Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 7 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (2) (Décima Parte)

Os povos da Britain - Introdução 
A história da Britain primitiva tem, tradicionalmente, sido contada em termos de ondas de invasores que deslocavam ou aniquilavam seus predecessores. A arqueologia sugere que esse quadro está fundamentalmente errado. Por mais de 10.000 anos os povos se movimentaram, entrando e saindo da Britain, algumas vezes em números significativos; contudo, sempre existiu uma continuidade básica de população. A comunhão de genes da ilha alterou-se mais lentamente e, de longe, menos completamente do que se deduziu pelo “modelo de invasão”; e a noção de migrações em grande escala, uma vez a explicação chave para as mudanças na Britain primitiva, tem sido amplamente desacreditada. Uma continuidade genética substancial da população não impede desvios na cultura e identidade. É de fato bastante comum observar alterações culturais importantes, incluindo a adoção de identidades totalmente novas, com pouca ou nenhuma alteração biológica para uma população. Milhões de pessoas desde os tempos romanos têm pensado em si próprios como britânicos (British), por exemplo, embora essa identidade somente tenha sido criada em 1707, com a união de Inglaterra, País de Gales e Escócia. Antes dos tempos romanos, “Britain” era apenas uma entidade geográfica sem significado político e sem identidade cultural. Compreensivelmente, isso permaneceu verdadeiro até o século XVII quando James I da Inglaterra e VI da Escócia pensou em estabelecer uma pan-monarquia britânica. Durante toda a história registrada, a ilha tinha consistido de múltiplos grupos e identidades culturais. Muitos desses agrupamentos procuraram fora, através dos mares, por suas conexões mais próximas – eles não se conectavam, necessariamente, de forma natural, com seus companheiros ilhéus, muitos dos quais eram mais difíceis de alcançar do que os vizinhos marítimos na Irlanda ou na Europa continental. Em consequência, não faz sentido olhar para a “Britain” isoladamente; é preciso considerá-la com a Irlanda, como parte do mais amplo “Arquipélago Atlântico”, mais próxima da Europa continental e com a Escandinávia, parte do mundo do Mar do Norte.

Primeiros povos
Da chegada dos primeiros humanos modernos – que eram caçadores-coletores, seguindo a retração do gelo da Era Glacial em direção ao norte – ao início da história registrada vai um período de cerca de 100 séculos ou 400 gerações. Este é um vasto período de tempo e sabemos muito pouco sobre o que aconteceu naqueles anos; é mesmo muito difícil responder à questão “Quem foram os povos originais da ‘Britain’?”, porque eles não deixaram qualquer registro sobre si próprios. Podemos, entretanto, dizer que, biologicamente, eles eram parte da população Caucasóide da Europa. Os estereótipos físicos regionais, familiares a nós, - hoje um padrão amplamente visto como resultado das invasões pós-romanas, Anglo-Saxônica e Viking (povos de cabelos avermelhados na Escócia, pequenos e de cabelos escuros no País de Gales e cabelos loiros e escorridos ao sul da Inglaterra), já existiam nos tempos romanos. Na medida em que representam a realidade, eles talvez provem o povoamento da “Britain” após a Era Glacial, ou os primeiros fazendeiros de 6.000 anos atrás. Desde muito cedo, as limitações e oportunidades dos ambientes variados das ilhas da Bretanha encorajaram uma grande diversidade regional de cultura. Através da pré-história houve uma miríade de sociedades em pequena escala e muitas identidades tribais insignificantes, que duravam não mais do que pequenas gerações antes de se cindirem, fundirem ou serem eliminadas. Esses grupos estavam em contato e conflito com seus vizinhos e, algumas vezes, com grupos mais distantes – a aparência de objetos importados exóticos atestam intercâmbios, alianças e laços de similaridade e guerras.

Revolução neolítica?
A mudança de um sistema de vida caçador-coletor para fazendeiro é o que define o início da Era Neolítica ou Nova Idade da Pedra. Na Britain, o período precedente às últimas sociedades caçadoras-coletoras do pós glacial, é conhecido como Mesolítico ou Média Idade da Pedra. Costumava-se acreditar que a introdução da cultura na Bretanha havia sido resultado de uma enorme migração ou movimento de população através do Canal da Mancha (British Channel). Hoje, estudos de DNA sugerem que o influxo de novas populações foi, provavelmente, muito pequeno – alguma coisa em torno de 20% da população total foi imigrante. Assim, a maioria dos primeiros fazendeiros foi, provavelmente, gente do Mesolítico que adotou a nova forma de vida e levou-a com eles para outras partes da Britain, o que não foi uma mudança rápida – a cultura demorou cerca de 2.000 anos para se difundir por todas as partes das Ilhas Britânicas. Não foi, portanto, uma “revolução Neolítica”, mas uma transição relativamente gradual. Sabemos, por exemplo, que os caçadores do Mesolítico administravam ou zelavam por sua caça. Eles faziam clareiras nas matas em torno de água potável, esforçando-se para que as manadas de veados e outros animais que caçavam não fossem sobre exploradas. Tampouco a mudança, de caça administrada para cultura pastoral, foi uma brusca alteração. Os primeiros fazendeiros trouxeram os ancestrais de gado, ovelha e carneiro com eles, do continente. Porcos domésticos foram desenvolvidos a partir de porcos selvagens que viviam nas florestas da Bretanha. Fazendeiros do Neolítico também mantiveram cães domesticados, que foram desenvolvidos a partir de lobos. É possível que as primeiras criações domésticas fossem permitidas vaguear, atendidas por uns poucos pastores.

Sepultamentos e crenças
Os fazendeiros do Neolítico também trouxeram consigo as primeiras sementes de trigo e cevada que haviam sido cultivadas milênios antes, a partir de gramíneas selvagens que cresciam na região do atual Iraque. Inicialmente, os cereais provavelmente cresciam em locais ajardinados próximos das casas dos povoados. Após colhido, o grão necessitava ser armazenado e protegido contra as pestes naturais e os grupos piratas, o que acentuou um modo de vida mais estabelecido do que havia nas comunidades do mesolítico, que se moviam pelo país num padrão estacional, seguindo os animais, pássaros e peixes que caçavam.
A manufatura de cerâmica chegou à Britain com os primeiros fazendeiros e requeria o controle de altas temperaturas, sendo um importante desenvolvimento tecnológico primitivo. Os vasos originais de cerâmica não possuindo, em geral, qualquer decoração, tinham pesadas bordas e bases arredondadas; a partir de 3.500 AC a parte superior de alguns vasos de cerâmica era decorada com arranjos feitos com a argila ainda mole.
As casas do Mesolítico eram, principalmente, estruturas leves adequadas a um estilo de vida nômade; no Neolítico elas eram mais permanentes, com telhados de palha e paredes de varas de nogueira ou chorão entrelaçadas, feitas a prova do vento com uma mistura de argila, palha e esterco.
A partir de cerca de 3.800 AC, vemos um movimento para áreas antes não habitadas ou exploradas. Esse período também testemunhou o aparecimento dos primeiros grandes túmulos comunais - conhecidos como “longos túmulos ou barreiras” – e os primeiros monumentos cerimoniais, conhecidos como “cercados calçados”. Nesses lugares, as pessoas das comunidades de uma dada região se reuniriam socialmente, para encontrar novos parceiros, para adquirir mantimentos frescos e presentes. Inicialmente as casas do Neolítico eram retangulares em sua maioria, mas em torno de 3.000 AC as casas redondas se tornaram mais importantes, o que coincide com a aparência de monumentos rituais circulares, tais como os “henges” e os túmulos de passagem.
Os chamados monumentos “henge”, como o famoso Stonehenge, parecem ter se desenvolvido a partir dos cercados calçados de cerca de 3.000 AC. Eles incorporam os alinhamentos lunar e solar que são vistos como meios de união das estruturas físicas e sociais das sociedades humanas com as forças do mundo natural.

Um comentário:

Gilda Souto disse...

Oi Professor, aproveitando o feriado,adorei lhe ler, e e fui buacar mais sobre o Stonehenge,Maravilha1