Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: MESOPOTÂMIA (PARTE 01)

I - INTRODUÇÃO

Custei, mas aprendi, por conta mesmo de muitas das postagens aqui colocadas, sobre a necessidade do conhecimento das civilizações que, segundo os grandes mestres da História, são consideradas como as primeiras da humanidade, aquelas a partir das quais todas as demais se desenvolveram ou profundamente sofreram a sua influência. Tais civilizações foram responsáveis por toda a sequência de acontecimentos mundiais que as sucederam e, por isso mesmo, são frequentemente citadas em todas as informações disponíveis. Por essa razão, frequentemente somos obrigados a realizar alguma incursão sobre uma ou mais delas, para que os nossos leitores – os que ainda não conhecem o assunto – fiquem também a par dessas informações.
Lembro aos leitores que, neste artigo, estaremos falando sobre as primeiras civilizações e não sobre os primeiros homens ou humanoides sobre a terra - questão ainda bem mais complexa de resolver, dados os vários aspectos religiosos e científicos envolvidos -, provavelmente surgidos na África, cerca de 250.000 AC. Todos possuímos alguma ideia sobre o significado da palavra “civilização”, um conceito relacionado a uma sociedade complexa e avançada, como a atual sobre a Terra, mas também a culturas antigas que floresceram há milênios atrás, nos deixando um fantástico legado. Will Durant, em sua “História da Civilização”, define tal conceito como: “Ordem Social na promoção da criação de cultura”; e junta os quatro elementos que constituem uma civilização: “disposição econômica, organização política, tradições morais e a busca do conhecimento e das artes”. Acrescenta um ponto importantíssimo ao dizer que “a civilização começa aonde o caos e a insegurança começam, pois quando o medo é dominado, a curiosidade e a construção são livres e o homem passa, pelo impulso natural em direção ao entendimento e ao embelezamento da vida”. Numa definição mais palpável, Xavier Bartlett, licenciado em História e Arqueologia pela Universidade de Barcelona, diz que “civilização, num amplo sentido, denota um conjunto de ideias, conhecimentos, valores, instituições e empreendimentos de uma sociedade em um dado instante”.
É nesse contexto que, tentando resolver a nossa situação, de uma vez por todas, decidimos tomar coragem, realizando a pesquisa e publicando a presente matéria, que tem como objetivo a descrição das três primeiras grandes civilizações da Terra: Mesopotâmia, Egito e Vale do Indo.
Lembro aos leitores, como reforço à importância do tema, a frequência com que certas cidades, personagens e fatos ocorridos nessas civilizações, são mencionados no livro mais importante do mundo, o Antigo Testamento da Bíblia. Certamente, de posse desses conhecimentos, poderemos entender bem melhor a leitura do Livro Sagrado.
Entretanto, antes de iniciar o desenvolvimento dos objetivos específicos a que nos propomos, vejo importante que façamos, pelo menos, uma introdução ao sistema arqueológica de idades, muito necessário ao perfeito entendimento do estudo das grandes civilizações primitivas, como segue.

II - SISTEMA ARQUEOLÓGICO DAS TRÊS IDADES

O sistema das três idades, em arqueologia e antropologia física, é a classificação da pré-história[1] humana em três períodos de tempo consecutivos, designados por suas respectivas tecnologias de confecções de ferramentas:

Idade da Pedra (grosseiramente 3,4 milhões de anos atrás, até 6.000 a 2.000 AC)
Idade do Bronze (3.300 A.C – 1.200 A.C)
Idade do Ferro (1.200 AC – 200 D.C)

É temerário - e de pouco valor cronológico - querer definir com precisão inícios e finais das várias eras, pois está mais do que provado que elas não iniciaram ou acabaram simultaneamente em todo o mundo As datas e contextos variam muito, dependendo da região e tal sequência de eras não é necessariamente verdadeira para cada parte da superfície terrestre. Há áreas, como ilhas do Pacífico Sul, interior da África e partes da América do Norte e do Sul, onde os povos passaram diretamente do uso da pedra para o uso do ferro sem uma era intermediária do bronze. Muito próximo de nós, temos o caso do Brasil, que se encontrava, certamente, na Idade da Pedra quando os navegadores portugueses aqui chegaram, com todo o conhecimento da passagem da Idade Média para o Renascimento europeu, que incluía o uso das armas de fogo; nossos índios ficaram, portanto, muito longe de conhecerem toda a transição pelas várias eras.
O conceito da divisão das eras pré-históricas, em um sistema baseado nos metais, estende-se até a antiga história europeia, mas o presente sistema arqueológico das três eras principais – pedra, bronze e ferro – origina-se do arqueólogo dinamarquês Christian Jurgensen Thomsen (1788–1865), que colocou o sistema em bases mais científicas, por estudos tipológicos[2]  e cronológicos, inicialmente de ferramentas e outros artefatos presentes no Museu das Antiguidades do Norte, em Copenhague (mais tarde Museu Nacional da Dinamarca). Posteriormente ele utilizou artefatos e relatórios de escavação publicados ou a ele enviados por arqueólogos que faziam escavações controladas. Sua posição como curador do museu deu-lhe visibilidade suficiente para tornar-se altamente influente na arqueologia dinamarquesa.
A partir do exame dos artefatos do Museu e relatórios das modernas escavações, Thomsen mostrou que o material poderia ser classificado em tipos e que esses tipos variavam no tempo de forma a correlaciona-los com a predominância de implementos e armas de pedra, bronze e ferro. Desta forma, ele transformou o Sistema de Três Eras, de um esquema evolucionário, baseado na intuição e no conhecimento geral, em um sistema de cronologia relativa apoiado por evidência arqueológica. Tal como desenvolvido por Thomsen e seus contemporâneos na Escandinávia, esse sistema foi inicialmente enxertado na cronologia bíblica. Mas, durante os anos de 1830 eles alcançaram independência das cronologias textuais e confiaram principalmente na tipologia e estratigrafia[3].
Arranjando o material da coleção cronologicamente, Thomsen mapeou as espécies de materiais que ocorriam simultaneamente nos depósitos e quais não, pois que tais arranjos lhe permitiriam discernir tendências exclusivas a certos períodos. Desta forma ele descobriu que ferramentas de pedra não apareciam junto com ferramentas de bronze e ferro nos depósitos mais antigos e que ferramentas de bronze não foram encontradas com ferramentas de ferro, de forma que três períodos podiam ser definidos pelos três materiais disponíveis, pedra, bronze e ferro.
Essa análise, que enfatizava a ocorrência simultânea e a atenção sistemática ao contexto arqueológico, permitiu a Thomsen construir uma estrutura cronológica dos materiais da coleção e classificar novos achados em relação à cronologia estabelecida, mesmo sem muito conhecimento da sua origem. Desta forma, o sistema de Thomsen era realmente um sistema cronológico e não um sistema evolucionário ou tecnológico.
Por 1831 Thomsen estava tão certo da utilidade do seu método que fez circular um panfleto “Artefatos Escandinavos e sua Preservação”, aconselhando arqueólogos a observar o maior cuidado em anotar o contexto de cada artefato; tal panfleto teve efeito imediato. Resultados reportados a ele confirmaram a universalidade do Sistema das Três Eras. Thomsen já tinha uma reputação internacional quando, em 1836, a Real Sociedade de Antiquários do Norte publicou a sua contribuição ilustrada no “Guia da Arqueologia Escandinava” em que ele expunha a sua cronologia com comentários sobre tipologia e estratigrafia.
Thomsen foi o primeiro a perceber tipologias de objetos de túmulos, tipos de túmulos, métodos de enterro, motivos cerâmicos e decorativos, bem como designar esses tipos a camadas encontradas em escavações. Seus aconselhamentos pessoais e publicados, relativos a métodos de escavação, a arqueólogos dinamarqueses, produziram resultados que comprovaram, empiricamente, o seu sistema, colocando a Dinamarca na vanguarda da arqueologia europeia por uma geração, pelo menos.
Desde 1836 o seu sistema tem sido expandido por subdivisões de cada era e refinado por achados arqueológicos e antropológicos adicionais, além do concurso de outros arqueólogos e antropólogos que vieram após ele. As alterações mais importantes referem-se à subdivisão da Idade da Pedra em três períodos – Paleolítico, Mesolítico e Neolítico – e à subdivisão da Idade do Bronze em dois períodos – Idades do Cobre e do Bronze propriamente dita.


TABELA RESUMIDA DO SISTEMA DAS TRÊS ERAS 

Era
Período
Ferramentas
Economia
Locais de Moradia
Sociedade
Religião
Idade da Pedra
Paleolítico
Ferramentas e objetos manufaturados encontrados na natureza – porrete, clava, pedra afiada, cutelo, machado, lança, arpão, agulha.
Caça e coleta
Estilo de vida móvel - cavernas, cabanas, em geral a beira de rios ou lagos
Um grupo de coletores de plantas comestíveis e caçadores (25 a 100 pessoas)
Evidência de crença no após vida apenas no Paleolítico Superior, marcado pela aparência de rituais de enterro e adoração de ancestrais. Sacerdotes e servos de santuários aparecem na pré-história.
Mesolítico
Ferramentas empregadas em dispositivos compostos – arpões, arco e flecha. Outros dispositivos tais como cestas de pesca e barcos
Caça e coleta intensa, presa de animais selvagens e sementes de plantas selvagens para uso doméstico e cultivo
Vilas temporárias em locais oportunos para atividades econômicas
Tribos e bandos
Neolítico
Ferramentas de pedra polida, dispositivos úteis no cultivo de subsistência e defesa – formão, enxada, arado, canga, gancho de ceifa, tear, cerâmica e armas
Revolução Neolítica – domesticação de animais usados na agricultura e pastoreio, caça e pesca. Ferramentas de guerra.
Instalações permanentes variáveis em tamanho, de vilas a cidades muradas, obras públicas.
Tribos e formação de supremacias em algumas sociedades Neolíticas do final do período
Politeísmo presidido pela deusa mãe.
Idade do Bronze
Idade do Cobre
Ferramentas de cobre, roda de oleiro
Civilização incluindo ofício e comércio
Centros urbanos circundados por comunidades politicamente ligadas
Cidades-estados*
Deuses étnicos, religião do estado
Idade do Bronze
Ferramentas de bronze
Idade do Ferro
Ferramentas de ferro
Economia nacional presidida pelo governo
Cidades ligadas por estradas, capital de cidade
Países, impérios
Uma ou mais religiões sancionadas pelo estado
* A formação de estados se inicia durante o início da Idade do Bronze no Egito e Mesopotâmia; durante o final da Idade do Bronze são fundados os primeiros impérios.



[1] Pré-história (antes da história, ou antes do conhecimento adquirido pela investigação) é o período de tempo antes da que a história fosse registrada ou antes da invenção dos sistemas de escrita. Ela se refere ao período da existência humana antes da disponibilidade daqueles registros escritos com os quais começa a história registrada. Mais amplamente, pode se referir a todo o tempo entre o início da existência humana e a invenção da escrita.
[2] Na arqueologia, a tipologia é um método científico que estuda os diversos utensílios e outros objetos (cerâmicas, peças de metal, indústrias lítica e óssea, etc.) encontrados nas escavações, e que os agrupa e classifica segundo as suas características quantitativas (medidas) e qualitativas (morfologia, matéria-prima, técnicas de fabrico, etc.), com vista à sua repartição em classes definidas por tipos modelo.
[3] Estratigrafia é um ramo da geologia que estuda as camadas de rochas e a formação em camadas (estratificação). Ela é primariamente utilizada no estudo de rochas sedimentares e rochas vulcânicas em camadas. A estratigrafia inclui dois campos relacionados: estratigrafia litológica (lito estratigrafia) e estratigrafia biológica (bio estratigrafia).

Na próxima postagem, PARTE 2

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