A Academia Brasileira de Letras (ABL) é uma instituição fundada no Rio de Janeiro em 20 de julho de 1897. Seguindo o modelo da Francesa, a Academia Brasileira é composta por 40 (quarenta) membros efetivos e perpétuos e 20 (vinte) sócios correspondentes estrangeiros, e possui como objetivo "o cultivo da língua e a literatura nacional". A vitaliciedade do cargo é expressa pelo lema "Ad immortalitatem", e a sucessão dá-se apenas pela morte do ocupante da cadeira.
A instituição remonta ao final do século XIX, quando escritores e intelectuais brasileiros manifestaram seu desejo de criar uma academia nacional, nos moldes da Academia francesa. Dessa forma, a iniciativa foi tomada por Lúcio de Mendonça e concretizada em reuniões preparatórias que se iniciaram em 15 de dezembro de 1896, sob a presidência de Machado de Assis (eleito por aclamação), na redação da Revista Brasileira. Nessas reuniões foram aprovados os Estatutos da Academia Brasileira de Letras, a 28 de janeiro de 1897, compondo-se o seu quadro de 40 membros fundadores. A 20 de julho desse mesmo ano foi realizada a Sessão Inaugural, nas instalações do Pedagogium, prédio fronteiro ao Passeio Público, no centro do Rio.
Sem possuir sede própria nem recursos financeiros, as reuniões da Academia eram, inicialmente, realizadas nas dependências do antigo Ginásio Nacional, no Salão Nobre do Ministério do Interior e no salão do Real Gabinete Português de Leitura, sobretudo para as sessões solenes. As sessões comuns sucediam-se no escritório de advocacia do Primeiro Secretário, Rodrigo Octávio, à Rua da Quitanda, 47.
A partir de 1904, a Academia obteve a ala esquerda do Silogeu Brasileiro, um prédio governamental que abrigava outras instituições culturais, onde se manteve até à conquista da sua sede própria.
Os membros efetivos e perpétuos da Academia são conhecidos como "imortais" e escolhidos entre os cidadãos brasileiros que tenham publicado obras de reconhecido mérito ou livros de valor literário. O estatuto da Academia Brasileira de Letras estabelece que, para alguém candidatar-se, é preciso ser brasileiro nato e ter publicado, em qualquer gênero da literatura, obras de reconhecido mérito ou, fora desses gêneros, livros de valor literário.
Quando um Acadêmico falece, a cadeira é declarada vaga na “Sessão de Saudade” e, a partir de então, os interessados dispõem de um mês para se candidatarem, através de carta enviada ao Presidente. A eleição transcorre três meses após a declaração da vaga. Formalizadas as candidaturas, os acadêmicos, em sessão ordinária, manifestam a vontade de receber o novo confrade, através do voto secreto. A posse é marcada de comum acordo entre o novo Acadêmico e o escolhido para recepcioná-lo. De praxe, o vistoso fardão é oferecido pelo Governo do Estado natal do Acadêmico. Os eleitos tomam posse em sessão solene, nas quais todos os membros vestem o fardão da Academia, de cor verde-escura com bordados de ouro que representam os louros, complementado por chapéu de veludo preto com plumas brancas. Nesse momento, o novo membro pronuncia um discurso, onde tradicionalmente evoca o seu antecessor e os demais ocupantes da cadeira para a qual foi eleito. Em seguida, assina o livro de posse e recebe das mãos de dois outros imortais o colar e o diploma; a espada é entregue pelo decano, o acadêmico mais antigo. A cerimônia prossegue com um discurso de recepção, proferido por um confrade, referindo os méritos do novo membro.
Instituição tradicionalmente masculina, a Academia, a partir de 4 de novembro de 1977, aceitou como membro Rachel de Queiroz, para quem foi desenhada uma versão feminina do tradicional fardão: um vestido longo de crepe francês verde-escuro, com folhas de louro bordadas em fio de ouro.
O primeiro Presidente da ABL foi Machado de Assis, eleito por aclamação, e também seu "Presidente Perpétuo". Durante quase 34 anos consecutivos Austregésilo de Athayde presidiu o Silogeu (1959-1993) imprimindo, na sua gestão, um caráter de vitaliciedade ao cargo, que fugia aos princípios originais e que foi abandonado por seus sucessores. Eleito em 2007, o atual presidente é Cícero Sandroni.
Para cada uma das quarenta cadeiras, os fundadores escolheram os respectivos patronos, homenageando personalidades que marcaram as letras e a cultura brasileira, antes da fundação da Academia. Esta foi uma inovação com relação à Academia Francesa, que lhe servira de modelo e que instituíra as Cadeiras, mas atendendo apenas a uma numeração de 1 até 40. A escolha desses Patronos deu-se de forma um tanto aleatória, com sugestões sendo feitas pelos próprios Imortais.
Historiando esta escolha, em discurso proferido na Casa, no ano de 1923, Afrânio Peixoto (que dela foi Presidente), deixou criticamente registrado:
“Novidade de nossa Academia foi, em falta de antecedentes, criarem-nos, espiritualmente, nos patronos. Machado de Assis, o primeiro da companhia, por vários títulos, quis dar a José de Alencar a primazia que tem, e deve ter, na literatura nacional. A justiça não guiou a vários dos seus companheiros. Luís Murat, por sentimento exclusivamente, entendeu honrar um amigo morto, infeliz poeta, menos poeta que infeliz, Adelino Fontoura. O mesmo, Pedro Rabelo a Pardal Mallet. A Silva Ramos, que lembrara Gonçalves Crespo, nascido no Brasil, não o permitiram, por «português», aceitando, entretanto, Gonzaga, que nascera em Portugal... Faltavam poucos acadêmicos à escolha e sobravam grandes patronos nacionais. Nabuco que, para não sair de Pernambuco, e não ter sombra, escolhera ao medíocre Maciel Monteiro, lembrou aos que faltavam, a escolha justa de grandes nomes restantes. Rui ocorreu logo com o seu patrono, que não estava na lista: era Evaristo da Veiga. Ficaram muitas clamorosas exclusões, entretanto.
Recentemente, acadêmico para quem a Academia é número um de suas preocupações, entendeu obviar o defeito, dotando os sócios correspondentes de patronos. Elaborou a lista dos grandes excluídos — Alexandre de Gusmão; Alexandre Rodrigues Ferreira; A. de Morais Silva; Antônio José; Botelho de Oliveira; D. Borges de Barros; Eusébio de Matos; Dom Francisco de Sousa; Fr. Francisco de Monte Alverne; Gonçalves Ledo; José Bonifácio, o Patriarca; Matias Aires, Nuno Marques Pereira, Odorico Mendes, Rocha Pita, Santa Rita Durão, Silva Alvarenga, Sotero dos Reis, Fr. Vicente do Salvador, Visconde de Cairu — e teve a habilidade, eleitoral, de fazê-la aceita. É exato que a maioria é de baianos, o que trai a origem, mas, agora, já não se dirá que os sessenta patronos não incluem os mais consagráveis dos brasileiros escritores. A exclusão desses vinte seria escandalosa e certamente eles valem mais que vinte dos outros quarenta, escolhidos sem unidade de critério, ou, como devera ser apenas, critério de justiça.”
Pelo que se nota que as aparentes injustiças e pecados, praticados pela nossa Academia Brasileira de Letras, não acontecem apenas nos dias de hoje. Ilustração adicional foi proporcionada pelo nosso tão querido e não menos famoso escritor Jorge Amado, eleito para a Academia Brasileira de Letras em 6 de abril de 1961 e ocupando a cadeira 23, cujo patrono é José de Alencar. De sua experiência acadêmica, bem como para retratar os casos dos imortais da ABL, escreveu “Farda, fardão, camisola de dormir”, numa clara alusão ao formalismo da entidade e à senilidade de seus membros, então.
E não posso deixar de registrar experiência pessoal sobre o assunto. Na década de sessenta, com meus vinte aninhos e então fiel leitor dos autores que compunham os famosos “esquerdistas de direita e diretistas de esquerda”, caiu-me às mãos o volume “As Excelências ou Como Entrar para a Academia”, do apaixonado Guilherme de Figueiredo. Nesse livro, extemamente divertido, o autor expõe, de forma acérrima, as absurdas normas impostas e as peripécias que devem enfrentar os candidatos ao ingresso em nossa mais famosa casa de cultura. Com todas os acontecimentos modernos envolvendo a ABL e seus candidatos do presente, com toda a certeza, é um livro totalmente atualizado.
Como curiosidade, apresentamos a seguir algumas relações de nomes ligados à ABL.
LISTA DE PATRONOS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
1. Adelino Fontoura; 2. Álvares de Azevedo; 3. Artur de Oliveira; 4. Basílio da Gama; 5. Bernardo Guimarães; 6. Casimiro de Abreu; 7. Castro Alves; 8. Cláudio Manuel da Costa; 9. Gonçalves de Magalhães; 10. Evaristo da Veiga; 11. Fagundes Varela; 12. França Júnior; 13. Francisco Otaviano; 14. Franklin Távora; 15. Gonçalves Dias; 16. Gregório de Matos; 17. Hipólito da Costa; 18. João Francisco Lisboa; 19. Joaquim Caetano; 20. Joaquim Manuel de Macedo; 21. Joaquim Serra; 22. José Bonifácio, o Moço; 23. José de Alencar; 24. Júlio Ribeiro; 25. Junqueira Freire; 26. Laurindo Rabelo; 27. Maciel Monteiro; 28. Manuel Antônio de Almeida; 29. Martins Pena; 30. Pardal Mallet; 31. Pedro Luís Pereira de Sousa; 32. Manuel de Araújo Porto-alegre; 33. Raul Pompéia; 34. Sousa Caldas; 35. Tavares Bastos; 36. Teófilo Dias; 37. Tomás Antônio Gonzaga; 38. Tobias Barreto; 39. Francisco Adolfo de Varnhagen; 40. Visconde do Rio Branco;
A estes 40 Patronos mais 20 foram adicionados posteriormente, nominando as vinte cadeiras de sócios Correspondentes, outra inovação da Academia Brasileira. São eles:
1. Alexandre de Gusmão; 2. Antônio José da Silva, "o judeu"; 3. Botelho de Oliveira; 4. Eusébio de Matos;
5. Dom Francisco de Sousa; 6. Mathias Ayres; 7. Nuno Marques Pereira; 8. Rocha Pita; 9. Santa Rita Durão; 10. Frei Vicente do Salvador; 11. Alexandre Rodrigues Ferreira; 12. Antônio de Morais Silva; 13. Domingos Borges de Barros; 14. Frei Francisco de Mont'Alverne; 15. Frei Gonçalves Ledo; 16. José Bonifácio, o Patriarca; 17. Odorico Mendes; 18. Silva Alvarenga; 19. Sotero dos Reis; 20. Visconde de Cairu.
RELAÇÃO DOS IMORTAIS SEGUNDO A CADEIRA
Os nomes em negrito indicam os atuais ocupantes das várias cadeiras. A ordem dos itens é a seguinte:
Cadeira Fundador Sucessores
1) Luís Murat Afonso d'Escragnolle Taunay►Ivan Lins►Bernardo Élis►Evandro Lins e Silva►Ana Maria Machado
2) Coelho Neto João Neves da Fontoura►Guimarães Rosa►Mário Palmério►Tarcísio Padilha
3) Filinto de Almeida Roberto Simonsen►Aníbal Freire da Fonseca►Herberto Sales►Carlos Heitor Cony
4) Aluísio Azevedo Alcides Maia►Viana Moog►Carlos Nejar
5) Raimundo Correia Osvaldo Cruz►Aloísio de Castro►Cândido Mota Filho►Rachel de Queiroz►José Murilo de Carvalho
6) Teixeira de Melo Artur Jaceguai►Goulart de Andrade►Barbosa Lima Sobrinho►Raimundo Faoro►Cícero Sandroni
7) Valentim Magalhães Euclides da Cunha►Afrânio Peixoto►Afonso Pena Júnior►Hermes Lima►Pontes de Miranda►Diná Silveira de Queirós►Sérgio Correia da Costa►Nelson Pereira dos Santos
8) Alberto de Oliveira Oliveira Viana►Austregésilo de Ataíde►Antônio Calado►Antonio Olinto► aguardando eleições
9) Carlos Magalhães de Azeredo Marques Rebelo►Carlos Chagas Filho►Alberto da Costa e Silva
10) Ruy Barbosa Laudelino Freire►Osvaldo Orico►Orígenes Lessa►Lêdo Ivo
11) Lúcio de Mendonça Pedro Lessa►Eduardo Ramos►João Luís Alves►Adelmar Tavares►Deolindo Couto►Darcy Ribeiro►Celso Furtado►Hélio Jaguaribe
12) Urbano Duarte Antônio Augusto de Lima►Vítor Viana►José Carlos de Macedo Soares►Abgar Renault►Dom Lucas Moreira Neves►Alfredo Bosi
13) Visconde de Taunay Francisco de Castro►Martins Júnior►Sousa Bandeira►Hélio Lobo►Augusto Meyer►Francisco de Assis Barbosa►Sérgio Paulo Rouanet
14) Clóvis Beviláqua Carneiro Leão►Fernando de Azevedo►Miguel Reale►Celso Lafer
15) Olavo Bilac Amadeu Amaral►Guilherme de Almeida►Odilo Costa Filho►Dom Marcos Barbosa►Fernando Bastos de Ávila
16) Araripe Júnior Félix Pacheco►Pedro Calmon►Lygia Fagundes Telles
17) Sílvio Romero Osório Duque-Estrada►Roquette-Pinto►Álvaro Lins►Antônio Houaiss►Affonso Arinos de Mello Franco
18) José Veríssimo Barão Homem de Melo►Alberto Faria►Luís Carlos►Pereira da Silva►Peregrino Júnior►Arnaldo Niskier
19) Alcindo Guanabara Dom Silvério Gomes Pimenta►Gustavo Barroso►Silva Melo►Américo Jacobina Lacombe►Marcos Almir Madeira►Antonio Carlos Secchin
20) Salvador de Mendonça Emílio de Meneses►Humberto de Campos►Múcio Leão►Aurélio de Lira Tavares►Murilo Melo Filho
21) José do Patrocínio Mário de Alencar►Olegário Mariano►Álvaro Moreira►Adonias Filho►Dias Gomes►Roberto Campos►Paulo Coelho
22) Medeiros e Albuquerque Miguel Osório de Almeida►Luís Viana Filho►Ivo Pitanguy
23) Machado de Assis Lafayette Rodrigues Pereira►Alfredo Pujol►Otávio Mangabeira►Jorge Amado►Zélia Gattai►Luiz Paulo Horta
24) Garcia Redondo Luís Guimarães Filho►Manuel Bandeira►Ciro dos Anjos►Sábato Magaldi
25) Franklin Dória Artur Orlando da Silva►Ataulfo de Paiva►José Lins do Rego►Afonso Arinos de Melo Franco►Alberto Venancio Filho
26) Guimarães Passos Paulo Barreto►Constâncio Alves►Ribeiro Couto►Gilberto Amado►Mauro Mota►Marcos Vilaça
27) Joaquim Nabuco Dantas Barreto►Gregório da Fonseca►Levi Carneiro►Otávio de Faria►Eduardo Portella
28) Inglês de Sousa Xavier Marques►Menotti Del Picchia►Oscar Dias Correia►Domício Proença Filho
29) Artur Azevedo Vicente de Carvalho►Cláudio de Sousa►Josué Montello►José Mindlin
30) Pedro Rabelo Heráclito Graça►Antônio Austregésilo►Aurélio Buarque de Holanda Ferreira►Nélida Piñon
31) Luís Guimarães Júnior João Ribeiro►Paulo Setúbal►Cassiano Ricardo►José Cândido de Carvalho►Geraldo França de Lima►Moacyr Scliar
32) Carlos de Laet Ramiz Galvão►Viriato Correia►Joracy Camargo►Genolino Amado►Ariano Suassuna
33) Domício da Gama Fernando Magalhães►Luís Edmundo►Afrânio Coutinho►Evanildo Cavalcante Bechara
34) Pereira da Silva Barão do Rio Branco►Lauro Müller►Dom Aquino Correia►Magalhães Júnior►João Ubaldo Ribeiro
35) Rodrigo Otávio Rodrigo Otávio Filho►José Honório Rodrigues►Celso Cunha►Cândido Mendes
36) Afonso Celso Clementino Fraga►Paulo Carneiro►José Guilherme Merquior►João de Scantimburgo
37) Silva Ramos Alcântara Machado►Getúlio Vargas►Assis Chateaubriand►João Cabral de Melo Neto►Ivan Junqueira
38) Graça Aranha Santos Dumont►Celso Vieira►Maurício Campos de Medeiros►José Américo de Almeida►José Sarney
39) Oliveira Lima Alberto de Faria►Rocha Pombo►Rodolfo Garcia►Elmano Cardim►Otto Lara Resende►Roberto Marinho►Marco Maciel
40) Eduardo Prado Afonso Arinos►Miguel Couto►Alceu Amoroso Lima►Evaristo de Moraes Filho
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