Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 7 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (1) (Nona Parte)

INTRODUÇÃO
Essa pretensiosa idéia de escrever uma história da Inglaterra foi motivada pela minha curiosidade sobre a figura histórico-lendária de um dos seus personagens mais ilustres, o Rei Arthur. Desde muito jovem peguei gosto pela literatura Arthuriana e só depois de velho consegui o almejado direito ao “ócio produtivo”, para poder dedicar-me a uma pesquisa mais aprofundada sobre a vida desse personagem. Ora, a vida do Rei Arthur está diretamente ligada à vida da Great Britain que, por sua vez, é um dos países de história mais complexa do mundo, por pelo menos dois motivos principais: (1) trata-se de uma grande ilha, permanentemente (bem, tudo tem o seu limite) socialmente separada do continente europeu, por própria e veemente opção; (2) a sua peculiar origem e a forma de colonização que sofreu ao longo do seu estabelecimento como uma só nação. Uma coisa leva a outra e chegamos à conclusão que, para contar uma pequena história do Rei Artur, deveríamos contar um pouco da história da Inglaterra, que não é pequena e começou há muito, mas muito tempo atrás. Ora, o assunto começou a ficar muito mais longo do que eu imaginava (e gostaria) que ficasse, é muito fácil de imaginar. Em consequência, transformou-se em mais uma das minhas tarefas que, possivelmente, não verei concluída antes do encerramento do meu curto estágio neste nosso mundo. O que não quer dizer que não iremos persegui-la até o nosso próprio limite.
Desse reconhecimento, algumas consequências brotaram imediatamente. Uma delas é que a matéria que eu pretendia fosse uma simples crônica para o meu “blog”, transformou-se numa missão de aprendizado particular – meu aprendizado -, que estarei publicando, periódica, parcelada e parcimoniosamente, à medida que consiga ir fechando as partes que comporão o todo pretendido; principalmente porque há outros assuntos pelos quais tenho interesse e dos quais não abdicarei de ir, também, publicando. Uma segunda consequência é que o trabalho jamais será desenvolvido com a profundidade desejável e servirá então para satisfazer à curiosidade daqueles que nada sabem - e aqui me incluocomo eu próprio-, sobre assunto, podendo ter, para eles, algum interesse semelhante; muitas partes serão pinceladas aqui e ali, de pesquisa realizada nas fontes disponíveis.
Esta etapa do nosso trabalho foi dividida em três partes, em ordem cronológica, para bem situar o leitor. Na primeira delas descrevemos, superficialmente, o período que vai do ano 8.000 AC até o início da Era Cristã, que coincide com a invasão da Britain pelo poderoso Império Romano, englobando a Idade da Pedra Polida (Neolítico), a Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Na segunda etapa, descrevemos aquilo que chamamos de “England Romana”, período de aproximadamente 400 anos, em que a Ilha esteve ocupada pelos soldados romanos. Finalmente, na terceira parte, com mais detalhes que nas anteriores, descrevemos a “England Anglo-Saxônica”. Evidentemente, e por razões óbvias, é nesse período que concentraremos nossos maiores esforços; no período que descreve a chegada e dominação dos povos anglo-saxons, época durante a qual teria vivido o nosso herói, o Rei Arthur, que merece um capítulo todo especial. Antes disso, terão sido breves referências, necessárias para localizar o leitor sobre as origens dos povos da Britain.
À guisa de “introdução”, para um assunto tão amplo quanto o escolhido, é o que basta. Seria tolice uma apresentação mais volumosa, quando o futuro reserva um material que, para muitos, já poderá constituir um tremendo exagero. Vamos, portanto, ao que de fato interessa...

 
I -DA IDADE DA PEDRA AO INÍCIO DA ERA CRISTÃ


Do Neolítico à Idade do Bronze, 8.000 - 800 AC
O alvorecer da exploração agrícola 

A Terra existe há uns cinco bilhões de anos, mas na imensa maior parte desse longuíssimo tempo não houve sinal de vida sobre o planeta. As primeiras formas de vida que surgiram através de milhões de anos (já dividimos a coisa por mil!) foram se tornando mais completas e evoluídas, até chegarem aos grandes animais e ao aparecimento dos grandes “hominídeos” - todas as espécies de primatas em que se inclui o homem moderno -, por volta de 2 milhões de anos atrás. Os cientistas pensam que foi, aproximadamente, há um milhão e meio de anos que algumas espécies de hominídeos começaram a se distinguir dos outros animais por sua capacidade de fabricar armas rudimentares, de pau e pedra (para se defenderem e para caçar), e descobriram que certas coisas da natureza podiam ser utilizadas como utensílios.
O mais antigo hominídeo, com sinais de inteligência, foi descoberto no sul da África, numa gruta onde se encontravam ossadas fósseis, de vários hominídeos da mesma espécie, dando a entender que já viviam em grupo. Juntamente foram recolhidas pedras que tinham sido trazidas de rios bem distantes, já com intenção de aproveitá-las como utensílios. Em 1868, foram descobertos esqueletos na França, em Cro-Magnon.
 
 Abri de Cro-Magnon, local da primeira descoberta em 1868
Foram encontrados também fósseis do mesmo estágio de civilização numa gruta em Grimaldi (Itália), na República Tcheca e em muitos outros lugares. Trata-se do nosso ancestral mais direto, que apareceu por volta de 40.000 anos atrás (já dividimos novamente por mil!). Pelos utensílios e sinais de civilização que deixou, já demonstrava uma inteligência mais evoluída. Por isso foi também chamado de “Homo Sapiens” ("homem sábio"). Este teria fabricado mais de uma centena de objetos diferentes com as mais variadas utilidades, inclusive ornamentais. Usava sepulturas coletivas, tendo sido grande pescador e caçador. Daí por diante, os seres-humanos foram se aperfeiçoando, melhorando suas técnicas de domínio sobre a natureza, desenvolvendo sua cultura e se organizando em sociedades que foram as civilizações antigas.
A Pré-história corresponde ao período da história que antecede à invenção da escrita, evento que marca o começo dos tempos históricos registrados e que terá ocorrido, aproximadamente, em torno do ano 4000 AC. Assim definido, seu término torna-se muito elástico, pois ele também pode ser contextualizado, para um determinado povo ou nação, como o período da história desse povo ou nação sobre o qual não haja documentos escritos. Assim, no Egito, a pré-história terminou aproximadamente em 3500 AC, enquanto que no Brasil terminou em 1500 DC e na Nova Guiné, ela terminou, aproximadamente, em 1900 DC. Para muitos historiadores o próprio termo "pré-história" é errôneo, pois não existe uma anterioridade à História e sim à Escrita.
A Idade da Pedra é o período da Pré-História, durante o qual os seres humanos criaram ferramentas de pedra, tornando então a tecnologia mais avançada. A madeira, os ossos e outros materiais também foram utilizados nesse período, mas a pedra foi utilizada para fabricar ferramentas e armas, de corte ou percussão. Contudo, esta é uma circunstância necessária, mas insuficiente para a definição deste período, já que nele tiveram lugar fenômenos fundamentais para o ser humano, no que se refere às aquisições tecnológicas (fogo, ferramentas, moradia, roupa, etc), à evolução social, às mudanças do clima, à diáspora do ser humano por todo o mundo habitável, desde o seu berço africano, e à revolução econômica de um sistema caçador-coletor até um sistema, parcialmente, produtor (entre outras coisas). O intervalo de tempo que abrange a Idade da Pedra é ambíguo, disputado e variável segundo a região em questão. Por exemplo, escavações mostraram que enquanto em certos lugares, como a Grã-Bretanha, se vivia na Idade da Pedra, em outros, como Roma, Egito e China, já se usavam os metais e conhecia-se a escrita. Alguns grupos humanos nunca desenvolveram a tecnologia do metal fundido e, portanto, ficaram numa “idade de pedra” até se encontrarem com culturas tecnologicamente bem mais desenvolvidas.
Tradicionalmente, a Idade da Pedra é dividida em Paleolítico (ou Idade da Pedra Lascada), com um sistema econômico de caça-coleta e Neolítico (ou Idade da pedra Polida), em que se produz a revolução para o sistema econômico produtivo: agricultura e pecuária.
O Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Polida, é período da Pré-História que começa em 8000 AC. Durante este período surge a agricultura; a fixação, resultante do cultivo da terra e domesticação de animais para o trabalho, cria o sedentarismo (moradia fixa em aldeias).
Seres humanos têm vivido no local ao norte da Europa, atualmente chamado de Grã-Bretanha, por cerca de 750.000 anos. Durante a maior parte deste tempo eles sobreviveram através da coleta de alimentos como nozes, bagas, folhas e frutas de origem selvagem, bem como da caça. Por milênios, ocorreram fases de frio extremo, quando vastas áreas da Grã-Bretanha ficaram cobertas com gelo, seguidas de períodos mais quentes. Após o final da Era Glacial, ocorrida a cerca de 10.000 anos atrás, os níveis do Mar do Norte começaram a subir a partir do momento em que as águas anteriormente represadas em enormes lençóis de gelo começaram a derreter. Em algum momento após 8.200 AC, a última “ponte de terra” seca, ligando Lincolnshire e East Anglia à Holanda (futuro British Channel), foi inundada pelo brejo de água salgada. Em torno de 6.000 AC até mesmo os brejos já haviam terminado em sua maior parte, submersos pelo mar, e a Great Britain então separou-se do continente europeu.
As pessoas que viviam nas novas ilhas da Great Britain eram descendentes dos primeiros humanos modernos ou “Homo Sapiens”, que chegaram ao norte da Europa em torno de 30.000 a 40.000 anos atrás. Como seus ancestrais, viviam da caça e da coleta. A introdução da exploração agrícola, quando os povos aprenderam a produzir ao invés de adquirir sua alimentação, é vista, pela maioria dos cientistas, como uma das maiores mudanças na história da humanidade. Essa mudança ocorreu em várias épocas em diferentes locais ao redor do mundo. No Paleolítico os povos eram nômades, caçando e coletando plantas selvagens. Em torno da metade do quinto milênio AC, uma nova forma de vida, baseada na exploração agrícola e de animais, foi introduzida através do continente. A substituição da caça e da coleta foi gradativa e não se completou até o final do terceiro milênio AC na Grã-Bretanha. Assim que a exploração agrícola foi estabelecida, as comunidades começaram a se instalar. O conceito de cultura que alcançou a Grã-Bretanha entre 5.000 AC e 4.500 AC, havia se espalhado pela Europa, com origem na Síria e Iraque, entre cerca de 11.000 AC e 9.000 AC.

Um comentário:

Gilda Souto disse...

Grande a expilcação sobre o como encarar a Pré -História no tempo de um povo! Interessantíssimo, nunca lera isto!