Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

RESGATANDO ARTHUR FERREIRA FILHO

Ultimando os preparativos para a nossa última viagem de Florianópolis (SC) para Gramado (RS), adentrei novamente o escritório de nossa casa em Canasvieiras - com um pouquinho de saudade antecipada pelas coisas que ia estar deixando - para mais uma olhada nas estantes de livros. O objetivo era encontrar algo leve, em peso e conteúdo, para ler durante a viagem, se a oportunidade surgisse. E encontrei um volume fino, com o título "Narrativas de Terra e Sangue", cujo autor chama-se Arthur Ferreira Filho".
Pois bem, esse escritor, é tio materno de meu pai Carlos Ferreira de Azambuja e, conseqüentemente, meu tio avô. Meu pai, muito mais Azambuja que Ferreira, sempre foi bastante reservado, em geral, e mais ainda no que se referia à sua vida familiar. Teve as suas razões, surgidas ainda em sua infância, e as carregou por toda a vida. Através dele muito pouco transpirou acerca dos meus antepassados Azambujas ou Ferreiras, muito embora fossem famílias muito grandes, tanto a nivel regional, como nacional. Uma peculiaridade curiosa, entretanto, é que meu irmão Nei e eu ainda carregamos em nossos nomes o sobrenome Ferreira, exatamente por solicitação de Arthur Ferreira Filho. Pelo menos até pouco tempo atrás, era normal que os filhos ajuntassem ao seu prenome, o último sobrenome da mãe e o último sobrenome do pai. A pedido deste nosso tio avô, já antecipando o conseqüente desaparecimento do sobrenome Ferreira nos nomes dos filhos de meu pai, a ele sugeriu que o mantivesse em nossos nomes, o que evitaria a extinção do sobrenome, pelo menos por mais uma geração. Mal sabia ele que a minha esposa Selene sugeriria, numa singela homenagem, que o nosso terceiro filho, e primeiro homem, se tornasse Júnior; para minha alegria e "transtorno" permanente para o meu filho, dado o comprimento quilométrico de seu próprio nome: Nelson Sant'Anna Ferreira de Azambuja Júnior!

Nasceu Arthur Ferreira Filho na histórica Fazenda do Bujuru, em São José do Norte, cidade fronteira à importante cidade de Rio Grande, porto marítimo na entrada da Lagoa dos Patos, sul do estado do Rio Grande do Sul, na data revolucionária de 20 de setembro (por acaso mesma data natalícia de meu pai), em 1899; faleceu em Porto Alegre em 25 de março de 1996, com 96 anos de idade. Muito cedo transferiu-se para Bom Jesus, situado na região nordeste do estado, cidade da qual seria, primeiro, delegado, e mais tarde, Prefeito Municipal. Foi também Prefeito de Passo Fundo e São Leopoldo.
Descendente de antiga família de fazendeiros e militares do sul do estado do Rio Grando do Sul, foi engenheiro, militar, escritor, sociólogo, historiador e político brasileiro. Positivista, era filiado ao Partido Republicano Rio-grandense. Foi Capitão da Brigada do Norte durante a Revolução de 1923 e chegou a Tenente-Coronel em 1925, em operações de guerra nos estados de Santa Catarina e Paraná. Mereceu várias condecorações e medalhas, foi diretor da Biblioteca Pública do Estado e membro, entre outros, do Instituto Geográfico do Rio Grande do Sul, Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, Academia Rio-grandense de Letras, da qual foi quatro vezes presidente. Escreveu vários livros, entre eles uma "História Geral do Rio Grande do Sul" e "Narrativas de Terra e Sangue". Não é meu objetivo transcrever as "Memórias" deste gaúcho ilustre, mas gostaria muito de registrar que Arthur Ferreira Filho encarna o que o Rio Grande tem de melhor, com sua experiência da "campanha do tempo das tropeadas de gado gordo para a tablada de Pelotas e dos negócios de mulas de tiro para as áreas mineiras e já para as urbanizações de São Paulo". "Castilhista" de berço, manteve-se sempre dentro dos padrões éticos da filosofia positivista de Augusto Comte, mostrados no regime de nobre conduta cívica dos governos de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Em todas as funções públicas de que se ocupou, sempre desempenhou fecunda e honesta administração. E, mais do que qualquer outra coisa, assistiu e participou da consolidação de República, colaborando para a sua manutenção, inclusive colocando em risco a sua própria vida.
Li o seu livro "Narrativas de Terra e Sangue" em dois dias e nunca, como autêntico gaúcho não-bairrista, me deliciei tanto com as histórias e "causos" das coisas do Rio Grande, como com as narradas por Arthur Ferreira Filho. Como diz Ângelo Torres, prefaciando seu livro de memórias, "Quem quiser conhecer o Rio Grande a cavalo, do Império e dos primeiros anos da República, deve percorrer as páginas de Narrativas de Terra e Sangue", onde Arthur Ferreira Filho relata as histórias pastoris daquele tempo, com uma simplicidade e, ao mesmo tempo, uma emoção que não pode deixar de fazer retornar às suas origens os gaúchos que, como eu, por tanto tempo se mantiveram espacialmente distantes do seu querido torrão natal.
Faço público o meu lamento, por não possuir, à época em que nos deixou, o conhecimento necessário para bem poder expressar ao meu pai, a minha enorme admiração por esse seu tio querido, após tomar conhecimento de uma pequeníssima parcela de sua obra e de sua vida.

2 comentários:

Unknown disse...

peço contato ref.genealogia de Arthur Ferreira Filho
keffern1@hotmail.com

Nelson Azambuja disse...

No que eu puder ajudar, estou às ordens. Meu e-mail é nsfazambuja@gmail.com. Como falei, Arthur Ferreira Filho é meu tio avô, irmão de minha avó e daí o meu Ferreira. Uma boa fonte de informações, com certeza, será o Instituto Histórico e Geográfico do Estado do Rio Grande do Sul, do qual Arthur F. Filho foi diretor por dois mandatos consecutivos.
Saudações, Nelson.