Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 23 de março de 2010

UM POUCO DA HISTÓRIA DOS HEBREUS - PARTE IV (ÚLTIMA)

A partir daí, o cronista bíblico concentra-se no relato da história de um dos filhos de Jacó, especificamente José ou José do Egito, como ficou conhecido. Ele foi o décimo primeiro filho de Jacó, nascido de Raquel, citado no livro do Gênesis, do Antigo Testamento, considerado o fundador da Tribo de José, constituída, por sua vez, pelas semi-tribos de Efraim e de Manassés (seus filhos). José teria sido o filho preferido de Jacó, apesar de não ser o seu primogênito (mas o primeiro filho de Raquel, a mulher que mais amava) e nunca escondeu a sua posição de superioridade, em relação aos outros irmãos, que se ia manifestando através de sonhos em que a sua figura tomava sempre um lugar de destaque e liderança. O favoritismo de que era alvo, por parte do pai, valeu-lhe a malquerença dos irmãos, que o venderam como escravo, por 20 moedas de prata, a mercadores ismaelitas, que o levaram ao Egito do período da XVII dinastia (faraós hicsos).
No Egito, José foi comprado por Potifar, oficial e capitão da guarda do rei, de quem conquistou a confiança e tornou-se o mais diligente dos criados e adimistrador da casa, após estudar com um escriba e aprender o egípcio antigo. Sofreu acusação injusta de tentativa de abuso da mulher do seu amo, após tentativa frustada de sedução por parte desta e por isso foi preso. Na prisão, tornou-se conhecido como intérprete de significado dos sonhos e decifrou o sonho dos copeiro-chefe e padeiro-chefe do palácio do Faraó Apopi I, presos e acusados de conspiração. Segundo a interpretação de José, o sonho do padeiro-chefe indicava que ele seria enforcado e o do copeiro-chefe que seria salvo, o que de fato ocorreu. Um dia, o Faraó teve um sonho em que sete vacas magras comiam sete vacas gordas e mesmo assim continuavam magras. Ele convocou todos os sacerdotes do Egito para decifrá-lo, mas nenhum deles conseguiu. José foi então chamado e interpretou o sonho do Faraó como se o Egito fosse passar por sete anos de fartura e sete anos de seca. Satisfeito com a interpretação dada por José, o Faraó o nomeia Adon do Egito, um cargo semelhante a chanceler, embora algumas versões da bíblia mencionem a palavra Governador. José, então, ordena a construção de celeiros para armazenar a produção do Egito durante os anos de fartura. Com isso ele conseguiu, não apenas evitar a fome em sua região, como vender, na época da seca, alimento a preço de ouro à região do Alto Egito, assim desastabilizando a situação política do grande adversário (Taá II, apoiado pela casta religiosa do Baixo Egito) do seu Faraó. O Faraó deu a José, por esposa, a filha de um sacerdote egípcio, da qual lhe nasceram dois filhos: Manassés e Efraim, que não prestavam culto ao Senhor, especialmente Efraim que rapidamente prosperou.
Por causa da fome nos países vizinhos, os irmãos de José, com exceção de Benjamim, seu único irmão por parte de pai e mãe, acabaram por ir ao Egito em busca de suprimentos. Seus irmãos não reconheceram José, que forneceu-lhes os cereais mas fingiu suspeitar de que fossem espiões. Finalmente liberou-os para a partida, mantendo apenas Simão cativo, dizendo-lhes que trouxessem Benjamim como prova de que eram honestos. Jacó, inicialmente, não permite, mas depois concorda que Benjamim acompanhe os irmãos de volta ao Egito. São bem recebidos por José que esconde sua taça de prata na bagagem de Benjamim, simulando um furto. O irmão mais novo é ameaçado de prisão mas os irmãos mostram-se solidários e Judá se oferece para ficar no Egito em lugar de Benjamim. Certo do arrependimento de seus irmãos, José se revela, perdoa a todos e os convida para irem com seus rebanhos ao Egito, onde são assentados e se multiplicam na região mais propícia à criação de ovelhas e cabras. Antes de morrer, Jacó chamou a José e seus filhos e os abençoou. José, o filho predileto de Jacó, praticamente ressuscitado e elevado a um glorioso posto, ainda havia salvo toda a sua família de uma fome calamitosa. Jacó refletiu sobre a maneira como Deus encaminhara as circunstâncias da sua vida e lembrou-se da ocasião em que Deus lhe apareceu novamente, prometendo que faria dele uma multidão de povos e daria a terra de Canaã à sua descendência em possessão perpétua. O plano de Deus permitiu a Jacó não só ver seu filho outra vez, mas também seus netos. Nesta ocasião Jacó adotou como seus filhos diretos os dois filhos de José, que passaram a ter os mesmos direitos que seus próprios filhos. Trazendo seus filhos a Jacó, aquele sobre quem ele colocasse sua mão direita receberia a benção principal. Como profeta de Deus, Jacó sabia que o mais novo, Efraim, teria preeminência sobre seu irmão mais velho: outra vez não seria exercido o direito à primogenitura. Sem saber disso, José colocara Manassés do lado direito de Jacó. Mesmo sem poder ver, pois já havia perdido a visão em sua velhice, Jacó percebeu quem era quem e simplesmente cruzou seus braços para que sua mão direita repousasse sobre Efraim. Jacó faleceu no Egito onde foi mumificado e transportado por José e seus outros filhos para sepultamento em Hebron, com os dois outros patriarcas. Depois de haver sepultado seu pai, José retornou ao Egito com os seus irmãos e todos os que o haviam acompanhado a Canaã e habitou no Egito, junto com a casa de seu pai, tendo conhecido os filhos de seus filhos até a terceira geração. Ao morrer garantiu a seus irmãos a vinda de Deus para conduzi-los à terra que prometeu a Abrahão, Isaque e Jacó; e os fez prometer que o transportariam ao túmulo de seu pai.
Nessa época, vários conflitos civis ocorreram no Egito, terminando com a vitória de Taá II e é muito provável que José tenha morrido em um desses movimentos. No Egito foi embalsamado e colocado em um caixão para ser transportado a Canaã com sua família.
Nesse ponto encerra-se o livro da Gênesis do Antigo Testamento da Bíblia, e inicia-se o Êxodo. A Bíblia omite, em sua narrativa, um longo período após a morte de José e inicia, novamente, num período em que o Faraó reinando no Egito era já outro que não conhecera José. Naquela época a nação israelita havia proliferado enormemente e os mandatários egípcios, temerosos do grande aumento de sua população e do seu poder, haviam-na subjugado à escravidão completa. Malgrado todas as medidas tomadas, a população do povo de Israel crescia em enormes proporções e o Faraó teria então ordenado que todo o menino nascido dos judeus, fosse lançado ao rio para morrer afogado. E surge então a figura de Moisés, filho de um membro da tribo de Levi e sua esposa, que o tendo concebido, para salvar-lhe a vida colocou-o em um cesto nas margens do Nilo. O menino teria sido encontrado pela filha do Faraó que compadeceu-se do menino ao saber que era filho de hebreu e adotou-o, dando-lhe o nome de Moisés. Este cresceu entre os egípcios mas tornando-se adulto e entrando em contato com o povo Hebreu soube de sua origem e iniciou a defesa do seu povo, passando a ser perseguido pelo Faraó; juntou-se novamente a seu povo pelo casamento com uma israelita, filha de pastores.

Em Êxodo, a Bíblia narra como Moisés e seu irmão mais velho Arão (posteriormente sumo sacerdote dos hebreus), lideraram os hebreus das 12 tribos em sua fuga do Egito. Durante a narrativa, as tribos são contadas, e seus líderes e representantes são nomeados, demonstrando um forte senso de individualidade entre as tribos e as meio-tribos de José. À tribo de Levi são designadas as tarefas sacerdotais e os direitos e deveres diferenciados que estas tarefas implicavam. As demais mantiveram-se com os mesmos direitos e obrigações, embora, através do número de membros, algumas tribos já pudessem gozar de alguma superioridade política.
Moisés liderou as 12 tribos pelo deserto da Península do Sinai sem penetrar em Canaã; seu sucessor Josué recebeu a tarefa de coordenar a tomada de Canaã. Para que ocorresse de forma ordenada, a terra de Canaã foi dividida entre cada uma das tribos e meias-tribos, que se encarregaram de conquistá-las, na maior parte dos casos sem o auxílio das demais. Uma das tribos, a de Levi, não recebeu uma porção territorial fixa, mas sim algumas cidades distribuídas por toda a Palestina.

OS HEBREUS
Hebreus significa, etimologicamente, "descendentes do patriarca bíblico Éber", sendo o nome dado ao povo que viveu na região do Oriente Médio a partir do segundo milênio AC, e que daria origem aos povos semitas, como os árabes e os israelitas, antepassados históricos e espirituais dos atuais judeus. Éber, ou Heber, é um dos descendentes de Noé, da linhagem de Sem, e ancestral de Abrahão. Eber, também pode ser interpretado como “do Outro Lado ou do Oriente - além do Rio Jordão -, importante rio da Terra Santa. Entretanto, também etimologicamente, e aí o termo pode vir do de Éber ou da raíz “a-vár”, o termo hebreu significa “passar, transitar, atravessar ou cruzar” e, nesse caso, denotaria “viandantes”, ou seja, aqueles que viajam, tendo em vista que eram descendentes de povos nômades.
Podemos dizer que a história dos hebreus foi dividida em três grandes etapas: governo dos patriarcas, governo dos juízes e governo dos reis.
Na era dos patriarcas os hebreus foram dirigidos pelos patriarcas, líderes políticos encarados como “pais” da comunidade. Como vimos, o primeiro grande patriarca foi Abrahão, segundo o antigo testamento, mesopotâmico, originário de Ur, na Caldéia. Após a saída de Ur, na Mesopotâmia, conduzidos por Abrahão, em direção à Palestina (estreita faixa de terra entre a Fenícia, atual Líbano, e o Egito), os hebreus dividiram-se em tribos, formadas por clãs patriarcais que cultuavam a um único Deus (monoteismo), acreditando ser o povo eleito, de onde Deus escolheria determinados membros do grupo para que estes fizessem com que os planos divinos fossem cumpridos. Os clãs eram construídos por um patriarca e pelos filhos e servos; praticavam uma economia baseada no pastoreio, que evoluiu para a agricultura graças à fertilidade das terras do norte e das zonas montanhosas do sul da Palestina. Os hebreus permaneceram por três séculos na Palestina, até a ocorrência de uma violenta seca que abalou a região.
De Abrahão a liderança foi passada a seu filho Isaque e depois para Jacó, filho de Isaque. Seu nome foi posteriormente alterado para Israel, de onde tiveram origem as doze tribos de Israel.
Quando os hebreus chegaram à Palestina, vindos do Egito, por volta de 1550 AC, conduzidos por Moisés, a região encontrava-se já ocupada. De início, fixaram-se nas regiões localizadas a oeste do mar Morto, mas pouco a pouco ocuparam as margens do Mediterrâneo e as terras do norte da Palestina. Nessa época, todos os hebreus eram julgados pelo Patriarca.
Posteriormente, com o envolvimento do povo judeu em suas guerras pela conquista de Canaã, surgiram os líderes militares, indicados pelas doze tribos de Israel. Que julgavam tudo e todos. Foi o governo ou era dos Juízes, período que se estendeu por cerca de 300 anos, entre a conquista de Canaã (Palestina) e o início da Monarquia. Entre esses chefes, tornaram-se famosos Gideão, Jefté, Samuel e Sansão, conhecido por sua força descomunal.
No século XII AC, os chamados povos do mar, entre eles os filisteus, ocuparam as planícies litorâneas. As constantes lutas entre os dois povos terminaram com a vitória dos hebreus. Os filisteus sempre representaram e nessa época ainda representavam grande ameaça aos hebreus, visto que lutavam pelo completo controle do território da Palestina. No século X AC, a Palestina aproveitou o enfraquecimento dos grandes impérios vizinhos para expandir o seu território. Isso fez com que os hebreus instituíssem a monarquia, como forma de centralização de poder e proporcionar mais força para enfrentar os adversários. O primeiro rei hebreu foi Saul, da tribo de Benjamim, que não teve sucesso ao enfrentar os filisteus e suicidou-se em batalha, com seu escudeiro, ao perceber que não conseguiria derrotar os seus adversários. Seu sucessor Davi, de história bem conhecida, no século XI AC, mostrou grande eficiência nos combates militares, conseguindo vencer os seus inimigos, tornando a nação hebraica forte e estabilizada e expandindo os domínios do seu reino que tinha Jerusalém como capital. Seu filho Salomão o sucedeu em 966 AC, quando ainda muito jovem, ficando conhecido na história pela imensa fortuna e sabedoria que acumulou. Ampliou a participação de Israel no comércio e construiu inúmeras obras públicas – como o famoso Templo de Jerusalém, dedicado a Jeová (Javé).
Com a morte de Salomão, o reino dividiu-se em dois: o Reino de Israel e o Reino de Judá, com as capitais, respectivemente em Samaria e Jerusalém. Com isso o reino original tornou-se vulnerável, sendo invadido pela Babilônia, com Nabucodonosor, em 587 AC e levado a cativeiro que durou até 539 AC, quando foram libertados pelo imperador persa Ciro, o Grande, que apoderou-se da Babilônia, e retornaram à Palestina para a reconstrução do Templo, da cidade e de suas muralhas.
Depois da conquista do Império Persa pelo macedônio Alexandre o Grande, a Palestina foi conquistada pelos greco-macedônios, ficando submetida à influência helenística. Finalmente foram conquistados pelos romanos. Em 70 DC Tito, general romano, destruiu Jerusalém e os hebreus abandonaram a Palestina, constituindo a chamada Diáspora.
Somente em 1948 foi fundado novamente o Estado de Israel, que permanece até hoje em meio a incessantes conflitos com as nações árabes vizinhas.

Um comentário:

Gilda Souto disse...

Foi muito muito boa a leitura!