Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sábado, 25 de outubro de 2008

O CABEÇALHO DO BLOG

Pois imagino que estivesse devendo uma explicação a respeito do cabeçalho do blog, que possui um significado muito especial, para mim. Vamos a ela!
O cabeçalho é uma foto parcial, editada, da Praça da Matriz, em Porto Alegre. Nela pode-se ver um dos cães de bronze, na entrada da praça, o monumento ao "Positivismo" de Augusto Comte, parte da Catedral Metropolitana ao fundo e alguns dos prédio que circundam a praça.
A primeira coisa que gostaria de observar, é que pouca gente sabe que "Praça da Matriz" é o apelido carinhoso que se dá àquela que se chama, na verdade, Praça Marechal Deodoro. Para os porto-alegrenses, de uma maneira geral, ela sempre se chamou e chamar-se-á Praça da Matriz.
É preciso, depois, explicar o porque do seu especial significado para mim. Ocorre que tendo nascido em Porto Alegre, mudei-me dessa cidade, por motivos profissionais, no final de 1976, com 32 anos de idade, para a cidade de Florianópolis em Santa catarina, onde até hoje possuo um apartamento. Portanto, não apenas a Praça da Matriz, mas muitos outros lugares, me trazem doces recordações da época em que era jovem e tudo era muito mais fácil e, relativamente, de pouca responsabilidade.



Entretanto, a Praça da Matriz, particularmente, me traz lembranças muito mais fortes, principalmente de duas épocas: dos meus três anos de idade (1947) e dos meus 14 anos (1958).
Em 1947, quando meu pai construía uma casa para nós, no bairro do Partenon, fomos morar, por um período relativamente curto, no centro da cidade de Porto Alegre, na chamada Pensão Viaduto. Como o próprio nome indica, esta pensão, muito simples, localizava-se ao pé do viaduto Otávio Rocha, que todos chamam, erroneamente, de viaduto Borges de Medeiros, apenas porque ele se localiza sobre essa importante avenida de Porto Alegre. Para ser bem preciso, a Pensão Viaduto ficava na esquina da avenida Borges de Medeiros com a rua Jerônimo Coelho, exatamente onde fica atualmente a imensa sede da AGERGS - Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul - , em frente ao prédio do INSS, conforme pode-se ver no pequeno mapa colocado acima.
O mapa já citado apresenta a Praça da Matriz, em verde, e os seus arredores. Embora Porto Alegre conte hoje com mais de 1,4 milhões de habitantes, a cidade não fugiu à regra e também teve a sua praça central em frente à igreja mais importante. Nesse caso, a praça apresenta uma face para a rua Duque de Caxias, exatamente defronte à Catedral Metropolitana e a outra para a rua Jerônimo Coelho, enxergando o conhecido e antigo Teatro São Pedro e o Palácio da Justiça, entre eles, a rua General Câmara, famosa Rua da Ladeira; esta, descendo, vai encontrar a Rua da Praia (Rua dos Andradas), justamente no início da Praça da Alfândega.
O mapa mostra também, como vizinhos da Catedral, dois prédios antigos que já existiam à época de sua construção: o Palácio Piratini, sede e residência do governo estadual, e a casa do ilustre ex-governador da então Província de São Pedro do Rio Grande, Júlio de Castilhos, há muito transformada em Museu Júlio de Castilhos. Seguindo pela mesma calçada da rua Duque de Caxias, para a direita, afastando-se da Praça, chega-se ao Colégio Sevigné (escola só para meninas), das irmãs agostinianas, alegria dos alunos do Colégio Anchieta, onde fiz o meu ginásio (naquele tempo só para meninos), dos padres jesuítas, ao lado do Museu Júlio de Castilhos, no caminho do colégio das freiras; o Anchieta mudou-se da Rua Duque no início da década de 60.
Nas laterais da praça encontram-se, de um lado o moderno Palácio Farroupilha, sede da Assembléia Legislativa Estadual, e do outro, o Palácio do Ministério Publico. No local onde hoje se encontra a Assembléia Legislativa, tranquilamente descansava o antigo Auditório Araújo Viana, hoje localizado no Parque da Redenção.
Exatamente esses dois locais, a Praça da Matriz e o Auditório Araújo Viana, são os dois grandes responsáveis por essa crônica despretenciosa que hoje posto.
Da Pensão Viaduto até a Praça da Matriz, eram cerca de escassos trezentos metros, uma pequena caminhada, mesmo para os meus poucos três anos de idade ... Claro que é impossível manter registros precisos de tudo o que me ocorreu na época em que tinha três anos de idade, mas tenho lembranças claras dos passeios que fazíamos à Praça da Matriz, para realizar fantásticas cavalgadas nos lombos daqueles dois cães enormes (sentados, diga-se de passagem) que atuavam como se sentinelas fossem daquele sítio maravilhoso e, então, enorme. Da mesma forma, lembro-me muito bem dos concertos vespertinos, ou de início de noite, que eram oferecidos ao público no auditório Araújo Viana, pelas bandas e orquestas locais, que nunca hão de retornar. Fico a imaginar que músicas tais como "Moonlight Serenade", de Glenn Miller, "Rhapsody in Blue" e "It's Wonderful", do casal Gershwin, "Begin the Beguine", de Cole Porter e tantas outras jóias do mesmo calibre, criadas e cantadas no mundo inteiro antes que eu fosse nascido, ficaram na minha lembrança e fizeram parte de toda a minha vida, principalmente por obra e arte, das tardes passadas em brincadeiras na Praça da Matriz, pois mesmo sem ir ao Auditório Araújo Viana, dele chegavam até ela os sons dessas inesquecíveis melodias.
Onze anos depois, em 1958, voltamos a residir no centro de Porto Alegre, durante um ano, desta feita na rua Marechal Floriano, quase esquina com a rua Riachuelo (mudar de residência sempre foi uma espécie de prazer do meu pai), onde então ainda transitavam os bondes. Nossa casa ficava a cerca de uns setecentos metros da Praça da Matriz, muito próxima da rua Duque, e foi nessa época que meu irmão e eu ganhamos de nossos pais uma Monareta, pequena moto, muito aquém das famosas Lambretas que então faziam sucesso em todo o mundo. Dada a localização da nossa casa, a Praça da Matriz imediatamente apresentou-se como o local ideal para o desenvolvimento de nossas habilidades motociclísticas. Ah, quantos quilômetros rodados, quanto combustível consumido e quantas voltas realizadas em torno da Praça da Matriz, em exibições para as namoradinhas da época...
Nada mais justo do que prestar, ainda que tardiamente, uma homengam à Praça da Matriz, palco que foi de tantas das minhas aventuras de criança e lugar de realce que ocupa entre as minhas lembranças. Mal imaginava eu que, na mesma praça, brincara também, com tenra idade, aquela que seria a minha namorada e depois esposa de toda a minha vida. Para encerrar, algumas fotos da região com as pequenas explicações que se fazem necessárias.





A Praça da Matriz, com o Palácio Piratini à sua frente e o Auditório Araújo Viana, à sua direita, na década de 20 (eu ainda não era nascido, não). Nessa época a Catedra atual ainda não existia, mas sim uma igreja antiga que dava nome à rua - Rua da Igreja. Pode-se ver claramente, na parte de baixo do Auditório, o palco onde se apresentavam as orquestras da época, em direção à rua Duque de Caxias.







É possível ver, também, os bancos de concreto imitando troncos de árvores, onde as pessoas sentavam-se para assistir aos concertos e os carramanchões que se enchiam de flores, proporcionando sombra acolhedora nas tardes de verão.
A seguir, o viaduto sobre a Av. Borges de Medeiros, com suas enormes escadarias e os postes com seus "lampiões" de lâmpadas amareladas, passeio pitoresco que elevava os transeuntes à rua Duque de Caxias. No topo da fotografia, à direita, pode-se ver o prédio dos Diários Associados, por onde passei muitas vezes no caminho para o Colégio Anchieta. Idêntica escadaria existia para o outro lado do Viaduto, que terminava muito próximo do saudoso Cinema Capitólio; sob ambas, as famosas lojinhas e quiosques do Viaduto para onde acorria a criançada em busca dos recém chegados "chiclets balão".



Monumento e árvores da Praça da Matriz e a Catedral Metropolitana ao fundo, em fotografia de 2003.
Abaixo, as escadarias da Praça da Matriz, com prédios modernos ao fundo.

















E, finalmente, a Preaça da Matriz com o Teatro São pedro, ao fundo, em foto moderna. À esquerda da foto pode-se ver o prédio da Assembléia Legislativa do Estado e, à direita, uma ponta do Palácio do Ministério Público.

Essas eram as poucas idéias e imagens que eu gostaria de postar em meu blog. Desejo que elas sirvam para trazer de volta à memória, dos que um dia as viveram e possam tê-las esquecido, este sítio tão agradável de Porto Alegre; como ambição maior, introduzi-las aos que ainda não tinham tido o prazer de conhecê-las.

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