Na primeira parte da nossa história da Inglaterra, expusemos a terminologia geográfica envolvida na área em foco e apresentamos um rápido esboço dos povos que formaram e habitaram as ilhas britânicas. A existência dessa primeira parte era vital para o bom entendimento do que segue.
Nessa segunda parte, que ora iniciamos, apresentaremos uma linha temporal da história britânica, para que o leitor possa ter, inicialmente, uma idéia rápida e compacta do todo, para, posteriormente, passarmos à história detalhada das ilhas britânicas. Com isso, o leitor menos curioso do assunto poderia deter-se já ao final da apresentação desta segunda parte, ficando com uma boa idéia, resumida, do assunto que nos propusemos apresentar.
Retorno mais uma vez à origem da minha idéia, para recordar que o objetivo principal desse amplo artigo é a figura lendária do Rei Arthur e seus Cavaleiros da Távola Redonda. Há sim, muito sentido em estudar as épocas anteriores à figura central do relato, mas quase nenhum no estudo das épocas posteriores ao acontecimento que mais interessa. Por essa razão, viemos às origens do mundo britânico, mas muito pouco avançaremos na história da Inglaterra, além da época em que se desenrolaram os assuntos relativos à figura histórico-lendária do Rei Arthur.
NEOLÍTICO E IDADE DO BRONZE
6000 AC – 800 AC
O Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Polida, começou em 8000 AC e foi o último período da Pré-História, terminando com o surgimento da escrita. A transição do Neolítico para a Idade dos Metais (Idade do Bronze e Idade do Ferro) caracterizou a transição da Pré-História para a História.
6000 AC
A Britain separa-se do Continente Europeu
Acompanhando o final da última Era do Gelo, em torno de 10.000 anos atrás, os níveis do Mar do Norte começaram a elevar-se pelo degelo de grandes lençóis gelados. Em algum tempo após 8200 AC, a última “ponte terrestre” seca, de Libcolnshire e East England para a Holanda, foi tomada pelo pântano salgado. Em torno de 6000 AC até mesmo os pântanos já tinham sido, em sua maior parte, afogados pelo mar.
4500 AC – 3500 AC
São introduzidas as técnicas agrícolas do Continente
Ainda antes de 4500 AC, os povos do Paleolítico e Mesolítico (Antiga e Média Idade da Pedra) eram nômades, caçadores e apanhadores de plantas selvagens. Pelo meio do quinto milênio AC, um novo modo de vida, baseado na agricultura e criação de animais, foi introduzido do Continente. A substituição da caça e da coleta foi gradual e não foi completada até a última parte do terceiro milênio AC na Britain. Assim que a agropecuária foi estabelecida, as comunidades começaram a se fixar.
Inicia-se a produção da cerâmica simples
A manufatura da cerâmica requer o controle de altas temperaturas e é um importante desenvolvimento tecnológico antigo. A cerâmica chegou à Britain com os primeiros agricultores. Os primeiros vasos de cerâmica não eram, em geral, decorados, com bordas pesadas e bases arredondadas. A partir de 3500 AC as partes superiores de alguns vasos de cerâmica eram decoradas com padrões feitos enquanto a argila estava ainda mole. A cerâmica é muito importante para os arqueólogos porque muito durável, sobrevivendo no solo por milhares de anos.
4500 BC – 2500 BC
Ferramentas de pedra cada vez mais sofisticadas são construídas através de novas técnicas de polimento
Por toda a Idade da Pedra (do Paleolítico ao Neolítico), as ferramentas de pedra eram confeccionadas lascando-as ou britando-as. Isso envolvia a remoção de lascas com uso de uma pedra como martelo ou um “martelo macio” de osso ou corno. No Neolítico, machados e facas eram, primeiramente, esboçadas pela britagem e depois eram polidas com o uso de areia abrasiva e água ou uma pedra abrasiva de forma adequada. Esse processo demorado produzia uma borda cortante mais durável, que podia ser facilmente afiada.
As casas tornam-se cada vez mais sólidas e permanentes
As casas da era Mesolítica (meio da Idade da Pedra) eram principalmente estruturas leves adequadas ao estilo de vida nômade. Já as casas do Neolítico (último período da Idade da Pedra) eram mais permanentes, com telhados de colmo e paredes de aveleira entrelaçada ou hastes de salgueiro, tornados a prova do vento com uma mistura de argila, palha e estrume. As primeiras casas do Neolítico eram muitas vezes de forma retangular, mas em torno de 3000 AC, casas redondas começaram a tornar-se mais populares. Esse fato coincide com o aparecimento dos monumentos rituais circulares, como os “henges” e túmulos de passagem. A palavra "henge" é uma palavra nova, criada pela remoção do prefixo real ou suposto, da palavra Stonehenge, o famoso monumento em Wiltshire, sudoeste da Inglaterra.
Desenvolvimento da poda e da carpintaria
A escavação das árvores para a confecção de botes de troncos iniciou no Mesolítico, mas a carpintaria do uso de grandes madeiras estruturais para construção foi uma inovação do Neolítico. A poda é o corte regular e sistemático de uma árvore ou arbusto para estimular o rápido crescimento dos brotos. O machado polido de pederneira era a principal ferramenta usada. As grandes árvores eram derrubadas com machados e desmembradas em pranchas. Hastes e estacas menores, cortadas de aveleiras podadas eram entrelaçadas para fazer cercas e barreiras.
4500 BC – 2000 BC
Pederneira e pedra começam a ser extraídas do subsolo
Os machados feitos de pederneira polida foram importantes ao longo do Neolítico e do início da Idade do Bronze. Pedra de fina granulometria era extraída da encostas da Cumbria, Wales, Cornwall e Northern Ireland. A pederneira minerada é de melhor qualidade que a de superfície.
4500 BC – 3000 BC
Pequenos assentamentos permanentes são desenvolvidos
Há menos assentamentos primitivos do Neolítico na England e Wales – que podem refletir um estilo de vida mais móvel entre os primeiros fazendeiros dessas áreas – do que na Scotland e Ireland. Os mais primitivos assentamentos do Neolítico eram constituídos por uma a três casas, possivelmente com uns poucos anexos. Raramente eram defendidos, exceto na Cornwall. A maioria dos assentamentos era colocada a alguma distância das áreas de túmulos.
4000 AC – 3000 AC
Os enterros comunitários começam a ser praticados
As comunidades primitivas do Neolítico enterravam seus mortos em túmulos compartimentados. A tradição mais primitiva, em torno de 4000 AC, de longos túmulos, possuíam câmaras feitas de grandes pedras (megalitos), ou madeiras, dentro de um longo montículo trapezoidal com um átrio onde os ritos funerários aconteciam. Posteriormente (a partir de cerca de 3000 AC), os túmulos “de passagem” desenvolveram os enterros comunitários, provavelmente para ajudar a unir as comunidades em cenários escassamente povoados.
INVERNO DE 3807 AC – PRIMAVERA DE 3806 AC
A primeira trilha de madeira da Europa é construída
A “Sweet Track”, no Somerset Levels, consiste em uma trilha de madeira elevada, acima do terreno pantanoso, sobre apoios de traves cruzadas. Ela se estendia através de um charco entre o que era então uma ilha e uma área alta. Foi escavada entre 1970 e 1982 e sua idade precisa revelada por estimativa de anéis de árvore (dendocronologia). O Somerset Levels é uma planície costeira alagada, escassamente povoada, do Somerset central, England.
3500 AC
Surge o primeiro local para cerimoniais
Os primeiros encontros cerimoniais, onde diferentes comunidades se reuniam, tiveram lugar dentro de recintos fechados com passadiços, denominados a partir das valas grosseiramente circulares que definiam seus limites, cavadas em segmentos separados por passadiços. A maioria das valas era preenchida e reaberta de tempos em tempos, e os enchimentos das valas incluíam oferendas como crânios de animais e humanos, ossos com carnes, cerâmica e machados de pedra sem uso. Em muitos casos as áreas em torno dos recintos fechados eram, subseqüentemente, transformadas em cenários de rituais.
3300 AC – 1200 AC
São construídos os primeiros círculos de pedra e 'henges'
Embora círculos de pedra ocorram na Europa continental, “henges” são um fenômeno tipicamente “British” e “Irish”. Eles consistem de uma vala circular e uma barreira externa, normalmente circundando conjuntos de estacas ou pedras verticais. Esses locais podem ser adentrados por meio de uma, duas ou mais vias de acesso. A maioria dos “henges” se situa dentro de “cenários rituais” especializados e podem ser ligados a avenidas estaqueadas por pedras verticais ou barreiras e valas. Os mais conhecidos são Stonehenge e Avebury em Wiltshire.
3300
Desenvolvimento dos túmulos de ‘galeria’
A tradição original (cerca de 4000 AC) era de longos túmulos, mas em torno de 3000 AC começaram a se desenvolver os túmulos de “galeria”. Eles consistiam de um “hall” central feito de pedra com três ou mais câmaras laterais, alcançadas por uma longa e baixa passagem, da qual o nome é derivado. A passagem e as câmaras eram ocultas dentro de um grande túmulo redondo; a passagem era muitas vezes alinhada de acordo com o nascer do sol do meio do inverno.
3000 BC – 1500 BC
As povoações proliferam e mais terra é desmatada para cultivo
A tecnologia alterou-se no início da Idade do Bronze (2500 AC na Britain), mas o modo de vida básico permaneceu praticamente o mesmo. A maior freqüência de assentamentos conhecidos, aliada à evidência do aumento do desmatamento de terras de cultivo, indica um crescimento populacional constante. A partir de 2500 AC, as casas redondas eram a principal forma de construção doméstica. A partir de 2000 AC surgem evidências de sistemas de campos, muitas vezes alinhados com túmulos pré-existentes, que sugerem que eles seguiam sistemas primitivos de partição da terra.
Proliferam os 'cenários rituais' como ‘henges’ e túmulos redondos
A partir de cerca de 3000 AC algumas áreas ritualmente importantes em tempos anteriores, ganharam significado maior. Há evidência de locais de cerimoniais menores e mais especializados como os ‘henges’. Uma imensa variedade de túmulos redondos da Idade do Bronze começaram a proliferar após 2500 AC. Os cenários rituais eram normalmente localizados na zona rural plana ou ondulada, como Salisbury Plain, ou em vales fluviais. Muitas vezes eles se agrupavam em torno de cercados com passadiços e haviam dezenas ou mesmo centenas de monumentos diferentes.
Túmulos simples em cemitérios redondos substituem os enterros comunitários
A prática dominante de enterros comunitários foi substituída por um novo rito de túmulos dentro de cemitério redondos. O sepultamento para o qual o cemitério havia sido originalmente feito, é conhecido como o “principal”, mas muitas vezes uma série de sepultamentos ou cremações secundários eram introduzidos. Eles sugerem que os cemitérios marcavam uma presença importante no panorama e que eram significativos para uma família, clã ou tribo. Algumas vezes, o “principal” era provido de bens mortuários valiosos, sugerindo uma sociedade crescentemente hierárquica.
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