Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

terça-feira, 29 de março de 2011

UMA PEQUENA HISTÓRIA DA INGLATERRA CONTADA POR UM GAÚCHO DE PORTO ALEGRE, DESCENDENTE DE PORTUGUESES E RESIDENTE EM GRAMADO - A HISTÓRIA PROPRIAMENTE DITA (5) (Décima Terceira Parte)

II - OS ROMANOS NA GREAT BRITAIN - 43 DC – 410 DC

Introdução
Chamamos de Britain Romana, a parte da Great Britain controlada pelo Império Romano entre 43 DC e 410 DC, à qual os próprios romanos se referiam como Britannia. A conquista romana que iniciou em 43 DC, ilustra o profundo impacto cultural e político que pequenos números de pessoas podem proporcionar em algumas circunstâncias, já que os romanos não colonizaram as ilhas da Britain de forma significativa. Para uma população em torno de três milhões, seus exércitos, administração e aventureiros políticos adicionaram apenas uns poucos por cento.
As cidades e vilas da província foram, predominantemente, construídas por pessoas nativas adotando a nova cultura internacional do poder. A civilização greco-romana deslocou a cultura ‘celta’ da Europa da Idade do Ferro. Esses ilhéus, realmente, tornaram-se romanos, tanto cultural quanto legalmente (a cidadania romana era mais um status político do que uma identidade étnica). Pelo ano 300 DC, quase todos eram romanos na ‘Britannia’, legal e culturalmente, embora de descendência indígena, ainda a maioria falando dialetos ‘celtas'. O governo romano viu uma alteração cultural profunda, mas, enfaticamente, sem qualquer emigração de massa.
Antes da invasão romana, conforme vimos, a Idade do Ferro Britain já possuía laços culturais e econômicos com a Europa Continental, mas os invasores introduziram novos desenvolvimentos na agricultura, urbanização, indústria e arquitetura, deixando um legado ainda hoje aparente. Registros históricos, após a invasão inicial, eram esparsos, embora muitos historiadores romanos mencionassem, de passagem, a Britannia e os nomes de muitos de seus governadores fossem conhecidos. A maior parte do conhecimento da Britain Romana vem de investigações arqueológicas e, especialmente, de evidência epigráfica. Com a conquista romana surgiram os primeiros registros históricos da história da England.

A Invasão Romana
Como já mencionado, Julius Caesar havia visitado a England, em 55 e 54 AC¸ mas apenas para agradar ao seu público em Roma, como propaganda política (desde aquela época já utilizada). Realmente, em 43 DC o Imperador Claudius retornou ao trabalho de Julius Caesar, ordenando a invasão da England, sob o comando de Aulus Plautius. Não se sabe quantas legiões romanas foram enviadas; diretamente atestado, apenas a legião ‘II Augusta’, comandada pelo futuro imperador Vespasiano, tomou parte na invasão. Os romanos velejaram em três divisões e, provavelmente, desembarcaram em Richborough, Kent, embora alguns sugiram que pelo menos parte da invasão desembarcou na costa sul, na área de Fishbourne, West Sussex.
Os romanos derrotaram os Catuvelaunni e seus aliados em duas batalhas: no rio Medway e no Thames, onde teria morrido Togodumnus, um de seus líderes. Plautius suspendeu a campanha no Thames e pediu ajuda a Claudius que chegou com reforços, incluindo artilharia e elefantes, para a marcha final sobre Camulodunum - nome romano para o antigo assentamento hoje conhecido por Colchester, cidade do condado de Essex), - a capital dos Catuvelaunni.

Camulodonum, atual Colchester, próximo do estuário do Thames. entrada natural dos invasores romanos
O Estabelecimento do Governo Romano
Os romanos rapidamente estabeleceram controle sobre as tribos do sudeste da England. O chefe da tribo British Catuvellauni, Caractacus, irmão de Togodumnus, inicialmente fugiu de Camulodunum para o sul de Wales, onde esboçou alguma resistência, até a sua derrota e captura em 51 DC. Afirma-se que Camulodunum é a cidade mais velha na Britain, como registrada pelos romanos, tornando-se, posteriormente, a primeira cidade romana. De fato existe evidência arqueológica de assentamento de 3.000 anos atrás. Caractacus foi posteriormente enviado para Roma, onde fez amizades nos altos escalões, sendo finalmente libertado em reconhecimento por sua coragem e acabou morrendo em Roma. A resistência ao domínio romano continuou em Wales, particularmente inspirada pelos Druidas, chefes religiosos dos povos celtas nativos.
Por dez anos a England permaneceu calma, até a morte de Prasutagus, o rei da tribo Iceni. Boudicca, sua rainha, incomodada por ter suas terras tomadas e suas duas filhas violentadas pelos romanos, optou por uma ação afirmativa ao invés de uma abordagem diplomática. Sob a liderança de Boudicca, os Iceni, com os seus vizinhos do sul, os Trinovantes, se revoltaram, incendiando até as bases as cidades de Londinium (London), Verulamium (St. Albans) e Camulodunum (Colchester). Boudicca envenenou-se após seu exército ter sido virtualmente aniquilado pelas legiões romanas que retornavam do norte de Wales, após nova tentativa para subjugar os Druidas, em Anglesey.
Durante os anos 70’ e 80’ os romanos, sob o comando de Gnaeus Julius Agricola, estenderam seu controle ao norte e oeste da England, com legiões localizadas em York (ao norte), Chester e Caerleon (a oeste) marcando os limites da ‘Zona Civil’. Agricola ainda moveu-se em direção ao norte, derrotando as tribos Caledonian, sob a liderança de Calgacus, na batalha de Mons Graupius, ao norte da Scotland, mas gradualmente desistiu de suas conquistas na região.
Por muito tempo da história da Britain romana, um grande número de soldados formou a guarnição da ilha, fazendo com que os Imperadores colocassem um militar sênior como governador da província. Como resultado, muitos futuros imperadores romanos serviram antes como governadores ou embaixadores nessa província, incluindo Vespasiano, Pertinax e Gordian I.

Ruínas de teatro romano em Verulamium, atual St. Albans, Hertfordshire, Great Britain
 Não há fonte histórica descrevendo as décadas que se seguiram à retirada de Agricola, incluindo o nome do seu substituto. A arqueologia tem mostrado que alguns fortes romanos ao sul do istmo do Forth-Clyde foram reconstruídos e aumentados, embora outros tenham sido abandonados. Moedas e cerâmica romanas circularam em assentamentos nativos nas Lowlands scottish antes de 100 DC, indicando a crescente romanização. Contudo, em torno de 105 DC parece ter havido um sério recuo por conta dos Picts: vários fortes foram destruídos pelo fogo, indicando hostilidades nas áreas do sudeste da Scotland, embora os próprios romanos tivessem o hábito de destruir seus fortes durante retiradas ordenadas para negar recursos ao inimigo.
Ao visitar a Britannia, cerca de 120 DC, o Imperador Adriano dirigiu a construção de uma extensa muralha de defesa, conhecida como Muralha de Adriano, com comprimento de cerca 130 km, de Newcastle, na costa leste, a Carlisle, na costa oeste, projetada para marcar os limites do Império Romano. Ruínas desta muralha podem ser vistas até hoje.
Quando Adriano morreu em 138 DC, seu sucessor Antonius Pius (138-161 DC) abandonou a recém completada muralha e fez uma nova investida em direção ao norte, estabelecendo uma nova fronteira através da Muralha Antonina, construída entre as foz do rio Forth e do rio Clyde, na Scotland. Em torno de 160 DC a Muralha Antonina foi abandonada e a Muralha de Adriano novamente tornou-se o limite norte do Império Romano na Britain. Entretanto, os romanos não abandonaram totalmente a Scotland por essa época, mantendo um grande forte em Newstead com sete postos avançados menores, pelo menos até 180 DC. Enorme quantidade de prata romana foi encontrada na Scotland, a sugerir mais do que um comércio comum, sendo provável que os romanos estivessem reforçando acordos formais, pagando tributo aos seus implacáveis inimigos, os Picts.
Em 175 DC uma grande força de 5.500 homens de cavalaria da Sarmácia (atual Irã) chegou à Britannia, provavelmente para reforçar tropas lutando contra revoltas sem registro. Em 180 DC a Muralha de Adriano foi rompida pelos Picts e nessa batalha, morto o oficial comandante ou governador da Província.

Localização das Muralhas de Adriano e Antonina na Great Britain
 Ulpius Marcellus foi enviado como governador substituto e pelo ano 184 conseguiu uma nova paz, para enfrentar um motim de suas próprias tropas. Descontentes com a inflexibilidade de Marcellus, eles tentaram eleger um conselheiro chamado Priscus, como governador usurpador; ele recusou, e Marcellus deu-se por muito feliz por deixar a província com vida.

Ruínas da Muralha de Adriano na Great Britain atual
 O futuro imperador Pertinax foi enviado à Britannia para dominar o motim e teve sucesso, inicialmente. Contudo, um levante eclodiu entre as tropas e Pertinax foi atacado e deixado como morto. Enviado a Roma sucedeu, por breve período, a Commodus, como imperador, em 192 DC.
Os romanos nunca tiveram sucesso em subjugar totalmente a Britain, tendo sempre que manter uma presença militar significativa para controlar a ameaça das tribos não conquistadas. Mas a maior parte dos habitantes acatou a disciplina e a ordem romana. Cidades apareceram pela primeira vez na Great Britain, que incluíam York, Chester, St. Albans, Bath, Lincoln, Gloucester e Colchester. Todos esses centros maiores ainda encontram-se ligados pelo sistema romano de estradas militares, irradiando do grande porto de London, que também permitiam a distribuição de supérfluos romanos, como condimentos, vinhos, vidros etc., trazidos de outras regiões do império. É provável que a ‘romanização’ da Britain tenha afetado principalmente a aristocracia, que teria aumentado o seu ‘status’ adotando a forma e as práticas romanas, como por exemplo, o banho regular. A grande maioria da ‘populaça’ teria permanecido intocada pela civilização romana, vivendo da terra e ganhando a vida com dificuldade.

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