Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

BREVE HISTÓRIA DAS ORIGENS DE PORTUGAL - PARTE III (Última)

CONDADO DE PORTUCALE
Vímara Peres foi um fidalgo galego nascido em 820 e morto em 873, Cristão da Reconquista, cavaleiro e senhor da guerra, enviado por D.Afonso III, das Astúrias, ao vale do rio Douro, com a incumbência de expulsar dali os mouros, da linha natural cujo domínio os asturo-leoneses consideravam fundamental para a sua defesa. A ele se ficou a dever, entre outras coisas, o repovoamento cristâo das terras de entre Douro e Minho. Ajudado pelos cavaleiros cristãos da regiâo, conquistou Portucale aos mouros no ano de 868.
Nesse mesmo ano, de 868, receberia Vímara Peres (figura ao lado) o título de Conde de Portucale, dando assim início a uma dinastia condal que duraria até ao ano de 1071. Já nessa época o território designava-se Terra Portugalense. Pouco a pouco foram alargadas as fronteiras do território, que confinava com outros territórios (Braga, Lamego, Viseu, Terras da Feira e Coimbra). Entre as suas obras consta ainda a da fundação de um pequeno burgo fortificado, junto de Braga, a que deu o nome de Vimaranis - que então significava "terras de Vímara" - e haveria de se transformar na cidade de Guimarães e berço de Portugal.
A reconquista permitiu também a restauração diocesana, tendo os bispos de Portucale sido instalados numa pequena povoação chamada Magneto (a qual os especialistas fazem corresponder com a actual Meinedo, no conselho de Lousada).
Na segunda metade do século XI, reconstituiu-se, ao sul, o condado de Coimbra (que incluía não só a cidade do Mondego, como ainda as terras de Lamego, Viseu e Feira), sendo entregue ao conde Sesnando Davides, um moçárabe do rei Fernando I de Leão e Castela, que conquistara definitivamente a cidade em 1064 (este condado viria, mais tarde, a ser incorporado ao Portucalense).

CONDADO PORTUCALENSE
A ambição de Afonso VI de Leão e Castela, auto-denominado Imperador de toda a Hispânia, reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia morreu, em 1091, os territórios do Reino da Galiza, em sua posse, passaram, por mérito, às mãos do Cruzado Conde Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca, filha de Afonso VI. A partir daí, as chamadas terras de Portucale passam a ser um Condado (Condado Portucalense) dependente do Reino da Galiza, que por sua vez prestava vassalagem a Afonso VI de Leão e Castela. Nessas alturas, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território. Assim, foram criados um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI; outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro, no ocidente, entregue a Raimundo de Borgonha. Este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa, que fora cedida aos Leoneses pelo reino Taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas.
Alguns anos mais tarde, em 1096, descontente com as políticas bélicas de Raimundo, Afonso VI entrega o governo do Condado Portucalense ao primo de Raimundo, Rei da Galiza, o Conde D. Henrique de Borgonha, casado com sua outra filha, D. Teresa, passando assim a ser Conde de Portucale. Na prática, o Condado Portucalense deixava de ser dependente do Reino de Galiza, para prestar vassalagem directamente ao Reino de Leão e Castela, o que provocou um grande descontentamento entre a nobreza galega. O conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos clunicenses, introduz-se ambiciosamente na política do Reino, conquistando poder junto das cortes. Vendo-se na condição de subordinados ao rei, os condes ou governadores tinham amplos poderes administrativos, judiciais e militares, e o seu pensamento orientava-se, naturalmente, para a aquisição de uma completa autonomia quando, no caso português, as condições lhe eram propícias. Deste condado, nasceria o Reino de Portugal.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fez vila (fundou uma povoação nova) em várias terras, entre elas Guimarães, na qual fez vila de burgueses, atraindo ali, com várias regalias, muitos francos seus compatriotas.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, em paços próprios, dentro do castelo que ali fora edificado no século anterior. Falecido o conde D. Henrique (1112), passa a viúva deste D. Teresa, a governar o condado durante a menoridade do seu filho Afonso Henriques.

INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL
Inicialmente, o pensamento de D. Teresa foi idêntico ao do seu marido: fortalecer a vida portucalense e conseguir a independência para o condado. Em 1121 intitula-se «Rainha», mas os conflitos com o alto clero e sobretudo a intimidade com Fernão Peres, fidalgo galego a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, trouxeram-lhe a revolta dos Portucalenses e do próprio filho, sistematicamente afastados, por estranhos, da gerência dos negócios públicos. D. Teresa planeja então uma união com a poderosa família galega dos Trava, unindo assim novamente o Condado Portucalense ao Reino de Galiza e inviabilizando toda e qualquer aspiração portuguesa à independência.
Aos catorze anos de idade (1125), o jovem Afonso Henriques, com o apoio da nobreza portuguesa, arma-se a si próprio cavaleiro – segundo o costume dos reis – tornando-se assim guerreiro independente. A posição de favoritismo em relação aos nobres galegos e a indiferença para com os fidalgos e eclesiásticos portucalenses por parte de sua mãe, D. Teresa, originou a sua revolta, sob chefia do seu filho, D. Afonso Henriques (figura acima).
Em 24 de junho de 1128, trava-se a Batalha de São Mamede (Guimarães) entre os partidários do infante Afonso e os de sua mãe. Esta é vencida e expulsa da terra que dirigira durante 15 anos. D. Afonso Henriques toma conta do condado, declarando-o reino independente, como neto de Afonso VI e dele vai fazer o Reino de Portugal.
Lutando contra os cristãos de Leão e Castela e os muçulmanos, Afonso Henriques conseguiu uma importante vitória contra os Mouros na Batalha de Ourique, em 1139, e declarou a independência. Continuou, entretanto, a luta contra as forças de Afonso VII de Leão e Castela (inconformado com a perda das terras portuguesas, pois, à semelhança de seu pai, Afonso VI, ele também se intitulava Imperador), enquanto, paralelamente, travava lutas contra os muçulmanos.
Em 1139, após uma estrondosa vitória na Batalha de Ourique, contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques afirma-se como Rei de Portugal, aclamado pelos chefes portugueses. Nascia assim, o Reino de Portugal e sua primeira dinastia, com o rei Afonso I de Borgonha (Afonso Henriques). Somente a 5 de outubro de 1143 é reconhecida a independência de Portugal pelo rei Afonso VII de Leão e Castela, no Tratado de Zamora, assinando-se a paz definitiva. Desde então, D. Afonso Henriques procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos Conventos. Dirigiu-se ao Papa Inocêncio II e declarou Portugal tributário da Santa Sé, tendo reclamado para a nova monarquia a protecção pontifícia. Em 1179 o Papa Alexandre III, através da Bula Manifestis Probatum, reconhece a existência de Portugal como país independente e vassalo da Igreja Católica Apostólica Romana.
Na continuação de suas conquistas, buscou também por terras ao sul, até então povoadas por Mouros e, após ver malograda a primeira tentativa de conquistar Lisboa em 1142, conseguiu o seu intento em 24 de Outubro do mesmo ano (a figura acima mostra D. Afonso I durante o sítio de Lisboa), após conquistar Santarém, no dia 15 de Março, com o auxílio de uma poderosa esquadra de 160 navios e um contingente de cerca de 13 mil cruzados que se dirigiam para a Terra Santa.
Em 1492, com a conquista do reino de Granada, a Reconquista chegava ao fim. Já os reinos da Galiza, Leão, Castela, Navarra e Aragão iniciavam uma relativa unificação ao possuir um único rei (embora mantendo a autonomia econômica, administrativa e comercial), que posteriormente recebeu o nome de reino de Espanha. Juntamente com o reino independente de Portugal, debatiam-se estes dois estados pelas conquistas marítimas. Ainda com o apoio da Igreja, ambos os reis estavam agora de olhos voltados para o Norte de África, nas praças comerciais de renome, como Ceuta e Tânger, sob o pretexto da cristianização. Caminhava-se, paralelamente, para a fase inicial dos Descobrimentos.
Nesse ponto da história encerramos o nosso artigo, que tem como objetivo único, apresentar as origens de Portugual como país, etnia e língua. Nele, foram apenas apresentados os fatos, sem nos determos nas suas causas e nas suas consquências, nem tampouco imprimindo qualquer forma de interpretação. Era importante, para o autor da pesquisa, mostrar a forma como Portugal se originou da mesma Península Ibérica da qual se originou a Espanha, indicar os povos que compuseram a sua etnia final, bastante complexa e, finalmente, apresentar as influências que sofreu na formação final da sua língua portuguesa. Com humildade esperamos ter atingido esse objetivo, que consideramos de alguma importância como descendentes que somos daquele povo.

Um comentário:

Gilda Souto disse...

Exelente!Foi uma maravilhosa leitura...andei no seu texto pé ante pé, procurando não me perder...e assimilar todo seu desenvolvimento !Valeu a pena , estou esperando o outro! Parabéns!