Homenagem ao lendário herói ancestral dos ingleses que deu título a um dos considerados "Cem Maiores Livros do Mundo" e tido como o mais antigo escrito em "Old English".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

SANTA HELENA, A TRISTE ILHA DE NAPOLEÃO (1/2)


Toda a vez que ouço falar ou cito Santa Helena, a ilha para a qual Napoleão Bonaparte foi desterrado após o seu último governo dos “Cem Dias”, não posso deixar de enxergar a triste figura do ex-imperador francês e conquistador de quase toda a Europa, sentado em um dos seus rochedos, cabisbaixo e meditabundo. E deduzo que ele estaria, possivelmente, rememorando os seus dias de glória, mas também, certamente, avaliando e pesando as suas ações durante o período em que o mundo a ele se curvava, com medo.
Esse artigo não pretende falar sobre a vida de Napoleão, mas sim sobre a ilha, pouco conhecida, onde o ex-imperador - que, ao contrário de Carlos Magno que humildemente dirigiu-se a Roma, convocou o Papa para coroá-lo em Paris -, passou seus últimos e solitários dias. Entretanto, para que os leitores possam, com mais fundamento, raciocinar ou emitir opinião acerca do merecimento ou não do seu triste fim, apresentamos também um curtíssimo resumo da sua trajetória desde o início da sua notabilidade nas cortes européias e do mundo. Como em geral acontece, a pesquisa tornou-se demasiado longa para uma só publicação, razão pela qual este “post” refere-se apenas à primeira parte da idéia. A segunda parte será publicada imediatamente, a seguir.
Digam o que disserem os historiadores que forem contra, e sejam os motivos os que foram, à época, a grande verdade é que Napoleão Bonaparte, de general francês vitorioso, em pouco tempo tornou-se imperador da França, com o mesmo poder absoluto da realeza que a Revolução Francesa, que não era sua, derrubara pouco antes.
Napoleão Bonaparte começou a destacar-se, militarmente, em 1795, ao sufocar uma revolução monarquista em Paris, após o término do período do terror, numa Revolução já combalida. Após ter-se destacado na guerra contra a Itália e na Campanha do Egito, foi escolhido para chefiar o golpe que depôs o Diretório, com o auxílio de militares e membros do governo, em 10 de novembro de 1799 ou, segundo o calendário republicano, no 18 Brumário, sendo designado General-em-Chefe  do Exército do Interior. Entretanto, a derrubada do Diretório não lhe foi suficiente e após aquela, dissolveu também a Assembléia e implantou o Consulado, numa ditadura disfarçada, além de retomar princípios do Antigo Regime e encerrar dez anos de lutas revolucionárias que influenciariam, como influenciaram profundamente, os movimentos de independência na América Latina e a organização dos países da Europa.
O Consulado foi o período de 1799 a 1804, durante o qual Napoleão promulgou uma nova Constituição, reestruturou o aparelho burocrático e criou o ensino controlado pelo Estado. Em 1801 declarou o Estado leigo, com a subordinação do clero às autoridades seculares. Em 1804 promulgou o Código Napoleônico, que garantia a liberdade individual, a igualdade perante a lei, o direito à propriedade privada, o divórcio e incorporou o primeiro código comercial. Entretanto, como se não bastasse, no mesmo ano Napoleão criou o seu Império – coroando-se Imperador, com o nome de Napoleão I -, espécie de monarquia vitalícia sustentada pelo êxito das guerras e reformas internas. E, como não poderia deixar de ser, em 1805 a França voltou a adotar o tão bom e antigo calendário gregoriano, sofrendo um governo ditatorial, com censura à imprensa e repressão policial e do exército.

A partir desse estado de coisas, Napoleão passou a intervir em toda a Europa, derrotando as tropas austríacas, prussianas e russas, passando a controlar a Áustria, Holanda, Suíça, Itália e Bélgica. Avançou na Espanha, enfrentando a resistência de guerrilheiros locais e obrigou a família real portuguesa, temerosa da expansão napoleônica, a fugir, em 1808, para o Brasil, sua colônia na América.
Em 1806, após a derrota da marinha francesa na Batalha de Trafalgar, na Espanha, para a marinha britânica do Almirante Nelson, Napoleão decretou o “Bloqueio Continental” contra a Inglaterra, proibindo que qualquer país europeu abrisse seus portos ao comércio com a Inglaterra, com o óbvio objetivo de enfraquecer os ingleses e, ao mesmo tempo, reservar o mercado continental europeu às manufaturas francesas. Em 1807 o bloqueio recebeu a adesão da Espanha e da Rússia; Portugal, tradicional aliado da Inglaterra, recusou-se a aderir, sendo invadido pelas tropas francesas.
Em 1812 o Império Napoleônico incorporou 50 (cinqüenta) milhões dos 175 (cento e setenta e cinco) milhões de habitantes do continente europeu e introduziu as reformas burguesas nos demais países da Europa, quebrando as estruturas feudais remanescentes. Impôs o sistema métrico decimal, implantou o direito moderno e (pasmem, mesmo sendo um Imperador!) difundiu amplamente as idéias de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa.
No mesmo ano, pretextando punição contra o abandono do Bloqueio Continental pela Rússia, Napoleão declarou guerra a Moscou, mas, subestimando o famoso inverno russo, transformou a sua própria campanha num completo desastre. O formidável escritor russo Tolstoi declara, explicitamente, em seu monumental romance “Guerra e Paz”, que é lenda a história de que, diante da iminência da invasão o governador russo teria ordenado o incêndio da cidade após o abandono da sua população; segundo ele, tal incêndio teria sido, na verdade, acidental. Fato ou lenda, o exército napoleônico encontrou apenas destroços e, sem possibilidade de reabastecer seus suprimentos, dos seus 600 mil soldados conseguiu manter apenas cerca de 37 mil, para a desastrada retirada que ainda sofreu permanente assédio da guerrilha russa até às vizinhanças de Paris.
Tal derrota estimulou a formação de uma coalizão que reuniu russos, ingleses, espanhóis, prussianos, suecos e austríacos contra a França. Em1813, os exércitos aliados conseguiram derrubar o sistema napoleônico e libertar a Alemanha, a Holanda e o norte da Itália. Em 1814 tomaram Paris e formaram um governo provisório, dirigido por Talleyrand, que depôs Napoleão desterrando-o para a Ilha de Elba, na costa Italiana. Os Bourbon retornaram ao poder e entronizaram Luís XVIII, irmão de Luís XVI, guilhotinado durante a Revolução Francesa.
Napoleão, do fundo de seu retiro, nunca deixou de informar-se do que sucedia no continente. Conhecendo as deficiências do governo enfraquecido, sabia que o exército queria vê-lo novamente no comando. Em tais circunstâncias, Napoleão fugiu da Ilha de Elba e desembarcou na costa Meridional da França, a 1º de março de 1815, sendo recebido em toda a parte com alegria delirante pelos camponeses e pelos ex-soldados. Entrou triunfalmente em Paris a 20 de março de 1815 e, a partir daí, reinou por mais cem dias, desta feita de forma moderada, organizando o regime através de um “Ato Adicional” à Constituição, tornando-se um “imperador liberal”.
Entretanto, os soberanos estrangeiros coligados, reunidos no Congresso de Viena e surpreendidos com o acontecimento, renovaram a aliança, declararam Napoleão fora da lei e levantaram novo exército destinado a, definitivamente, destruir Napoleão Bonaparte. Entendendo ser melhor tomar a ofensiva, a fim de frustrar os planos de seus inimigos, Napoleão marchou sobre a Bélgica e venceu os prussianos, comandados por Blücher, em Ligny. Entretanto, em 18 de junho de 1815, em Waterloo, foi fragorosamente derrotado pelo Duque de Wellington e pelo general Blücher, à frente de um exército coligado. Entregando-se aos ingleses foi por eles deportado em exílio definitivo, no dia 21 de junho, para Santa Helena, uma pequena ilha perdida no Atlântico Sul, onde morreu em 5 de maio de 1821.

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