Tendo em vista a grandeza do assunto das Antigas Civilizações Mundiais - e, consequentemente, a sua amplitude - resolvi praticar aqui um pequeno entreato antes de iniciar a postagem sobre a Civilização Egípcia, que viria na sequência. Com esse "recreio", imagino trazer, aos meus leitores, um refresco que os ajudará na sua futura caminhada pelos desertos do Egito, antes mesmo dela ser iniciada.
Sem qualquer razão aparente, como imagino que aconteça a muitas pessoas, vez ou outra, eu hoje acordei um pouco sorumbático e “de repente, não mais que de repente”, me veio à memória a música “Hi Lili, hi Lili, hi lo”, que imediatamente comecei a cantarolar. Não sei quão poucas pessoas ainda se lembrarão do assunto e nem mesmo, com certeza, a idade que tinha, mas era bem pequeno, quando essa música fez muito sucesso no Brasil, em versão para o português, arrastada pelo filme “Lili”. E então resolvi escrever essa postagem, principalmente para os mais velhos, como eu, que ainda se recordam, quem sabe para afastar a pena, se não servir para qualquer outro objetivo.
O FILME
O filme “Lili” foi uma produção americana da Metro Goldwyn Mayer (MGM), liberada em 1953. Eu tinha, então, 9 anos de idade; supondo que um filme americano levasse, na época, uns dois anos para ser exibido no Brasil (se não mais!), quando fui assisti-lo é possível que tivesse meus 11 anos, idade em que não se esquece um filme singelo como aquele. Lembro até mesmo do cinema em que fui assisti-lo, certamente acompanhado dos meus pais: o velho “Cinema Avenida”, de Porto Alegre, numa das esquinas da Avenida João Pessoa com a Rua Venâncio Aires.
Os atores principais eram a Leslie Caron, bem mocinha, no papel título, Mel Ferrer, também moço (embora um dos atores que, para mim, já nasceram velhos), a loiríssima e muito conhecida Zsa Zsa Gabor e Jean-Pierre Aumont, que confesso não lembrar mais de quem se trata, embora recorde o nome. O roteiro foi escrito por Helen Deutsch (que também fez a letra original da música), adaptado de “The Man Who Hated People” (“O Homem que Odiava as Pessoas”), um conto de Paul Gallico, que apareceu na edição de 28 de outubro de 1950 no “Saturday Evening Post”. O filme teve direção de Charles Walters, produção de Edwin H. Knopf. Com o sucesso do filme, Paul Gallico expandiu sua história para um romance, em 1954, intitulado “The Love of Seven Dolls” (“O Amor de Sete Bonecas”) e o filme foi, posteriormente, adaptado para o teatro, com o título de “Parque de Diversões”.
O filme ganhou o Oscar de “Melhor Música”, com autoria de Bronislaw Kaper, e também concorreu no Festival de Cannes de 1953.
No enredo, Lili (Leslie Caron), a heroína do filme, era uma tocante e ingênua garota francesa, cuja emocionante relação com um operador de marionetes de um parque de diversões (Paul/Mel Ferrer), é conduzida por meio de quatro marionetes. Lili, de apenas 16 anos, chega a uma pequena cidade da província em busca de um velho amigo de seu pai, recém falecido, apenas para descobrir que ele também já morreu. Ela é então resgatada de um lojista que tenta dela se aproveitar, pelo mágico do parque de diversões Marc (Jean-Pierre Aumont), cujo nome de palco é “Marcus, o Magnífico”, um homem elegante, sedutor e de fala macia por quem ela se apaixona e segue. Ao saber que ela é tão jovem, ele a ajuda a obter um emprego de garçonete onde ela não dura uma só noite. Marc a aconselha a voltar ao lugar de onde veio; sem lar e com o coração partido, Lili pensa em suicidar-se, sem dar-se conta de que é observada por Paul, que puxa conversa com ela por meio de suas marionetes. Logo um grande grupo de trabalhadores do parque fica cativado pela interação de Lili com os marionetes, que não sabe que Paul maneja os bonecos atrás das cortinas. Paul lhe oferece um emprego no ato, que se torna um sucesso pela maneira natural como Lili interage com os bonecos. Paul, ex-dançarino conhecido, ferido em uma perna na Segunda Guerra Mundial, é amargurado por considerar seu trabalho como inferior e embora se apaixone por Lili, mostra-se desagradável para com ela e apenas se comunica através de seus quatro bonecos, com medo de ser rejeitado. Enquanto isso, Lili continua a sonhar com Marc e tenta substituir sua assistente sexi, Rosalie (Zsa Sza Gabor). Marc recebe uma oferta para o cassino local mas tenta seduzir Lili antes de partir sendo descoberto por Paul que o impede e mostra a ela a aliança de Marc. Lili decide abandonar o parque de diversões e na saída é impedida pelas vozes dos quatro bonecos que pedem para ir junto; ela os abraça e percebe que eles estão tremendo; lembra então que alguém maneja os bonecos e puxa a cortina para descobrir Paul. Ele, em vez de dizer seus sentimentos em relação a ela, fala de uma proposta de trabalho que recebera para ambos e ela conclui que este é o seu único interesse e parte. Saindo da cidade ela imagina que os bonecos, agora em tamanho real, se juntam a ela. À medida que ela dança com cada um, todos se transformam em Paul. Voltando à realidade, Lili corre de volta ao parque e aos braços de Paul e, enquanto se beijam, os bonecos aplaudem.
A MÚSICA
“Hi Lili, hi Lili, Hi lo” é uma canção popular – uma valsa, na verdade - com melodia de Bronislau Kaper e letra de Helen Deutsch, publicada em 1952, um ano antes do filme. A música foi então introduzida no filme “Lili”, onde é interpretada por Leslie Caron e por Mel Ferrer, na figura do boneco “Carrot Top”. A partitura do filme foi composta por Hans Sommer, com orquestrações de Robert Franklin e Skip Martin.
Essa música teve uma quantidade enorme de gravações, por diversos cantores, homens e mulheres e orquestras. Pequeno como era, eu ouvi muito e muito cantei essa música em sua versão em português, mas, infelizmente, não consegui encontrar essa versão original. Encontrei uma gravação com a Gal Costa, ao vivo, de 1983, onde ela canta com o auxílio do público e, por isso, a gravação ficou um pouco prejudicada. Encontrei também, em português, uma gravação com a Nalva Aguiar, mas em ritmo de marcha de carnaval não mostra nada da inocência da melodia original. Por isso, eu apresento aos leitores a gravação da Gal Costa.
A gravação original de “Hi Lili, Hi Lili, Hi Lo”, por Leslie Caron e Mel Ferrer, de 1953, foi lançada num single e tornou-se um pequeno sucesso, alcançando apenas o número 30 nos quadros de música popular dos Estados Unidos. Consegui, do You Tube, o clip do filme, onde eles interpretam a canção; a par da introdução e do final infeliz de quem postou a gravação original, pode-se ter uma boa ideia do clima do filme, ao escutar essa gravação, que apresentei acima.
Além dos já citados, muitos outros cantores de língua inglesa gravaram a melodia e aqui cito apenas os mais conhecidos do público brasileiro:
Dina Shore com a orquestra e coro de Frank De Vol, gravada em 1952;
Roger Williams (Orquestra), em 1956;
Mantovani (orquestra), de 1958, apresentada nesta postagem, com seus maravilhosos violinos de sempre;
The Everly Brothers, em 1961;
Shelley Fabares de 1962, que eu recomendo muito;
The Four Seasons, 1962, muito boa para quem quiser relembrar os velhos tempos;
Nat King Cole, 1963, a mesma magnífica voz de veludo de sempre;
Richard Chamberlain, em 1963;
Ray Conniff, de 1965, sempre boa;
Anne Murray, gravação de 1977, como sempre muito agradável;
Há muitas outras que não coloquei. Mas há uma, que considero especialíssima e que vou apresentar a vocês e, por essa razão, não a juntei às demais. Trata-se de uma gravação de Jimmy Durante, um dos meus intérpretes favoritas, embora a sua ocupação primeira fosse ator e não cantor. Ele realizou essa gravação em 1964 e, como todas as suas gravações, eu a considero de extrema felicidade. Espero que os leitores concordem comigo.
Finalmente, para os candidatos a cantor, que quiserem acompanhar, em inglês ou português, apresento as letras no documento anexo. Importante mencionar que a letra em português não é a tradução do inglês, mas uma versão adaptada, cujo autor eu desconheço. E que a letra em inglês corresponde à gravação de Jimmy Durante, pois cada cantor sempre apresenta a sua própria versão.
Espero que a postagem tenha sido do agrado dos leitores e aqui fico, até a próxima.
2 comentários:
Olá! A versão que eu conheci, pois mamãe cantarolava essa música é com a cantora Neide Fraga. Linda canção me recorda bons momentos da minha infância.
Oi, Ju! Que grande alegria receber o teu comentário. Possivelmente essa era também a versão que eu cantarolava, em português. A tua lembrança foi ótima. Apenas não a coloquei porque não consegui lembrar da cantora; mas agora vou buscar a gravação e, se conseguir encontrar, vou fazer um edição na minha postagem. Muito grato. Aparece sempre. Abraço. Nelson Azambuja.
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