompensa por seu apoio em sufocar uma nova rebelião. Entretanto, dois anos mais tarde, com a rebelião deixada para trás, Edward II mudou de idéia e Robert e seus seguidores foram novamente colocados fora da lei e desapareceram de registro. Graham não pode encontrar evidência histórica do que aconteceu com Robert Hode. Contudo, a Gesta diz que Robin Hood teria sido finalmente assassinado – sangrado pela abadessa do Convento de Kirklees, em Yorkshire, quando ele buscou refúgio naquele lugar, em 1347. A razão pela qual a abadessa o teria assassinado é um mistério uma vez que o manuscrito que restou foi danificado e os que dizem respeito à traição não sobrevivem mais. Tudo o que se tem conhecimento é que, após matar Robin, a prioresa suicidou-se e Little John chegou apenas para enterrar o corpo do seu amigo nas proximidades.

À direita, a casa de recepção do Convento de Kirklees, em West Yorkshire, onde Robert Hode teria sido assassinado em 1347. Essa é a construção que restou do convento, que foi destruído muito pouco tempo após a sua morte.
O Convento de Kirklees historicamente existiu e Elizabeth de Staynton é de fato registrada como a prioresa pelos anos 1340’s. Quando seu túmulo foi encontrado nos anos 1950’s, a inscrição revelou que ela havia de fato morrido em 1347, exatamente no ano em que a Gesta diz que ela se teria suicidado.

Mais surpreendentemente ainda, o túmulo de um Roberto Hode foi descoberto numa mata próxima. O túmulo original não se encontra mais lá, mas em 1665 um historiador local chamado Nathaniel Johnston fez um esboço do que dele ainda sobrevive. Hoje, um monumento em ruínas, do século XIX, marca o local, trazendo uma inscrição que clama ser ele o local real do túmulo de Robin Hood.
Ao lado, o local do túmulo original de Robin Hood, a cerca de 600 m do Convento de Kirklees.

2 comentários:

Gilda Souto disse...

A lenda vira história , ou a história vira lenda...não importa, ma há uma certa magia no conto de quem conta...e reconstrói, com a história, aquela magia desta lenda.Sua curiosidade é benvinda para quem gosta de ouvir histórias. Parabéns.

Nelson Azambuja disse...

Querida e fiel seguidora:
Mais uma vez muito grato pelo comentário mas, principalmente, pela fidelidade beneditina.
Hoje, sem falta, publico a Quarta e última parte de "Robin Hood e o Coração da Rosa". Não perca!
OBrigado.