Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

AS TRÊS PRIMEIRAS GRANDES CIVILIZAÇÕES MUNDIAIS: MESOPOTÂMIA (PARTE 09)



IV.9.3 – O MÉDIO IMPÉRIO ASSÍRIO (1392-1056 AC)

Os estudiosos datam o início do Médio Império Assírio, ou da queda de Eriba-Adad I, do Antigo Reino Assírio, ou da ascensão de Ashur-uballit I ao trono da Assíria.
Conforme vimos, a influência Mitanni sobre a Assíria estava em decadência, nesta época. Eriba-Adad I envolveu-se numa batalha dinástica entre Tushratta e seu irmão Artatama II e depois seu filho, Shuttarna II, que se proclamava rei de Hurri, enquanto buscando apoio dos assírios. Uma facção pró assíria surgiu na corte real de Mitanni e com isso Eriba-Adad I quebrou a influência Mitanni sobre a Assíria que, por sua vez, passou a exercer influência sobre as relações Mitanni.
Ashur-Uballit I (1365-1330 AC) sucedeu no trono da Assíria e provou ser um governante feroz, ambicioso e poderoso. A pressão assíria pelo sudeste e a hitita, do noroeste, permitiu a Ashur-Uballit I quebrar o poder Mitanni, quando encontrou e derrotou em batalha, decisivamente, Shuttarna II, o rei Mitanni, tornando novamente a Assíria uma potência imperial, não apenas às suas custas, mas também à dos Kassitas Babilônios, Hurrianos e Hittitas. O casamento do rei Kassita da Babilônia, com a filha de Ashur-uballit I foi desastroso para a Babilônia, pois a facção kassita na corte assassinou o rei assírio babilônio, colocando um pretendente no trono. Ashur-Uballit I prontamente invadiu a Babilônia, para vingar seu genro, depondo o rei e instalando no trono Kurigalzu II, da linhagem real. A seguir, Ashur-Uballit I atacou e derrotou Mattiwaza, o rei Mitanni, a despeito do apoio de Suppiluliumas, rei hittita, já temeroso do crescente poder assírio.
A este, seguiram-se vários reis que só fizeram consolidar e ampliar o poder e o território assírio, transformando a Assíria num poderoso império que ameaçava os interesses dos dois outros grandes impérios, Egípcios e Hittitas, na região, provocando a paz entre essas duas nações.
Tukulti-Ninurta I (1244-1207 AC) teve uma grande vitória contra os hititas e seu rei Tudhaliya IV, na Batalha de Nihriya, fazendo milhares de prisioneiros; após isso conquistou a Babilônia tomando seu rei, Kashtiliash IV, como cativo, e reinando lá mesmo por sete anos, com o antigo título de “Rei da Suméria e Acádia”, antes usado por Sargão de Acádia. Com isso, tornou-se o primeiro nativo da Mesopotâmia falando Acadiano a governar o estado da Babilônia, já que seus fundadores haviam sido Amoritas, sucedidos por Kassitas também estrangeiros. No processo da conquista, ele derrotou também os Elamitas, que cobiçavam a Babilônia. Quando as relações com o clero começaram a se deteriorar em Ashur, Tukulti-Ninurta I construiu uma nova cidade capital, Kar-Tukulti-Ninurta Segundo vários estudiosos, Tukulti-Ninurta I e seus feitos seriam identificados com o personagem bíblico Nimrod, do Velho Testamento.
Esse rei foi assassinado por seus filhos rebeldes que deixaram o governo do império nas mãos dos governadores regionais e com isso a Assíria passou por mais um período de instabilidade, rachada por disputas internas, embora não fosse ameaçada por potências estrangeiras durante vários reis que se seguiram.
Tiglath-Pileser I (115-1077 AC) compete, entre os historiadores, com Shamshi-Adad I e Ashur-uballit I como o fundador do primeiro Império Assírio; de qualquer forma ele tornou-se um dos maiores conquistadores assírios durante o seu reinado de 38 anos.
Os reis que o sucederam, incluindo Ashur-bel-kala (1073-1056 AC), mantiveram o vasto império unido, sempre mantendo embates contra a Babilônia, mas em geral mantendo-a como cidade vassala. Posteriormente, em seu reinado, o Médio Império Assírio explodiu em guerra civil, permitindo que hordas de arameus[1] tirassem vantagem da situação, pressionando contra territórios controlados pela Assíria a oeste. Ao final do seu reinado, muitas das áreas da Síria e Fenícia – Canaã, até o mar Mediterrâneo, antes sob seu firme controle, estavam fora do Império Assírio.
O período de 1200 a 900 AC foi a idade das trevas para todo o Oriente Médio, Norte da África, Cáucaso, Mediterrâneo e Balcãs, por força de muitas revoltas e movimentos de massa de povos. Por cerca de 150 anos o império da Assíria resistiu a esses eventos tumultuosos, mas com a morte de Ashur-bel-kala, em 1056 AC, entrou em relativo declínio por cerca de 100 anos. O império encolheu significativamente de forma que em torno de 1020 AC parece ter controlado apenas áreas próximas da própria Assíria, essenciais para manter as rotas de comércio abertas na Síria oriental, sudeste da Ásia Menor, Mesopotâmia Central e noroeste do Irã.
Povos semitas, como Arameus, Caldeus[2] e Suteus[3], mudaram-se para áreas a oeste e sul da Assíria, invadindo muito da Babilônia ao sul; povos iranianos de língua indo-europeia, como os medos[4], persas e partas, mudaram-se para as terras a leste da Assíria, deslocando os nativos gutianos e pressionando Elam e Mannea[5] (ambas civilizações não indo-europeias do Irã); ao norte os frígios[6] perturbaram os hititas; um novo estado hurriano, Urartu, surgiu no Cáucaso; cimérios[7], georgianos e citas[8] surgiram em torno do Mar Negro; o Egito estava dividido e desordenado; e os israelitas batalhando contra povos semitas e não semitas canaanitas pelo controle do sul de Canaã.
A despeito da aparente fraqueza da Assíria em comparação ao seu poder anterior, ela permaneceu como uma nação sólida e bem defendida, com os melhores guerreiros do mundo, uma monarquia estável, exército poderoso e fronteiras seguras, mantendo uma posição mais forte, nesta época, que seus potenciais rivais Egito, Babilônia, Elam, Frígia, Urartu e Pérsia. Os reis assírios deste período adotaram a política de manter e defender uma nação compacta e segura, bem como colônias satélites em torno, intercaladas com ataques e invasões punitivos esporádicos em territórios vizinhos, conforme necessários.
Durante esse período, os reis se sucederam até que Ashur-Dan II (935 – 912 AC) deflagrou uma marcante virada econômica e organizacional nos destinos da Assíria, para novamente forjar o império. Realizou ataques punitivos vitoriosos além das fronteiras da Assíria para livrar dos arameus e outros povos tribais as regiões vizinhas, em todas as direções. Concentrou-se na reconstrução da Assíria dentro de suas fronteiras naturais, construiu escritórios governamentais em todas as províncias e criou um auxílio econômico importante fornecendo arados para toda a terra que produziram uma produção recorde de grãos.

IV.9.4 - A NOVA ASSÍRIA (911–627 AC)

Quando a antiga Idade das Trevas finalmente encerrou, o mundo havia mudado dramaticamente. Reinos antigos como Assíria, Babilônia, Elam e Egito, ainda resistiam, assim como os hititas sob a forma de estados menores Novo-Hititas. Vários novos estados tinham surgido durante os tempos tumultuados entre 1200 e 936 AC, tais como: Pérsia, Media, Partia, Mannea, Israel, Urartu, Frígia Lídia, os estados arameu e fenício, do Levante, e outros. Além disso, outras nações e povos, como a Caldeia, Judá, Ciméria, Etiópia, Armênia e os árabes, deveriam emergir nos séculos seguintes. Contudo, foi antigo estado da Assíria que enfrentou e derrotou estes novos povos, junto com velhos inimigos, durante os três séculos seguintes.
O início do reerguimento e da reconquista do império assírio iniciou com as campanhas de Adad-nirari (911-892 AC) e prosseguiu com vários reis que não conheceram insucessos: Tukulti-Ninurta II (891–884 AC); Ashurnasirpal II (883–859 AC), governante cruel e feroz que avançou, sem oposição, por Aram e Canaã e Ásia Menor, até o Mediterrâneo; Shalmaneser III (858–823 AC), atacou e reduziu à vassalagem a Babilônia, derrotando Aramea[9], Israel, Urartu, Fenícia, estados Novo-Hititas e os árabes da Península Arábica; Shamshi-Adad V (822-811 AC); Adad-nirari III (810-782 AC), que sendo ainda menino viu o império ser governado por sua mãe, a famosa rainha Semíramis (Shammuramat), até o ano 806 AC, quando ocupou o trono, invadindo o Levante e subjugando todos os seus povos; Shalmaneser IV (782-773 AC); Ashur-dan III (772-755 AC); Ashur-nirari V (754-745 AC); Tiglath-Pileser (745-727 AC) renovou a expansão assíria, subjugando Urartu, Pérsia, Media, Babilônia, Arábia, Fenícia, Israel, Judá, Samaria, Caldeia, Chipre, Moab, Edom e os Novo-Hititas, declarando-se rei na Babilônia, numa época em que o Império Assírio se espalhava das montanhas do Cáucaso à Arábia e do Mar Cáspio a Chipre, com a primeira força profissional de luta da história; Shalmaneser V (726-723 AC), mencionado na Bíblia como tendo conquistado os Samaritanos e sido responsável pela deportação das Dez Tribos Perdidas de Israel para a Assíria; Sargão II (722-705 AC) além de manter o império, conquistou várias regiões e submeteu vários reinos ao pagamento de tribute, incluindo Babilônia, Aram, Fenícia, Israel, Arábia, Chipre e a Frígia, do famoso rei Midas; Sennacherib (701-681 AC) derrotou os gregos, e egípcios governados pelos núbios então no Oriente Médio, onde o faraó núbio Taharga fomentava revolta contra os assírios; seu palácio e jardim em Nínive foram propostos como modelo dos “Jardins Suspensos da Babilônia”, uma das “Sete Maravilhas do Mundo Antigo”; Esarhaddon (680-669 AC) expandiu ainda mais a Assíria até as montanhas do Cáucaso, ao norte e, cansado da interferência egípcia no Império Assírio, decidiu conquistar o Egito, atravessando o deserto do Sinai, tomando de surpresa o país e destruindo o estrangeiro Império Kushita no processo; reconstruiu completamente a Babilônia e trouxe paz à Mesopotâmia como um todo, mantendo babilônios, egípcios, elamitas, cimérios, persas, medas, caldeus, israelitas e fenícios, mantendo seguro o império da Assíria; Assurbanipal (669-627 AC) ampliou a dominação assíria, das montanhas do Cáucaso, no norte, à Núbia, Egito e Arábia no sul; e do Chipre e Antióquia no oeste, à Pérsia, no leste, era inusitadamente culto para o seu tempo, falando Acadiano, aramaico e sumério, com grande conhecimento de astronomia e matemática, bem como da arte militar, civil e política; construiu a famosa Biblioteca de Assurbanipal, primeira a classificar as obras por ordem de gênero.
Império da Assíria no seu auge, sob Assurbanipal

Após esmagar a revolta babilônia, Assurbanipal surgiu como chefe supremo: para o leste, o Elam devastado se prostrava à Assíria, a Mannea, persas iranianos e medos eram vassalos; ao sul, a Babilônia era ocupada, os caldeus, árabes, Sutu e os nabateanos[10], subjugados, o império núbio destruído e o Egito pagava tributo; ao norte, os citas e cimérios haviam sido vencidos e expulsos do território assírio, Urartu, Frígia, e os novo-hititas pagavam vassalagem e a Lídia rogava por proteção assíria; ao oeste, Aramea, os fenícios, Israel, Judá, Samaria e Chipre estavam subjugados e os habitantes helenizados de Caria[11], Cilícia[12], Capadócia[13] e Comagene[14] pagavam tributo à Assíria. No pico do seu império, a Assíria de Assurbanipal abarcava as modernas nações do Iraque, Síria, Egito, Líbano, Israel, Jordânia, Kuwait, Bahrain, Palestina e Chipre, junto com grandes parcelas do Irã, Arábia Saudita, Turquia, Sudão, Líbia, Armênia, Geórgia e Azerbaijão, mais forte do que jamais fora.
Contudo, as longas batalhas contra Babilônia, Elam e seus aliados, além da permanente campanha de mais de três séculos para controlar e expandir seu vasto império em todas as direções, exauriu a Assíria. Ela havia sido drenada de riquezas e capacidade de trabalho humano, as províncias devastadas nada podiam produzir para suprir as necessidades do erário público imperial, era difícil encontrar tropas suficientes para guarnecer o imenso império e, após a morte de Assurbanipal, uma severa agitação civil eclodiu na Assíria e o império começou a desintegrar-se.

IV.9.5 - A QUEDA DA ASSÍRIA (626–605 AC)



A decadência da Assíria iniciou-se após a morte de Assurbanipal, com várias guerras civis envolvendo três reis rivais e o afastamento do Egito da 26ª Dinastia, instalada pelos assírios como vassalos.

Ashur-etil-ilani subiu ao trono em 626 AC e foi imediatamente envolvido por guerras civis internas, sendo deposto em 623 AC após quatro anos de luta com Sin-shumur-lishir, um general assírio, que também ocupou e reivindicou o trono da Babilônia naquele ano. Este, por sua vez, foi deposto como governante da Assíria e Babilônia após um ano de guerra contra Sin-shar-ishkun (622-612 AC) que também enfrentou violenta rebelião na Assíria, revolução total na Babilônia e a cessação do pagamento de tributos de muitas colônias assírias a oeste, leste e norte, principalmente medos, persas, citas, cimérios, caldeus e arameus que, além disso, passaram a atacar colônias assírias, o Levante, Israel, Judá e mesmo as costas do Egito.
Os povos do Irã (medos, persas e partas) também tiraram vantagem dos levantes na Assíria para unir-se numa força poderosa, dominada por medos, que destruiu vários reinos vassalos da Assíria. Aramea, Fenícia e sul de Canaã readquiriram sua independência, assim como as colônias assírias da Ásia Menor e do leste do Mediterrâneo. Da mesma forma armênios, sármatas e georgianos começaram também a se estabelecer em algumas partes do Cáucaso.
Cerca de 620 AC, Nabopolassar, um desconhecido das tribos caldeias que se haviam estabelecido no extremo sudeste da Mesopotâmia cerca de 900 AC, reivindicou a cidade de Babilônia e faixas do império. Sin-shar-ishkun reuniu um grande exército para expulsar Nabopolassar da Babilônia; contudo, outra grande revolta explodiu na própria Assíria, forçando o retorno da maior parte do seu exército que prontamente se uniu aos rebeldes em Níneve e foram quatro anos de luta em duas frentes. Nabopolassar conseguiu então uma boa aliança com o rei medo Cyaxares, o Grande, que aproveitando os levantes na Assíria havia libertado os povos iranianos, unindo os medos iranianos, persas e partas, com os citas e cimérios; juntos atacaram a Assíria em 616 AC e após quatro anos de lutas Níneve foi finalmente saqueada em 616 AC e Sin-shar-ishkun foi morto defendendo a sua capital.
Ashur-uballit II tomou o trono e persistiu na resistência de Níneve, recusando uma oferta de vassalagem a Nabopolassar, Cyaxares e seus aliados e conseguindo uma fuga para a cidade Assíria de Harran, ao norte que tomou como a nova capital do reino. Conseguiu mantê-la por cinco anos após o que também Harran caiu em 608 AC. O Egito que funcionava como colônia assíria veio em seu auxílio com medo de cair também, sem a proteção da Assíria. Ashur-uballit II e Necho, do Egito, fizeram uma tentativa frustrada de recapturar Harran em 608 AC e durante os três anos seguintes tentaram em vão expulsar os invasores. Em 605, na batalha de Carchemish, os babilônios e medos derrotaram os assírios e egípcios, trazendo um fim à Assíria como entidade política independente – embora ainda tentassem algumas rebeliões importantes contra o Império Aquemênida em 546 e 520 AC -, permanecendo como uma região geopolítica e província colonizada até o século VII DC. O destino de Ashur-uballit II é desconhecido, podendo ter sucumbido na batalha de Carshemish ou simplesmente desaparecido na obscuridade.

IV.9.6 – RELIGIÃO ASSÍRIA

Os assírios, como os demais povos mesopotâmicos, seguiram a religião sumério-Acádiaiana da Mesopotâmia, com o deus Ashur como líder do panteão. Essa religião sobreviveu na Assíria, de 3500 AC até o seu gradual declínio em face do Cristianismo entre os séculos I e X DC. Havia vários outros deuses no panteão, os principais sendo: Anu, Baal, Ea, Enlil, Ishtar, Shamash, Tammuz, Adad/Hadad, Sin, Dagan, Ninurta, Nisroch, Ninlil e El.
A religião nativa ainda foi fortemente seguida até o século IV DC e sobreviveu oculta pelo menos até o século X DC, embora os assírios tenham iniciado a adotar a cristandade do rito oriental (bem como, por um tempo, o maniqueísmo e o gnosticismo que, como a literatura siríaca, teve o seu berço na Assíria entre os séculos I e III DC. Hoje os assírios são exclusivamente cristãos com a maioria seguindo a Igreja Assíria do Oriente, Igreja Católica Caldeia, Antiga Igreja do Oriente e a Igreja Ortodoxa Siríaca.

IV.9.7 – LÍNGUA NA ASSÍRIA

Conforme já tivemos oportunidade de comentar, na Mesopotâmia como um todo, durante o terceiro milênio AC, difundiu-se entre sumérios e Acadianos um bilinguismo, com permanente influência de um sobre o outro. Vimos também que o Acadiano substituiu, gradualmente, o sumério, embora este permanecesse como língua sagrada, cerimonial, literária e científica até o primeiro século DC.
Em tempos muito antigos, os assírios falavam um dialeto da língua Acadiana, um ramo oriental das línguas semitas, chamada de “Velho Assírio”, em que surgiram as primeiras inscrições. No período Novo Assírio, o aramaico tornou-se crescentemente comum, até mais do que o Acadiano, devido às deportações em massa, para a Assíria, de povos de língua aramaica conquistados pelos assírios, que com eles frequentemente cruzavam. Os antigos assírios também usavam a língua suméria em sua literatura e liturgia, embora de forma mais limitada nos períodos Médio e Novo Assírios, quando o Acadiano tornou-se a língua principal.
A destruição das capitais assírias de Níneve e Assur pelos babilônios, medos e seus aliados, garantiu que quase toda a elite bilíngue desaparecesse. Pelo século VII AC muito da população assíria que usava o Acadiano influenciou o aramaico oriental e não o próprio Acadiano. As últimas inscrições Acadianas na Mesopotâmia datam do século I DC. Contudo, dialetos orientais aramaicos, bem como nomes próprios e sobrenomes Acadianos e aramaicos mesopotâmios sobrevivem até hoje entre os assírios nas regiões do norte do Iraque, sudeste da Turquia, noroeste do Irã e nordeste da Síria, que constituíam a antiga Assíria.

IV.9.8 – ARTES E CIÊNCIAS

Lamassu: colossal estátua de leão alado
A arte assíria preservada até hoje data, predominantemente do período Novo Assírio. Arte descrevendo cenas de guerras e, ocasionalmente, a empalação de uma vila inteira com detalhes sangrentos, pretendiam mostrar o poder do imperador, servindo como propaganda. Tais relevos em pedra decoravam as paredes dos palácios reais onde estrangeiros eram recebidos pelo rei. Outros relevos mostravam o rei com diferentes deidades conduzindo cerimônias religiosas. Muitos desses relevos foram descobertos em palácios reais em Nimrud e Khorsabad. Uma rara descoberta de chapas de metal pertencendo a portas de madeira foi feita em Balawat. A escultura assíria atingiu um alto nível de refinamento no período Novo Assírio cujo proeminente exemplo é o touro ou leão com asas de águia e cabeça humana, conhecido como lamassu (feminino) ou shedu (masculino), deidade protetiva que guardava as entradas do paço real com o objetivo de afastar o mal. Eram propositalmente feitos com cinco patas de forma a mostrar sempre quatro, quer fosse visto de frente ou de perfil.
Embora trabalhos de pedras e metais preciosos não tenham sobrevivido ao tempo, algumas finas peças de joalheria foram encontradas em tumbas reais em Nimrud. Discussões acadêmicas prosseguem sobre a natureza das “Lentes de Nimrud” (mantidas no Museu Britânico), uma peça de quartzo desenterrada por Austen Henry Layard em 1850, no complexo palaciano de Nimrud, norte do Iraque. Uma pequena minoria crê ser ela uma evidência de antigos telescópios assírios, que poderia explicar a grande precisão da astronomia assíria. Outros sugerem o seu uso como lente de aumento para joalheiros ou mobília decorativa.
Os assírios foram também inovadores na tecnologia militar, pelo uso de cavalaria pesada, sapadores, máquinas para cerco etc... 


[1] Os arameus (de Aramea) foram um povo semita do noroeste, de língua aramaica, que se originou na moderna Síria (bíblica Aram) durante o final da Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Grandes grupos migraram para a Mesopotâmia onde se misturaram aos nativos assírios e babilônios. Os arameus nunca tiveram uma nação unificada, mas estiveram sempre divididos em pequenos reinos independentes por regiões do Oriente Médio, particularmente a moderna Síria e Jordânia, sendo posteriormente totalmente absorvidos pelo Novo Império Assírio, pelo século IX AC.
[2] A Caldeia foi uma pequena nação semita que emergiu ao final do século X AC, sobrevivendo até meados do século VI AC, localizada ao sul da Mesopotâmia e brevemente governou a Babilônia. Caldeus provém do latim Chaldeus. No Antigo Testamento há várias citações sobre esse povo que, sob o comando de Nabucodonosor II teria destruído Jerusalém e levado o povo judeu para o cativeiro babilônico que durou 70 anos.
[3] Os suteus foram um povo semita que viveu entre o Levante e Canaã, cerca de 1350 AC, sendo mais tarde encontrados também na Babilônia. Tradicionalmente operavam como mercenários e aparecem em documentos do Médio Império Assírio. Com outros povos semitas (caldeus e arameus) infestaram áreas da Babilônia cerca de 1100 AC e foram finalmente conquistados pela Assíria com o resto da Babilônia
[4] O Império Medo foi uma entidade política que existiu na região geográfica da Média, no noroeste do atual Irã, conhecida por ter sido a base política e cultural dos medos, bem como de outros povos iranianos antigos.
[5] Os manneanos (cujo país chama-se Mannea) foram um povo antigo que viveu em território do atual noroeste do Irã, ao sul do lago Urmia, do século X ao século VII AC. Naquele tempo eram vizinhos dos impérios da Assíria e Urartu, bem como de outros pequenos estados-tampões entre os dois, como Musasir e Zikirta.
[6] Frígia era o nome da região centro-oeste na antiga Ásia Menor (Anatólia), moderna Turquia, centrada no rio Sakarya (antigo rio Sangário ou Sangarios), onde floresceu o Reino da Frígia, famoso por seus reis lendários que povoaram a era heroica da mitologia grega. O poder frígio teve o seu apogeu no século VIII, reinado do histórico rei Midas.
[7] Os cimérios foram um antigo povo indo-europeu que viveu ao norte do Cáucaso e do Mar de Azov por volta de 1300 AC até que foram expulsos para o sul, pelos citas, chegando à Anatólia por volta do século VIII AC.
[8] Os citas foram tribos equestres iranianas que por toda a Antiguidade Clássica dominaram as estepes centrais da Eurásia, conhecidas como Cítia, a partir do século VII AC. Os citas clássicos conhecidos dos antigos historiadores gregos localizavam-se ao norte do Mar Negro e do Cáucaso.
[9] A Aramea é uma região mencionada na Bíblia, localizada na Síria Central, e se estendia das montanhas do Líbano para o leste, através do Eufrates, incluindo o vale do rio Khabur no noroeste da Mesopotâmia, na fronteira com a Assíria, e que incluía a área onde hoje se encontra a cidade de Aleppo.
[10] Os Nabateanos (de Nabatea) eram um antigo povo árabe que habitava o norte da Arábia e o sul do Levante.
[11] A Caria era uma região do oeste da Anatólia, ao longo da costa. Seus habitantes, os carianos, haviam chegado à Caria antes dos gregos.
[12] Na antiguidade, a Cilicia era a região costeira sul da Anatólia, ao sul do seu planalto central. Existiu como entidade política desde o tempo dos hititas até o Império Bizantino.
[13] A Capadócia é uma região histórica da Anatólia central.
[14] O reino de Comagene era um antigo reino armênio do período helenístico (entre a morte de Alexandre, o Grande, em 323 AC e a emergência do Império Romano com a batalha de Actium em 31 AC e a subsequente conquista do Egito de Ptolomeu em 30 AC), do qual pouco se sabe antes do início do segundo século AC.

Continua na PARTE 10

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